Não tenho o mínimo encanto por tradições, ainda mais essas que servem pra oprimir mulheres, nem quando essas tradições vêm revestidas com um visual magnífico feito pra arrecadar Oscars. Após ver “Memórias”, notei que o segredo super misterioso das gueixas é que elas são chinesas. As três gueixas de maior importância neste melodrama são todas chinesas. Pode parecer implicância minha, mas ponha-se no lugar de um japonês. A gueixa é um dos símbolos do seu país, certo? Aí vem Hollywood e faz um drama rodado na Califórnia em que a língua materna do Japão é inglês, claro, e, pra piorar, escalam uma chinesa pro papel principal. Tudo bem que pro Ocidente oriental é tudo igual. Todo mundo tem olhinho puxado. Mas o formato dos olhos varia! Um japonês é bem diferente de um chinês que é bem diferente de um coreano. Ah, você não acha? E depois você se ofende quando os americanos filmam uma história passada no Brasil onde a personagem central chama-se Juanita, a capital é Buenos Aires e todos dizem “Buenos dias”? Não é a mesma coisa? Olha, o caso de “Queixa” é mais ou menos assim: imagina que Hollywood faz “Memórias de uma Mulata do Sargentelli”... e escala uma argentina branquela pro papel-título. Posso estar enganada, mas acho que a gente ia chiar. E isso que a nossa animosidade com os argentinos não deve ser a metade que os japoneses têm com os chineses e vice-versa, que sempre estiveram envolvidos em guerras de expansão. Pelo que li, a China proibiu a exibição de “Memórias” por lá (não perde grande coisa). E os japoneses acharam graça da suprema ignorância americana.
Tá certo que as três gueixas chinesas são lindas: tem a Ziyi Zhang, de “O Clã das Adagas Voadoras”, a Michelle Yeoh de “O Tigre e o Dragão” (na realidade ela é malasiana), e a Gong Li de “Lanternas Vermelhas”. Imagino que o diretor Rob Marshall, de “Chicago”, tenha convidado a Lucy Liu, mas ela devia estar ocupada. Nenhuma delas tem muito que fazer nessa história marcada pelo convencional. Todos os clichês estão lá, incluindo a narração em off. Conta o dramalhão de uma garota vendida pelos seus pais pra ser escrava, na pior das hipóteses, ou gueixa, na melhor. Chega uma hora em que ela recebe um nome de molho de soja e sua carreira deslancha. Aí a gente tem que aturar frases relativas ao principal tesouro de uma mulher, coisas como “nenhum homem vai querer comer uma ameixa que já foi mordida”. Ainda bem que só o Bush e o Vaticano falam em virgindade hoje em dia, e ninguém presta atenção.
Só um parêntesis rápido. Essa parte do principal tesouro feminino lembra bastante “Orgulho e Preconceito”, em que uma mocinha se perde por fugir com um cara. Sabe, ela vai transar sem casar, ohhhh! Essas tramas soam exóticas pra gente no século XXI, graças a Deus. Antes de fechar o parêntesis, no livro da Jane Austen a heroína se apaixona pelo sujeito de uma forma bem mais sutil, se é que se apaixona mesmo. Ela só passa a gostar dele quando confere que pode mudá-lo. No filme, ele não muda nadinha, ela que estava cega ao não perceber o homem maravilhoso que a ama. É uma diferença considerável. Quem diria que Austen 1800 era mais feminista que Hollywood 2006?
Voltando às gueixas, ao menos “Memórias” ensina a maior façanha a que uma mulher pode aspirar, que é parar um homem com seu olhar. Pra isso a moça (ajuda se ela for jovem e bela) deve olhar pra baixo, timidamente, e na hora h encarar a presa. É batata: o carinha vai cair da sua bicicleta ou de onde estiver montado e causar um estrago enorme. Mas se o cara for pobre, tudo que ele vai conseguir é ser encarado por uma gueixa. Porque, pelo que entendi, ter uma gueixa é como ter um carro luxuoso. É pra poucos. E cá pra nós, meu feminismo não permite que eu aprecie tramas em que mulheres são tratadas como mercadorias. Ai, ai, mal posso esperar pra que Hollywood faça um épico sobre lutadores de sumô. Já devem estar sondando o Gordon Liu.
eeeeeeeeeeeeeeee putz,custou mas eu achei esse texto,eu já tinha lido,mas não lembrava em que parte no arquivo ele estava,enfim nem vou falar sobre "Memórias de uma gueixa" mas sobre o seu parentesis de "Orgulho e Preconceito",uma amiga me emprestou o livro dizendo que era maravilhoso e blá blá blá,então eu fui ler,é legal eu adimito mas não achei nada de extraordinário,e como ela me disse que o filme era melhor que o livro,fui eu hoje alugar o dito cujo...
ResponderExcluirLolinha (olha a intimidade ahaauah),só lembrei de você enquanto assistia,meu Deus que horror,a cada cena eu lembrava do seu comentário sobre como jane Austen em 1800 conseguia ser mais feminista que hollywood em 2005,detestei o filme,se pudesse pedia meus 4.50 de volta pro cara da locadora,mas não dá né...fazer o quê...era melhor ter alugado aquele filme do Jhonny Depp,o do barbeiro(não sei escrever o título,desculpe)
então é isso,parabéns pelo blog,é uma mão na roda na hora de escolher filmes =]
Obs:escrevi um post sobre orgulho e preconceito no meu blog,não ficou tão bom quanto as suas resenhas,mas se ainda assim se interessar o endereço é esse
www.garrafaaomar.zip.net
Obs2:agora lembrei que essa tal gueixa do filme escreveu um livro desmentindo um monte de coisas sobre o livro em que esse filme foi baseado,quando lembrar o nome volto e posto aqui.
O nome do livro que a princesa falou é Minha Vida Como Gueixa de Mineko Iwasaky.
ResponderExcluirMineko foi a principal referencia de Arthur Golden para escrever Memorias de Uma Gueixa, mas ele também conversou com outras gueixas e "prostitutas" de luxo também.Como a historia das gueixas não deve ter parecido tão interessante do ponto de vista de um ocidental, ele resolveu misturar a cultura das gueixas com a das prostitutas, pra dar mais drama..
Tipo, a coisa da venda da virgindade da jovem gueixa, de acordo com Mineko, não é costume de gueixa (ela mesma foi virgem até os 18 anos).
Sobre o filme, acho tudo muito bonito, roupas e cenários são fantásticos!A musica também é legal, mas é bastante cliché.
O livro da Mineko vale a pena ser lido!Ela teve uma vida incrivel e conheceu pessoas de todo o tipo!