segunda-feira, 11 de março de 2013

MAD MEN, JAGUAR E A ALMA DO NEGÓCIO

Quando será que Mad Men vai voltar? Depois que vi as cinco temporadas, fiquei apaixonada pela série.
As primeiras temporadas se passam no final dos anos 1950 e início dos 60, época em que não era nada bom ser mulher (nem negro, nem gay). Era o tempo pré-revolução sexual em que as mulheres de classe média só iam pra faculdade pra arranjar marido, e só trabalhavam até casar.
Peggy é minha personagem feminina preferida na série. Ela é uma jovem e tímida secretária que, pelo seu talento, consegue ser promovida à redatora. A única redatora mulher em toda a agência.
No quinto episódio da primeira temporada, Peggy, ainda secretária, se destaca no meio de uma pesquisa em grupo, em que as mulheres da agência devem testar batons. Ela entrega uma cesta de lixo com guardanapos cheios de marcas de batom a Freddy, o supervisor da criação, e lhe diz, “Aqui está sua cesta de beijos”. Freddy, impressionado, lhe pergunta onde ela ouviu aquilo, quem lhe disse. Ela fica confusa -– ué, foi ela mesma que criou, sem saber que tinha feito qualquer coisa de especial. 
Depois, Freddy narra a Don Draper, seu chefe, como foi impressionante assistir a uma mulher, uma secretária, ter uma boa ideia: “Foi como ver um cachorro tocando piano".
De lá pra cá, muita coisa mudou, pelo menos na série. Peggy torna-se, através do seu próprio esforço e talento, uma das mais respeitadas empregadas da agência. Na última temporada, ela sai da agência -– e eu realmente torço pra que isso não signifique que ela suma da série.
Outra personagem excelente é Joan, também secretária, também ultra-competente no que faz. Mas no último episódio da quinta temporada (e ainda não temos uma sexta) ela tem que tomar uma decisão que vai mudar seu destino e, talvez, a opinião que o público tem dela.
A agência de Don está tentando conseguir a conta do carrão Jaguar. 
Ela é importantíssima pro futuro da empresa. O slogan que a agência pensa em sugerir, mas usando outras palavras, é algo espúrio como “Jaguar: A amante que fará coisas que sua mulher não faz”. Machista, não? Não naquela época. Apenas vulgar. No fim, eles encontram algo infinitamente melhor: “Jaguar: Finalmente, algo lindo que você pode realmente possuir” (em inglês é mais bonito: “Jaguar: At last, something beautiful you can truly own”).  
Só sei que não gostaria de estar na pele da Jaguar. Ainda que o carro seja considerado belo e luxuoso, ele é descrito como nada prático, não confiável, meio que um carro pra ficar na garagem. Pior: Lane, um executivo que perde tudo, tenta se matar dentro de um Jaguar (o motor não dá partida; um dos donos da marca disse, sobre a tentativa frustrada de suicídio: “Nunca ficamos tão felizes por um carro nosso não pegar”). 
Mas o pior, pior mesmo, é que, na série, um dos executivos da empresa transforma Joan em prostituta por uma noite. Para que a agência ganhe a conta, Joan deve transar com o tal executivo da Jaguar. Em troca, ela exige 5% da sociedade da agência. Fica claro que este é o único jeito que Joan, apesar de brilhar na agência há treze anos, tem pra conseguir virar sócia (este ótimo texto em inglês mostra que não é a primeira vez que a agência se prostitui).
O que Mad Men faz com a Jaguar não é merchandising, definitivamente. Aliás, acho incrível que a série use marcas e agências de verdade. E não sei como as marcas permitem. Pesquisadores da série procuraram a Jaguar quando os episódios estavam sendo escritos, pra espiar arquivos e descobrir como era a decoração da época. Os executivos da Jaguar não gostaram muito de se verem representados negativamente, mas esperam que o público entenda que o personagem que insiste em transar com Joan em troca de dar a conta pra agência é fictício.
Um site descreveu direitinho já no título o que a série fez com a Jaguar: "Como é ver Mad Men causar perda total na sua empresa automobilística", ha ha. Mas pelo menos a marca deu declarações diplomáticas sobre o episódio e não perdeu o bom humor. Um dos tweets de Jaguar foi "Amamos a ideia, não amamos o processo. Aplaudimos Peggy por deixar a agência".  
Quanto será que a situação no mundo da propaganda mudou nesses últimos 40, 50 anos? Segundo um publicitário inglês, não muito. Ele fala da publicidade na Grã-Bretanha atualmente: 
“Há mulheres na produção de TV, planejamento e atendimento. E para alívio de todos, os 'Sals' [diretor de arte gay que só aparece no começo da série] estão agora fora do armário. Mas isso tem mais a ver com mudanças na sociedade que na indústria da propaganda. Ainda há pouquíssimos negros ou asiáticos, 80% do pessoal de criação são homens, apenas uma em cada cinco posições de comando pertence a uma mulher, e você só precisa de uma mão para contar as diretoras de criação mulheres. E menos de 5% de todas as pessoas numa agência continuam depois dos 50 anos -– e isso inclui equipe administrativa e de limpeza”.
Como será que está o cenário no Brasil de hoje? A julgar pelos anúncios e comerciais preconceituosos que as agências continuam criando, não deve estar muito melhor... 
Que as agências contratem mais Joans e Pegggys, por favor! (e volta logo, Mad Men).

26 comentários:

Anônimo disse...

Essa série é fabulosa, quem ainda não viu, veja desde o começo. Também amo a Peggy. Acho que uma das causas que me fez abrir mais os olhos pro feminismo foi Mad Men.

Bárbara disse...

Adoro Mad Men, a Peggy e a Joan também são as minhas preferidas. Nesse episódio da Jaguar, eu realmente fiquei com muito nojo do que os diretores da agência (e o empresário da Jaguar, claro), fizeram com a Joan. Eles a negociaram, o Lane inclusive deixou claro que se eles não conseguissem o contrato, a culpa seria dela.

Eu entendo que ela tenha aceitado passar a noite com o empresário... Ela tem um filho pequeno para criar sozinha, e "se prostituir" para se tornar sócia da agência foi a forma que ela encontrou para garantir o futuro dos dois. Afinal de contas, os diretores da agência jamais a valorizariam pelo trabalho dela, quando ela saiu a empresa virou um caos e mesmo assim a competência da Joan não foi reconhecida como deveria. Eu só espero que a situação dela melhore na próxima temporada.

Mirella disse...

Não acompanho Mad Men, mas gostei de um episódio que vi.
A Peggy, acho que era ela, tinha de testar um produto - uma dessas cintas que dá choques no abdômen para imitar exercícios abdominais. Como o público alvo eram mulheres, deram as cintas para as esposas dos publicitários e deram uma para a Peggy, para que ela testasse e comentasse o produto.
Pois bem, obviamente a cinta não fazia diferença estética nenhuma. Maaaaas a Peggy, na reunião, diz que gostou do produto. Aí, um dos publicitários diz que a mulher dele também adorou o produto.
E aí todo mundo quer saber: se o produto não funciona, por que ele é bom?
hahahahaah achei ótimo.
A Peggy diz, toda tímida (naturalmente) que o produto causa umas sensações boas e coisa e tal. A tal da cinta funcionava como um vibrador disfarçado ahahahaha.
Daí os colegas zoam o colega que contou sobre a esposa adorar a cinta.

Nic disse...

Hahhha muito bom, lola! Eu trabalho num agência de propaganda em que a dona e 3/4 dos funcionários são mulheres. Inclusive, a maioria das gerentes de marketing com que lidamos também são mulheres. Mas eu acho que ainda existe uma visão muito tradicional de propaganda, leia-se quadrada, careta e misógina que é muito difícil de fugir. Por exemplo, propagandas de shoppingns seguem o padrão "família-feliz" com mãe e pãe brancos e crianças bem cuidadas. Isso me incomoda muito, mas eu não tenho uma posição muito decisiva por aqui, então sabe como é. Outro aspecto interessante é o fato de que não existem atendimentos homens e que há pouquissimos negros nas propagandas e nas agências, como você citou. Por sorte, não sai muita coisa machista por aqui, acho que o fato de ser uma agência com muita presença feminina ajuda bastante nesse sentido. Eu percebo que há uma tentativa dos profissionais de fazerem algo fora dos padrões, mas os famosos clientes não permitem, o padrão branco-classe média-feliz continua sendo o padrão independente da vontade da criação...

Júlio César disse...

Como eu amo Mad Men também! Mas Game of Thrones é ainda a série mais feminista que eu assisto.

Clara disse...

"Como será que está o cenário no Brasil de hoje? A julgar pelos anúncios e comerciais preconceituosos que as agências continuam criando, não deve estar muito melhor... "

Um dos membros brasileiros mais influentes da Opus Dei, personalidade de circula livremente na mídia e com grande poder estratégico sobre ela, Carlos Alberto Di Franco, faz parte do CONAR. Quando eu me dei conta disso passei a não estranhar mais certos julgamentos da entidade.

Valéria disse...

Olá Lola,
também adoro Mad Men, além de Game of Thrones. Mad Men volta em abril e Game of Throes dia 31 de março.

amanda disse...

Lola, nos Estados Unidos Mad Men volta ja no comecinho de abril, dia 7 acho! Mas eu ainda tenho que assistir a quinta temporada!

http://cadernos-da-belgica.blogspot.com.br/ disse...

Eu comecei a ver Mad Men há algum tempo, parei e agora recomecei, inclusive teve um monte de spoiler aqui pra mim, mas não tem problema, até aguçou minha curiosidade. A série é muito boa mesmo e até compreendo que ajude a abrir os olhos para o feminismo como o anônimx colocou aí acima. Tem vezes que a gente quase morre de tristeza e eu recomendaria principalmente às mulheres que já vi reclamarem das feministas dizendo que por causa delas agora têm uma vida mais dura...hum hum, vai ver a maravilha que era.
Além da série, estava lendo um livro do Saramago, um dos primeiros que ele escreveu, mas que só foi editado agora depois da sua morte, o título é Claraboia...olha, a coisa era triste demais para as mulheres lá naqueles anos 40, 50. Não que hoje seja fácil, mas houve ganhos, certeza.

Júlia disse...

O post me lembrou essa matéria:
www.cfemea.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3896%3Aimagem-da-mulher-na-publicidade-nao-reflete-avancos-sociais-avaliam-especialistas&catid=213%3Anoticias-e-eventos&Itemid=148

ViniciusMendes disse...

Sobre sua pergunta... Conheço e trabalhei com muitas mulheres que trabalham na parte de mídia e produção, secretária quase sempre é mulher e claro, o pessoal da limpeza... Na criação só uma vez e conheço mais três em outros lugares.

Conheci três mulheres em posição de chefia em agência (e duas eram sócias, a agência é delas), mas nem consigo contar os homens... Conheci 2 negros... Gays na criação eu conheci 2 (3 comigo) e 2 em posição de chefia (foram meus chefes alias), mas novamente, eram sócios e a empresa é deles.

Criação de publicidade é um dos ambientes mais conservadores dos quais eu consigo me lembrar tbm.

Anônimo disse...

Olá, Lola, sou publicitário, mas a agência em que trabalho é uma exceção: quem manda é uma mulher e 2 dos 3 diretores são mulheres. Na verdade, gosto de Madmen, mas o que me fez entrar aqui é sugerir este link que mostra como a GNT "vende" para o mercado a sua audiência feminina. É bem curioso. Abçs.
http://gnt.globo.com/Mulheres-em-Evidencia?utm_source=publicidade&utm_campaign=mulheresemevidencia&utm_medium=bluebus

Bel disse...

A Peggy volta para a 6a temporada sim! Estou louca de curiosidade para vcr como ela vai se dar na nova agência. O meu sonho é que no final de Mad Men ela acabe com a agência do Don Draper! Seria o anúncio dos novos tempos, depois de tudo o que ela passou, superar o seu mestre.

http://www.mydaily.co.uk/2013/03/05/mad-men-season-six-press-conference-pictures_n_2809973.html

Rob disse...

Não vejo a hora da série recomeçar!O.O

Julia disse...

Também amo a Peggy e a Joan, mas estou curiosa mesmo pra saber que rumo a vida da Megan vai tomar agora, já que eu acho que o casamento com o Don vai miar. E a Sally também, se tornou uma das personagens mais interessantes na última temporada.

Muito amor por Mad Men!


Ah, não entendo a veneração em torno do Don Draper. Pagam um pau absuurdo pra ele.
Ele o acho bem babaquinha.

Anônimo disse...

Mudando de assunto.gostaria que vc comentasse sobre isso..vi agora no.uol http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2013/03/11/racismo-contra-empregadas-domesticas-no-brasil-e-denunciado-na-cidh.htm

Jéssica disse...

vi o link dx anon das 18:13, o comentaristas la' nao param de se superar, um cara achou um absurdo uma empregada querer 2 salarios minimos para trabalhar o mes inteiro, ou querer uma jornada de trabalho de 40~48h, e mais absurdo ainda se ela resolvesse processar o patrao por nao ter cumprido os direitos dela, pqp

Elaine Cris disse...

Assisti uma maratona de episódios da segunda temporada em um domingo e pra mim a série foi média.
Gostei da história, achei interessante a construção dos personagens, mas em vários momentos achei o ritmo muito lento, com algumas cenas longas demais (principalmente àquelas em que antipatizamos com um personagem).
Achei a personagem da Joan muito interessante e talvez mais representativa das mulheres da época que a própria Peggy.
A Peggy consegue ser levada a sério.
A Joan é inteligente, mas é bonita, sensual, então não é levada a sério. A velha ideia de que a mulher tem que escolher entre ser inteligente e ter uma vida sexual ativa, ser atraente. Acho que é mais difícil pra Joan que pra Peggy. Aquela coisa meio puta versus santa.

Spoiler:
Inclusive em um dos episódios que assisti a Joan é estuprada pelo namorado na sala do chefe, ele quer agredí-la porque não a respeita, por ela ser sexy, por ter um trabalho, enfim...

Bella disse...

Também estou adorando a série, Lola! As últimas temporadas deram maior destaque às mulheres da série e abordaram diretamente questões de gênero. A Peggy também é minha personagem favorita. :) Li em algum lugar que ela continuará na série, que passará a abordar sua jornada fora da agência de Don. Estou esperando ansiosamente!

Gabriele disse...

Também estou com saudades de Mad Men! Peggy e Joan são ótimas. Acho que a Peggy vai crescer muito, essa saída talvez tenha sido necessária para que ela tenha uma grande evolução, até que no final da série ela esteja tão poderosa e respeitada no mercado quanto Draper. Aliás, adoro a relação que os dois foram construíndo, mesmo que às vezes a arrogância dele seja meio chata.
A Joan, fiquei com muita pena por ela ter tido que tomar a decisão, ainda mais quando Don foi falar com ela depois do ocorrido, dizendo que ele era contra ganhar a conta desta forma. Ela realmente nunca foi valorizada, uma pena.
Também destaco a personagem Beth, com quem o Pete Campbell teve um caso. A série já tinha mostrado o sofrimento que era ser dona de casa naquela época em vários momentos, mas com Beth vemos mais elementos que mostram isso: ela sofre de depressão crônica, é tratada como lixo pelo marido e ainda é forçada a fazer tratamento de eletrochoque que deixa sérias sequelas em seu cérebro.
Tb fiquei curiosa em como vai ser a história de Megan e Sally. Nossa, essa série tem MUITOS personagens interessantes

Gabriele disse...

Ah, dei uma pesquisadinha aqui e encontrei que a nova temporada de Mad Men vai estreiar dia 7 de abril! Tá chegando, êêê :) http://www.nydailynews.com/entertainment/tv-movies/mad-men-season-debut-date-set-article-1.1245692

Parece que saiu um sneak peek, mas todos os vídeos q achei diz que não está liberado pro Brasuk ¬¬

Leleis disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

pra quem é fã de Peggy:

os 18 melhores momentos dela na série segundo o BuzzFeed (em inglês):

http://www.buzzfeed.com/erinlarosa/18-moments-when-peggy-olson-was-a-total-badass

Anônimo disse...

Lola, que bom que você escreveu sobre esse episódio sensacional! Não é o último mas acho que é o penúltimo.

Eu tenho 13 anos de vida de agência e algumas coisas não mudaram dos anos 60 pra lá: como sou da criação (diretora de arte) estou sempre em menor número. Cansei de escutar papo de homem enquanto estou tentando trabalhar: olhar de relance o wallpaper da mulher gostosa no computador do colega, grupinho de "criativos" falando da nova assistente de atendimento (os atributos físicos, claro)...

Sempre que tem entrevista pra funcionária nova os homens fazem fila pra ver a nova "presa" sentada na recepção e fazem comentários engraçadinhos e alguns inclusive se passam e descem o nível.

Nada muito diferente do que o Kinsey, Cosgrove e o Pete fazem na SCDP lá nos anos 60.

E infelizmente é raro alguém elogiar as mulheres que estão na criação, quase todas são ofuscadas pelos homens. Isso pelo jeito não vai mudar nunca. Ainda sim vejo a Peggy, mesmo sendo redatora, como uma identificação extrema e uma inspiração pra mim :)

Unknown disse...

Cada temporada tem sido muito atraente Mad Men e cada um oferece algo novo, o que levou o público a ser fiel à série. Eu amo isso.

Unknown disse...

Mad Men é uma série incrível que vale a pena apreciar. Agora que estréia sua licença de não ver qualquer um de seus ultimos capitulos . Sempre figuras de conteúdo e de desempenho são surpreendentes.