quarta-feira, 29 de novembro de 2006

CRÍTICA: O BICHO VAI PEGAR / Não pegou

Já falei que não sou fã de filme pra criança? Mas, decidida a manter a meta de ir ao cinema uma vez por semana, fui lá ver “O Bicho Vai Pegar”. Não pegou. Ê historinha batida de animais falantes na floresta! Desta vez tem urso, cervo, alce e castor, tudo distante da nossa fauna. Quero dizer, o mais terrível dessas críticas é que eu me pego cobrando identificação de desenho animado sobre animal que anda em duas patas. Pior que ver filme infantil é escrever sobre filme infantil. E você pode dizer, pior que isso só ler crítica sobre filme infantil. Ou seja, é uma situação insuportável. Mas vamos a uma opinião mais balizada que a minha. Na saída ouvi um casal perguntar pro seu filhinho se ele gostou do filme. Ele disse que sim. “Mais que ‘Procurando Feno’?”, quis saber a mãe, um pouco confusa com tantos nomes. O menino respondeu que também não era assim.

“Bicho” não é da Pixar, da Disney ou da Dreamworks, mas da Sony. É a sua película inaugural, e tão pouco promissora que a gente podia suplicar: pra que insistir? No começo até pensei que poderia haver uma meditação sobre um urso-artista alienado com o que se passa a sua volta, algo como o que “Mephisto” e “Cabaret” fizeram sem um urso. Engasguei ao notar que o peludão quase deixa o cervinho amarrado no capô de um carro. Aliás, acho que já vi essa dinâmica entre animal grandão e asno tagarela em “Shrek”, não? “Bicho” não abre espaço pra crítica alguma. Tudo bem que haja temporada de caça e centenas de homens procurem a floresta para matar o máximo de animais e expô-los como troféus. Os bichos tampouco temem muito pelo seu futuro. O pior que pode acontecer com eles é enfeitar uma parede. No fundo o desenho é triste, porque mostra que os animais não têm a menor chance contra caçadores. Como bichos não têm o polegar opositor (sei que já falei nisso em “Garfield 2”, mas ah, a falta que ele faz), não podem usar uma arma ou uma serra. Nem colocar um sutiã nos chifres de um alce. Ahn, não acredito que escrevi a frase anterior.

Talvez tenha perdido meu único momento de empatia com os personagens, que ocorreu quando o urso invade um mercado, come montes de chocolate, e fica doidão (com direito a referências a “Clube dos Cinco”, grande clássico dos anos 80, eleito o melhor filme sobre escolas já feito). Eu tava pensando se a marca de chocolate existe e quanto de merchandising foi pago. Mas pelo menos nessas horas eu tava pensando em algo. Já nos momentos mortos que permitem que o pessoal mostre as três músicas compostas, uma pior que a outra, senti meu cérebro parar de funcionar. Aí chegou a hora das piadinhas escatológicas (alce fazendo cocô, urso usando privada). Não sei se esses chistes são pra atingir um público que está começando a usar banheiro. Perguntei pro maridão e ele veio com uma resposta filosófica: “Acho que é como fazer biscoitinho pra cães em forma de elefante. Isso é pra agradar os donos dos cães”. Eu: “Tá, mas você acha que é uma tentativa de educar as criancinhas pra ir ao banheiro?” Ele: “É impossível associar a palavra ‘educar’ a essa gosma”.

Tenho algumas dúvidas. Parece que este ano serão lançadas 17 animações nos EUA. Todas chegam aqui? E, sinceramente, cadê a imaginação? Pensa bem, é todo um mundo criado por computador. Dava pra fazer o que quisessem. E aí desenham esquilos jogando nozes de uma árvore? E o que falar dos pobres coelhinhos? Existem vários em “Bicho”, mas nenhum fala. Só servem para serem atirados em paredes ou em cima de gente. No final os produtores até colocam que “nenhum coelho foi machucado durante as filmagens”, mas e a discriminação, hein? Hein? Digamos que um coelho não é tão maltratado num filme desde “Atração Fatal”. Ó Deus, a que nível cheguei? Cá estou eu defendendo direitos coelhísticos.

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