ELEIÇÕES 2018: A CHANCE DA ESQUERDA VOLTAR AO PALÁCIO DO PLANALTO E O MOMENTO DECISIVO PARA O PROGRESSISMO DO PAÍS

Publico um texto que João Paulo Jales dos Santos, estudante do curso de Ciências Sociais da UERN, escreveu especialmente pro blog. 

Nesse pouco mais de um mês que separa a campanha presidencial do dia da votação, o país vivenciará uma disputa que se encaminha para um discernimento no quadro eleitoral, ainda com dúvidas sobre as candidaturas que se enfrentarão no 2º turno. 

A fase da pré-campanha assistiu desde a desistência daquele ‘outsider’ com melhor potencial de crescimento eleitoral, Joaquim Barbosa, até o realimento do PSDB como força hegemônica do pólo da centro-direita, passando pelo embate jurídico e político em torno da candidatura do ex-presidente Lula. 

Em 2014, presenciamos a morte de Eduardo Campos, o rápido crescimento nas pesquisas de Marina Silva, que capitaneou num primeiro momento uma queda das intenções de voto de Aécio Neves, até a definição da reeleição de Dilma Rousseff numa acirrada disputa com o tucano. 

Nesses quatro anos que separam o pleito de 2014 com este de 2018, o Brasil viveu uma brusca e acentuada queda da sua economia, o avanço da Lava-jato, um tóxico cenário cultural e social com o despertar das forças reacionárias da direita ultraconservadora, a ardilosa deposição de Dilma Rousseff numa ainda frágil democracia, culminando na chegada de Temer à Presidência, impondo num curto espaço de tempo reformas liberalizantes, fragilizando a situação social, trabalhista e educacional do país. 

A prisão de Lula representa dois fatos políticos. O primeiro, a forte suspeição que paira sob o sistema judiciário, com os questionamentos jurídicos e constitucionais em torno da prisão do ex-presidente, a maior liderança da esquerda, enquanto nenhuma grande liderança da direita teve o mesmo destino prisional que o experimentado por Lula. 

O segundo fato diz respeito a um ponto delicado de renovação de quadros políticos dentro do Partido dos Trabalhadores. É compreensível que Lula seja candidato, visto que é o mais forte candidato do partido para disputar a eleição. No entanto, não se pode deixar de observar que o PT não conseguiu outra candidatura intrapartidária que representasse oxigenação no movimento de candidaturas ao Palácio do Planalto. Lula foi candidato por cinco vezes, tendo sido presidente por dois mandatos consecutivos. O PT, ao lançá-lo novamente, demonstra que até mesmo dentro das estruturas de uma organização democrática como é o Partido dos Trabalhadores, há um fechamento no establishment partidário como se observa nos outros grandes partidos, todos alinhados do centro à direita do espectro ideológico. 

A aliança com Ciro Gomes e Guilherme Boulos em torno da candidatura de Lula não aconteceu, como já era esperado. Dois candidatos combativos, Ciro e Boulos apresentam em seus respectivos Programas de governo propostas à esquerda. Ciro propõe maior presença do Estado na economia, tocando em questões progressistas no campo social. Boulos, com o programa de governo mais extenso entre todos os candidatos, 228 páginas, tem uma plataforma socialista democrática, não deixando dúvidas de que apesar do PSOL ser numericamente uma organização política menor que o PT, o partido quer bater de frente com o petismo no campo progressista. 

Reflexo disso já ocorre nos movimentos sociais, onde o PSOL trava em vários momentos embates com o PT na busca pela liderança. Crítico ferrenho dos governos petista, o PSOL se alinhou com o PT no momento em que toda a esquerda do país, com suas mais variadas correntes de interpretações ideológicas, apoiou Dilma Rousseff quando esta enfrentava o processo constitucional do impeachment. Não deixa de ser interesse notar que as vertentes políticas e sociais da esquerda que não estiveram nos governos petista fizeram as mais combativas defesas de Dilma, enquanto as forças da direita que participaram dos governos do PT foram as responsáveis por golpear a presidente. 

As questões jurídicas em torno da candidatura de Lula serão resolvidas nos próximos dias. Sabendo-se que o ex-presidente tende a obter a impugnação do registro de sua candidatura, Haddad assumirá a condição de candidato do lulopetismo. Como prefeito de São Paulo, Haddad fez uma administração equilibrada, mas teve de enfrentar a fúria antipetista paulistana, o que impossibilitou sua reeleição. Moderado, de fala mansa e serena, Haddad deverá ter um discurso para atrair a classe média que deu ao PT quatro mandatos presidenciais consecutivos, mas que resolveu rejeitar o partido na segunda administração de Dilma. 

Com uma vice no banco de reservas que carrega consigo as caras bandeiras identitárias do progressismo, Manuela D’Ávila, o PT apresenta um programa de governo que aborda o Keynesianismo na economia, políticas públicas para enfrentar as desigualdades e mazelas sociais, junto com a defesa das causas identitárias dos movimentos sociais, propondo ainda revogar as medidas privatizantes sancionadas por Temer. Haddad, se confirmado candidato, tendo Manuela como vice, é a chapa mais à esquerda apresentada pelo PT desde que Lula foi eleito em 2002. Carregando as bandeiras do lulopetismo, segmento ancorado na figura de Lula e que extrapola o eleitorado fiel do PT, será esta chapa que dará maior chance de a esquerda voltar ao poder. 

Num momento em que forças reacionárias lançam um leque de candidaturas aos legislativos estaduais e federal, o campo progressista precisa estar fortemente organizado para derrotar esta direita inspirada no movimento americano Tea Party. O Brasil é um país com tradição de consenso perante a opinião pública na presença do Estado como indutor na provisão de serviços que tornem a sociedade mais igualitária. 

Ao defender o fortalecimento da rede de assistência social e de saúde, da educação pública como um meio para se reduzir as desigualdades, da continuação da política de aumento do salário mínimo, da sustentabilidade ambiental, da justiça social, o campo progressista tem ao seu lado os instrumentos necessários para combater o falso discurso privatizante da direita. Focar na derrota dos ultrarreacionários se faz essencial para se fazer frente ao recrudescimento das forças ultraconservadoras que querem fazer do Brasil uma vitrine da direita.