quarta-feira, 4 de setembro de 2019

ENTENDA AS ORIGENS DA "IDEOLOGIA DE GÊNERO", ALGO QUE SÓ EXISTE NA CABEÇA DOS REAÇAS

Em mais uma cortina de fumaça, Bolso escreveu ontem no seu Twitter: 
"O AGU [Advocacia Geral da União] se manifesta sobre quem compete legislar sobre ideologia de gênero, sendo competência federal. Determinei ao @MEC_Comunicacao, visando princípio da proteção integral da criança, previsto na Constituição, preparar PL [Projeto de Lei] que proíba ideologia de gênero no ensino fundamental". 
Publico aqui a thread que Gregório Grisa, doutor em Educação e PHD em Sociologia, e professor do IFRS, fez no seu Twitter.

O presidente da república fez um post dizendo que pretende proibir “ideologia de gênero” no ensino fundamental. Qual é a origem dessa expressão? O que ela significa? Ela existe e é um tema fundamental para a educação brasileira?
Depois da IV Conferência da ONU sobre a Mulher em Beijing, em 1995, intelectuais laicos e lideranças religiosas católicas cunharam a noção de “ideologia de gênero” para contrapor avanços nos direitos sexuais e reprodutivos, pautas trazidas pelos movimentos feministas.
Em 1997, o então Cardeal Joseph Ratzinger -– depois Papa Bento XVI –- alertava que o uso do conceito de gênero contradizia o catolicismo. Em 1998 a expressão começou a se disseminar na Conferência Episcopal da Igreja do Peru, e ganhou força em 2007 na conferência do Caribe. 
O conceito de gênero trouxe para a agenda de direitos humanos demandas envolvendo sexualidade, em particular das homossexualidades e das diferentes identidades de gênero. Passou a estar presente nos acordos internacionais. Algo que preocupou vários grupos religiosos. 
Mas o verdadeiro disparador do pânico moral sobre “ideologia de gênero” na América Latina foi o reconhecimento legal das uniões entre pessoas do mesmo sexo na Argentina, em 2010, e no Brasil, em 2011. 
Cerca de uma semana depois desse fato no Brasil, o deputado Jair Bolsonaro encabeçou movimento contra o material (apelidado de “kit gay”) que seria distribuído nas escolas para enfrentar a discriminação e a violência contra homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais.
Bolsonaro logo contou com o apoio da chamada bancada evangélica e, de forma menos visível, de congressistas católicos e conservadores agnósticos. Construía-se a imagem da criança sob ameaça, estratégia bem-sucedida pois conseguiu o veto de Dilma à distribuição do material.
O interesse evangélico, sobretudo neopentecostal, de protagonismo em um congresso majoritariamente católico fez com que essa bancada concentrasse fogo nessa pauta e passasse a impressão de que eram só eles a evocarem o perigo do que chamavam “ideologia de gênero”. 
O debate do Plano Nacional de Educação, feito nesse período e concluído em 2014, foi palco para a bancada evangélica travar uma luta para retirar a palavra gênero da lei. Venceram. Na discussão de vários planos estaduais e municipais de educação esse tema foi central.
É em 2014 que uma aliança política fundamental se estabelece. Um movimento inexpressivo, iniciado em 2004 para combater a "doutrinação marxista”, chamado Escola sem Partido, assume protagonismo junto da bancada evangélica na denúncia do que chamam de “ideologia de gênero”.
Falamos já de uma cruzada moral organizada contra os direitos reprodutivos das mulheres e os direitos dos homossexuais. A noção de ideologia de gênero amealhou um campo discursivo que traz o diagnóstico de que a origem de problemas sociais resulta de mudanças comportamentais. Esse discurso institui certo pânico moral e é reproduzido de modo intenso pelo grupo político que está no governo. O presidente se pauta nessa narrativa para propor vedar algo em lei cuja existência prática e sistêmica nas escolas não é chancelada por evidência nenhuma.
A força da gramática política envolvendo a noção de “ideologia de gênero” chegou ao seu ápice com a eleição de Bolsonaro. Em verdade, a lei aventada pelo presidente objetiva impor valores/ práticas morais de um grupo específico que faz parte de sua base política como únicos. 
Educação sexual para prevenção de abusos e doenças, combate à homofobia e ao preconceito, trabalhos para o reconhecimento da diversidade humana, denúncia das desigualdades entre os sexos são algumas das ações que visam inibir os detratores da suposta “ideologia de gênero”. 
O que visam é manter subalternizados aqueles que o conceito de gênero acolhe dentro do humano. Buscam delimitar o Estado como espaço masculino/ heterossexual, refratário às demandas femininas e de expansão de direitos àqueles que consideram ameaçar sua concepção tradicional. 
Em Submissão, de Michel Houellebecq, o escritor descreve uma França hipotética onde as eleições são vencidas pela Fraternidade Muçulmana, um regime de inclinação religiosa. Lembrei disso diante das declarações de que se quer um evangélico no STF e na direção da Ancine. 
Não é demais lembrar que “ideologia de gênero”, “doutrinação” e outros moinhos de vento não estão no rol dos nossos problemas educacionais. Crer nisso é tolice, como tem dito o ministro Barroso do STF.

10 comentários:

Anônimo disse...

Acredito que, se a sociedade Brasileira é retrógrada, fundamentalista e tradicional, e se mais da metade do povo não concorda com a expressão, não quer que ela seja difundida nem muito menos aplicada na prática, não nos resta muito mais o que fazer. Descer a tolerância e a aceitação goela abaixo do povo não vai acontecer. É como pregar o Evangelho Cristão no Afeganistão ou no Irã - países extremistas fundamentalistas Muçulmanos. Não vai rolar. Se o povo não aceita, nós que devemos acatar a decisão majoritária e aceitar. Podemos fazer 2 coisas : dar murro em ponta de faca ( se revoltar contra a sociedade ), ou nos alinharmos e convivermos em sociedades mais alinhadas e evoluídas ( leia-se: Países de 1° mundo ). Deixemos os Neanderthais aqui. Não adianta remar contra a maré. Chega!

Lola Aronovich disse...

Preciso de um link pra alguma matéria confiável sobre o caso. Senão pode ser fake news.

Lola Aronovich disse...

Se não é fake news, mascutroll, então vc não terá problema algum em me enviar um link para uma matéria confiável sobre o caso. Sua postura agressiva, porém, demonstra que: 1) é fake news mesmo e vc sabe disso; ou 2) vc quer mesmo acreditar nisso que vc leu sem nenhuma confirmação.

Breno José disse...

"Ideologia de gênero" nada mais é do que, uma TÁTICA usada pelos REACIONÁRIOS para preservar um sistema social baseado no MACHISMO, na HOMOFOBIA e na SEGREGAÇÃO.

Alan Alriga disse...

Como todos já sabem eu sou de Extrema Direita Militarista Conservador e como tal tenho mais contato com pessoas religiosas e conservadoras, então posso lhes passar a visão deles sobre o assunto (DEIXO BEM CLARO QUE ESSA NÃO É E NUNCA FOI A MINHA VISÃO E OPINIÃO SOBRE ISSO, ESTOU SOMENTE REPASSANDO A VISÃO DELES E NÃO A MINHA, TAMBÉM DEIXO BEM CLARO QUE NÃO SOU HOMOFÓBICO).

Indo direto ao ponto, como muitos políticos e militantes de esquerda defendem bandidos, traficantes, assassinos, etc... E dão qualquer desculpa para defender eles como: cor (a preferida dos racistas de esquerda principalmente verganos/vegetarianos brancos), local de moradia (favelas principalmente), condição financeira (mas rico rouba muito mais ué 😑), etc...
Logo se as mesmas pessoas que defendem bandidos e as drogas querem "empurrar" a ideologia de gênero para crianças, então isso deve ser coisa do capeta 😈, principalmente porque muitos são contra a igreja católica e ao cristianismo.

Bem essa é a visão de quase 100% deles, fora isso alguns teólogos da conspiração de YouTube afirmam que, o feminismo do futuro contatou ETs do planeta Nibiru usando a Wicca, para eles voltarem no tempo e fundarem a Disney, para ela fazer lavagem cerebral nas meninas para elas se apaixonarem por cachorros de chifres milionários, para com isso quando os ETs chegarem eles possam dominar a terra mais facilmente, e por algum motivo tudo isso séria culpa dos judeus.

Ps:gente eu estou rindo muito enquanto escrevo isso pqp😂😂😂, mas infelizmente 7% da população brasileira acredita nisso de verdade 😕.

•´¯`•» [ Curiosidade ] «•´¯`•

"Em Submissão, de Michel Houellebecq, o escritor descreve uma França hipotética onde as eleições são vencidas pela Fraternidade Muçulmana, um regime de inclinação religiosa."
Esse livro lembra um suposto livro de ficção russo que deu origem ao livro propaganda "os protocolos dos sábios de sião" (para quem não sabe foi um dos responsáveis indiretos pelo nazismo e o holocausto), e não dúvido que algo igual já não tenha sido criado, afinal os muçulmanos viraram os "judeus" da vez.

Hele Silveira disse...

Gente não é ideologia. NÃO É. Gente é pessoa. É vida. Nunca fui ideologia e ninguém jamais me "doutrinou" sobre isso. Desde os 3 (isso, todo mundo leu certo, TRÊS!) anos, convivo com gênero discordante daquilo que é biológico. Desde quando a minha vida é ideologia? São 41 anos, 38 deles ciente de quem em sou. E quem me tira o que ninguém me dá, senão eu? NINGUÉM! A quem não aceitar, só desejo paciência e serenidade, rs. Continuarei sendo quem sou.

Anônimo disse...

Eu concordo com a opinião de que, se a maioria esmagadora da sociedade civil Brasileira não concorda e não aceita a ideologia de gênero, resta a nós convivermos com pessoas mais evoluídas em um outro País de 1° mundo. Não vai adiantar bater contra a maioria. Corremos riscos de discriminação e até de violência física se continuarmos com o discurso. Deixemos o país do atraso para os atrasados. Vamos viver onde nos aceitam. Brigar a vida inteira e morrer por uma causa, olhando ao redor e concluindo que continua tudo a mesma m* é um futuro triste e desalentador. Eu pulei fora e aconselho vcs todxs a fazerem o mesmo. Fika a dica!

titia disse...

"Ain, vamos cair fora pro primeiro mundo!". Legal, parça, manda aí a passagem e o visto que a gente vai.

Se quer acabar com o atraso, camarada, a melhor opção é não tendo filho. O sistema em que vivemos, cheio de parasitas mal intencionados como políticos cancervadores, religiosos picaretas e empresários inescrupulosos, depende da procriação desmedida e não planejada pra sobreviver e continuar no atraso explorando o povo. Afinal, quem se submete a relacionamento abusivo se não precisar sustentar filho? Quem sustenta pastor ou padre vagabundos se ao invés de filho pra cuidar tiver tempo livre pra estudar, se informar, se conscientizar política e socialmente? Quantas mulheres e homens aceitariam abuso de patrão se não tivessem que pensar na comida dos filhos?

Esse sistema perverso que perpetua as injustiças precisa de carne pra moer, de pessoas desamparadas e ignorantes que possam explorar. Negue ao sistema mais gente pra ser sacrificada pelo conforto dos ricos, deixe de alimentá-lo com inocentes que não pediram pra vir ao mundo sofrer por causa da sua vaidade e do seu ego, e ele entra em colapso. E aí, quem está disposto a abrir mão das ilusões e mentiras com que o sistema nos alimenta pra continuarmos suprindo-o e não colocar mais ninguém pra ser moído pela máquina de parasitar o povo?

Alguém?

Hele Silveira disse...

Titia, pra mim não dá mais. Tenho duas filhas. Mulher ou homem eu as teria, foda-se o meu gênero especificamente quanto a isto. Porém, acredito que as minhas filhas não terão filhos. Por opção. Por escolha. Por saberem que atualmente,é o mais sábio e sensato a se fazer.

titia disse...

Hele Silveira cada um faz o melhor que pode com o que tem. Costumo chamar a atenção para essa questão da reprodução responsável porque não ter filhos que servirão de mão-de-obra barata super explorada para os ricos e mercado consumidor pra parasitas do rentismo é o golpe mais profundo que as pessoas podem dar nesse sistema sócio econômico perverso que temos hoje em dia, principalmente pra esse pessoal cheio da grana que acha que qualquer um pode pegar um avião e ir pra outro país - geralmente, um país que se beneficia da miséria alheia pra ser considerado primeiro mundo.