segunda-feira, 13 de agosto de 2018

28 ANOS DE MUITA PAIXÃO, COMPANHEIRISMO, CARINHO

Sábado agora, dia 11 de agosto, eu e Silvinho, vulgo maridão, comemoramos 28 anos juntos.
Esta foto é de 1992, em São Sebastião.
Não temos imagens do nosso
primeiro torneio
Já escrevi sobre isso várias vezes (umas dez vezes!), mas só pra resumir: a gente celebra o dia que nos conhecemos, que foi 11/8/90. Nos conhecemos num torneio do Clube de Xadrez SP, onde ambos vivíamos na época (em SP, não no clube). Fomos emparceirados na primeira rodada. Nenhum de nós lembra se começamos a falar antes ou depois da partida. Ele ganhou um peão e o jogo. Conversamos durante cada rodada, o dia todo. Ele tinha barba, eu não gosto de barba, lógico que não falei nada, mas no dia seguinte, um domingo, ele apareceu de cara limpinha. Lindão.
Joinville, quintal da nossa casa,
2004
Eu era muito jovem, 23 anos, e ele, 32. Eu dei uma indireta sobre não ter sido convidada para ir ao cinema (porque tinha ouvido ele falar sobre isso com uma amiga). Ele convidou. Fomos ver Susie e os Baker Boys depois do torneio e não encontramos o cinema! Ele me levou a um barzinho perto da USP. Comemos provolone a milanesa. Ele adivinhou que eu havia sido goleira de handball. Muitos amassos e vidros embaçados naquela noite no carro, em frente ao meu prédio.
Beberibe, CE, 2015
No sábado da semana seguinte ele foi até em casa me dar aula de xadrez de graça. Pra falar a verdade, não vimos muito xadrez. Meu amado pai, que detestava todos os meus casinhos, adorou o Silvio automaticamente. Hoje sei que isso influenciou pra que eu ficasse com ele.
Votando em Fortaleza, 2014
Os primeiros três anos não foram fáceis. Nenhum de nós dois já tinha estado num relacionamento estável. Tudo era novo. Tinha aquelas coisas de "Você está me sufocando!", sabe? A gente brigava bastante. Mas ele era bonito, engraçado, e a pessoa mais ética e sem preconceitos que eu já havia conhecido -- além do melhor amante que eu já tive. Tudo isso continua sendo verdade hoje.
E fomos ficando, sem grandes planos. Éramos e somos parecidos. Amamos cães e gatos, somos caseiros, gostamos de rotina. Nenhum de nós queria filhos. E ambos somos pão-duros miseráveis, digo, economicamente responsáveis. Nunca tivemos dívidas, nunca brigamos por dinheiro, sempre ganhamos mais do que gastamos.
A gente só casou mesmo de papel passado em 2007, e só porque eu ia viajar pro meu doutorado-sanduíche em Detroit e não queria ficar um ano longe dele. Era provar diante de um juiz que vivíamos juntos ou casar. Casar foi mais fácil.
Fortaleza, reveillon 2011
Mais da metade da minha vida tem sido com Silvio. Queremos ficar juntos até o fim, ou pelo menos enquanto estiver bom pros dois. A gente se ama, vive uma vida simples e monótona, mas a gente gosta exatamente assim. Não somos aventureiros. Como eu falei outro dia, os guias turísticos com buggy olham pra gente e já oferecem o passeio "sem emoção".
Silvinho no Paseo del Prado,
Havana, dezembro 2017
Em dezembro fizemos uma viagem incrível pra Cuba (e passamos pela Colômbia também, deu pra ver um pouquinho). Tudo foi bem exceto no nosso penúltimo dia. Estávamos sentados de mãos dadas num banco no belo Paseo del Prado, próxima a onde nos hospedamos, e um homem branco e magro com cerca de 30 anos veio falar com a gente. Perguntou de onde a gente era e quando respondemos "Brasil", começou a falar das novelas brasileiras, que fazem enorme sucesso em Cuba (e no resto da América Latina).
Puxou mais alguma conversa e, depois de um tempinho, nos pediu dinheiro. A gente pediu desculpas e disse que não tinha. E não tinha mesmo, porque era o penúltimo dia e estávamos com tudo calculado para não ter que trocar mais euros por cucs. Mas, mesmo que tivéssemos, não daríamos. Não costumo dar esmola (já o maridão, dá). 
Maridão com leão no
Paseo del Prado
Diante da recusa educada, o rapaz, que já tinha um olhar nervoso, passou a gritar com a gente. Olhando pra mim, disse que Deus punia nos deixando gordos, cheios de doenças, e morrendo cedo. Demorei uns segundos até entender que ele estava falando de mim. Fiquei pasma. Falei alguma coisa e o cara foi embora. Em seguida voltou e continuou gritando. Eu disse que ele estava fazendo um papelão ridículo, que ele deveria aprender a aceitar um não como resposta, e que deveria parar de tentar nos ofender. Aí ele foi embora de vez.
Eu lembro dele, porque ele tinha uma tatuagem pequena de cruz na testa e um ou dois desenhos de lágrimas vazias, uma em cada olho. Só agora, oito ou nove meses depois, ao escrever este post, tive a curiosidade de saber o que significam aquelas tatuagens. Não sei se tem um significado especial em Cuba, mas por aqui é comum em presidiários. Lágrimas significam homicídios. Uma para cada pessoa que o cara matou! Glupt.
Havana, 2017
De jeito nenhum que eu iria deixar um escrotossauro desses me abalar. Então eu e o maridão trocamos alguns comentários sobre o que tinha acabado de acontecer e mudamos de assunto (perguntei pro maridão agora sobre toda essa situação e ele não se lembra de nada. Nem do nome da praça. Felizmente eu tenho fotos que ele tirou).
Fortaleza, 2012
No dia seguinte depois do almoço fomos pro aeroporto cubano pegar um voo pro México e de lá pra Bogotá. Entramos numa fila, e vi que havia uma moça bonita, uma oriental jovem e sorridente, olhando pra gente. Vi quando ela pediu pra um rapaz na fila cuidar da mala pra ela enquanto ela ia ao banheiro. Até comentei com o maridão: "Essa moça tem muita fé na humanidade". 
Varadero, dezembro 2017
Depois do check-in, na sala de embarque, atraídas por sorrisos mútuos, passamos a conversar, em inglês. Fiquei sabendo que ela era coreana (do Sul), tinha uns 27 anos, estava viajando sozinha, trabalhava com relações públicas, era sua primeira viagem a Cuba, aliás, a primeira à América Latina, e ela tinha adorado e pretendia voltar, apesar de ser chato andar na rua sozinha, porque a cada passo ela ouvia alguma cantada (assédio), um pedido de dinheiro para um "regalo" (presente), ou simplesmente a pergunta "Táxi?". 
Joinville, 2004
Conversa vai, conversa vem, e ela me indaga se pode fazer uma pergunta pessoal. Eu respondo com "Of course", típica de quem não tem nada a esconder, e ela pergunta há quanto tempo eu e o maridão estamos juntos. Eu respondo, e ela conta que tinha nos visto na fila, tão carinhosos um com o outro, dando beijinhos e fazendo carícias, sempre de mãos dadas, e como isso não era tão comum e, ao mesmo tempo, como era inspirador, porque ela nunca tinha pensado em casar, mas ao nos ver assim, depois de tantos anos juntos, ela constatou que era esse tipo de relacionamento que ela queria pra ela. 
Barra Nova, CE, 2017
Eu fiquei feliz (o maridão ficou bobo), e comentei com ela que era bom ouvir isso, porque no dia anterior eu tinha escutado uma agressão do cubano com tatuagens no rosto. Contei pra ela, e ela, chocada e triste, disse: "Que babaca! Então você conseguiu encontrar o único cubano estúpido na ilha?" Ela era um amor.
Beberibe, CE, 2015
Ao chegarmos no aeroporto da Cidade do México, ela me escreveu seu nome -- Heejin Kim -- e seu email, e pedimos pro Silvinho tirar uma foto de nós juntas. Eu disse pra ela que tinha um blog feminista (ela sorriu de orelha a orelha) e que iria escrever sobre ela no blog e mandar o link pra ela. 
Então aqui está: Dear Heejin Kim, it was great to meet you! Stay strong! Come visit us in Brazil!
Icaraí do Amontada, julho 2018
Eu devia ter contado tudo isso em janeiro, ao voltar da viagem, mas fui adiando e guardando pra escrever neste post comemorativo dos 28 anos. Que bom que não esqueci quase nada!
Mas é isso. Que venham os próximos 28 anos! Estamos prontos.

15 comentários:

mundo IN transe disse...

Que massa! no dia do meu aniversário! muitas felicidades a vocês Lola!

Kasturba disse...

Muitas felicidades pra vocês sempre!
Também conheci meu primeiro marido quando eu tinha 23 anos (ele tinha 25). Por sermos muito imaturos, o relacionamento durou uns 7 anos e acabou. É tão difícil manter um relacionamento quando se começa tão jovem... Que bom que vocês conseguiram! Parabéns, de verdade!
Com meu atual marido, acho que temos um relacionamento bem parecido com o de vocês (exceto que queremos filhos, e ele não gosta de gatos - eu gosto de qualquer bicho). Espero também poder comemorar meus 28 anos de amor, companheirismo e cumplicidade com o meu gato, assim como você.
Beijos!

Anônimo disse...

Parabéns pelos 28 anos de união que venham mais 28 anos de felicidades para o casal

Anônimo disse...

Parabéns pelo aniversario de casamento! Que venham muitos outros

Anônimo disse...

Sou gordo e a realidade é que impossível ser feliz sendo gordo. Tudo que dizem em contrário é só mecanismo de compensação.

Felipe Roberto Martins disse...

Lola, que amor lindo!!! Abraços e muitos anos de vida p/ este amor tão bonito.

Anônimo disse...

Olha, também sou gordo e não deixo de ser feliz. A questão é como se encara os problemas da vida. Há algumas limitações, certamente, mas eu não deixo que isso me abale. Já tive problemas de autoestima, mas hoje não mais.

Anônimo disse...

Adoro muito ler sobre o relacionamento de vocês porque é sempre uma doçura. Há alguns dias, porém, tive curiosidade de saber como o Silvio narraria esses mesmos causos. Se não estou enganada, ele tem um blog de xadrez, ne? Bem que podia ter um Escreva, Silvio, escreva. Hehehe
Beijão.

Anônimo disse...

Que lindo, lola. Muitas felicidades e amor pra vocês doisão. :)
Seu relacionamento é inspirador, lola.

Anônimo disse...

Lola querida,

Estimo que vocês estejam sempre juntos, felizes, unidos, façam planos, concretizem... assim deveria ser a vida de todo casal - quando se propõe a ficar junto.

Relato honesto, bonito, poético!

Vale lembrar que, sempre que entrei em contato com você, fui bem recebida. Me parece um ser humano incrível (salve o Feminismo!)

Um beijo pra você e um abraço pro maridão! Vida longa! AMOR!

João Paulo Ferreira de Assis disse...

Parabéns Lola pelos 28 anos de feliz união!

Anônimo disse...

Lola maravilhosa!!!!

Adoro suas histórias! Vc poderia escrever um livro de memórias, eu compraria! :)

Karen disse...

Que lindo! Que seja eterno enquanto existir amor. E que sempre exista muito amor entre o casal.

Denize disse...

Feliz pelo amor de vocês.
Eu também sou muito feliz com meu Maridão Comunista 😊
Como te disse estivemos em Cuba ( passamos 45 dias) e passamos o mesmo que vocês.
O maridão relevou , mas eu fiquei P DA VIDA COM AS CANTADAS ( ASSEDIO TANTO COMIGO COMO PARA O MARIDÃO )
Mas o País do nosso #Fidel e lindo.
Foi uma honra ter conhecer.
Abraço fraterno desde ARGENTINA.

Anônimo disse...

Oh Lolinha, eu acredito em Deus então desejo que ele abençoe muito vocês, acho que eu acreditar conta né?! kk no mínimo tô mandando boas energias kkk.
Enfim, lindo vê-los felizes. Você parece ser tão gente boa, um dia, quem sabe, acabo conhecendo vocês. Beijão.

Quero acreditar que a quantidade de gente boa que gosta de você é 100 vezes maior que a de malucos que te perseguem e difamam, assim continua valendo manter o blog.

Sandra.