quinta-feira, 16 de outubro de 2014

GUEST POST: UM ABUSO NO DENTISTA

A N. me enviou este relato:

Tenho um relato que gostaria de compartilhar, contando um pouco sobre como o machismo deixou suas marcas desagradáveis em minha vida, e em minha personalidade.
Tenho 20 anos. Quando tinha uns 11 anos, comecei a fazer um tratamento dentário com aparelho que durou uns 6 anos. Eu ia ao dentista toda a semana. O dentista costumava me perguntar sobre meu crescimento, se eu já havia menstruado, contava detalhes sobre como ocorriam as mudanças no corpo das jovens durante o período menstrual (inclusive nas vezes em que minha mãe foi junto, bem no começo do tratamento), enfim... Falava como médico.
Acontece que quando eu cresci mais um pouco, e minha mãe já não me acompanhava mais às consultas, ele começou a contar outras histórias, diferentes, por exemplo, sobre como na missa havia meninas que usavam saias sem calcinha para "provocar" os padres. "Eles olham, né? Que safadas, elas sabem que o corpo delas tá ficando bonito, gostam de provocar." 
Eu não percebia, mas hoje pra mim a mensagem era clara: estamos eu e você nesta sala, sozinhos. Seu corpo está mudando, ganhando forma... Se algo acontecer a culpa é sua. Você provocou.
Até que um dia uma dessas conversas (não me lembro como) terminou com as mãos dele em cima dos meus seios ainda mal formados. Não consigo descrever a sensação de impotência de estar diante de um homem, deitada em uma cadeira reclinada, ouvindo repetidamente: "Tudo bem?", como se o que estivesse acontecendo fosse um rotineiro procedimento de ajuste no aparelho. Me senti muito pequena, pequena mesmo, diante de um velho que parecia saber mais sobre minha condição de mulher do que eu mesma, que começava a entrar na puberdade. Não tive reação. Só conseguia olhar para ele e acenar com a cabeça, confirmando que estava tudo bem. Por sorte, ele não fez nada além disso, mas eu fiquei com muito medo.
Desde aquele momento, eu passei a tomar um cuidado extremo com as roupas que usava para ir ao dentista, vestir somente camisetas. Mesmo assim, ele se aproveitava da situação pra se apoiar nos meus seios. Nunca tive coragem de fazer algo além do que empurrar um pouco seus braços, tentando evitar contato. Nunca tive coragem de contar pra minha mãe.
Aliás, tentei uma vez contar pra minha mãe, mas desisti. Comecei a conversa com um "Mãe, o doutor José [nome fictício] tem umas conversas estranhas de vez em quando", ao que ela respondeu: "Ah filha, tem gente que é assim mesmo, mas não é por maldade...". Percebi que ela se remeteu à forma como ele conversava sobre a puberdade quando comecei o tratamento, mas resolvi deixar a conversa parar por aí. Ela é uma pessoa extremamente religiosa, conservadora, que provavelmente me pediria pra deixar pra lá as ações do dentista.
Recentemente, quando passei a ter mais contato com o feminismo e a entender melhor o que havia acontecido comigo pensei em denunciar (sei que ele fez e deve fazer isso com outras meninas, é uma cidade pequena do interior, e rolam boatos), mas conheço sua esposa (fiz parte do tratamento com ela), e tenho a impressão de que há algo de triste nela... Me parece que haveriam efeitos bastante negativos pra ela se o caso viesse à tona numa cidade onde praticamente todos se conhecem. Não tive, e não tenho coragem de me expor e de expor tanta gente que pode estar envolvida.
Esse é um dos acontecimentos que teve uma influência enorme em minha forma de encarar e lidar com as ações das pessoas, e por muito tempo, me fez uma pessoa passiva. Hoje me dou conta que fui condescendente em muitas situações de minha vida, mesmo depois de crescida. Um filme que junto com o feminismo me ajudou muito a enxergar isso foi Dogville (que critica muitos dos princípios da sociedade judaico cristã ocidental). 
Fico feliz por poder reconhecer isso hoje, por ter tido a ajuda de amigos, por ter entrado em contato com uma série de informações que não teria se ainda morasse nesta cidade pequena, e não estivesse na faculdade, e ainda por ter conhecido esse blog que é uma lindeza, e que a cada postagem, faz eu me sentir um pouco mais livre.

44 comentários:

Anônimo disse...

Eu também fui assediada pelo meu professor, minha mãe sabia e disse que a culpa era minha que o provocava.

Anônimo disse...

por isso que as vítimas tem medo de contar

Anônimo disse...

Lola você viu uma pesquisa que diz que 40% das mulheres nunca sentiram orgasmo?

Raquel Link - BLOG ESCREVO POR COMIDA disse...

é muito triste essa história e pensar que tem gente assim no mundo. me da nojo. por isso eu tenho super medo de ir em ginecologista homem, claro que a maioria é correta, mas se tu dá azar? cai num pertubado da cabeça. fogo.

mas você devia ter contado pra tua mãe, ou feito uma denuncia anonima ao conselho sei la. as coisas não devem ser deixadas assim.

pessoas desse tipo NÃO podem sair impune.

Unknown disse...

E preocupante o relato da moça, agora esse relato mostra como e importante conversa com as crianças e explicar para elas desde os 6, 7 anos, o que um adulto pode fazer com ela e o que não pode fazer com ela, e a conta quando alguém pratica contra ela algum abuso, ai tendo esse tipo de orientação essa garota com certeza teria contado para a mãe, o que esse medico tarado estava fazendo com ela.

Anônimo disse...

Que situação é comum isso muito homem se aproveita da "fragilidade" das mulheres e da cultura do estupro.

Kittsu disse...

http://g1.globo.com/goias/noticia/2014/10/provas-apontam-que-vigilante-preso-em-goiania-e-o-serial-killer-diz-policia.html

O tempo destrói tudo... disse...

"Lola você viu uma pesquisa que diz que 40% das mulheres nunca sentiram orgasmo?"


Resposta: Pesquisa mais velha do mundo.

Claudio disse...

Viu como homens e mulheres são diferentes!? eu perdi minha virgindade com minha dentista (faixa dos 30 anos e eu tinha 12), hoje eu nao pegaria ela, mas naquela época qualquer mulher que vinha tava bom.

Tu falou que ele se escorava em ti, minha atual dentista também, porém ela é meio 'old'.

Anônimo disse...

Pra quem fala que é melhor contar pra mãe, eu tenho minhas dúvidas. Fui assediada por um porteiro aqui do prédio, contei para minha mãe, meu pai, meu irmão e ninguém fez nada, nem me apoiou quando eu quis fazer algo. Disseram pra eu deixar quieto, que eu tinha entendido errado. Isso foi extremamente danoso, pois eu percebi que não teria proteção nem da minha família, dentro da minha casa.
Resumo da história: engordei uns 50 kg (tive várias histórias de terror, acho que uma se somou a outra e essa foi meio que a gota d'água por ser na minha casa) e ele continua trabalhando aqui. Me sinto mais segura sendo gorda. O assédio, que eu sofro desde os 9, finalmente acabou.

Anônimo disse...

Aconteceu exatamente a msm coisa comigo, passei por um tratamento dentario e depois que fiquei maiorzinha e minha mãe e minha avó pararam de ir comigo o dentista vinha com graça pra cima...
Elogiava minhas pernas, as bandas das camisetas que eu usava, falava da cor da minha calcinha, o que eu fazia pra excitar meu namorado o.O se eu tivesse um e etc...

Hoje a esposa se divorciou dele, mas na época era surreal, ela entrava na sala e ele mudava.
eu sei que ele fazia a msm coisa com outras garotas, até mais novas que eu...
Ele vivia querendo meu msn na época...

Hoje quando o vejo na rua entro no primeiro estabelecimento que encontro, troco de rua qualquer coisa só pra evitar...

Anônimo disse...

Situação comum mesmo, muito infelizmente, eu é minha irmã tivemos esse tipo de experiência com o mesmo dentista, eu sou mais velha, mas minha irmã devia ter uns 16 anos. Ficou por isso mesmo também, é uma merda, não sei porque que a gente deixa pra lá, acho que até pelo fato de ser comum mesmo, você se pergunta se não está vendo cifre em cabeça de cavalo. Nessa o Lucas tem razão, a melhor coisa é conversar com as çriancas.
Leila

Anônimo disse...

Já tive uma experiência ruim com médico tb... Vou colocar meu relato que já foi postado no "Cantada de rua": (parte 1)
356 - "Olá! Adoro ler os relatos dessa página.
Me fez perceber que inconscientemente eu andava na rua de cabeça baixa, desviando o olhar, fingindo mexer na bolsa ou celular para ninguém me importunar. Aos poucos estou mudando esse comportamento!
Mas não é sobre esses episódios que vim falar...
Foi uma situação em que me vi paralisada, me sentindo culpada e sem apoio de ninguém…
O relato é um pouco longo.. me desculpem!
Isso aconteceu no início do ano passado quando tinha 24 anos.
Eu estava passando um tempo em um spa e para dar entrada no estabelecimento é preciso se consultar com um médico. Já tinha ficado nesse lugar outras vezes (quando tinha uns 18 e 20 anos) e conhecia a equipe e o médico.
Fiz minha primeira consulta com o Dr. Fulano e tudo correu bem. Eu estava gripada e ele receitou um remédio e pediu para evitar as atividades físicas naquele período. Até aí tudo bem.
O problema começou quando eu recebi no outro dia uma mensagem no meu celular de um número desconhecido.
Não tenho essas mensagens salvas, mas era algo do tipo:
"Olá Fulana. Vi que você possui viber e te adicionei em meus contatos. Está melhor da gripe? Pode contar comigo para qualquer coisa. Abraços Dr. Fulano".
Achei a mensagem inoportuna (afinal não tinha dado meu telefone e ele só poderia ter conseguido se tivesse procurado no prontuário!), mas pensei que era apenas um médico preocupado com sua paciente. Respondi algo do tipo:
"Olá Dr. Fulano. Estou melhor. Obrigada"
Perguntei para outros hóspedes se o Dr. Fulano era atencioso assim mesmo, mas me disseram que ele nunca havia mandado mensagem para ninguém e que, inclusive, tinha fama de ser grosso. Vi também que haviam muitos outros pacientes em situações muito mais graves que uma simples gripe.
As mensagens continuaram dia sim e dia não. Mas nenhuma possuía uma frase que realmente confirmava um interesse…
Eram coisas do tipo "Estou lhe escrevendo para dizer que se estiver se sentindo melhor pode iniciar as atividades físicas. Seu retorno está marcado para o dia tal. Estou a sua disposição para qualquer dúvida. Abraços Dr. Fulano".
A segunda mensagem respondi apenas com um "ok" e as demais não escrevi nada.
Como eu não respondia, ele passava a mesma mensagem uma segunda vez.

Anônimo disse...

(parte 2) A partir daí fiquei meio ressabiada de retornar ao consultório. Cheguei a entrar na fila e esperar, mas não me senti segura para ficar em um consultório fechado com ele. Enquanto estava esperando minha vez, imaginava como reagiria se ele falasse ou fizesse algo inconveniente… decidi não dar nem chance de passar por essa situação!
Comecei a me sentir muito mal, a achar que eu estava vendo coisas… Que a malícia estava na minha cabeça… Mas todos a quem eu contava a historia achavam muito estranho.
Decidi ir na psicóloga que fica disponível para os pacientes. Mostrei as mensagens… falei que estava muito confusa e incomodada… que não sabia se respondia alguma coisa (Algo do tipo: Esse número é privado. Não quero mais receber mensagens. Qualquer dúvida falo diretamente com você). Ela achou a situação incomum e disse que jamais algum paciente havia relatado algo assim. Me orientou a não responder as mensagens pois acreditava q ele perceberia q eu não estava dando abertura para conversas no celular.
Acho que fui na psicóloga umas duas vezes porque as mensagens não paravam. Inclusive ele tinha saído de férias com a esposa e filhos no período em que eu estava lá e, mesmo assim, eu recebi uma mensagem!
Cheguei a falar com a dona do spa sem saber que ele era primo dela. Mostrei as mensagens e ela disse que não via nada de mais… que ele tinha sido orientado a ser mais simpático com os pacientes e que isso podia ser algum procedimento novo. Fiquei meio sem chão… me sentindo boba… pensei que ela acharia um absurdo e que iria exigir uma postura mais profissional dele.
Bem… quando ele percebeu que eu não retornei à consulta, não respondia as mensagens e evitava falar e cruzar com ele no spa (Acho que a dona/prima deve ter falado algo pra ele também), o Dr me mandou uma mensagem mais ou menos assim:
"Olá Fulana. Vejo que você não responde minhas mensagens, não me dá bom dia e não veio mais se consultar. Será que você me entendeu errado? Não percebeu que minha conduta foi estritamente profissional?. bla bla bla. Dr. Fulano."
Não lembro as palavras exatas dessa mensagem… mas ele se dizia profissional e, por consequência, insinuava que eu pensei coisas maliciosas sobre suas mensagens… Eu já estava profundamente irritada com tudo a situação… e ainda recebi essa mensagem pagando um sapo e me acusando de desconfiar do profissionalismo dele!
Achei um absurdo!! Chorei de nervoso… e quando me acalmei liguei para o meu pai para contar e receber algum apoio…
Mostrei as mensagens e meu pai disse que não havia nada de errado nas mensagens, que não era pra tanto… eu fiquei mais nervosa e chateada! Desliguei o telefone. Pelo nervosismo, fiquei toda empolada no pescoço!
Liguei para a minha mãe q já sabia das mensagens antigas e ela disse que não tinha nada nas mensagens que indicasse efetivamente que ele estava dando em cima de mim ou sendo antiprofissional. Depois meu pai viu que fiquei muito chateada com ele, mudou um pouco a postura e disse que era óbvio que ele estava com uma conduta antiprofissional, mas que com base apenas no conteúdo das mensagens não dava pra provar nada e era melhor eu deixar pra lá porque o Dr. Fulano foi muito esperto (ou seja, era para engolir o sapo e ficar quieta!).
Poxa… me senti muito impotente.
No final eu nem respondi essa última mensagem para não prolongar a situação e não iniciar uma briga… mas no fundo eu sinto que estava certa e que deveria ter feito algo!
Sempre que lembro dessa história sinto muita raiva de mim por não ter feito nada e me posicionado…
Ficam várias dúvidas: O que fazer quando não se tem certeza se a pessoa está te cantando? Será que é você que está vendo maldade em tudo? Qual o limite da relação entre médico e paciente?
Obrigada pelo espaço!"
Dee

Anônimo disse...

Situações que já vivi tantas vezes, que quando mais nova cheguei a achar natural:

1 - Tio de amiga minha que ficava nu para mim enquanto eu e ela conversávamos.Nós sentávamos uma de frente para outra e os quartos da casa ficava na minha frente e ele assim que eu chegava entrava no quarto e tirava a roupa.Isso aconteceu por quase um ano.Eu tinha 7 anos.

2 - Um quase tio meu ficava de cuecas e fazia gestos obsceno sempre que ficávamos só.

3 - Já ouvi perguntas indiscretas no dentista.

4 - E para finalizar eu tinha um professor que mesmo casado e com filhos saía com quase todas as meninas menores de idade da escola e ainda eu tinha que aturar as grosserias e temas impróprios que ele junto com os rapazes falava na sala.Ninguém nunca teve coragem de denúncia -lo e infelizmente as meninas saiam porque gostavam.

MonaLisa disse...

Acho que primeiro deve-se desconstruir essa mentalidade cretina de não falar nada pra não prejudicar a família, reputação, mimimi. Vamos deixar as mulheres sofrendo por isso por causa de reputação??? Quem deveria cuidar da reputação são esses estupradores nojentos.

Infelizmente, a maioria não consegue ir em frente por causa de apoio, principalmente da própria família e amigos.

Anon 20:20
Saída pela tangente desse médico idiota. Você não está paranóica não, duvido que ele fique mandando esse monte de SMS pra paciente homem. Ele ta querendo se reaproximar, pra te confundir de novo e depois falar que a culpa é sua. Confie na sua intuição.

Anônimo disse...

Esse serial killer de GO estava matando gays, mendigos e mulheres.

Anônimo disse...

Anonimo das 18:42, se nao contar pra familia vai contar pra quem? Vc esta sugerindo que nao se comente nada? Com ninguem? Nunca?

Dee, tudo bem vc ter ficado incomodada, mas a sua reacao foi muito exagerada. Terapia te ajudaria a lidar melhor com o que for que vc estiver sentindo. Tem algo maior errado por ai.

Anônimo disse...

Anon das 23:19h
Não acho que a Dee precise de terapia não. O que ela fez de exagerado? Contar pros outros? Se indignar? Se incomodar? Aff

Anônimo disse...

Que absurdo... passei por situação semelhante, mas no ginecologista. Com mais de 20 e tantos anos, casada e esperando um filho. Só fui descobrir que determinados 'exames' não eram normais, quando passei por outros médicos e vi que muita coisa era diferente. Mas e o medo de contar pra alguém e ainda ser tachada de burra por não saber ou 'ah vá dizer que vc nao sabia que aquilo não podia?" Lamentável.

Anônimo disse...

Anonimo de 23:19
Se VOCÊ não viu MUITA COISA errada no relato da Dee, você é quem tem de rever sua visão acerca das manifestações de misoginia em níveis micro e macro. A reação da Dee foi, ao contrário do que você escreveu, bastante contida, e a raiva/indignação internalizada.
Quanto ao relato da Anônima de 18:42, ela colocou uma dúvida e explicou os abusos por que passou, e o papel da família dela na progressão dos abusos e suas consequências. Fica claro que você não entendeu o sentido do relato dela: não "sugeriu" reações em termos de "nada", "ninguém", "nunca" (e se ela tivesse sugerido reação, possivelmente você a julgasse - a partir de sua interpretação enviesada - "exagerada").

Anônimo disse...

Interessante notar como os abusos misóginos e suas terríveis consequências crescem progressivamente quando há falta de apoio da família.

Um ponto em comum entre o post e outros relatos desse tipo de abuso é a situação de AMBIGÜIDADE que o violentador cria ou fortalece para atacar as vítimas.

Ainda bem que, graças à luta incessante das feministas, cada vez mais, nossas vozes são levadas a sério e os violentadores/ estupradores têm menor aprovação social, nessa ainda chamada cultura do estupro.

Unknown disse...

Dee não acho sua reação exagerada. Você foi vítima de uma violência muito sutil, mas ainda intensa.

Muitos perseguidores e agressores tem essa necessidade de fantasiar que as vítimas os aceitam e gostam dos seus atos de violência.

São absurdamente educados, mas cerceiam a vítima com certa constância, como se estivessem marcando território, se legitimando pelo contato constante.
Numa sociedade que ensina as mulheres a serem submissas, a reação normal é se sentir incomodada, mas não legitimada a repelir.
o fato do cara ser médico só piora os sentimentos de subordinação.
Para você ver que não é paranoia sua, lembre-se do caso abdelmassih, muitas vítimas retratavam que primeiro foram elogiadas pelo agressor e em encontros posteriores, estupradas enquanto estavam desacordadas.

Não posso dizer que o médico que você consultou seja um estuprador, seria extremamente leviano, mas não acho paranoia sua ficar desconfortável com o assédio.

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/10/1533224-mulher-de-roger-abdelmassih-e-vitima-de-cegueira-diz-ex-paciente.shtml

Mas a vida nos ensina, também aconteceu comigo, meu médico ginecologista era por 'demais atencioso', parei de visitá-lo e após tomar consciência de que aquele tipo de comportamento era muito intrusivo para mim, hoje firmo o pé toda vez que algo me incomoda.

Lembre-se: como paciente, você tem direitos. E o justo tratamento (médico e social), nos seus termos, não é 'exigir demais'.

Empodere-se: da próxima vez que algo semelhante acontece, basta dizer na primeira vez: olha dr, eu não gosto desse tipo de tratamento. Por favor, seja menos intrusivo. Quando eu precisa, eu lhe contato.

Acredite, consegui fazer isso ha alguns meses, e hoje tenho um relacionamento paciente-médico saudável com o novo ginecologista que me trata, que, adivinhe só: não morreu por entender que eu não quero comentários sobre a minha aparência (mesmo que elogiosos) e que não quero e-mails que não sejam da secretária para avisar da consulta.

Ana disse...

Menina, só uma coisa: você TEM QUE denunciar. Ele provavelmente faz isso com outras garotas e já pode ter, inclusive, chegado às vias de fato com algumas delas. Sei que é difícil, mas tenta, pelo menos, uma denúncia anônima.

Anônimo disse...

Por isso que eu evito ir a qualquer médico sozinha. Quando eu era mais nova, ia com meus pais. Hoje vou com meu marido.
É um pouco humilhante ter que levar meu marido em qualquer consulta, mas é melhor do que sofrer com oportunistas. Não confio em médicos.

Cheio de Luz disse...

São tantas as profissões onde os pais partem do pressuposto que podem confiar a filha/filho aos cuidados daquele que se diz "profissional",e,der repente aparece um lobo com pele de cordeiro querendo comer(literalmente) tua cria...nesse relato doloroso fica evidenciado mais uma criança abusada por um pervertido surgindo o impasse de denuncia ou não o dito cujo; situação difícil, tento me colocar no lugar da agredida e sinto em suas palavras o quanto doeu aquelas mãos intrusas em seus pequenos seios,sugeriria acima de tudo que buscasse ajuda psicoterápica para processar, entrar em contato com essa ferida que ainda sangra e tentar lambê-la até cicatrizar...depois disso, mais fortalecida,poderia " ABRIR A BOCA" ,desta vez, não para que faça obturações ou colocar flúor mas com o intuito de junto aos órgãos competentes fazer justiça e evitar que aja mais vítimas deste monstrinho.Também outra possibilidade, se não quiser ou estiver preparada suficiente para arcar com os dissabores de uma denúncia, procurá-lo( juntamente com alguém que confia...tipo tua mãe ou quem quiser compactuar um desabafo) e vomitar tudo o que te intoxicou em seu Ser pelo ato do animal, fazendo com que te escute(com uma testemunha); bem é só uma idéia...

Anônimo disse...

23:19 Ok. Aqui era o espaco que pensei que seria compreendida, mas vi que vc prefere achar que tenho algum problema (psicológico? é isso que vc insinuou?) e julgar a forma que reagi ao assédio velado do médico. Eu estava internada e via essa pessoa todo dia.
Depois que saí de lá a enfermeira chefe ficou sabendo da história e disse que ele fez algo parecido com ela, só que foi bem mais direto (ou seja, falou umas baixarias msm). E me contou que ele assediou a professora de educação física tb há alguns anos. Enfim, ele tem histórico, eu só não sabia qd td começou. Então, não, não era coisa da minha cabeça. Eu só não quis pagar pra ver e confiei no meu instinto que disse que aquilo não tava normal.
Dee

Unknown disse...

Eu sei que estou correndo o risco de ser criticado pelo que eu vou dizer, mas esse desabafo eu preciso fazer.

Lendo os depoimentos da D Stoffel, e a anônimas das 18:42, eu começo a entender mais claramente o por que tem filhos(as) que quando seus pais estão na 3 ou 4 idade os abandonam a própria sorte, tratam mal ou quando os pais morrem os filhos não derramam uma lagrima sequer, e dai por acaso alguém aqui acha que toda essa falta de atenção e apoio aos filhos(as) não gera consequências no futuro???

Não que eu esteja justificando mal trato ou abandono contra pais e mães, mas quando isso acontece tem alguma razão que provoca isso.

Agora que já fiz me desabafo.

Anonimo das 18:42, e ate compreendo a sua situação mas e bom você lembra que, agora pelo fato de ser bem jovem você ate esta bem, só que quando você tiver 40 ou 45 anos vai ver o mal que obesidade faz, se não der um jeito de volta ao seu peso normal, para se sentir segura quando emagrece um pouco faz um curso de Krav mega, ai se alguém tenta pratica algum abuso contra você, você pode usa o que aprendeu para se defende.

Outra coisa você parece ter ficado coma sua parte psicológica um pouco afetada, eu sugiro que procure um psicólogo para conversa sobre as coisa você sente.

Anônimo disse...

Aconteceu algo muito semelhante comigo, todos os destalhes e descrições muito parecidos. Também sou de uma cidade pequena, será que era o mesmo dentista da autora?

Anônimo disse...

(OFF TOPIC) Oi Lola queria desabafar algo que percebi, apesar de ser meio óbvio vcs. Ontem eu assiti 2 vídeos, um era o do "EITA, Giovanna. O forninho caiu" e o outro era do Mc Pedrinho. O primeiro era de uma menina que canta uma musica do mc leozinho-koringa e ficava rebolando, se pendurava no forno e ele caia em cima dela. O segundo se tratava de uma musica, onde um menino de no máximo 10 anos cantava mais ou menos "as novinhas fazem um b#qu3t¨ bom. O que me deixou chocada foram os comentários deixados para a menina, dizendo que era vadia,p%t@(para uma menina de 6 anos), iria engravidar aos 12 por dançar rebolando tão nova, que foi punição de deus o forninho cair em cima dela. Achei o cúmulo esses comentários, pois os mesmos devem ter vindo de pessoas que teriam idade para ser o pai da menina. Já o do Pedrinho (uma musica de cunho sexual) pegaram mais leve. O mais ofensivo para ele era que ele nem sabia o que era uma b*c*t*. O restante falava que a música era um lixo. Ninguem questionou a sua sexualidade, ou que seria pai cedo. Ao contrário com o que fizeram com a menina.

Bem, é isso.

os: Adoro o seu bloguinho.

Anônimo disse...

esse dentista vota no aécio. Dilma 13

Ta-chan disse...

"Resumo da história: engordei uns 50 kg"... "Me sinto mais segura sendo gorda. O assédio, que eu sofro desde os 9, finalmente acabou."

16 de outubro de 2014 18:42

Te contar um segredo que toda mulher gorda sabe.O assedio não termina NUNCA.A diferença básica e que agora não vão acreditar de jeito nenhum em vc.Se evitar assedio é único motivo pra ter engordado vai se tratar, pq não adianta se esconder na gordura.

Anônimo disse...

Me identifiquei muito com o depoimento, mais não digo porque me incomodaria muito que algum comentarista, mesmo que "na boa", me sugerisse passar num psicólogo...


Gente, não dá pra fazer uma sugestão dessas a alguém que você não conhece; você pode até pensar que está fazendo um bem (e por isso se sentir bem, coincidência?), mas quem faz um desabafo, isto é, se EXPÕE – e mais se expõe aquele que só tem coragem de falar anonimamente - quer, principalmente, falar, talvez ser compreendido, mas nunca julgado – e sugerir a qualquer um que venha desabafar aqui que passe num psicólogo trata-se de um julgamento, sim, porque o autor da “sugestão”, tendo como base umas poucas linhas escritas (oito, no caso do depoimento da pessoa das 18:42; poderiam ser cem, mas ainda seriam insuficientes para sabermos o tamanho do drama de uma pessoa), se julga capaz e toma a liberdade de diagnosticar a necessidade de um psicólogo para alguém cujo rosto nunca viu.

Anônimo disse...

O que dói são os casos em que a familia - especialmente a mãe - não acolhe. Mulher machista é o que há de pior no mundo.
* * *
Certa vez fui fazer uma sessão de hipnose com um profissional que trabalhava na clínica onde faço psicanálise há anos. Ele me ofereceu uma sessão "cortesia" pra eu conhecer o tratamento. Aceitei.
Pois no meio da sessão ele começa a acariciar minhas coxas, dizer que eu era muito bonita etc etc etc. Fiz cara de que não gostei, mas também não o impedi. Fiquei totalmente sem ação.
Eu não era criança - tinha uns 37~38 anos. Mas uma situação de assédio por parte de um profissional é algo que pega um adulto de surpresa e o paralisa. Imaginem uma criança.
Esse "profissional" se chama Rogério e há alguns anos era garoto-propaganda da Ultrafarma. Acho que alguns conhecem.

Juba disse...

Ta-chan, não termina, e tira a credibilidade mesmo.

No meu caso, peso e idade fizeram diminuir bem. Estou emagrecendo, o que é ótimo para a saúde, mas me preocupo com as conseqüências :(

Quanto ao médico dos sms, a gente fica sem responder direito por medo de passar por grossa, né? Mas ando revendo este comportamento. Eu talvez respondesse: agradeço a preocupação, mas entendi perfeitamente as suas recomendações e não preciso de lembretes. Se houver necessidade, EU entro em contato. E, claro, mudava de médico.

Seria melhor denunciar? Seria. Mas não sei se isso se enquadra tecnicamente, embora seja mais que óbvio o assédio.

Agora, o dentista... precisava de denúncia mesmo. Entendi o motivo pelo qual não foi feito, mas é uma pena.

Anônimo disse...

Passei por algumas situações parecidas na minha infância, porém, por um homem da minha família, que aliás, ainda frequenta a minha casa. Por muito tempo senti vergonha (ainda tenho) e culpei a mim mesma pelos ocorridos. Nunca contei à ninguém sobre isso, nem pretendo contar, pois tenho medo da reação da minha família. Tenho 15 anos.

Unknown disse...

O Lola e Companhia, eu tenho uma foto de um encontro entre a Marina silva e o Aécio, aqui que eu acho que vale apena ver e comenta.

http://noticias.bol.uol.com.br/fotos/eleicoes/2014/10/17/campanha-presidencial-2014.htm?fotoNavId=pr12296337


Eu não vou emiti aqui juízo de valor quanto a isto, pois acho que não precisa, mas gostaria de ver a opinião de vocês.

Se algum duvida que politico em época de campanha e capas de tudo vejam a foto.

Jamile disse...

Um profissional que se utiliza de sua maior idade, fora física e da posição de "aurtoridade" em que se encontra para abusar de meninas que não podem e nem sabem como se defender. isso é estarrecedor.
Gostaria que os pais conversassem com suas filhas orientando sempre a contar o que acontece, quando um homem falou algo que ela considere estranho, diferente..qnd tente passar a mão. Recebendo essa orientação e sabendo que serão apiadas, com ctz mais meninas teriam coragem de contar para que as providências legais seja tomadas

Cheio de Luz disse...


Todo evento traumático requer buscar ajuda,pois, gera um sofrimento, abuso sexual deixa marcas profundas na psiquê de qualquer um vitimado pelo ato; sugerir apoio psicológico está longe de ser um julgamento é uma forma de lidar com as sequelas(para quem acredita na proposta,é claro!); esta jovem, pôde exprimir com clareza o quanto a experiência foi cruel e invasiva. Há casos que desencadeia até depressão , quanto a auto-estima nem se fala...por isso que a Terapia é aconselhável simmmmm !!!!!!Detalhe: aos 9 anos amigo de meu pai frequentando nossa casa, pegou minha mãozinha, colocou no bolso dele e a conduziu até o pênis , se acariciando, mais tarde, quando contei pro meu pai machão (não o culpo por ser da geração machista ao quadrado) disse: Se afaste dele!!!! Tamanha foi minha decepção que só após 9 anos, em terapia, pude em sessão, dizer tudo que esperava dele naquele momento...muito choro e ira que permitiu dar a volta por cima, aprendendo a perdoar a omissão dele , resgatar minha auto-estima machucada e me encontrar plenamente como mulher que deseja e é desejável!!! Conhecimento de causa, não lido...vivido o que me dá o direito de colocar uma possibilidade para esta jovem que pode ignorar tudo que aqui escrevi ou aproveitar algo pra ela(livre-arbítrio!!!!!!);bjoka!

Anônimo disse...

Lola, precisa mesmo liberar esse tipo de comentário? Meio TW, né? Menos ódio, mais amor e moderação nos comentários?

Anônimo disse...

Nunca passei por uma situação real de abuso,"apenas" assédios e sei o quão difícil é não ter o apoio da família.

Um primo da minha mãe costuma me assediar, olhares estranhos, excessos de toques enquanto fala comigo e etc, já disse a minha mãe e ela nunca me levou a sério, sempre tenta contornar a situação e dizer que estou vendo coisas, enfim, sempre que o vejo me afasto e tento permanecer o mais longe possível dele.

CTMom disse...

Eu tambem fui assediada. Foi um medico nos Estados Unidos - eu fui consultada porque estava tendo um ataque asmatico. Ele me atendeu e quase no fim da consulta, resolveu fazer uma "checada" nos meus seios - me apalpou por muitos minutos. Eu achei estranho mas pensei que um médico não faria algo se fosse desnecessario. Naquela época eu era adolescente e estudava na California sem minha familia para me orientar - quando eu penso naquele dia, carrego um rancor. Abuso de posição por um homem professional o que hoje reconheço como um típico "sexual predator".

Anônimo disse...

Fui assediada inúmeras vezes por dentistas/médicos, e nem bonita sou (caso alguém ainda tenha essa ideia deturpada de que precisa haver um motivo pro abuso).

Infelizmente, é comum que pessoas com um certo "poder", especialmente na área da saúde (em que as pessoas estão fragilizadas, precisando de ajuda), se aproveitem de quem dependem delas, não só sexualmente, mas com outros tipos de abusos também.

Anônimo disse...

Apesar do post antigo precisei comentar aqui que isso ativou algumas lembranças minhas. Eu tinha entre 7 e 9 anos eu acho e tinha uma consulta marcada com o psicólogo, meu irmão, 6 anos mais velho na época me chamou de canto pra me avisar das coisas que não seriam "normais" que ele fizesse comigo.
<3