sexta-feira, 28 de novembro de 2003

CRÍTICA: AS INVASÕES BÁRBARAS / Culpe o Canadá

Fui assistir às “Invasões Bárbaras” antes mesmo do filme ter sido indicado a dois Oscars, e o cinema tava lotado. Esta tragicomédia canadense é um grande sucesso, tanto que tem uma sala em SP passando seu antecessor, “O Declínio do Império Americano”, com bom público. Pra ser sincera, não me recordo quase nada da produção de 1986, só que os personagens falavam muito em francês sobre sexo. Pra ser mais sincera ainda, a melhor coisa daquilo tudo era o título. Bom, 17 anos após “Declínio”, o diretor e roteirista Denys Arcand ataca com “Invasões”. Os atores são mais ou menos os mesmos, só que mais velhos (e olha que eles já não eram exatamente bebês de colo em 86). Desta vez, um dos carinhas do grupo de amigos, logo o mais mulherengo e de esquerda, está pra morrer de câncer. Seu filho, um capitalista inveterado, aparece pra auxiliá-lo a passar desta pra melhor. Primeiro ele suborna o sindicato do hospital para que seu pai tenha um atendimento digno, depois contrata uma viciada pra que ela forneça heroína ao doente, já que parece que heroína é mais eficaz que morfina pra aliviar a dor. Ahn, apesar do tema sombrio, “Invasões” tá mais pra comédia do que dramalhão. É um filme bonzinho, se bem que não me envolvi muito e certamente prefiro “O Filho da Noiva”, que discute temas próximos.

Note bem que no parágrafo acima não mencionei um só nome de ator porque nunca ouvi falar de nenhum. Aliás, o único ator canadense que eu conheço é o... Jim Carrey. Então vamos a uma curtíssima lista intitulada Tudo que Sei sobre o Canadá. Sei que os americanos fazem filmes lá porque é mais barato. Sei que “Tiros em Columbine” mostra que os canadenses têm armas mas, curiosamente, não saem por aí atirando uns nos outros, ao contrário de seus vizinhos ao sul, e nunca trancam a porta da casa. Sei que uma das melhores músicas do magnífico “South Park” era “Culpe o Canadá”. Já ouvi que os canadenses são os argentinos da América do Norte, mas não sei se concordo. Afinal, qual rótulo sobraria pros americanos? Talvez os argentinos do mundo? A bem da verdade, já conheci vários canadenses, e todos são gente finíssima, se bem que nenhum era de Quebec. Este resumo é só pra provar que estou anos-luz à frente das minhas amigas que também foram ver o filme, e que não faziam a mínima que este era canadense. Elas pensavam que era francês. Perguntei pra elas se não estranharam quando pai e filho atravessam uma fronteira e, num pulinho, entram na terra das oportunidades. Elas responderam que estranharam sim, e que o diretor deveria haver mantido as cenas da Air France. Mas essa cena da entrada nos EUA é uma das mais divertidas. Pai e filho chegam lá e uma entusiasta atendente os recebe com um “Bem-vindos à América!”. Os dois dizem “Deus seja louvado!” e “Amém”. Mais tarde, o moribundo revelará que não quer morar nos EUA pra não acabar morto por um muçulmano. Porém, honestamente, as metáforas políticas não estão bem desenvolvidas, a começar pelo título.

O mais tocante mesmo de “Nós Vamos Invadir sua Praia” são as idéias mais, ahn, como direi, universais. Assim, a péssima condição do sistema público de saúde (um tema universal em todo o universo, menos na Escandinávia), ou como os alunos encaram a troca de um professor – eles não ligam, chuif. Graças a esses temas tão abrangentes e sem-fronteiras, o filme deve ser o favorito pra levar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. O de roteiro original já é bem mais difícil. “Invasões” já ganhou o prêmio de roteiro em Cannes, e também o de – pasmem! – melhor atriz para uma tal de Marie-Josée Croze, que faz a viciada. O papel da moça é pequeno e não se sobressai aos demais. Imagino que ela conquistou Cannes por ser uma das duas únicas mulheres jovens e bonitas da trama. Desconfio que jurado francês não se comove com o mito de que panela velha é que faz comida boa.

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