segunda-feira, 30 de novembro de 2015

ESCRACHOS QUE VÃO LONGE DEMAIS?

No fim de semana recebi o email da Luciana, uma ex-militante de um partido de esquerda, pedindo minha opinião sobre um caso. Um homem, também de esquerda, foi acusado pela ex-esposa de vários tipos de violência. 
No final do mês, esse homem compareceu a um protesto em Pernambuco. E foi escrachado pelas manifestantes. Luciana não me pediu para escrever um post sobre isso, mas compartilhou algumas dúvidas sobre escrachos.
Escracho contra um torturador no país
da anistia para os militares
Compartilho um pouco sobre o que escrevi para ela sobre escracho público, que vai desde manifestantes discursarem palavras de ordem contra um acusado (e que não está restrito ao feminismo) a textos escritos em redes sociais, passando por atos de repúdio e hashtags como a #meuamigosecreto. A ideia geral é: como não há justiça, façamos nós a nossa justiça.
É complicado. Por um lado, a gente sabe como é difícil pra uma mulher denunciar uma violência, como na maior parte das vezes essa denúncia não dá em nada. Sabemos também da importância e da força da sororidade nessa denúncia coletiva, de como é bacana tomar o controle da situação e fazer essa denúncia com a própria voz. Muitas vezes, esta é a única denúncia possível.
Por outro lado, vira um julgamento coletivo que rapidamente pode levar a um linchamento moral (e algumas vezes num linchamento real, físico; óbvio que ativistas não tiveram nada a ver com a mulher morta no Guarujá). Eu acredito sim que a maioria das mulheres não mente sobre violência doméstica e estupro. Mas isso não impede que alguma possa mentir. 
Ou às vezes nem é mentira consciente, e sim uma interpretação dos fatos. Não estou falando em casos de estupro ou violência física, mas de violência psicológica, por exemplo. Às vezes a pessoa se convence que aquilo é verdade, mas é a sua verdade. Tudo tem que ser apurado. Assim como as violências têm potencial para arruinar a vida das vítimas, uma denúncia falsa também pode prejudicar demais alguém.
Pra quem é ativista, a gente realmente fica num impasse: vamos participar desse escracho público mesmo correndo o risco de estar sendo injusta com alguém?
Tipo: adorei a campanha #meuamigosecreto, da qual participei (e amanhã publicarei um guest post sobre ela). Entendi a hashtag como se fosse um coisa genérica. Eu não estava acusando alguém em particular de ter dito que não acredita que mulher ganha menos que homem, ou que diz que mulher que sai com roupa justa está pedindo pra ser estuprada. São coisas que já ouvi e continuo ouvindo de muitos homens, inclusive de alguns amigos. 
Algumas feministas postaram tuítes de homens mais progressistas que não deixam de ser machistas. Outras pessoas passaram a criticar frases que não são de amigos, secretos ou não (Bolsonaro é amigo de alguém?). Muita gente entendeu o #meumelhoramigo como indiretas. Pessoalmente, não vi assim. Porém, lógico, é uma hashtag. Não tem muito controle. As pessoas vão interpretar de várias formas. Como um todo, foi (está sendo, continua) extremamente positivo.
Um desmembramento inusitado foi que surgiu um tumblr ou blog, nem vi direito, que denunciava onze homens de Brasília por manipulação, violência doméstica, e até estupro. Trazia a foto e o nome completo dos caras. As acusações eram muito genéricas, coisa de duas linhas. Pelo que vi, a página só ficou no ar por poucas horas, e alguns acusados já registraram BO e a polícia vai tentar encontrar os autorxs para processar. 
Então, esse tipo de ação é necessário? É certo? Não corre risco demais de acusar sem provas gente inocente? 
Só pra ilustrar: eu sou ameaçada de morte e difamada diariamente. São inimigos declarados, mascus misóginos, que inventam pra mim os mais diversos crimes -- desvio de verbas na minha universidade, realizar um aborto de aluna em sala de aula, comprar meu diploma, trocar notas por sexo, rasgar e queimar bíblias, sei lá mais o quê. Convenceram um rapaz a fazer um vídeo dizendo que eu abusei dele no banheiro de um congresso escolar. 
Esses mesmos caras prometem que acusarão meu marido de pedofilia e estupro de menores; querem que ele seja preso (e morto). E aí? 
Esses caras criam essas calúnias absurdas, algum reaça mais conhecido as divulga, e eu e meu marido passamos a ser atacados por um monte de gente que acredita em qualquer coisa. Isso aconteceu na páscoa (quando criaram um tuíte falso pra mim) e agora no início de novembro (com o site fake no meu nome), e nada impede que voltará a acontecer, já que todos esses mascus continuam soltos, cometendo seus crimes impunemente.
Claro que não estou comparando mulheres vítimas de violência que fazem escracho público com mascus, criminosos que se orgulham de seus crimes. Só estou dizendo que é fácil acusar alguém anonimamente na internet, e que essas "armas" são usadas para destruir reputações (em 99% das vezes usadas contra ativistas sociais, não por ativistas sociais). 
No meu blog, já publiquei e continuo publicando centenas de relatos de sobreviventes de estupro, violência doméstica, assédio sexual etc. São mais de 700 guest posts, e muitos deles são sobre isso. Vários são sobre crimes cometidos anos atrás, que já prescreveram, mas só de contar já faz a vítima se sentir melhor. Eu nunca publico o nome dos acusados, e, óbvio, respeito o anonimato da autora (se ela pede pra publicar com seu nome, eu publico). 
São textos que têm muito mais a ver com denunciar uma situação recorrente que um caso específico. Eu faço isso de não publicar os nomes dos acusados pra me resguardar (em quase 8 anos de blog, ainda não fui processada, ufa), e também porque não é meu papel denunciar alguém no meu blog. Não sou juíza, não sou polícia, não sou investigadora. As raríssimas acusações que fiz aqui dando o nome aos bois foram da minha parte (ou seja, não partiram de uma anônima, mas de mim) contra quem eu tinha e tenho certeza que estava cometendo crimes (Marcelo e Emerson em 2011 e hoje).
Hoje, por ex, estamos
escrachando um "movi-
mento" que pede fim de
direitos para pessoas com
deficiência
No Twitter é um pouco diferente (não tenho Facebook). Vez por outra dou RT em algo sem checar direito, porque vem de alguém que eu sigo e confio. Mas os "escrachos" no Twitter, pelo menos da minha parte, são pra alguém que foi machista/ preconceituoso na rede social. Geralmente há prints e, no escracho, não se acusa alguém de um crime, e sim de ser misógino e/ou escroto e babaca -- que não é crime. É bem diferente acusar um cara de mandar selfie não solicitada do pênis dele pra um monte de mulher e acusar um cara de estupro.
Uma das muitas ameaças que o
sujeito enviou a uma menor de
idade que stalkeou
Um outro exemplo. Aqui onde moro, perto da faculdade, tem um cara que é assediador conhecido, principalmente de meninas menores de idade. Ele já foi denunciado várias vezes em delegacias, tem BO contra ele (ele vai à delegacia, quando é chamado, e ri), tem várias vítimas -- algumas tiveram que mudar de cidade por causa de suas ameaças e de stalking. Ele vem fazendo isso há anos, e algumas ativistas dão apoio às vítimas dele. Quando fiquei sabendo, e vi uns prints comprometedores do cara ameaçando meninas de morte, perguntei pro pessoal: vocês querem que eu divulgue no blog? Acharam melhor não, pra não colocar em risco as vítimas. Então não divulguei, não escrevi. Isso já tem uns dois anos.
Agora, você acha que eu pensaria duas vezes antes de escrachar um cara desses, que tem um histórico comprovado de anos de perseguição às mulheres? Mas não mesmo! Aliás, muitas ativistas daqui já o escracharam in loco (não na internet), já fizeram ato contra ele na praça que ele frequenta, acho que já protestaram em frente à casa dele. Este é um exemplo de como denunciar pra polícia não adianta em inúmeros casos e como o escracho pode ser uma arma eficaz (às vezes, a única arma).
Mesmo assim, aconselho ir à polícia. É um registro formal que a vítima tem.  
Denunciando em público, pode-se passar de vítima a "algoz" (mesmo que sua denúncia esteja coberta de razão). Não me lembro os detalhes, mas teve um coletivo no Rio que denunciou, num post no FB, um cara de estupro. Não era uma denúncia genérica, como foi aquilo feito esta semana com os onze sujeitos de Brasília. Esta do Rio dizia quem, quando, onde. Mas não havia provas. O acusado está processando o coletivo. E há vários outros casos de mulheres que individualmente acusam um agressor e são processadas.
Como eu disse, é complicado. Creio que a vítima sempre que possível deve ir à uma delegacia. Mas sabemos que na maior parte das vezes a polícia não faz absolutamente nada. Agora mesmo acabei de receber um email de uma mulher desesperada porque está sendo stalkeada pelo ex. O que fazer? A polícia não faz nada, sequer considera isso um problema. De repente juntar um grupo de ativistas e ir na frente da casa dele exigir que ele pare de perseguir a ex resolve?
Recomendo que a vítima seja organizada e guarde as provas -- prints de ameaças, vídeos, gravações, emails, o que tiver. Em grande parte das ocasiões o agressor não comete o crime contra uma única vítima, mas contra várias. Se possível, a vítima deve tentar se comunicar com as outras vítimas. E a partir daí se organizar. Um escracho nessas horas pode ser uma saída, mas é preciso que as vítimas se exponham um pouco, é preciso mostrar provas.
Todxs sabemos da dificuldade que é depender de vias legais para conseguir algum tipo de justiça. Mas também é difícil, e nem sempre aconselhável, tentar fazer justiça com as próprias mãos.

sábado, 28 de novembro de 2015

GUEST POST: PELO FIM DA VIOLÊNCIA SIMBÓLICA CONTRA A MULHER

Simone Baía (foto abaixo), engenheira química e diretora da Mulher da Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), enviou este texto pra cá, texto que faz parte dos 16 Dias de Ativismo. As ilustrações são de Thaís Linhares. 

“E se... você fizesse uma dieta, uma plástica ou alisasse o cabelo?”. Estas são algumas formas de expressão de violência simbólica que nós, mulheres, passamos todos os dias. A campanha #primeiroassédio nas redes sociais trouxe à tona diferentes formas de violência contra a mulher. Uma das violências invisibilizadas e naturalizadas pela sociedade é a violência simbólica. Nossos corpos são inseridos em um código de subalternidade e normatividade. Para Pierre Bourdieu, a violência simbólica é o meio de exercício do poder simbólico. Esse sistema de dominação que vem desde o simbólico pode chegar à violência física. Afinal, estamos falando sobre dominação e propriedade de corpos e vidas.  
Os principais motores da violência simbólica são a mídia, o próprio Estado e algumas religiões fundamentalistas, que impõem determinados sistemas de crenças, nos quais temos de nos enquadrar. E esses códigos são reproduzidos por homens e mulheres. Nossas crianças negras sofrem todos os dias com o racismo que, praticamente, impõe um cabelo liso e “arrumadinho”. Esse é apenas um dos cenários, pois ainda temos as violências simbólicas sofridas por pessoas gordas, idosas, transexuais, com deficiência, por exemplo.
 

Nossos corpos são questionados desde a infância, adolescência, maternidade até na terceira idade. 
Isso porque vivemos em uma sociedade fundada no patriarcalismo, com todas as cobranças e imposições direcionadas às mulheres. A violência simbólica legitima o discurso dominante e as práticas de discriminação. E essas narrativas são reforçadas pela mídia, tanto em seus programas de jornalismo quanto em suas propagandas. Afinal, qual a representatividade das mulheres negras nas novelas? São personagens exercendo papéis de servidão e com corpos objetificados. Na propaganda, o modelo eurocêntrico branco e corpos magros são ditos como o padrão e o saudável. Os meios de comunicação produzem subjetividades alinhadas ao sistema hegemônico, que é capitalista, machista, racista e LGBTfóbico, e tudo isso gera capital simbólico.  
Recentemente, o presidente da Câmara dos Deputados apresentou o Projeto de Lei 5069, que dificulta e praticamente impede a mulher a ter acesso à pílula do dia seguinte em casos de estupro. 
Assim funciona o discurso de dominação, que subalterniza e nega às mulheres  direitos sobre o corpo, promovendo práticas misóginas. O país tem uma taxa de 4,8 homicídios para cada 100 mil mulheres, a quinta maior do mundo, conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que avaliou um grupo de 83 países.  
Para combater essa ofensiva no Parlamento e os discursos de ódio na sociedade, é fundamental o debate de gênero nas escolas. Embora tão temido pelos setores conservadores, é fundamental que esse debate esteja transversalizado na educação. O Enem sinalizou de maneira pedagógica o necessário enfrentamento às narrativas machistas impostas.

Precisamos falar sobre gênero. Precisamos falar sobre machismo. Precisamos falar sobre violências simbólicas e físicas. Apenas com o debate, iremos descortinar silenciamentos de mulheres historicamente oprimidas.  

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

VIRGINDADE, UMA CONSTRUÇÃO SOCIAL

Baile da pureza, cerimônia bastante comum nos EUA

Meu querido Flávio me enviou este texto interessante de Wagatwe Wanjuki publicado na Upworthy, que tem muito a ver com este outro, sobre os "juramentos de pureza".

O certificado de pureza de uma mulher viralizou nos EUA. É hora de conversar sobre essa coisa de "virgindade". Parece que o papo sobre virgindade não vai desaparecer. Então vamos colocar as coisas em pratos limpos.
Você é virgem? Certo, a questão pode parecer simples à primeira vista...
Não. Não tão rápido. Quando escarafunchamos o significado real de "virgindade", a coisa fica um pouco mais complicada.
Do mesmo jeito que aconteceu com essa foto que viralizou. Observe: É apenas uma jovem radiante em seu vestido de casamento ao lado do pai em seu grande dia. Não. Não tão rápido. Olhe mais de perto...
Ambos seguram um “certificado de pureza” fornecido pelo médico dela. Agora, eu não estou aqui para criticar o fato de que Brelyn Bowman alcançou um objetivo que era muito importante para ela. Mas tem alguma coisa esquisita em relação à dimensão desse objetivo.
É o seguinte: É impossível “provar” que alguém é virgem usando um teste de hímen.  A base para o teste de Bowman foi saber se seu hímen -– uma membrana no canal vaginal -– ainda estava intacto. Embora tenha funcionado para ela, esse teste já foi desmoralizado há muito tempo como ferramenta para determinar se alguém já fez sexo.
Há duas grandes questões aqui: primeiro, nem todos os hímens são criados iguais. Algumas pessoas nascem com hímens que não estão intactos. E, segundo, mesmo que alguém nasça com ele intacto, o hímen pode romper-se devido a uma variedade de atividades não-sexuais, como andar a cavalo ou ginástica.
Rápido, alguém tire a moça desse cavalo ou ela vai inutilizar todos os obsoletos testes de virgindade!
Ok, então o teste de hímen não funciona. O que funciona?
Espere! Segure esse boi porque estamos colocando-o antes dos carros.
Não existe uma definição estabelecida do que seja a virgindade. As pessoas normalmente dizem  que virgem é alguém que nunca praticou sexo. Mas o que conta como sexo?
Sexo oral conta? Intercurso anal? Convencionalmente, as pessoas tendem a crer que somente a relação pênis-na -vagina conta. Mas então... gays e lésbicas são sempre virgens? E as pessoas que têm outros tipos de contato sexual?
Teste de virgindade é uma afronta
à dignidade de uma mulher
Eu não culparia você por estar coçando a cabeça agora porque tudo isso parece complicado e confuso.
É difícil analisar isso porque a virgindade não é um estado biológico. É uma construção social.
Pense: a valorização da virgindade só afeta mulheres. Não há testes para pessoas sem vagina. Isso porque a virgindade e a pureza sexual emergiram em tempos remotos como uma forma de controlar o comportamento das mulheres. E percebemos isso em todos os padrões duplos que existem entre homens e mulheres.
Apesar de não ser possível provar a virgindade, ela ainda é usada como forma de medir a chamada “pureza” de uma mulher.
Veja o fenômeno dos bailes da pureza: a “santidade” de uma garota é prometida a um protetor masculino (pai) até que seja (presumivelmente) entregue a um marido. (A possibilidade de mulheres jovens jamais se relacionarem com um homem ou se casarem? Impossível).
Não há nada errado em escolher esperar para ter sexo. Mas vamos nos certificar de que damos às pessoas jovens informações factuais que as ajudem a tomar essa decisão. Fornecer educação sexual abrangente, que poderia explicar que um teste de hímen não é uma forma precisa de testar a virgindade, poderia ser um bom começo. Comparar pessoas que têm múltiplos parceiros sexuais à goma de mascar não fornece a base apropriada para se tomar uma decisão amplamente informada.
Um estudo de Harvard revelou que a educação baseada na abstinência não faz um estudante menos propenso a ter uma relação sexual antes do casamento. As chances de haver sexo são as mesmas, mas com menos probabilidade de que métodos contraceptivos sejam usados na primeira relação. Sabe o que de fato ajuda os alunos a adiar o sexo (e a usar métodos contraceptivos desde o início)? Educação sexual abrangente.
Contemple o poder da informação!
A noção integral de que a “pureza” de uma mulher — e consequentemente seu valor — está vinculada a ela ter feito sexo ou não é simplesmente equivocada.
Como diz Jessica Valenti, autora do livro O Mito da Pureza:
"O mito da pureza é a mentira de que a sexualidade das mulheres tem alguma influência sobre quem somos e sobre o quanto somos pessoas boas. Porque, sério, eu acho que todos sabemos que mulheres jovens são muito mais do que se elas fazem sexo ou não. Nós realmente deveríamos ensinar às nossas filhas que nossa capacidade de sermos boas pessoas é baseada em inteligência, compaixão, bondade — e não no que fazemos com nossos corpos".
Não estou julgando Bowman por sua decisão. Em vez disso, dirijo meu julgamento a uma sociedade que perpetua a desinformação sobre sexo e nossos corpos.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A (IN)EFICÁCIA DA "CAGAÇÃO DE REGRAS"

No guest post do Robson sobre o que ele viu como exagero na reação do assassinato do leão Cecil pelo dentista, surgiram vários comentários interessantes.
Destaco os dois abaixo. A meu ver, a discussão sobre o que é chamado de "cagação de regras" -- ficar dando sermão e pregando o que deve ou não ser feito -- está muito longe de se restringir aos veganos. Estou pensando em feministas que vem dizer que mulher não pode ser mãe, ou usar maquiagem, ou (pasme) gostar de homem. Estou pensando em pessoas negras que pregam que negros não podem amar brancas, e até inventam um termo absurdo pros que fazem isso ("palmiteiros"). Estou pensando em gays e lésbicas que insistem que bissexuais não existem.
Boa parte do ativismo em todos os meios acaba caindo em ditar dogmas e cassar carteirinhas, e venho pensando na eficácia desse método, ainda mais pra quem já simpatiza com nossas causas. Pra quem odeia ativismo nada do que fizermos ou deixarmos de fazer fará qualquer diferença. Mas ao "cagarmos regras" não afastamos simpatizantes?

"É uma merda que tudo é feito à base de manteiga, leite, carne e ovos. Que você vai num restaurante self-service e não sabe se a galera refogou no óleo ou no azeite. É uma merda que achar chocolate vegan beira o impossível. É uma merda que são poucas as opções. 
Mas a MAIOR merda é essa cagação de regra. Ainda mais sobre pessoas que estão fazendo a transição e que estão BUSCANDO FORMAS DE SE TORNAREM VEGANAS.
Tenho um casal de amigos que veio para Brasília no ano passado. A esposa é vegan, o marido, não. Como eu os recebi? Sabendo da restrição dela, eu fui atrás de restaurantes que tinham opção de comidas veganas deliciosas.
Sabe como eu consegui a lista desses restaurantes? Com uma outra amiga vegan que ME AJUDA na transição. Com uma amiga que dá apoio e não fica nessa cagação de regra. Com uma amiga que também levou um tempo para fazer essa transição. 
E, sim, eu acho que a humanidade já evoluiu o suficiente para parar de depender da vida de outros animais para se alimentar. 
Vamos usar o Cecil como bandeira? MESMO SENDO ESPECISMO
Ou vamos ficar 'Ain, mimimi, como você é hipócrita e especista, porque vc come carne e está matando animais indefesos'." (Vbfri)

"O consumo de carne é algo cultural, muito enraizado e que existe em praticamente todas as culturas. No Brasil não se come cachorro, mas se come vaca e porco. Na Índia não se come vaca, mas se come carneiro e frango (inclusive os sanduíches dos McDonald's da Índia são na maioria de frango), em alguns cantos da China come-se cachorro, vaca, gato, até rato. Na Libéria come-se caramujo. As pessoas que vivem junto do lago Vitória literalmente comem mosca. 
Ou seja, é preciso séculos de desconstrução cultural (e eliminação da desigualdade social) para que o mundo vire vegetariano. Poderiam começar estimulando a redução do consumo de carne, pedindo o barateamento dos hortifrútis, divulgando receitas vegetarianas saborosas com bom balanceamento de nutrientes, enfim, muitos lugares por onde começar. 
Regras para namorar minha filha:
ela faz as regras
Um grupo vegetariano da faculdade em que eu estudo começou assim, fazendo campanha pra que todos fiquem um dia pelo menos sem comer carne em nenhuma refeição. Funcionou. Na rua da faculdade tem um restaurante vegetariano com uma comida deliciosa e por bom preço que até quem não é vegetariano frequenta. 
Um grupo de moças veganas começou a vender seus produtos por lá, que são muito bons, sem c*g*r regra, sem escândalo, sem ameaçar ninguém de morte, simplesmente mostrando que comidas diferentes podem ser gostosas. Elas vendem muito, muito mesmo, até pra quem não é vegano. E adivinha, todas essas iniciativas funcionam bem melhor do que sair por aí dizendo que quem come carne tem que morrer.
Mas pra muita gente não, tudo tem que ser resolvido na base do grito e da violência, da ofensa. Ou é oito ou é oitenta, ou você desliga o botãozinho da carne ou você merece ser eliminado da face da Terra. Engraçado é o quanto esse tipo de pessoa é a que mais adora reclamar da falta de respeito dos outros. Ah vá, viu! 
Ao invés de ficar ameaçando meio mundo, vão abrir um restaurante vegetariano ou um bufê vegano com comida BOA. Dona Carmem e dona Juju estão de prova que isso ajuda muito mais do que ficar estrebuchando de raiva na internet". (Anônimo)