terça-feira, 30 de abril de 2019

GUEST POST: NÃO ME ELOGIE PELA SUPERAÇÃO

No fim de semana um rapaz que eu sigo e que me segue no Twitter, o Zati Jhonatan, se indignou com um cara que fingiu ser cadeirante para conseguir ingressos de cinema. 
O tuíte de Jhonatan repercutiu muito, e com razão. Mas também atraiu algumas pessoas nojentas, que o mandaram para de "se vitimizar". Uma delas disse pra ele se levantar e falar na cara. Eu me recuso a ser da mesma espécie que essa gente.
Mas o que Jhonatan fez foi escrever um post lindo na sua página do FB, que reproduzo aqui, com sua autorização.

Quando eu era mais novinho (e choco pessoas que acham que sou um adolescente ainda, em poucos anos chego aos trinta) eu pedia muito para que as fotos que tirassem de mim não focassem (tá focando?) na cadeira de rodas. O motivo já não sei mais com tanta certeza. Talvez mera vergonha, receio de não ser aceito. 
Sei que posto demais, besteiras demais, coisas pouco interessantes a quem usa a internet como entretenimento. Mas eu passei a usar meus perfis como plataforma para ser ouvido pelos amigos. Imagine uma vida toda praticamente dizendo só coisas que não fazem as pessoas desconfortáveis. 
Mas um dia recebi aquele clique e acordei. Esse sou eu, esse é o meu corpo disfuncional e eu sou muito feliz com ele. Foi com ele que fiz 18 anos ininterruptos de fisioterapia iniciada aos meses de idade; foi com ele que descobri a puberdade e como eu sou uma pessoa única e por isso venho até agora aprendendo a me valorizar; foi para ele que me libertei da eterna perspectiva de cura que me rondava. 
Meu corpo faz de mim quem eu sou, minha voz cantada e aguda, de Xuxa, meu cérebro tem uma manchinha do tamanho de uma ervilha que me impediu de deambular, mas que não me segurou de pensar. E olha, eu tenho cada pensamento... Adoro filosofar.
"Te amo com toda a minha bunda,
eu ia dizer coração, mas minha
bunda é maior"
E você me pergunta: o que posso fazer para ajudar? É na verdade bem simples. Se for me elogiar, não me elogie pela superação, me elogie por algum outro motivo, como a minha capacidade de ler no escuro, meu corpo, minha bunda bonita (amo!). Me elogie como você elogiaria qualquer pessoa. Se eu te paquero, não me veja com olhares de pena, se você está interessado, fique como ficaria com qualquer um. Se não está, diga. É menos pior. A gente sabe quando seu olhar e tom de voz dizem que não quer bancar o enfermeiro. Eu não preciso, mesmo... 
Me elogie pela vastidão da minha formação e conhecimento, mas não por tê-los acima da média "para uma pessoa especial". Aliás, não nos chamem de especiais. Cada um o é para a mãe. Nem diga que temos ou portamos necessidades especiais. Porque isso todo mundo tem, mas deficiência não. O que você pode não ter é aptidão ou caráter. E isso eu tento ter. Quem tem caráter também respeita nossa posição nas filas, nossas vagas no estacionamento, porque a gente também é gente.

16 comentários:

Anônimo disse...

Eu sei na pele o que é isso.O capacitismo é uma praga na sociedade.Quer que você seja acima da média,seja especial,bonzinhx e exemplo de vida pra todo mundo.Como dizia Cazuza "Eu não aconselho nem um cachorro a me seguir".Tem pessoas que tem a audácia de apontar a sua deficiência e perguntar "foi desastre?" tipo: quanto pior melhor,né? A sociedade é extremamente preconceituosa,além das barreiras arquitetônicas,social,mercado de trabalho, ainda temos que conviver com a solidão amorosa.A luta é diária!

Anônimo disse...

As vezes eu fico tão confusa que não sei como agir. Porque tudo parece ofensa, inclusive o ato de eu dizer que parece ofensa já é tido como tal.

Mario Arkus disse...

Muito lindo o post do Jhonathan, mas também a primeira parte dá para pensar outras coisas. É incrível ver como o nível de violência aumenta cada ano na internet. É um assunto muito estudado pela psicología e a sociología desde a aparição das redes sociais, mas surpreende sempre e faz que um se pergunte de onde saem essas pessoas com condutas tão perversas. Esses mesmos que atacam nas redes a uma pessoa pelo fato de ser deficiénte, na vida diaria se comportam como pessoas aparentemente normais. Não da para entender. Se bem é um fenómeno global, eu vejo um nível maior de violência nas redes brasileiras que em aquelas do meu pais, a Argentina. Pelo contrario, na hora de protestar contra injustiças ou reclamar dos governos, não da para ver muitos cidadãos desses saindo pras ruas com o mesmo grau de violência que mostram no anonimato. Curioso.

Anônimo disse...

"Aliás, não nos chamem de especiais. Cada um o é para a mãe. Nem diga que temos ou portamos necessidades especiais. Porque isso todo mundo tem, mas deficiência não."

Isso é uma posição pessoal do autor do texto, o que gera a confusão relatada pelx Anônimx de 16:35, pois eu conheço pessoas que detestam o termo deficiência porque dizem que enfatizam a falta de capacidade deles, por isso mesmo o termo Portador de NEE foi adotado no governo Progressista do PT e popularizado.

Letícia Bolzon Silva disse...

Isso cansa mesmo, eu sou cadeirante e quanto mais o tempo passa mais eu percebo o quão endeusados nós somos por tentar viver vidas normais dentro das nossas limitações. Chamem a gente pelo nosso nome, nos olhem nos olhos, foquem no que a gente consegue fazer, aceita o que nunca vai mudar, respeita o que não funciona no nosso corpo da mesma forma que no teu, e é isso.

Anônimo disse...

Não é tão difícil entender. Na net as pessoas se sentem mais livres para mostrar todo seu preconceito porque há pouca possibilidade de dano pessoal, principalmente quando há a proteção do anonimato. Já na vida real é necessário encarar no agredido a possibilidade de uma reação fisicamente violenta. Portanto atacar de forma tão virulenta alguém na vida real é perigoso para o agressor. Veja que a coisa muda se o ataque for realizado em grupo. Agressores no mundo real tem mais coragem de agredir alguém, verbalmente ou fisicamente se estiverem em grupo porque há pouca possibilidade de sofrerem um dano físico, por exemplo.

Anônimo disse...

Não vai falar da Venezuela não Lola? Aquele País só vai ter paz quando se livrar do maldito do Maduro. E isso só vai acontecer quando infelizmente tiver uma guerra naquele País.

Denise disse...

Lindo o post do Jhonatan! Eu acho que o que falta é normalizar a diferença, falta empatia, falta as pessoas entenderem que igualdade não é tratar todo mundo igual, mas sim tratar os iguais de forma igual e os diferentes de forma diferente na extensão da sua diferença.

Anônimo disse...

Anônimo 20:41 disse: "Não é tão difícil entender. Na net as pessoas se sentem mais livres para mostrar todo seu preconceito porque há pouca possibilidade de dano pessoal, principalmente quando há a proteção do anonimato."

Pergunto: Porque usou então anonimato?

Anônimo disse...

Não sei o porquê do Jhonatan irritar-se com o rapaz que fingiu ser cadeirante, ou PNE. Em que isso afetou-lhe?

A atitude do rapaz seria apenas reprovável se defendêssemos a retrograda e conservadora moral judaica-cristã.


Anônimo disse...

Bom, acho que se vc não conseguiu ter empatia para entender, não adianta mto explicar

Anônimo disse...

A resposta está no próprio texto. O que não ficou claro para você? O anonimato é mais uma proteção para praticar coisas perversas sem risco de punição.

titia disse...

Um texto muito verdadeiro. E os mesmos babacas que tratam pessoas deficientes ou PNE como inferiores, que escondem e excluem um parente assim, que protestam contra qualquer tipo de ação social a favor dos deficienes/PNE são as que choram "eugenia" quando alguém diz que não quer filhos deficientes/PNE porque não tem condições psicológicas/financeiras/ambas de cuidar de alguém assim. O que sempre moveu e sempre vai mover esses cretinos é a hipocrisa.

Agora, alguém me explica por favor em que esses bots malucos falando merda sobre Venezuela ou mascus usando religião pra justificar a escrotice alheia e a própria acrescentam ao debate?

Anônimo disse...

Lola, fugindo do assunto, sou estudante de pós-graduação e me atraio pela carreira acadêmica. Estou muito preocupado com os últimos acontecimentos envolvendo o sinistro da deseducação. Não haveria como reverter esses bloqueios orçamentários via STF ou PGR? Os argumentos apresentados pelo sinistro violam claramente a autonomia universitária e configuram uma chantagem grotresca. Como se já não bastasse a preocupação com as bolsas, agora isso...Como professora, o que achas disso tudo? Não há alguma forma de impedir esse tétrico ministério de fazer o que quer assim, de forma tão arbitrária? estou realmente com muito medo.

Cão do Mato disse...

"Não vai falar da Venezuela não Lola? Aquele País só vai ter paz quando se livrar do maldito do Maduro. E isso só vai acontecer quando infelizmente tiver uma guerra naquele País."
O mundo só vai ter paz quando os EUA pararem de se intrometer na vida dos outros.

Anônimo disse...

Prezado 20:44, espero que você seja o primeiro a se alistar numa futura guerra contra a Venezuela. Se ofereça como voluntário ao exército do país que declarar guerra contra Maduro, e se certifique de ficar entre os primeiros a ficar na linha de frente. VAI LÁ, GUERREIRO DE UM REAL!!!!!