quinta-feira, 26 de agosto de 1999

JUSTA HOMENAGEM A UM MITO SEXUAL DO CINEMA

Ciclo de filmes de Marilyn Monroe exibe clássicos da diva mas deixa de fora algumas obras marcantes

Nesta semana, a Globo faz uma justa homenagem à Marilyn Monroe. Ótimo, outro dia tinha sido ao Al Pacino e Audrey Hepburn, agora só falta mudar o horário (a gente precisa mesmo daquela sessão de Intercine antes?) e escolherem melhor os filmes. Não que sejam ruins, longe disso, apenas não são os mais representativos. No caso de Marilyn, boas opções ficaram de fora.

Dos que foram programados, o único imprescindível mesmo é O Pecado Mora ao Lado, uma comédia interessante que, em inglês, leva o título original de The Seven Year Itch, ou "o comichão dos sete anos", que é o que aparentemente acontece com os homens após um certo período no casamento. Para trair sua esposa, o protagonista escolhe sua bela vizinha. Como a direção é de Billy Wilder, um dos grandes, o filme tem certa classe. E é fundamental porque inclui uma cena que entrou na memória da cultura pop - aquela, do vento do metrô levantando a saia de Marilyn.

Na verdade, apenas um dos filmes que Marilyn encabeçou tem status de obra-prima. É Quanto Mais Quente Melhor (1959), também de Wilder. Este título faltou na retrospectiva global, mas pode ser apreciado em vídeo. Conta a história de dois músicos desempregados, finamente interpretados por Jack Lemmon e Tony Curtis, que testemunham um massacre da máfia e têm que fugir da cidade. Para isso, disfarçam-se de mulher e integram uma banda feminina. Marilyn, óbvio, faz parte do grupo, e Curtis se apaixona por ela. A comédia traz ainda uma fala clássica, quando Lemmon tira o disfarce e dá seu motivo definitivo para não se casar com um homem, e ouve em troca: "bom, ninguém é perfeito". A propósito, apesar do resultado final, Wilder declarou que sua parceria com Marilyn "foi como ter trabalhado com Hitler".

Todos os diretores que se juntaram à Marilyn nos seus últimos anos foram unânimes em sua condenação à estrela. Que o diga John Huston, que dirigiu o filme final de Marilyn, Os Desajustados (1961), outro que certamente deveria fazer parte da homenagem. Marilyn chegava atrasada ao set todos os dias, às vezes bêbada ou drogada, tinha crises, não memorizava suas linhas. As filmagens se arrastaram por tantos meses, e o desgaste físico e mental fora tanto, que Clark Gable teve um ataque cardíaco e morreu logo depois. Muitos culpam Marilyn.

Outra obra significativa de Marilyn é O Príncipe Encantado (1957), um conto de fadas sobre um nobre que cai de amores por uma corista. A comédia não tem nenhum encanto especial a não ser marcar o encontro do maior símbolo sexual com o maior ator deste século: Laurence Olivier (é ele ou Marlon Brando, não tem jeito). Sir Olivier, em sua autobiografia, descreve como seu deslumbramento inicial por Marilyn descambou para uma repulsa total por causa de seu anti-profissionalismo (o dela). Marilyn, embora ciente do seu efeito sobre os homens, era extremamente insegura quanto ao seu talento. Por isso, precisava de uma "treinadora dramática", cuja função era convencê-la de sua importância. Olivier ouviu um desses monólogos: "você é a maior mulher de nossos tempos, o maior ser humano de sua época; aliás, de qualquer época; não dá pra pensar em mais ninguém com a sua popularidade, nem mesmo Jesus". Este ritual durava horas.

Marilyn morreu sob circunstâncias misteriosas (a CIA a matou? Os Kennedy? Fidel? Ou foi suicídio por meio de uma overdose?) em 1962, aos 36 anos. Foi uma formidável atriz cômica, como pode ser conferido em seus filmes.

Um comentário: