sexta-feira, 5 de junho de 2020

DESAFIO É NÃO ENTENDER QUE O LEITE VIROU UM SÍMBOLO NEONAZI

Vocês devem ter visto que, na penúltima live do presidente genocida, ele tomou um copo de leite junto de dois caras que estavam ao seu lado, que também tomaram seu leitinho ao mesmo tempo. Era apenas um "desafio do leite", feito para promover a agropecuária, mas já no mesmo dia algumas pessoas me avisaram que havia um sentido não tão oculto por trás do gesto.
Eu nunca tinha ouvido falar nisso, mas nazistas têm um fascínio por leite (pelo líquido ser branco e por eles acharem que são mais tolerantes à lactose do que negros) faz uns cem anos. Em várias marchas da extrema-direita americana, os machões derramam leite entre si. Quem espia a direita brazuca (que copia tudo dos States) já viu que vários perfis (geralmente os mesmos que usam a estética vaporwave) adotam o copo de leite na sua descrição. Pra pessoas leigas, é apenas um copo de leite.
Porém, entre eles, é óbvio que é um símbolo que os conecta na militância fascista. Outros símbolos neonazis são Pepe, o Sapo, o sinal de "ok", qualquer estupidez relacionada aos cavaleiros templários (fujam de quem diz ou escreve "Deus vult"), e a bandeira da Ucrânia (tá, fascistas brasileiros idolatram o país mais pobre da Europa por causa do clima, imagino, não por ter se tornado um antro de nazistas).
Extremistas de direita usarem simbologia tão tosca serve a dois propósitos: primeiro, faz com que eles se identifiquem entre si; segundo, permite que eles trollem e chamem de ridículos quem veja num copo de leite mais que um copo de leite. Nazistas sempre negam serem nazistas (exceto para outros nazistas), pois eles precisam atingir as pessoas comuns, e não é exatamente produtivo chegar pra quem não é nazista com uma saudação do tipo "heil Hitler".
Quando eles conseguem tornar uma expressão deles aceita pelo mainstream, é a glória (por exemplo, o patético termo "racismo reverso", tão usado hoje pelo senso comum, foi criado em 1974 por um membro da Ku Klux Klan). Para poder decodificar a extrema-direita, recomendo este vídeo (em inglês) da ContraPoints. E todas as colunas da antropóloga e pesquisadora Adriana Dias, que estuda o nazismo há anos.
Adriana foi uma das primeiras a decifrar a simbologia da live de Bolso na semana passada, e foi muito atacada por isso. Ela afirmou: "O leite é o tempo todo referência neonazi. Tomar branco, se tornar branco. Ele vai dizer que não é, mas é um jogo de cena, como eles sempre fazem”.
No dia seguinte à live, o provável chefinho do Gabinete do Ódio, Allan dos Santos, tomou leite e disse "Entendedores entenderão". Foi um dos vários acenos do presidente mais fascista de todos os tempos e seus seguidores a seu séquito mais fiel, os neonazistas.
Na mesma semana em que os protestos contra o assassinato de George Floyd tomavam os EUA, aqui não se parava de falar em intervenção militar um dia sequer. Na madrugada de domingo, Sara Winter (que tem uma cruz de ferro tatuada no peito) liderou seu grupo 300 (que estava mais pra 30) numa marcha sinistra com máscaras e tochas que lembravam demais os protestos da Ku Klux Klan e dos supremacistas brancos de Charlottesville em 2017.
No domingo, 31 de maio, houve protestos contra e a favor de Bolso, e o início de confrontos entre fascistas e antifascistas na Av. Paulista, por exemplo. Enquanto nos EUA Trump prometia criminalizar os antifas, colocando-os na lista dos terroristas, aqui no Brasil a extrema-direita passou a pedir a mesma coisa.  
Voltando ao leite, foi bastante interessante entender que há uma outra conotação (além da sexual) em que um fascistinha e troll antigo se chame "Leitadas do Loen". E, quando essa conexão entre leite e pureza racial se torna óbvia, começamos a ver filmes como Laranja Mecânica, Onde os Fracos Não Têm Vez, Bastardos Inglórios, Corra (Get Out), Mad Max: Estrada da Fúria etc com novos olhos. 
Pra explicar melhor essa conexão, vou usar um texto da Sandra que teve grande repercussão no seu FB. Sandra Mian é engenheira de alimentos e tem sua própria empresa de consultoria que fica no Canadá, onde mora. Ela trabalha basicamente no México para grandes e médias empresas. E está sempre me convidando pra ir visitá-la no Canadá. Um dia eu vou, Sandrinha querida!
SOBRE A QUESTÃO DO LEITE E SEU USO COMO SÍMBOLO DO NEONAZISMO
Sou engenheira de alimentos, mas há tempos estudo ciências humanas que aplico no meu trabalho de consultoria (uso História Social, Antropologia e Sociologia, ou Cultural Food Studies). Eu trabalho no México com grandes empresas, em geral as gigantes de cada setor. Ano passado e no começo desse ano trabalhei com duas dessas grandes multinacionais e ambas têm ligação direta com produtos lácteos. Uma delas faz modificadores de leite, o que o usuário comum chama de achocolatado. 
Neonazis dos EUA banham-se em leite
Eu procuro levar para os meus clientes uma visão holística dos produtos, mostrando vários lados da moeda. Para esses dois clientes eu montei uma tabela com os simbolismos positivos e negativos do leite. Do lado positivo estavam coisas como “amor de mãe, pureza, alimento primordial”, mas havia também a coluna dos simbolismos negativos do leite. 
Aliás, qualquer cinéfilo que analisa um pouco mais os filmes que assiste sabe que comidas de todos os tipos são usadas de forma simbólica nos filmes, assim como na música ou na pintura. Na coluna dos simbolismos negativos estavam coisas como “intolerância, infantilidade e RACISMO”. 
Eu tenho toda as apresentações e as datas e posso confirmar que foi muito antes desses eventos atuais no Brasil. Tomar leite puro em CERTOS CONTEXTOS passou sim a ser uma clara demonstração de que a pessoa pertence ou está de acordo com os ideais dos supremacistas brancos, a visão modernizada da Klu Klux Kan. Eu ou vocês ou os filhos e netos tomando um copo de leite puro evidentemente não quer dizer nada de mais. Mas quando uma pessoa declaradamente da extrema-direita e que já manifestou inúmeras vezes posições racistas toma um copo de leite puro em público, daí a coisa muda de figura. E se essa pessoa for o blogueiro dentuço e ultradireita Allan Quarta Preso dizendo “entendedores entenderão”, daí não há mais dúvida alguma. 
Spencer, um dos principais líderes
americanos do neonazismo atual, e
seu copo de leite. Na descrição, ele
põe: "sou muito tolerante...
tolerante à lactose!"
Mas por que o leite passou a ser associado com os supremacistas brancos, essa gente odiosa que acha que branco é melhor que negros, latinos ou asiáticos? Aí é uma questão da composição química do leite e do metabolismo digestivo dos seres humanos. O leite possui um açúcar chamado LACTOSE e que os bebês conseguem digerir. Em um passado longínquo nenhum adulto conseguia digerir a lactose e o consumo de leite puro, sem nenhuma transformação, causava sérios problemas digestivos, especialmente cólicas intestinais. Os adultos usavam sim o leite dos animais domesticados, mas na forma de LEITE FERMENTADO, como iogurte ou coalhada. Isso porque durante o processo de fermentação do leite a lactose é transformada em ácido lático (por isso coalhada e iogurte naturais são azedinhos) e os adultos podem consumir sem problemas. 
Na Pré-história, quando os humanos que habitavam o Crescente Fértil começaram a migrar para o norte da Europa, começaram a surgir também modificações genéticas: a pele escura dos habitantes das regiões quentes -- uma proteção natural contra os efeitos do sol -- passou a clarear para que fosse possível haver maior absorção dos raios do sol e consequente transformação em Vitamina D. A irradiação solar é muito mais fraca aqui no Norte do planeta. Eu por exemplo tenho que tomar vitamina D porque o sol daqui, principalmente no inverno, não é suficiente. 
Mas naquela época -- estamos falando de algo ao redor de 7000 anos antes de Cristo -- não havia evidentemente comprimidos de vitamina D para os que migravam da África para a Europa. E daí gradualmente os adultos passaram a tomar o leite puro por ser uma forma de obter a vitamina D. Isso não se faz de um dia para o outro, é claro. Levou milênios, mas no final as populações do Norte da Europa -- agora com a pele branca -- passaram a ser tolerantes à lactose. 
Já as demais populações do planeta, em geral pessoas de pele mais escura -- negros, asiáticos, hindus, nativos das Américas, Inuit, etc -- continuaram intolerantes à lactose. No México, por exemplo, onde grande parte da população é miscigenada (nativos e espanhóis), a maioria da população é intolerante à lactose. 
Há exceções? Claro que sim! O meu marido é branco do olho azul e desde que foi desmamado nunca mais conseguiu tomar leite puro. Por outro lado, conheço negros que tomam litros de leite sem ter problemas, MAS ESSES CASOS SÃO EXCEÇÃO À REGRA. 
Ou seja, como o uso da suástica ou do capuz da KKK são proibidos tanto na Europa quanto nos EUA ou no Brasil, os participantes de grupos de supremacia racial, aqueles que acham que só os brancos são realmente seres humanos e que o resto todo deve ser eliminado (ou no mínimo que não pode haver mistura racial), passaram a usar certos símbolos para se identificarem entre si. Tipo assim: quando eu uso uma cruz eu estou indicando que sou cristã, se uso aliança na mão esquerda sou casada, se cubro os cabelos com um certo tipo de tecido sou muçulmana e daí por diante. 
Os supremacistas americanos usavam muito um sapinho verde na frente do nome nas mídias sociais para se identificarem, mas nos últimos anos passaram a tomar leite puro durante as manifestações para mostrar que são “diferentes dos negros e marrons”. Por que só agora isso nos EUA? Porque até os anos 60 os brancos eram maioria nos EUA. Com a migração massiva de latinos, principalmente mexicanos, e agora de hindus, paquistaneses, chineses e outros povos asiáticos, os brancos são praticamente minoria hoje nos EUA. 
Muitos desses jovens brancos que radicalizaram ficaram à margem da sociedade por não terem estudado, por exemplo. Nas últimas décadas os EUA enriqueceram na média, mas nunca os pobres foram tão pobres e os ricos tão ricos. As indústrias se mecanizaram e os trabalhadores que antes ganhavam mais de 30 dólares por hora numa fábrica hoje não encontram mais trabalho. E daí o que se faz? Se busca um bode expiatório. 
Na Alemanha Nazista dos anos 1930, os “inimigos” eram os judeus. Nos anos 50 e 60 nos EUA os inimigos eram os negros. Agora para os americanos ultranacionalistas, os inimigos são todos os que têm a pele escura, não mais só os negros mas também os “marrons”. Idem na Europa, com a recente onda de imigração muçulmana.
E daí o leite passou a ser usado como símbolo de superioridade da raça branca “pura”, se é que essa asneira existe. Porque no fundo todos viemos de uma mesma raça: A RAÇA HUMANA. 
Os defensores de Bolsonaro estão tentando dizer que foi só um apelo da Ministra Tereza Cristina, da Agricultura, a pedido dos ruralistas, para aumentar o consumo de leite. Até poderia ser, em outro contexto. Mas o "entendedores entenderão" do Allan Gengivão selou a questão.
Só que os jecas-tatus colonizados brazucas, que pensam que são “brancos puros”, não se deram conta que eles também têm “a pele escura”. Só queria ser uma mosquinha e ver essa gentalha tentando participar de um grupo neonazista supremacista nos EUA ou na Europa. Sairiam de lá espancados porque os nazis odeiam latinos. Ou seja, além de imoral, indecente e racista, a extrema-direita brasileira é burra, patética e ridícula!

19 comentários:

Anônimo disse...

Esse Alan boca de cavalo é negro

Anônimo disse...

Sei não Lola, acho que isso aí é trollagem para deixar a gente paranoica. Se formos ver copo de leite e sinal de OK como símbolos nazistas, onde é que isso vai parar...

Anônimo disse...

Vai falar da treta envolvendo os caras da Xbox Mil Grau?

Alan Alriga disse...

Têm muitos outros além desses, deste símbolos mais escancarados como o distintivo do batalhão de azov, a outros que são vistos como inofensivos, como os chocolates da Nestlé e os refrigerantes de uva e laranja da Fanta, entre muitos outros.

Alan Alriga disse...

Aqui um vídeo falando sobre isso.

https://youtu.be/Le79jCAfYxs

Aqui outra envolvendo um youtuber e possivelmente esteja envolvido com pedófila.

https://youtu.be/qL1KXxA4iGE

Um vídeo sobre o canal Central está sendo machista, sobre a forma que eles se posicionam em relação a streamings mulheres.

https://youtu.be/oKrOBXf1C6w

E um vídeo analisando o vídeo acima através de uma ótica filosófica.

https://youtu.be/8N1pA8MOkDE

Usuários de Tik Tok usando da morte do George Floyd para ganhar curtidas.

https://youtu.be/NR4XTNndioI

Se você queria treta, acho que isso vai te deixar satisfeito.

Anônimo disse...

Vcs estão viajando, o governo federal está realizando um programa para aquisição de alimentos para famílias vulneráveis, no qual a maior parte dos alimentos comprados devem ser leites e derivados oriundos de famílias produtoras ou cooperativas rurais. Esse programa serve para subsidiar os pequenos produtores e desaguar a produção que ficou retida por causa da crise gerada pela pandemia. Tanta coisa mais importante para se preocupar, ficam surtando num copo de leite.

Ps: não sou Bolsonarista, odeio o Bozo.

Anônimo disse...

Lolinha! Vi no twitter que hoje é seu aniversário. É??? Se for, muitas felicidades, que você merece mais que ninguém! Te admiro pra caramba. (Juliana)

Patty Kirsche disse...

Oi Lola!

Eu realmente não conhecia essa simbologia ligada ao leite. Pra mim era tudo ligado à questão sexual, principalmente por conta da lactação erótica e de brincadeiras com a aparência do esperma.
Uma pena porque eu adoro leite, apesar de ser intolerante a lactose. Tenho que tomar leite modificado; aquele vendido como "sem lactose".

Anônimo disse...

É o tal "nazipardo". O tipo de coisa que só se vê aqui no Brasil.

Anônimo disse...

O alvo do recado do Bolsonaro foi o sul do país, de extrema maioria branca calcasiana.

Anônimo disse...

Maioria branca, caucasiana, preconceituosa, segregacionista,racista, caso pudessem fariam algo parecido com a White leage ou a Ku Kux Klan, só falta aquela coisa branca e fálica na cabeça e as tochas, porque vontade de concretizar a barbárie aqui contra os poucos negros e nordestinos é o que não falta. Muitos são preconceituosos, racistas e não disfarçam.

Anônimo disse...

Só falam do sul e nunca de São Paulo, lá é cheio de fascistinha também

Bruno disse...

E o fantástico hoje dando voz a matador de mulher, deviam tentar "entrevistar" a morta também. Espero que alguém também levante essa bola e não deixe passarem branco essa entrevista para dar voz ao assassino, chega de guilherme de pádua e afins dando entrevista. Lamentável e alguém precisa apontar o dedo pra Globo. 22:00 hs e o cara ganha um horário nobre pra se defender.

titia disse...

Ou seja, mas uma palhaçada ridícula pra confirmar que o maior problema desses caras é serem um bando de fracassados com preguiça de cuidar da própria vida, enrustidos sexualmente frustrados que precisam urgentemente de terapia e um retorno à escola. Nazipardos são uma aberração e uma completa praga em todos os sentidos.

Anônimo disse...

Titia

Eu não sei se você assistiu ao filme Bacurau, mas tem uma cena bem pertinente e uma verdadeira bofetada em quem se acha branco no Brasil, quando dois brasileiros a ajudar os estrangeiros em seu plano de matança no vilarejo mencionam serem oriundos do Sul e sudeste, descendentes de alemães e italianos e o chefe estrangeiro a zombar de várias características físicas dos ditos "brancos puros brasileiros".

Lola Aronovich disse...

Oi, Margot, tudo bem? Eu não tenho Whatsapp! Por favor, me mande um email: lolaescreva@gmailcom
Ou, se vc estiver no Twitter, uma DM.

titia disse...

11:22 não assisti o filme ainda mas já vi essa cena. Achei linda, uma voadora na cara dos nazipardos.

Anônimo disse...

É verdadeiro! Você tem que ler atraves das entrelinhas. Açao social é uma coisa, açção racista é outra.

Anônimo disse...

Todo leite animal tem lactose. A industria cokocacuma enzima para neutralizar os efeitos dela! Use leites vegetais. De castanhas, aveia...