Ai, ai. Por que, ó Deus, por que vou ver um filme que claramente não foi feito pra mim? “Paranóia” é certamente pro público adolescente, de preferência aquele que ao ouvir a palavra “Hitchcock” diz “Saúde!”. Em inglês o thriller chama-se “Disturbia”, praticamente a melhor idéia dos criadores, já que remete à “Subúrbia”. E não custa lembrar que subúrbio nos EUA é bem diferente que no Brasil. É onde vivem os ricos, protegidos em suas casas sem grades. E é um lugar que o cinema americano já retratou como cenário de várias perversões, de “Beleza Americana” à “Felicidade”. Então “Paranóia” é uma grande imitação de “Janela Indiscreta”, mas aposto que o diretor prefere chamar de homenagem.O filmeco até que começa bem, com um acidente de carro bastante aterrorizante que mata o pai do protagonista. Sim, claro que o personagem principal é um teen, já que esta obra foi realizada pra atender aos adolescentes – já falei isso antes? Em seguida o carinha dá um soco no seu professor de espanhol e é condenado a três meses de prisão domiciliar, com direito à tornozeleira eletrônica (algo alienígena pra gente). Não é tão ruim, é? O sujeito poderia aproveitar suas férias forçadas pra ler – alguém deveria ensinar-lhe que livro é aquele negócio de papel com páginas no meio –, ve
r TV, pensar na vida, cuidar do jardim (ele não precisa ficar em casa, pode tomar ar fresco), mas aí teríamos um filme provavelmente mais interessante. Sua agente penitenciária aponta que é bom que ele encontre algo construtivo pra fazer, já que vários prisioneiros tornam-se meio fracos das idéias após uns dias de confinamento. Seria até legal se “Paranóia” virasse um “Iluminado” (vira, mas só no final, quando o vilão arromba uma porta com um machado). Nada disso. O que se segue é mais de uma hora (lenta) sobre um guri chato observando seus vizinhos suburbanos igualmente chatos.
Podia ser instigante se a gente tivesse dúvidas do que o adolescente tá vendo. Sabe, será que ele realmente tem um serial killer como vizinho ou é pura paranóia? Um dos problemas é que essa dúvida não existe. Lembra de “Plano de Vôo”, em que a gente não suspeitava nem por um segundo que a Jodie Foster podia estar inventando a filha que desaparece no meio do avião? É parecido. Não que o ator teen tenha a credibilidade da Jodie. Aliás, mal sei quem é o indivíduo. O nome soou familiar e reconheci a falta de talento de um tal de Shia LaBeouf nos créditos. Ele tá em “Transformers”, que, acredite se quiser, já é a terceira maior bilheteria do ano. E dizem as más línguas que Shia estará em “Indiana Jones 4”. Ou seja, é o nome da hora. Hollywood deve estar com uma enorme escassez de jovens bonitinhos, pelo jeito.
Mas meninas bonitinhas é o que não falta. Logo, Shia passa boa parte de “Pára!” observando a Sarah Roemer de bíquini (também não faço a menor idéia quem seja; ela tá em alguma cena de “O Grito 2”). Vi “Pára” nos EUA e houve um ou outro espectador mais incauto pulando na poltrona. Imagino qu
e, pra uma platéia brasileira, o grande susto seja o close dado pro bumbum da Sarah, mostrando um bíquini que nem nossas avós usam mais no país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza. Pô, em “Janela Indiscreta” tínhamos a chance de tomar o lugar do voyeur do James Stewart e ver a Grace Kelly desfilando toda uma coleção de moda. E ainda por cima havia um pouco de suspense. Aqui são cenas e mais cenas perdidas do Shia babando pela Sarah. Poupem-me! (Inclusive, já vou avisando: da próxima vez que um filminho mencionar a Síndrome de Estocolmo e se apressar em explicar o que é isso, tratando seus espectadores como se tivessem deficiência de aprendizagem, eu deixo a sessão).
Como nada é tão ruim que não possa piorar, finalmente chega o final. Tenebroso. O vilão precisaria no mínimo ter três irmãos gêmeos pra estar em tantos lugares ao mesmo tempo. E lógico que Shia vira herói e ganha de prêmio a garota e um robô particular que se transforma em carro. Peraí... Tô confundindo o filme adolescente?

Nenhum comentário:
Postar um comentário