sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

COMO UMA PERGUNTA COMUM EM ENTREVISTAS DE EMPREGO PREJUDICA MULHERES

Faz muito tempo que não tenho que passar por uma entrevista de emprego, então não sei quanto as coisas mudaram. 
Mas achei muito interessante (mais) esta explicação de por que mulheres ganham menos que homens (no Brasil, no ano passado, segundo o IBGEum homem ganhou em média R$ 2.261, enquanto uma mulher, 1.743, ou seja, homens receberam 28% a mais que mulheres. E, lembrando, negros ganham muito menos que brancos. Em 2017, brancos ganharam quase 73% a mais que pretos ou pardos). Quando a empresa quer saber o último salário do candidato, a tendência é que a desigualdade continue. A nova funcionária já entra ganhando menos. Por isso, nos EUA, discute-se banir essa pergunta nas entrevistas. 
Este instigante artigo é de Claire Cain Miller, que fez parte da equipe que ganhou o prêmio Pulitzer em 2018 pelo serviço público por reportagens sobre questões de assédio sexual no local de trabalho. Foi publicada pelo New York Times. Pedi para o querido Vinicius traduzi-la.

Aileen Rizo estava treinando professores de matemática nas escolas públicas de Fresno, Califórnia, quando descobriu que seus colegas homens com empregos semelhantes estavam sendo muito mais bem pagos.
Ela foi informada de que havia uma razão justificável para isso: o pagamento dos funcionários era baseado em seus salários em empregos anteriores, e ela recebia menos do que eles em suas carreiras.
A Sra. Rizo -– que concorreu para a Assembleia Estadual da Califórnia, mas perdeu -- entrou com um processo. Em abril, a Corte de Apelações dos Estados Unidos da Nona Região decidiu em seu favor, dizendo que salário prévio não poderia ser usado para justificar uma diferença salarial entre empregados homens e mulheres.
Como superar essa teimosa diferença
salarial de gênero
Trata-se do mais recente sinal de que isso se tornou a política escolhida para reduzir as disparidades salariais entre homens e mulheres. Diversos estados, cidades e empresas recentemente baniram perguntas sobre histórico salarial. A lista inclui Massachusetts, Califórnia, Nova York e Chicago, bem como Amazon, Google e Starbucks.
Mulheres continuam a ganhar menos que homens, por diversos motivos. Discriminação é um deles, segundo pesquisa. Mulheres também são mais propensas do que homens a trabalhar em empregos com salários mais baixos, como os do serviço público, de prestação de cuidados e no terceiro setor –- e  a tirar folga para cuidar das crianças.
Quando mulheres entram numa área
dominada por homens, o salário cai
Empregadores costumam basear o salário inicial de um funcionário em seus salários anteriores, de modo que, em cada trabalho, a disparidade salarial entre homens e mulheres continua, tornando sua superação aparentemente impossível para mulheres.
“Contam às mulheres que elas não valem tanto quanto os homens”, escreveu o juiz Stephen Reinhardt em seu parecer da Nona Região, antes de vir a falecer em abril. “Permitir que o salário anterior justifique uma diferença no pagamento perpetua essa mensagem, enraizando um óbvio mecanismo discriminatório no sistema salarial".
Enquanto o novo presidente do Br
diz que nada pode ser feito sobre
desigualdade salarial e nomeia
ministra que crê que mulheres
não devem trabalhar fora, em
Boston, EUA, há workshops para
mulheres sobre negociações
salariais
E se candidatas a emprego não morarem em lugares onde as perguntas sobre histórico salarial foram banidas? Alguns especialistas recomendam que elas encontrem maneiras de desviar educadamente das perguntas -– embora se recusar a responder uma pergunta na entrevista possa ser arriscado. Oficinas oferecidas pela Associação Americana de Mulheres Universitárias sugerem algumas estratégias.
Candidatas poderiam devolver a pergunta ao empregador, perguntando a faixa salarial do cargo; ou o que a última pessoa a realizar o trabalho recebia. Elas poderiam dizer algo como: “Quero aprender mais sobre o cargo primeiro, para ter uma melhor percepção das minhas expectativas salariais”. Ou poderiam contextualizar o porquê delas se recusarem a compartilhar essas informações, explicando que isso contribui para as lacunas salariais entre homens e mulheres.
Proibições de histórico salarial podem também ter um efeito menos esperado: quando empregadores não contam com pagamentos passados ​​como representativo de quão valioso alguém é, eles podem considerar uma variedade maior de candidatos. Um artigo baseou-se em um experimento realizado com o mercado de trabalho online: metade dos empregadores podia ver o salário passado dos candidatos e metade não podia. Os empregadores que não conseguiam ver o pagamento anterior viram mais currículos, fizeram mais perguntas e convidaram mais candidatos para entrevistas. Os candidatos que foram contratados tinham, em média, menores salários no passado e fizeram acordos melhores quando negociaram.
O estudo não era representativo da maioria das situações de contratação -- o mercado de trabalho era para projetos de curto prazo para os quais os candidatos faziam propostas -- e o experimento não estava avaliando as diferenças de gênero nos salários. Mas mostrou que empregadores confiam no salário passado como um indicador de produtividade e, sem essa informação, tentam aprender sobre os candidatos de outras maneiras, disse Moshe Barach, co-autor do artigo e pesquisador em Georgetown.
“É preciso mais esforço da parte dos empregadores, mas eles conseguem melhores resultados porque alguém que não tenha chegado à primeira etapa agora tem uma chance”, disse ele. “Os empregadores conversam com pessoas e podem descobrir que são realmente inteligentes e contratá-las.”
As proibições de histórico salarial são muito recentes para que os pesquisadores estudem seus efeitos extensivamente. Mas outras pesquisas descobriram que as pessoas são excessivamente influenciadas por um lance inicial, algo que cientistas sociais chamam de viés de ancoragem. Isso significa que, se os empregadores souberem do salário anterior de um candidato e ele for menor ou maior do que planejavam oferecer, é provável que ele influencie sua oferta.
Quando outros tipos de informação foram escondidos durante entrevistas, isso levou empregadores a discriminar menos. Um estudo de diretores de orquestra sinfônica descobriu que, quando as pessoas faziam o teste por trás de uma cortina, mais mulheres eram contratadas.
Mas a estratégia pode sair pela culatra. Algumas pesquisas descobriram que as políticas ban-the-box, que proíbem empregadores de perguntar se os candidatos têm antecedentes criminais, resultaram em menos homens negros e hispânicos entrevistados ou contratados. Uma teoria é que sem a informação, os empregadores deduziram que negros e hispânicos tinham antecedentes criminais.
O mesmo poderia acontecer com a proibição do histórico salarial, temem os críticos das novas políticas. Empregadores poderiam oferecer menos às mulheres e a outros alvos de discriminação, pois assumiriam que receberam menos. Ou então mulheres com altos salários poderiam oferecer voluntariamente essas informações em entrevistas, levando empregadores a pensar que qualquer um que não compartilhasse seu salário é porque recebia um contracheque baixo.
Alguns líderes empresariais têm se oposto às proibições de histórico salarial. A informação sobre salários ajuda-os a evitar entrevistar pessoas que custariam muito, dizem. Também pode ajudá-los a evitar um pagamento excessivo a pessoas que poderiam ser contratadas por menos, e é uma maneira de descobrir quanto os empregadores anteriores achavam que os candidatos valiam. 
A Câmara de Comércio da Grande Filadélfia lutou contra a proibição de histórico salarial no Estado e, em maio de 2018, um juiz distrital decidiu que empregadores poderiam perguntar sobre o salário anterior -- mas não podiam pagar com base nele. Mas usar o salário anterior como um atalho dessa maneira também perpetua a discriminação, disse Linda Babcock, economista da Carnegie Mellon, que tem estudado diferenças de gênero na negociação. “A nova lei pode tornar os empregadores mais premeditados a decidir com antecedência o que eles acreditam que o cargo vale”, disse ela.
A proibição do histórico salarial pode impulsionar outras mudanças, tornando as pessoas mais conscientes do problema, disse Kate Bahn, economista que estuda gênero e mercado de trabalho no Washington Center for Equitable Growth. Empregadores podem mudar a forma como determinam os salários ou a maneira como respondem às mulheres quando negociam, por exemplo.
“Isso é parte do motivo pelo qual pode ser uma pequena ferramenta tão útil”, disse ela, “porque muito disso é apenas machismo, e essa política pode ajudar a impulsionar mudanças culturais contra o machismo.”

17 comentários:

Cão do Mato disse...

Um estudo da OIT mostrou que a jornada de trabalho remunerado das mulheres é menor do que a dos homens. As mulheres trabalham cerca de 1,5h a menos por dia. Ora, se trabalham menos horas, têm que ganhar menos. A não ser que, na comparação, tenha sido utilizado o valor ganho por hora trabalhada.

Ze ~~ disse...

Cão do Mato: "Para conciliar o trabalho remunerado com afazeres domésticos, as mulheres procuram jornadas mais flexíveis, com carga horária reduzida. A proporção das que trabalham em período parcial, de até 30 horas semanais, é de 28,2%, enquanto no caso dos homens o percentual é de 14,1%. Nas regiões Norte e Nordeste, a proporção de mulheres com jornada flexível é de cerca de 37%.

Considerando-se o rendimento médio por hora trabalhada, ainda assim, as mulheres recebem menos do que os homens (86,7%), o que pode estar relacionado com à segregação ocupacional a que as mulheres estão submetidas no mercado de trabalho." - retirado do estudo da OIT

Anônimo disse...

Muito simples de resolver.

Se a empresa paga mais aos homens e se a mulher não aceitar: Peça demissão.

Se tiver que cumprir a famosa "jornada dupla", como cuidar dos filhos e da casa: Não tenha filhos ou não se case.

Se o "Meu corpo, minhas regras" é valido, o "Minha empresa, minhas regras" também o é.

Igualdade e liberdade são princípios, mas estão em faces opostas de uma moeda. Ou se tem liberdade de escolha ou se é igual a todo mundo.


Cão do Mato disse...

Bom, jornada reduzida, salário reduzido. Não dá pra exigir que alguém que trabalha 30 horas semanais ganhe a mesma coisa que alguém que trabalha 40 horas, certo?
"Segregação ocupacional"? O que é isso? Significa que os piores trabalhos (com pior remuneração) ficam com as mulheres? Mas eu sempre pensei que a comparação fosse entre homens e mulheres com o mesmo cargo, desempenhando a mesma função, com a mesma competência...

Anônimo disse...

Não seja estupido! Ninguém está falando que alguém que trabalha 30 horas semanais deva ganhar o mesmo tanto de quem trabalha 40.

Está sendo comparado trabalhos iguais, ou seja, jornadas iguais.

Tem machista estúpido que quer usar como argumento a comparação de maçã com abóbora.

E depois um débil como você ainda se acha super inteligentes... aff!

Polistyca disse...

Sim sou machista. Sou um macho notável. E as mulheres apreciam bastante isso. Sou um macho alfa.
Sim eu assusto. Igual o trovão. igual o abismo. Igual a montanha grandiosa. Sou um macho sublime.

Felipe Roberto Martins disse...

Minha mãe perdeu um emprego que pagava muito bem num Banco quando disse que tinha filhos... a Gerente disse que não contratavam mulheres com filhos, pois atrapalhava o trabalho. Isto foi na década de 80... Bancos sempre serão Bancos.

Anônimo disse...

Tem gente que cumpre 40 horas mas passa o dia inteiro enrolando, só está ali matando tempo, produzir que é bom, necas...
Tem gente que tem a jornada reduzida (por varios motivos) e consegue render muito mais no trabalho, cumpre com todas as obrigações em um prazo mais curto por ser uma pessoa mais dinâmica.

Anônimo disse...

Ah va!! Tu não és de nada, é só um tremendo de um bunda branca, ninguém liga pra vc kkkkkkk

Anônimo disse...

Lola, você vai escrever algum artigo sobre esse dinheiro, digamos, estranho circulando entre as contas de assessores e parentes do presidente Bolsonaro?

Henrique disse...

Se homens e mulheres *na mesma função* e *na mesma produtividade* ganham salários diferentes, a tendência seria que homens fossem substituidos por mulheres -- já que mulheres produzem o mesmo que homens com salários menores.
Mas isso não ocorre. O fato é que mulheres e homens têm produtividades diferentes, estes em geral trabalham por mais tempo, trabalham em ambientes e situaçoes de maior estresse etc. Há outros motivos também: por exemplo, homens têm menor aversão ao risco que mulheres.
Não devemos cair na falácia da discriminação, isto é, explicar qualquer diferença entre grupos com a discriminação.

Anônimo disse...

" O fato é que mulheres e homens têm produtividades diferentes, estes em geral trabalham por mais tempo, trabalham em ambientes e situaçoes de maior estresse etc. Há outros motivos também: por exemplo, homens têm menor aversão ao risco que mulheres"

Blablabla...zzzzzzzz...que sono...

Demorou mas apareceu o sujeito adepto do determinismo preguiçoso apegado a clichês e estereótipos, para tentar justificar desigualdade como se fosse algo natural e aceitavel. Isso aí é falácia, apoiada em pseudociência, não passa de ranço que todo mundo sabe que não se sustenta mas está tão entrahado culturalmente que as pessoas absorvem essas crencas como se fossem verdade, sem se dar conta. Às vezes por preguiça de pensar mesmo.

Cão do Mato disse...

Isso é outra história. Favor não confundir alhos com bugalhos...

Anônimo disse...

Me responde, Lola.

Anônimo disse...

Não estou confundindo nada meu bem. Sei exatamente do que estou falando. E foi vc que tocou no assunto jornada. Se for falar de horas trabalhadas e salário, há muito mais o que se considerar.

Anônimo disse...

Um amigo meu falou que é quando me perguntarem "qual o seu salario na empresa atual" responder 'acho que o vc quer saber é quanto é a minha pretensão salarial para esse posto?".

As vezes eu consigo. As vezes, não. E se me sentir constrangida a responder, eu minto. Ninguém vai pedir pra meu minha ficha de pagamento. Problema resolvido.

E vi que homens negociam melhor o salario. Muleharada, vamos ousar e começar a negociar também ( sei que é facil falar, mas eu sou muito , muito ruim para ngociar salario tambem).

Yara

Denise disse...

Só não entendi uma coisa: como os empregadores sabem o salário da pessoa na empresa anterior? Confiam só no que a pessoa diz? No Brasil eu entendo que possam ver pela carteira de trabalho (vem escrito o salário ali, não?), mas nos EUA funciona assim também?
Pergunto porque eu moro na Austrália e aqui se essa pergunta surge na entrevista as pessoas simplesmente mentem, pra mais ou pra menos, e não tem como checar. Meu marido já disse que buscava um salário maior quando estava subindo na carreira, como também já disse que ganhava bem menos do que ganha qd fez entrevista pra uma empresa com um melhor equilíbrio de trabalho/qualidade de vida (estamos os 2 tentando reduzir a jornada de trabalho pra focar nas crianças). E outra: aqui se vc diz que ganha x mas a empresa está disponibilizando x+y por aquela vaga, ela vai te pagar o x+y independente de se vc pedir menos. Na empresa que eu trabalho, como foi meu primeiro emprego aqui na minha área, eu estava disposta a trabalhar pelo salário mínimo pra ganhar experiencia, mas ainda assim me pagaram o que estava previsto para a vaga. Não sei se em todas as áreas aqui é assim, e acredito que para funções que não exijam ensino superior essa regra não deve valer, mas quando se fala em emprego em escritório normalmente nem se pergunta qt a pessoa ganha mas sim qual é a pretensão dela de salário para o novo emprego.