quinta-feira, 18 de outubro de 2007

CRÍTICA: ULTIMATO BOURNE / Tomara que seja o ultimato

Toda santa vez que penso em Jason Bourne, me recordo de uma cena de um dos dois primeiros filmes, ou "Identidade Bourne" ou “Supremacia Bourne”, em que o personagem amnésico do Matt Damon entra num bar e de cara sabe que um sujeito brigou com a mulher, que um não dorme há duas noites, que outro está armado. Ele só não sabe como sabe todas essas coisas. Nesse ponto eu sempre viro pro maridão e pergunto: “E você, amore, sabe que dia é hoje?”. Pois é, sou fã das primeiras duas produções da franquia, mas não sei se estava preparada pra terceira investida. Já não descobrimos tudo que precisávamos saber sobre o ex-agente da CIA? Com esse nome, “Ultimato Bourne”, espero que seja o último.

Pra mim sempre foi óbvio que o Bourne, Jason Bourne é cria da CIA. Ninguém em sã consciência se daria o nome de Jason depois de “Sexta Feira 13”. Jason, lado B, é uma máquina mortífera sem máscara de hockey. Só que, ao contrário de seu homônimo, ele se sente culpado por ser tão eficiente em matar. Tá, como a gente já sabe disso tudo, não resta muito pra “Ultimato” fazer além de engrenar novas perseguições. Temos uma aventura ágil e rápida, porém sem nenhuma criatividade. E, no quesito “entretenimento”, "Duro de Matar 4" é bem superior. Pra mim, pelo menos. Os críticos americanos andam babando por “Ultimato”. Deram nota 85 pra ele.

E a gente percebe que tá vendo um filme americano feito pra um público idem quando começam a pipocar legendas indicando “Paris, França” e “Londres, Inglaterra”. Sei lá, a necessidade de um “Tangiers, Marrocos” eu posso até entender, e ainda bem que somos poupados de um possível “Buenos Aires, Brasil”, mas suponho que os espectadores de boa parte do globo conseguiriam captar que Madrid fica na Espanha mesmo que não estivesse escrito com todas as letras.

O Jason em si certamente dispensaria as legendas. Pra mim, sua maior característica de superherói não é ele pular de edifícios, lutar como ninguém, dirigir rapidamente ou coisa assim – é falar várias línguas. Ele fala até russo! Claro que proezas realizadas por outros personagens também são de tirar o chapéu. Por exemplo, o mais ou menos interesse romântico da história, a Julia Stiles, é capaz de pintar e cortar o cabelo ela mesma, em questão de minutos, e sair por aí desfilando um belo penteado. Ela conta pro Jason que eles estiveram envolvidos no passado, mas assim até eu. Andei pensando em dizer pro Matt que eu e ele já tivemos um caso. Vai que o amnésico acredita. Mas ele vai estar ocupado demais ditando regras pra um carinha: “Agora ande cinco passos e entre à esquerda na próxima esquina após a escada rolante”. E o sujeito faz tudo certinho! Eu não consigo seguir instruções nem quando estou calma, quanto mais quando tem um grupo de agentes armados me seguindo.

Se a gente aceitar as teorias conspiratórias de “Ultimato”, parece que o governo pode nos ver e ouvir a qualquer momento, com tanta câmera escondida e ondas no ar. Eu até acredito nisso, mas, a julgar pelos segredos importantíssimos que a CIA desvendaria a meu respeito se me espionasse, me identifico mais com a cena dos “Simpsons – O Filme”, em que um carinha de um centro de inteligência grita, deslumbrado: “Uhú! Finalmente ouvi algo que preste!”.


P.S.1: Acho que os críticos americanos adoram “Ultimato” por ele ser dirigido pelo Paul Greengrass, o mesmo de “Vôo 93”.
P.S.2: Embora o Jason seja uma máquina mortífera, todos os outros que tentam liquidá-lo também o são. Por que ele sempre é o único sobrevivente? Porque o nome dele tá no título, ué.
P.S.3: A consciência da CIA é representada pela personagem da Joan Allen, que vez por outra dispara um “Isso não é a gente” sobre os descaminhos da central. Não, claro que não é. Imagina, a CIA matar, torturar ou derrubar governantes democraticamente eleitos...
P.S.4: E mesmo que a CIA seja levemente criticada por mandar matar gente, é ela quem forma alguém tão competente quanto o Jason. Nem parece a mesma organização que atua no Iraque.
P.S.5 e ultimato, prometo: Os canais de TV a cabo daqui dos EUA não cansam de passar making ofs do filme, pra promovê-lo à exaustão. Numa entrevista, tenho que ver uma atriz do calibre da Joan (“Tempestade de Gelo”, “As Bruxas de Salem”) responder se não rolou um clima na sua cena de, ahn, vinte segundos com o Matt. E ela responde a tudo educadamente. Deve estar no contrato.

Um comentário:

  1. “E você, amore, sabe que dia é hoje?”. ri alto. genial. eu gosto desses filmes só pq eu sou obrigado a correr atrás da história. nesse quesito, meu favorito é Jogos de Espiões, com Robert Redford e Brad Pitt. Mas é bem aquela coisa, somos todos ignorantes perante eles...

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