segunda-feira, 9 de novembro de 2020

DEVOLVAM SAMA PARA SUA MÃE

Sama, um bebê de 15 meses, foi retirado da sua mãe Patrícia (que é paraguaia, vegana e indígena) há quase três meses, em 13 de agosto. Foi uma decisão da Justiça de Foz de Iguaçu, que deveria assegurar à mãe o direito a amamentar o filho. 

Ontem foi divulgado um vídeo com várias celebridades e ativistas exigindo que o bebê seja devolvido a sua mãe, com a tag #DevolvamSamaParaMae.

Publico o guest post de Marília Moreno, escritora, feminista, militante dos coletivos Mulheres da Leste e Raiz Popular, professora pública e arteterapeuta. Uma voz entre vozes pelos direitos da infância e da mulher.

Não é preciso perguntar a Patrícia como ela se sente. Sua dor é gritante! É a dor de uma alma torturada que tenta não se sufocar em desespero. Existe algo de guerra em nós mulheres quando somos atacadas assim, algo que nos alimenta em fúria e suor. É a necessidade de sempre termos de nos defender, de sermos pessoas de palavra duvidosa.

Não conheci Sama ou Patrícia, mas em contextos diferentes, conheço seu silenciamento. Mas ao tomar do conhecimento da sua situação, e da situação de inúmeras outras mulheres, não pude me calar.

Patrícia hoje personifica uma história de massacre, do abuso e da violência contra a mulher e a maternidade. Violência essa que se caracteriza do estupro à violência obstétrica, da punição jurídica ao silenciamento dentro do lar que todas nós mulheres sofremos diariamente há séculos.

Sama, criança vítima desta violência chamada patriarcado, também sofre punição ao arrancarem o seu direito ao colo materno e à amamentação. Sama é mais um ser que está em silêncio.

A história de Patrícia e Sama me chegou por uma petição: Devolvam Sama para sua mãe. Impossível não sentir empatia ao ler algo assim. Exceto pela sociopatia institucionalizada contra a mulher, qualquer pessoa que a escute clamar por justiça é capaz de perceber a atrocidade deste chamado.

Sem aviso, sem direito a se defender, Sama e Patrícia são separades por quem deveria defender seus direitos. Sob a acusação de maus tratos, Patrícia se vê sem seu bebê no colo. Mulher. Paraguaia. Guarani. Vegana. Hare Krishna. Vítima de um relacionamento abusivo com o progenitor de Sama. Acusada por ele de fazer mal a seu bebê. Teve direito de resposta? Não. Pode entregar à justiça os laudos médicos que comprovam a saúde de Sama em seu convívio materno? Não.

Meses se arrastam e somente após uma grande luta coletiva, Patrícia conseguiu o "direito" a estar com Sama por três horas diárias, medida cautelar que nem sempre é cumprida. Patrícia chora sozinha sem seu bebê. Muitas Patrícias choram sem seus bebês.

Não há força coletiva capaz de aplacar esta dor agora. Não até que estas tantas mulheres sejam ouvidas. Não até que a justiça pare de questionar a integridade destas mulheres por serem mulheres, por serem estrangeiras, por escolherem uma fé ou o veganismo, por terem força interna para denunciar os abusos sofridos por seus companheiros. Como acreditar numa justiça que se recusa a nos ouvir?

Somos julgadas antes mesmo de qualquer crime acontecer conosco. Já somos culpadas. É a norma. Mas também somos a resistência, um grito que ecoa junto! Devolvam nossa voz!

Muitas pessoas estão mobilizadas por Sama e Patrícia. Tenho acompanhado a campanha pelo Coletivo Mulheristas sempre em busca de uma boa notícia, mas tenho encontrado muita dor. 

Há muita solidariedade também. Somam-se vozes a esta voz embargada de Patrícia e Patrícias, contudo sem que haja um avanço significativo em seus casos. O que podemos fazer é também somar. Doar nossos espaços e palavras para quem está sem voz, pra quem está gritando e não é ouvida. Para quem teve seu direito de defesa negado.

DEVOLVAM SAMA PARA SUA MÃE!

Devolvam Samas para suas mães!

Devolvam a nossa voz!

21 comentários:

Anônimo disse...

Lola, desculpe comentar fora do assunto da postagem, mas é que fiquei indignado!
Você ficou sabendo do caso de uns dias atrás de um motoboy que foi vítima de racismo em um condomínio de Goiânia?

https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2020/10/27/moradora-de-condominio-de-luxo-e-suspeita-de-nao-deixar-entregador-entrar-por-ser-negro-nao-vou-permitir-esse-macaco.ghtml

Pois então, ao que parece, foi obra de channers.

https://wikinet.pro/wiki/Kyo_(paneleira)#Trote

Sério, quando é que as autoridades vão tomar uma providência contra essas fábricas de ódio? A impressão que dá é que a preferência é a de procurar algo para incriminar quem critica o (des)governo do genocida, enquanto esses antros de podridão chamados chans continuam impunes e a todo vapor.

Eu já cansei de denunciar o 55chan no Safernet, e sempre que vou acompanhar as denúncias a resposta é a mesma: "Dados insuficientes ou conteúdo não encontrado". Isso porque tenho o cuidado de enviar o link exato da postagem seguido de descrição minuciosa sobre porque aquilo é um crime - se bem que nem é necessário buscar muito para se deparar com racismo, misoginia, antissemitismo, apologia ao nazismo e tantos outros absurdos nesse e em praticamente todos os chans.

Mais uma vez, desculpe...é que chega uma hora que ninguém aguenta mais ver esse tipo de coisa ficando impune!

Jane Doe disse...

Tiram da mãe um bebê que está sendo cuidado, amado e tendo suas necessidades atendidas e se fazem de cego/surdo/mudo/retardado quando abuso real e severo de fato acontece...
Como pode alguém achar que é remotamente uma boa ideia deixar uma criança aos cuidados de alguém que tem histórico de violência domestica?

Tem os/as desmiolados(as) que querem arrastar a mãe acorrentada e nua pelas ruas por ter um parto domiciliar, amamentar, dormir com o bebê. Por outro lado vem os/as imbecis que acham que cesária é tentativa de infanticídio, fórmula é veneno e deixar dormir no berço e abandono de incapaz...

Essa história é mais velha que o universo - nunca foi sobre bem estar infantil/materno/feminino em geral - é sobre o prazer mórbido e sádico de controlar todos os aspectos possíveis da vida das mulheres para atender as necessidades de terceiros...

titia disse...

Obviamente um abusador querendo se vingar da ex que não aceitou mais ser o saco de pancada dele. Se a mãe segue orientações médicas e faz uma dieta balanceada procurando incluir todos os nutrientes necessários, o leite dela não é menos nutritivo do que o de uma mulher que come proteína animal. Só alguém que é tão mau caráter quanto o "pai" (que nem uma fralda troca) acha que isso é alguma coisa além de vingança.

São casos como esse que me dão certeza de que o melhor que uma mulher pode fazer pela própria paz e integridade física e emocional é não ter filhos.

Anônimo disse...

falou tudo, titia.

Anônimo disse...

Acompanho inúmeros casos de crianças em situação de negligência e é muito raro que a criança seja retirada do lar. Não estou dizendo que a moça é ou foi negligente mas o texto não traz informações suficientes para entender o que houve. Em muitos casos que acompanhei o esforço era para o retorno da criança e nunca o contrário. Se realmente o relato do texto for verdadeiro é algo com que se preocupar, realmente perderei minhas esperanças.

titia disse...

Obrigada, 18:12.

Anônimo disse...

Difícil acreditar que a justiça tiraria uma criança da mãe assim, do nada, sem provas. Vcs estão sendo parciais SEM saber as nuances dos autos, só pq é uma mulher, e vegana. Uma criança precisa de uma alimentação balanceada e completa. A mãe tem que ofertar isso à criança e largar mão de obrigar sua ideologia a um inocente. Ela que decida se quer ser vegana depois de adulta, ora...

Lola Aronovich disse...

Sama, o bebê, tem 18 meses agora. Quando foi retirado da mãe, tinha menos de um ano. Estava sendo AMAMENTADO! Vc quer decidir o que uma mãe tem que comer para amamentar o próprio filho?! Pare de se intrometer no corpo das mulheres, otário!

Anônimo disse...

Assim como você, eu também não sei dos detalhes do processo, mas você tem razão em questionar.
Casos de pais que querem impor suas ideologias ou crenças aos filhos são frequentes.
Me lembro do caso de um garoto hemofilico, que necessitava de tranfusões de sangue frequentes, sob o risco de morrer.
Os pais não deixaram que os medicos realizassem as transfusões, alegando que sua religião não permitia tais práticas.
A justiça teve que tirar a criança da Guarda dos pais para que não morresse.
Casos de pais irresponsáveis querendo impor suas crenças e ideologias aos filhos, sem se preocupar com sua saúde, devem ser tratados com rigor pela justiça.

Anônimo disse...

Lola, depois dos 6 meses não é saudável APENAS a amamentação, é preciso induzir alimentos sólidos na forma de papinha. E tb acho estranho essa história que o pai, que aparentemente nem é político influente só um professor universitário, possa ter comprado o Ministério Público, Conselho Tutelar e Juizado assim. É preciso ter acesso ao processo pra poder realmente tentar entender o que aconteceu, posso está enganada mas acho que essa tal de Patrícia está escondendo algum detalhe.

Anônimo disse...

Uma mãe há pouco tempo também perdeu a guarda da filha adolescente para a avó por motivo de ter raspado a cabeça da filha em um ritual afro-religioso. Ou seja para o poder Judiciário homem ter a cabeça raspada não é agressão, para mulher é!Os juízes e promotores estão praticando abuso de autoridade e tentando impor sua crença cristã a toda a população!!!Isso comprova que o Poder Judiciário brasileiro é teocrático cristão!!! Eu conheço uma mulher na faculdade onde estudo que corta totalmente os cabelos. Chama a atenção uma mulher careca, mas é absurdo dizer que ela está praticando automutilação. Se os homens podem cortar totalmente os cabelos, porque uma mulher não poderia?

Kasturba disse...

Anom das 13h18: Até os 6 meses, o aleitamento materno deve ser exclusivo. De 6 a 12 meses, o aleitamento materno é a fonte PRINCIPAL de alimento do bebê, devendo ser iniciada a introdução alimentar, como uma forma do bebê ir se adaptando os gostos e texturas de outros alimentos. Mas ao completar 6 meses, o bebê não "vira" uma chave e passa de leite materno para pratão de arroz com feijão. É um processo demorado, e é muito normal bebês com mais de 6 meses que ainda não aceitem nenhum alimento (é normal até mesmo bebês com quase 12 meses ainda só se alimentarem de leite materno). De toda forma, essa bebê já recebia outros alimentos, como forma de adaptação, mas o alimento principal dela era o leite materno (melhor alimento possível para ela naquele momento), e certamente houve bastante prejuízo para a bebê nessa interrupção abrupta (fora os prejuízos emocionais).

Kasturba disse...

Anom das 6h58:

É perfeitamente possível que uma criança siga uma alimentação vegana saudável e balanceada (inclusive, é mais saudável que uma alimentação onívora). Meu bebê tem 2 anos, é vegano e é muito saudável. Ele come TODOS OS LEGUMES e TODAS AS FRUTAS. Adora tudo!!! Consome pouquíssimo açúcar, pouquíssima fritura (de vez em quando rola um jiló frito que ele adora, ou berinjela empanada) e pouquíssimos alimentos industrializados. Nem sabe o que são balas, chocolates e pirulitos: se você entregar um pirulito a ele, provavelmente ele vai achar que é um brinquedo, mas se entregar qualquer fruta, ele vai querer comer na mesma hora.
Além de acompanhamento com a pediatra, também faz acompanhamento com nutricionista. Acompanhamos seus níveis de vitaminas (principalmente B12) criteriosamente.

Mas é engraçado que sempre tem gente pra questionar se meu bebê é bem nutrido, mas essas pessoas nunca questionam os pais de bebês não veganos que dão chocolate, mcdonalds, sorvete, balinha, pirulito, danoninho e mais um monte de porcarias pra seus filhos... porcarias algumas que tem inclusive escrito no rótulo que não é um alimento para menores de 2 anos, e mesmo assim todo mundo acha lindo um bebê menor que isso consumindo...

Kasturba disse...

Anom das 6h58

E além disso, sobre questão de ideologia, todos os pais criam seus filhos dentro de seus valores e crenças do que é certo e o que é errado. Isso é ideologia.
Quando um pai batiza uma criança e leva pra frequentar determinada religião, está transmitindo seus valores, e impondo uma ideologia.

Veganismo não é uma dieta, não é uma moda: é um posicionamento político e ético, no qual a pessoa acredita que não é moralmente correto a escravidão de animais para fins de consumo humano (na alimentação, vestuário, diversão, etc...). Oras, se eu considero que não é ético aprisionar um animal, matar e comer, porque diabos eu iria ensinar meu filho a fazer isso?? Se eu posso dar uma alimentação completamente balanceada e saudável ao meu filho, sem que isso fira os meus princípios, por que eu faria diferente?? Por que você quer?

Se ninguém condena quem cria suas filhas ensinando a elas que seus corpos são impuros, que seus desejos naturais são pecaminosos e que elas devem se reprimir sexualmente até o dia que casarem, preservando o "selinho mágico" das suas vaginas, por que condenam eu falar pro meu filho que animais sentem dor, que são seres sencientes e que têm o mesmo direito à vida que humanos, e que por isso devemos respeitá-los??

"...largar mão de obrigar sua ideologia a um inocente", se for uma ideologia que você não concorda. Mas se for uma que você segue, aí não tem problema enfiar goela abaixo na criança, né?

Anônimo disse...

Katursba, ninguém tá atacando o veganismo da mãe ou tentando justificar o pai, só comentei que a história está mal contada. Acho muito improvável que um mero professor Universitário tenha cacife pra corromper Ministério Público e Juizado, e pelo que vejo por machistas que sejam, nenhum juiz tira um bebê da mãe sem a ouvir antes, tá faltando muito estranho essa história, sem os autos do processo e saber o que a acusação alegou e o que a defesa dela retrucou, não fico convencida de que simplesmente tomaram o bebê sem ouvir ela, entendeua dúvida?

Kasturba disse...

Talvez você não, mas o Anom das 6h58 do dia 10/11 criticou o veganismo sim, quando afirmou que
"Uma criança precisa de uma alimentação balanceada e completa. A mãe tem que ofertar isso à criança e largar mão de obrigar sua ideologia a um inocente. Ela que decida se quer ser vegana depois de adulta, ora.."
Como se não fosse possível ofertar uma dieta balanceada e completa a uma criança vegana, e como se o veganismo fosse a única "ideologia" imposta a crianças inocentes por pais desequilibrados. Ninguém fala "deixa a criança decidir se quer ser católica/evangélica/espírita depois de adulta, ora".

Anônimo disse...

Entendi, agora deixando a discussão do veganismo de lado, quem já teve alguma experiência com Conselho Tutelar ou vara da infância sabe que ninguém chega tirando um bebê do colo da mãe assim, segundo a postagem nem deixaram ela mostrar exames que a criança não era desnutrida, e depois ainda a negaram de ver a filha. Lembra do caso da denúncia de estupro da Mari Ferrer? O acusado era muito rico, influente e tinha ligações com a família Marinho e o Ronaldo ex-fenômeno, mesmo assim teve que comprar testemunhas, forjar perícias, afastar o procurador do Ministério Público para ter uma aparência de legalidade. Como esse pai conseguiu que um Juiz desse um mandato pra tirar a guarda dela? Por que o defensor dela não entrou com um recurso na mesma hora? Por que o recurso não foi aceito? E lembrando que estamos falando de uma aluna de pós-graduação, não é uma analfabeta e provavelmente nem é tão pobre. Só queria ver o processo pra entender essas lacunas.

Anônimo disse...

Nesse processo aqui do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro uma mãe assistida pela defensoria está sendo impedida de ver seu filho há 9 meses com a desculpa do Corona Vírus sendo que ela cursa psicologia e todas as aulas são online e ela cumpre a quarentena. E mesmo com a guarda compartilhada e acordo regulamentando convívio protocolado pelas partes. Ninguém se importa com o caso dela nem se interessa em denunciar. Processo número 0007273-77.2019.8.19.0028. A mãe mora no Rio de Janeiro e o pai em Macaé e com a desculpa do Corona Vírus a criança esta na casa do pai até hoje.

Anônimo disse...

Também imaginei dessa forma. Muito estranho chegar na casa dela e pegar a criança como se fosse seguestro, sem direito do advogado dela apresentar meios que rebata essas acusações. Queria ter acesso a mais informações porque assim ta muito estranho.

Mateus disse...

Sou Promotor do MPPR, sou vegetariano, e sou agnóstico (julgo que não há como comprovar se Deus existe ou não, tomara que exista, de todo modo, respeito todas as fés).
Desconheço o caso concreto, mas digo que quando uma mãe é afastada do convívio com uma criança, sempre há justificativa, normalmente embasada em relatório médico, de psicólogos e assistentes sociais. Nenhum promotor do mundo, e nenhum juiz do mundo, afastaria uma criança do convívio familiar somente pelo fato de a mãe ser vegana, mesmo porque há centenas de milhares de veganos no Brasil, e desconheço outros casos iguais a esse.
Por isso discordo veementemente que seja uma questão de machismo ou de fé. Também a afirmação de que não pode mostrar laudos médicos à justiça provavelmente não é verídica. Juiz nenhum pode impedir uma mãe de juntar um laudo médico nos autos, e se a mãe não tem dinheiro pra contratar advogado, obrigatoriamente é designado um defensor público ou advogado dativo para defendê-la. Ainda, o processo é eletrônico, o próprio interessado junta as petições e laudos que quiser, automaticamente, como um anexo de um email. O juiz não conseguiria impedir a mãe de juntar os laudos nem se ele quisesse.

Xenem disse...

Então ,mas pq com toda essa mobilização ainda não foi solucionado o caso dela ?