sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

DE REPENTE 13

Pessoas queridas do meu coração, hoje comemoro treze anos de blog! E comemoro em grande estilo, com o selo que o grande ilustrador Cris Vector fez pra mim. 

Nunca estive tão linda num desenho! Nem naquele selo que o Cris fez ano passado, pra marcar os doze anos do Escreva Lola Escreva, nem na ilustração que eu uso pro meu canal no YouTube, o Fala Lola Fala. Muitíssimo obrigada mais uma vez, Cris!

Aliás, meu canal está paradão. Por favor, inscrevam-se pra que ele cresça e eu me inspire a fazer mais vídeos. Eu acho que comecei o canal em junho de 2019 (um ano e meio atrás), e o número de inscritos não sai muito do lugar (agora está em 15 mil).

Estou passando uma fase muito difícil que envolve a saúde da minha mãe, que tem 85 anos e 8 meses e mora com a gente (eu e Silvio) desde 1998. Ela não está nada bem, e não sabemos (não tem como saber) se é uma questão de dias, semanas ou meses. Não há o que fazer. Não me sinto confortável pra falar nisso agora, não porque seja um tema tabu (todos nós vamos morrer um dia), mas é que parece estranho não contar tudo pra ela e, ao mesmo tempo, contar tudo pra um monte de gente. Ela está lúcida e sem dor, que é o que realmente importa.

Estamos tristes, mas conformados. E minha mãe participou bastante de toda a história deste blog. Quando eu o comecei, no final de janeiro de 2008, ela estava em Joinville, morando sozinha, cuidando dos bichinhos que tínhamos na época (nosso incrível cãozinho Hamlet tinha acabado de morrer de velhinho, e os gatos Calvin e Blanche andavam bem, jovens ainda). Ela também ficou surpresa com o crescimento do blog em pouco tempo. 

Creio que ela tinha (escrevo no passado porque ela não acessa mais internet, dorme grande parte do dia, não tem vontade pra mais nada, não consegue mais andar) uma relação de amor e ódio com o blog. Por um lado, ela se sentia muito próxima de várias comentaristas frequentes, falava sempre delas. Ela mesma comentava como "La Mamacita", sempre demonstrando muito orgulho de mim. 

Por outro lado, ela odiava os trolls. Lembro quando fui viajar durante algum feriado, anos atrás, e pedi pra que ela fizesse a moderação dos comentários do blog, porque pra onde eu iria podia não ter internet, e também porque eu queria descansar, me afastar das redes sociais por uns dias (faz bem!). Ela topou, eu ensinei pra ela, ela moderou, e quando voltei ela me pediu pra nunca mais pedir aquilo pra ela de novo. Ela disse que os comentários de ódio faziam muito mal pra ela. 

Já naquela época muitas das ameaças de morte, estupro, tortura e desmembramento já a incluíam, uma senhora idosa que nunca fez mal a ninguém. E também incluíam o maridão. Eu decidi que, no que dependesse de mim, essas ameaças não chegariam até ela. Ela não precisava saber. Acho também que ela ficava tão confusa quanto eu às vezes: por que tinha tanto misógino xingando e ameaçando uma reles blogueira feminista e sua família? De fato, não faz qualquer sentido.

Minha mãe festejou comigo cada aniversário do bloguinho, cada vitória (ganhar e não perder processos), cada indicação a prêmios. De vez em quando ela falava sobre algum post comigo, embora não comentasse mais no blog. Ela era adorada por todos os alunos e alunas dos meus cursos de extensão na UFC, que ela frequentou ativamente até 2018, quando a maldita chicungunha, aliada à velhice, foi tirando sua mobilidade, sua independência. 

Aniversário de 85 anos,
maio 2020

Se der tempo e alguma agente da saúde vier aqui vaciná-la contra a covid (ela está no primeiro grupo e foi cadastrada), podem ter certeza que eu vou tirar foto e colocá-la no blog e no Twitter. Apesar dos 85 anos, ela nunca viveu nada parecido com esta pandemia. 

Bom, gente, é isso. Era pra ser um postzinho de comemoração de uma eternidade no blog, acabou virando esta coisa meio deprê. Infelizmente, não acho que minha mãe estará aqui no 14o aniversário do blog, mas sei do carinho que tanta gente que passou e ainda passa por aqui nutre por ela. Obrigada!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

ASILO É O CAC*TE

Este singelo post foi publicado há duas semanas no FB de Elba Barbosa. Reproduzo-o aqui, com algumas observações no final. 

O casal que fazia um cruzeiro no Mediterrâneo notou uma senhorinha e a tripulação do barco, garçons, ajudantes etc. Todos muito íntimos dela. O casal perguntou ao garçom sobre a velhinha e descobriu apenas que ela estava a bordo nas últimas quatro viagens, ida e volta. Uma tarde, finalmente, o casal abordou a senhora e perguntou sobre as viagens. E ela respondeu singelamente.

“Ficar viajando, ida e volta, sai mais barato que um asilo para velhos nos Estados Unidos. Não ficarei num asilo nunca e, de agora em diante, fico viajando nesses cruzeiros até a morte”.

E continuou: “O custo médio para se cuidar de um velho nesses asilos é de US$ 200 por dia. Ganho desconto quando compro os cruzeiros com bastante antecipação, somado ao desconto para pessoas de mais idade. A viagem me sai US$ 65 diários e mais: pago US$ 10 dólares diários de gorjetas. Tenho mais de dez refeições diárias se vou aos restaurantes. Posso ter o serviço na minha cabine, o café da manhã na cama todos os dias da semana. O barco tem três piscinas, um salão de ginástica, lavadoras e secadoras de roupa grátis, biblioteca, bar, internet, cafés, cinema, show todas as noites e uma paisagem diferente a cada dia. Creme dental, secador de cabelo, sabonetes e xampu. Sou muito bem tratada como cliente, não como paciente. 

E completou: "Conheço pessoas novas a cada sete ou 14 dias. TV estragada? Trocar a lâmpada, o colchão? Não tem problema. Lavam a roupa de cama todos os dias. Se cair e me machucar em algum barco da empresa, vão me acomodar em uma suíte de luxo pelo resto da vida. Agora, o melhor. Viajo pela América do Sul, Canal do Panamá, Taiti, Caribe, Austrália, Mediterrâneo, Nova Zelândia, pelos fjords, pelo rio Nilo, Rio de Janeiro, Ásia. Basta escolher. Por isso, não me procurem num asilo para velhos. Viver entre quatro paredes e um jardim como paciente de hospital? Nunca! Ah! Se eu morrer, me atiram ao mar, sem nenhum custo adicional. Para que vou parar de viajar?”

Minhas observações. Primeiro: é verdade sim que asilos para idosos nos países ricos são caríssimos, mas não tanto quanto 200 dólares por dia (embora aqui apresentem uma figura ainda mais alta, e outras cifras indiquem mais de 900 dólares a diária!). Em média, para um idoso ter um quarto particular com cuidados de saúde custa US$ 8,517 por mês. Ainda assim, muito mais do que ganha um aposentado, que recebe entre 44 mil e 67 mil por ano. 

Ou seja: é bacana a dica da senhora do cruzeiro (óbvio que não em tempos de pandemia), mas isso é para muito poucos. Pra quem ganha em real, então... Os 75 dólares diários (porque deixar de dar gorjeta não é opcional) equivalem a cerca de 412 reais por dia, ou mais de 150 mil reais por ano. E outra: é mais apropriado calcular em euro, não em dólar, porque tudo num cruzeiro é cobrado em euro, ainda mais caro que o dólar.

Existe sim a possibilidade de se aposentar num cruzeiro, o que, apesar de caro e disponível para pouquíssima gente, ainda pode ser mais barato que outras opções, cerca de US$ 213 por dia, ou quase 80 mil dólares (R$ 440 mil) por ano por pessoa (lembrando-se: esta é a média. Há cruzeiros mais baratos e outros, de luxo, muito mais caros). Existem programas específicos para aposentados que querem viver num navio (spas, compras, academia de ginástica, enfermaria a bordo, acessibilidade). 

Em compensação, a maior parte dos cruzeiros não permite ter bichos de estimação. Mesmo que você tivesse essa fortuna, conseguiria viver sem seus gatos ou cães? Onde você guardaria o que tem? Outra coisa: wi-fi em cruzeiros é super caro e não é boa. Não faz parte da tarifa. Viver num cruzeiro é basicamente viver sem internet. Ah, e outra: você vai precisar ter um plano de saúde. E você ainda paga imposto de renda.

Ao contrário do que sugere a senhora, quem morre num cruzeiro não é atirado ao mar. Duzentos passageiros morrem por ano em cruzeiros, a maioria de causas naturais, porque boa parte do público desses navios é de aposentados acima de 70 anos. Ser romanticamente jogado no mar não é uma alternativa. Em geral, os cadáveres são discretamente guardados numa espécie de necrotério no navio, e entregues no porto mais próximo (alguns países se recusam a ficar com o corpo). Depois cabe à família do morto lidar com toda a burocracia e com os custos de transportar a pessoa para onde ela vivia. 

Lógico que viver num cruzeiro parece ser muito mais bacana para passar o fim da vida que um asilo, mas não acho que seja esse passeio não.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

PIOR GOVERNO DE TODOS OS TEMPOS COMPRA O LEITE CONDENSADO MAIS CARO DA HISTÓRIA

Cris Vector, como pode ser tão perfeito?

E o escândalo da semana é que o pior governo de todos os tempos gastou no ano passado 1,8 bilhão de reais em alimentos para todos os órgãos do Executivo. E isso é fora a orgia que rola no cartão corporativo!

O que mais chamou a atenção e pode render CPI é o LeiteGate, ou seja, mais de quinze milhões e meio de reais em leite condensado para o exército. Maridão viu no Facebook: Forças Armadas diz que leite condensado é pra formação de brigadeiros. Alguém acrescentou que, além dos 15 milhões, teve uns 4 milhões pra chocolate granulado, então faz todo sentido! Mas sério, é rir pra não chorar. 

A lista mostra que cada unidade de leite condensado de 395g saiu por R$ 162! No supermercado, a gente compra por R$ 6. Ah, mas é light! Aí normalmente custa 9. Não 162!

Foi 20% a mais que no ano passado. Como justificar bombons a 89 reais cada? Nem os da Kopenhaggen do Flavinho são tão caros! A gente até entende o mais de um milhão gasto em alfafa...

Mas quem é do exército diz que ele está a míngua. Se o leite condensado chegou, foi usado? E por que foi mais caro que em 2019, se grande parte das instituições trabalhou online por conta da pandemia?

Aí depois o Portal da Transparência saiu do ar (prova de confissão do crime?).

Aí você começa a investigar onde estão essas empresas e vê que são quase todas fantasmas, nas casas ou garagens de pessoas. Típicas fachadas para lavagem de dinheiro.  

Pra ninguém se escandalizar com o gasto de 2 milhões em algo tão nojento quanto chiclete, o genocida disse a apoiadores numa churrascaria que o leite condensado é pra "enfiar no rabo da imprensa". O vice milico Mourão alegou que tudo não passa de "pura fumaça", "da pressão que está sendo feita em cima do nosso governo". 

Ainda bem que não tem mais mamata nem corrupção!


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

GUEST POST: A CRIMINALIZAÇÃO DA CONDUTA NÃO DESESTIMULA

Publico esta ótima thread que a defensora pública Graziela Caponi fez no seu Twitter no final do ano.

Logo que passei no exame de ordem, minhas primeiras petições como advogada foram pedidos de extinção de punibilidade em processos do meu pai, juntando o atestado de óbito dele. 

No último, ele tinha tentado matar minha mãe empurrando-a de um carro em movimento. O cinto a salvou.

Sim, também figurei como vítima num dos processos. 

Há quem saiba e não entenda como, tendo crescido em meio à violência doméstica, ou saído de relacionamento abusivo, eu hoje atue na defesa técnica de supostos agressores. A experiência de vida ajuda a assimilar uns pontos.

1. Esse discurso sobre a "certeza da impunidade" é ilógico. O agressor, em regra, age de cara limpa, deixa marcas. Há testemunhas... Ele não liga pra pena. Converso com vários: eles sabem que serão punidos. A criminalização da conduta não é um fator desestimulador.

2. O que ele sente e verbaliza é a "aprovação social" pro seu comportamento. Faz sentido: a publicidade objetifica a mulher. Os brothers compartilham piadas machistas. A música trata mulher alcoolizada como propriedade. O presidente discursa... Ele está integrado numa estrutura.

3. Os oportunistas de ocasião pedem penas mais rigorosas. Alguns vão se eleger com isso. É uma posição simpática, cômoda e popular. Que não exige ações concretas. Mas o agressor vai deixar de ser agressor do dia pra noite, com base no recrudescimento da lei? Óbvio que não.

4. Muitas vezes, quando vou ao presídio atender um preso acusado de matar, agredir ou estuprar uma mulher, os agentes penitenciários se preocupam, perguntam se eu os quero na sala acompanhando minha entrevista reservada e particular. Se tenho medo. Não tenho. Atendo sozinha. 

5. Na minha posição, nunca recebi nenhum tipo de violência. Mas preconceito sim: a inferioridade da mulher é algo tão arraigado, tão internalizado, tão cultural, tão natural, que muitos deles acreditam que uma mulher será incapaz de prover sua defesa técnica adequada. 

6. Eu converso com muitos. Eles provém de várias classes sociais, níveis de instrução... Ponto em comum? O machismo. Seja sutil, seja escancarado -- meus assistidos da vara de violência doméstica são reproduções caricatas dos mesmos discursos e piadas do meu pai, modernizados. 

7. Escrevi recentemente aqui sobre a sociedade "tradicional" preferir me ver infeliz, presa a um relacionamento abusivo, que "solteirona". Há uma série de microviolências diárias que mulheres sofrem e que sequer cargos de poder (juíza, deputada...) inibem. É uma bola de neve. 

8. Várias iniciativas educativas de varas de violência doméstica, ou núcleos especializados das Defensorias e MP, têm trazido resultados positivos. Provendo palestras, trabalhos comunitários... combatendo na raiz a masculinidade tóxica. Desconstruindo. Geram resultados.

9. Mesmo enquanto vítima, não queria meu pai preso. Aquilo parecia traumático. Talvez já fosse uma criança abolicionista, sei lá. Queria que ele entendesse que era mau e errado. Queria que outras pessoas não sofressem aquilo... A cadeia nunca reparou as coisas que ele destruiu.

10. Atribuem a Pitágoras a frase "eduquem as crianças e não será preciso punir os homens". Não educar verdadeiramente sobre gênero, objetificação, feminismo, ações afirmativas etc é um erro bárbaro. Talvez, no futuro, a gente ainda puna... Mas que seja cada vez menos necessário.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

V DE VINGANÇA, DE VACINA E DE VERGONHA

Está ficando cada vez mais evidente que o agravamento da pandemia, mais mortes e novos lockdowns estão muito mais próximos que a vacinação da população brasileira. Por isso é tão importante que o auxílio emergencial seja estendido no mínimo por mais um semestre, e que o pior presidente de todos os tempos seja defenestrado o quanto antes.

Reproduzo hoje parte de um texto (para ver o texto inteiro, vá para o
Boletim Ponto) de uma coluna do Brasil de Fato, editada por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile. 

Doria venceu o primeiro round, mas ainda não há vacina para todos. A curto prazo, parece certo que apenas duas coisas não irão mudar: o agravamento da pandemia e o método do governo, mesmo que caiam alguns ministros.

1. NecroMinistro. No dia D os brasileiros comemoraram a chegada da vacina, para no dia E descobrirem que a grande maioria da população terá que esperar muito para ser vacinada. Já na segunda-feira (18), atrasou a entrega do material para pelo menos onze estados, devido a inúmeras falhas logísticas do Ministério da Saúde. Depois da euforia inicial, ficou claro que o lote de Coronavac disponível poderia imunizar apenas 4% do grupo prioritário. E não há data para novos lotes. Nem mesmo um cronograma de vacinação Pazuello apresentou, apesar da exigência do STF, e nesse ritmo vamos adentrar 2022. Além disso, a descentralização dos critérios para definir os grupos prioritários, que ficou a cargo de cada município, abre brechas para práticas de clientelismo e privilégios, como já vem ocorrendo no interior de Sergipe e em Manaus (AM), onde a vacinação chegou a ser temporariamente suspensa.

Depois de tanto negacionismo, negligência e desorganização, é de se desconfiar que a paralisia do Ministério da Saúde não seja apenas obra de incompetência, mas sim um macabro projeto genocida, como denuncia Jeferson Miola. O caso mais grave continua sendo o Amazonas, onde a falta de oxigênio e de insumos básicos prossegue há duas semanas, problema do qual o Ministério da Saúde já tinha conhecimento desde o dia 8 e que fez muito pouco para resolver, ainda que Bolsonaro se isente dizendo  “fizemos a nossa parte”. Mas, apesar de tudo, o Exército só começou a mostrar preocupação com o desempenho do general ministro quando a Revista Época contabilizou  as mortes ocorridas no norte do país na conta dos militares, que reagiram com a tradicional truculência, mas ligaram o sinal de alerta e já pensam em mandar Pazuello para a reserva. Além disso, depois da morte do general Mioto por Covid-19 fica mais difícil para os militares sustentarem o projeto de seu ministro. O desempenho de Pazuello também preocupa o governo, que já conversa reservadamente sobre a necessidade de mudanças. Acontece que ter um bode expiatório para eventuais fracassos faz parte do método de Bolsonaro e a hora do sacrifício talvez ainda não tenha chegado.

2. Pobre de direita. O cenário internacional prova que a terra é redonda e que o mundo dá voltas. A vitória de Joe Biden nos Estados Unidos, o agravamento da pandemia e, agora, o início da vacinação no Brasil fez com que a nossa diplomacia se tornasse um fardo para o país, criando descontentamento dentro do próprio governo. É em grande medida dos países taxados pelo chanceler Ernesto Araújo como comunistas que se pode esperar alguma ajuda, a exemplo da Venezuela que, junto às centrais sindicais brasileiras, está doando oxigênio para o Amazonas. A direita bem que tentou deslegitimar a atuação do governo bolivariano, disseminando a falsa informação de que o oxigênio doado seria da empresa privada White Martins, quando na verdade a doação foi feita pela estatal Sidor. Em relação às vacinas, só agora, depois de cobrada pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski, é que a Anvisa decidiu analisar o pedido de uso emergencial da russa Sputnik V. Já os insumos para a produção da Coronavac vêm da China, país que sofreu sucessivas acusações e ofensas do clã Bolsonaro, de Ernesto Araújo e do ministro Ricardo Salles. Agora a demanda interna da China é enorme e o Brasil não está no topo da lista de prioridades. Por isso, os insumos da Coronavac não têm data para chegar aqui e é provável que o primeiro lote distribuído no Brasil termine antes disso.

Contando com mais sorte que juízo, depois de muitas idas e vindas, o governo indiano resolveu liberar imediatamente para o Brasil dois milhões de doses da vacina da Oxford/AstraZeneca produzida em seu território. A previsão era de que a entrega fosse feita somente em março. Os motivos da hesitação indiana parecem ser políticos, pois a nossa diplomacia não apoiou a Índia na proposta de suspensão das patentes de vacinas no âmbito da OMC. Ernesto Araújo preferiu fazer do Brasil força auxiliar das nações ricas. Agora, receando as consequências de seus atos, os representantes do Brasil preferem manter o silêncio na reunião da OMC. Ou seja, na discussão da quebra de patentes a nossa diplomacia reproduz com perfeição a mentalidade do pobre de direita: prefere se dar mal do que perder a razão. Ainda assim, pode lhe custar o cargo. Neste caso, Bolsonaro tem muito apreço pelo bode expiatório, mas já pensa numa saída honrosa para o chanceler e há até quem fale em Michel Temer para a pasta.

3. O dilema de Bolsonaro. Como era esperado, o fim do auxílio emergencial, o agravamento da crise sanitária e o aumento do preço da carne derrubaram a popularidade de Bolsonaro. A rejeição chegou a 40%, segundo a XP, maior índice desde julho, e afetou inclusive a base bolsonarista, diminuindo a aprovação entre evangélicos e também nas redes sociais. Sempre que atacado, Bolsonaro reage da mesma maneira. Primeiro, joga apenas para a sua torcida, para a turma do cercadinho. Nestes dois anos de governo, Bolsonaro jamais fez uma ação que fosse universal, para o conjunto da sociedade. Atende sempre os interesses de grupos específicos. E vai insistir no cálculo matemático de que precisa apenas dos seus 30% para chegar ao segundo turno em 2022. Por isso, continuará falando apenas para a sua base social, nas redes sociais e ao mesmo tempo provocando novas ou velhas polêmicas. Como por exemplo acenar para as Forças Armadas e insinuar o apoio às suas pretensões golpistas. Nisso, até Augusto Aras, desaparecido desde a nomeação de Kassio Nunes para o STF, reapareceu para escudar Bolsonaro, com a ameaça de que “O estado de calamidade pública é a antessala do estado de defesa”. Além disso, e em tempos de eleições no Congresso, o insaciável centrão deve ganhar mais 56 cargos.

O dilema de Bolsonaro é de que quanto menos durar a crise sanitária, mais rápido ele precisa responder sobre a crise econômica. Porém, quanto mais se estende a crise sanitária, mais a sua popularidade cai e mais a crise econômica se agrava. A sua salvação depende de acenar para o sistema financeiro ou para as classes mais baixas e órfãs do auxílio emergencial. E em ambos os casos, precisa de Paulo Guedes, ainda que os dois não tenham nada a oferecer a ninguém. Guedes, com sua notória criatividade para inventar números aleatórios, não tem sido capaz nem de aplacar o mercado internacional, nem o empresariado nacional, e, por sua vez, estaria esperando o resultado das eleições no Congresso para ressuscitar sua proposta de CPMF, uma medida que não agrada a ninguém, além de sonhar com a privatização do Banco do Brasil. [Continua aqui].

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

NÃO VOTAMOS NELES

Comprei esse ímã de geladeira na última vez que estive em Buenos Aires, em dezembro de 2018. É Mafalda gritando "Yo no lo vote!" ("Não votei nele!"). Era uma referência ao presidente de direita Maurício Macri, responsável por jogar a Argentina na pior pobreza que se viu em dez anos
Quando vi o ímã, entendi a referência a Macri, mas pensei também em Trump e Bolsonaro. 
Não votamos em nenhum desses salafrários reaças. Dois deles já são passado (e põe passado nisso: uma pesquisa nos EUA mostrou que 68% dos americanos não querem que Trump volte nunca e não o querem como líder de nada). Falta o terceiro. Já se vislumbra o impeachment no horizonte. 
Amanhã teremos manifestações exigindo Fora Bolsonaro em todo o país.