Mas “O Código” do Ron Howard (Oscar por – pasme – “Uma Mente Brilhante”) não é ruim. E nem é chato, só não é tremendamente eletrizante. Pra ser franca, nem é uma questão de se gostar ou não do filme, mas de se acostumar, porque, a julgar pelas filas do tamanho de um bonde, é ele que estará ocupando as salas pelos próximos dois meses. Como sou a única terráquea a não ter lido o livro, vou me poupar de contar a trama. Vale dizer apenas que envolve duas pessoas recolhendo pistas e decifrando enigmas enquanto são perseguidas por um monte de gente, e que eu fiquei preocupada que algum americano fosse cavar buracos no Louvre à procura do Cálice Sagrado ou algo assim. Mas não, “Código” se esforça pra não ofender ninguém, inclusive os franceses e os setores da Igreja Católica que pregam o boicote à produção. Tudo bem, talvez a Opus Dei se sinta prejudicada, porque essa seita de dogmas conservadores pré-históricos é retratada como assassina. Mas os protagonistas me pareceram católicos devotos. Só sei que saí da sessão pensando: é isso que anda causando tanta controvérsia? Ninguém nunca imaginou que talvez Jesus tivesse tido uma vida meio humana, que incluísse casar e ter filhos? Sério? Ninguém nunca parou pra refletir que toda a estrutura da Igreja (e de todas as religiões) relega as mulheres ao segundo plano?
Entra aqui a minha experiência pessoal. Eu já fui tão católica que até quis ser freira. Rezava horrores e não só ia à missa como arrastava minha família. Eu tinha treze anos. Mas como eu era ambiciosa, pensei que já que iria seguir esse plano de carreira, por que me contentar em ser freira? Por que não ser papa? Daí vi que, por causa do meu sexo, eu não poderia nunca ser papa. Aliás, não poderia sequer ordenar uma missa. Eu já era feminista desde a mais tenra idade, e fui percebendo que religião e direitos iguais eram incompatíveis. Pra começar, não engolia a história de Adão e Eva, que narrava que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus e a mulher veio depois, um acessório, pra lhe fazer companhia. E não gostava do fato de Deus ser tratado por Ele, o Senhor, o Pai, ou que quando Deus era pintado ou descrito, Ele aparecia como um homem de barba branca, a imagem cuspida e escarrada do patriarca. E tinha dificuldades também em aceitar o filho de Deus como homem, e branco. Hoje não me resta dúvida que, se houvesse um novo profeta, ele seria homem e branco, porque o mundo ainda pertence aos homens brancos. Como poderia haver uma profeta mulher se mal e mal existem presidentas? Ou condutoras de orquestra? Há pouquíssimas mulheres em posição de comando. E isso era ainda pior dois milênios atrás. Não é bem uma coincidência que a Bíblia tenha sido escrita por homens. É lógico que vai refletir a ordem vigente. Pena é que seja vista não como uma perspectiva, mas como verdade absoluta. Como se a visão de homens poderosos pudesse ser representativa à de uma mulher acostumada a séculos de opressão... Pois é, meu contato com a religião começou e terminou aos treze. E não sinto saudades. Ao contrário, sinto-me livre.
Mas, voltando a coisas mais importantes: que penteado macabro é aquele do Tom Hanks? Tanto o Tom quanto a Audrey Tatou (de “Amelie”) estão meio insossos. Não é por nada não, mas daria pra substituí-los por qualquer um sem fazer falta. E o Alfred Molina e o Jean Reno estão desperdiçados. Agora, o Paul Bettany (de “Dogville”) e principalmente o Ian McKellen brilham. A expressão insana do Ian ao sair de cena é impagável. Acho que nem em “X-Men” ele se diverte tanto. E a sua palestra sobre a Última Ceia é mais emocionante que qualquer cena de ação. Quer dizer, mesmo com a Tatou interrompendo a toda hora com vários “Não entendi”, “Como quié? Explica direito!”, “Opa, fala de novo”. Tão tapadinha, coitada. Só podia ser mulher.
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