domingo, 31 de março de 2013

GUEST POST: FAZENDO ARTE NO ESCURO

Esse rapaz, B., me enviou um relato sobre a família que não o aceita como ele é. Não aceita nem sua arte.

Lola, tudo bom? Sempre li muito o seu blog, aprendo muito sobre as questões de gêneros, desigualdades e tiro dele também argumentos para deixar as coisas do cotidiano honestas e plurais. Sou um homem de dezenove anos, sou um cara feminista, e componho poesias. Sempre gostei muito de escrever, pois sempre fui muito acuado pelo (maldito) sistema patriarcal e tradicionalista imposto por minha família nordestina, daquela que acha que todo cara deve ser “cabra macho”, e em que as mulheres são completamente submissas (guerreiras em cuidar dos filhos e arrumar pendências em casa, porém submissas).
E você não imagina o quanto sofro por isso! Poucas vezes tive uma conversa (verdadeira) com toda a família. Vivo o que eu realmente sou, o que eu realmente gosto clandestinamente. Sentir o frio da mentira me abraçando todos os dias já virou tão rotineiro que às vezes me perco no que sou.
Enfim, sou gay, tenho um namorado, sou ateu, torço por um mundo plural e gosto de rock! Ou seja, sou uma besta fera da minha parcela de família. Me sinto muito perdido de não poder ser o que sou, de viver em fragmentos, sufocado. Não posso expurgar o que eu sinto. Queria berrar para eles, quebrar toda a hipocrisia e alienação em que eles vivem, e até machucá-los com a minha verdade, com o meu jeito de ser.
Vivo perseguido pelo medo. Tenho receio de quando estou com meu namorado e nossas amigas e o celular toca. Tenho medo de imaginá-lo tocar! Às vezes eu simplesmente queria sair e não voltar pra casa, pegar o caminho do curso ou estágio e não mais voltar... Apenas me esquecer, me deixar pra lá, não ter resultados, não ter absolutamente em que cogitar. Me sinto fraco por não ter a capacidade de falar, e fico cheio de ira em pensar que toda a minha família é tão ignorante a ponto de não saber definir o que é hetero e o que é homo! Serei completamente visto como imoral, serei chamado de viado, baitola e todo esse xingamento hostil e humilhante.
Até mesmo as poesias que escrevo e são lançadas nos livros da cidade (por uma rádio independente), são vistas como porcarias pelos meus pais. Eu não quero me calar, mas tenho medo de tudo se tornar bem pior.
Às vezes penso se seria bacana acordar hetero, branco e católico. Não, eu gosto do que eu sou, do que eu penso, do que eu escrevo, mas tenho medo de expor para pessoas que tanto julgam e queimam a língua por terem um filho gay. No mais, vou seguindo por aqui, compondo versos, tocando violão e fazendo a minha arte no escuro. 
“Em copos sujos se afoga a ira
E os lamentos saem do coração
Acaba o morto o que não poderia
É tão rico o mundo da ilusão” (Arte no Escuro)

25 comentários:

Filipe disse...

Olá, legal o seu blog... Que conhecer uma maneira bem eficaz de divulga-lo?
-Então venha conhecer o meu site no link http://dultranole.p.ht/ e divulgue seu blog nele, pois é gratuito e funciona.

link do site de divulgação gratuita: http://dultranole.p.ht/

Anônimo disse...

B., essa decisao de sair do armario 'e dificil demais. A gente tem muito preconceito interno pra aprender a lidar, alem de ter que lidar com o preconceito do resto do mundo. Nao se culpe nem se sinta fraco por nao se sentir pronto pra fazer isso ainda. Nao tem pressa. E eu acredito que as coisas melhoram (especialmente quando nao tem como piorar :D).

Unknown disse...

"Meua migo"[sic], aceite um conselho de ouro: Saia da sua casa, de preferência vá para outra cidade ou estado. É impossível mudar seus pais, infelizmente.
Quando saíres de casa, se mantenha ausente por uns meses, ou mesmo mais de um ano e passe a visitá-los; a saudade os terá tornado mais maleáveis. Ainda assim, não volte a morar com eles.
Ao menos funcionou comigo, lá para 2010 o inferno em casa estava tão brabo que eu estava literalmente ficando maluca, e por isso vim para o RS de Mala e Cuia; não regreto nada.

Feminazi Satânica disse...

Nessas horas que eu agradeço muito pela família que tenho =( Força rapaz, vc escreve muito bem e não está sozinho! Procure sua independência financeira e saia de casa. Tenho certeza de que vc será bem mais feliz quando isso ocorrer.

Anônimo disse...

a unicao solucao, no seu caso, é sair de casa e viver sua vida. lutar contra moinhos de vento so vai te desgastar inutilmente.

talvez se um dia vc ganhar dinheiro e puder sustenta-los eles irao calar a boca. é a velha e conhecida hipocrisia.

familia nao é o sangue que determina.

Julia disse...

Se fosse eu quando pudesse sair de casa esquecia que eles existem. Pra sempre.

Wellington disse...

Acredito que sinto algo pelos menos próximo do que você sente. Também sou ateu, feminista, homossexual, nordestino, negro e tenho 19 anos. Minha família é bem fragmentada, por isso a maioria me olha com desdém e poucos me aceitam. As vezes eu tenho essa vontade de simplesmente sumir. É muito complicado crescer em um ambiente que não foi feito para você, eu sempre me mantive distante de todos e nunca me abri para ninguém. Acho que única coisa que me mantém vivo é a certeza de que um dia isso vai mudar, eu vou ter a minha vida em um lugar distante sem ter um parente me condenando.
Mantenha sua cabeça erguida e lute pela sua liberdade. Infelizmente bater de frente com eles é inútil e você só vai se machucar, afinal eles vivem, como no caso da minha família, em um mundo imaginário e hipócrita.

João Paulo disse...

Eu mesmo tive um fiasco de saída do armário. Contei (porque tinha recebido ameaças de morte) para minha família, alguns amigos e depois nunca mais mencionamos o assunto. Não pensem que estou cercado por tanta gente legal que nem levam isso em conta: não é esse o caso. O caso é que sinto medo. E esse medo gera falta de confiança, afastamento das outras pessoas, esse medo diminui a vida. Sair do armário num país como o nosso não dá sensação alguma de liberdade.

muratóri disse...

B., também sou nordestina, homossexual e artista. Não aguentei ser rechaçada dentro da minha própria casa pela minha irmã, tampouco o desprezo do meu irmão - quando um dia fomos os melhores amigos.
Meu pai havia se divorciado, ausente, confuso, turvo. Minha mãe vivia em cima do muro, mas sempre que estava na frente da minha irmã ela também me desprezava. E a dor do desprezo e da falta de companhia, de amor, de compreensão na própria casa era como uma doença que me queimava por dentro. Pois aos 17 anos eu nem tive dúvida! Peguei minhas coisas e fui embora para o Rio de Janeiro, onde tive a boa sorte de encontrar pessoas maravilhosas, amizades bem sintonizadas, acolhimento de mães de amigxs e também (gratidão ao universo) um coração que bate no mesmo ritmo que o meu. Hoje em dia, a menina que foi rechaçada é motivo de orgulho pros pais e hoje, quando nos encontramos, vejo minha irmã me olhando com os olhos brilhantes. Isso tudo sendo como sou. É um processo duro! Mas foi muito bom e definitivo romper! Desde então vivo minha vida sem perder energias ao tentar resistir à opressão por querer ser quem sou. Só o meu irmão que nunca mais voltou a ser meu amigo, mas acredito nas voltas que a vida dá, espero que um dia ele compreenda.

Que você possa ser feliz! Acredite em você, na sua verdade, lute pela liberdade do SER e de SER! Espero que você ache uma solução! A minha foi ir embora!

Abraço carinhoso!

Anônimo disse...

Acredito que quando atingir sua maturidade (não que não seja maduro, mas a gente sempre aprende mais com o passar do tempo)pessoal e independência financeira, tudo ficará mais fácil. Você não mente para você, e isto é o mais importante! Viva, e tenha paciência, q o tempo te trará belas recompensas. Adoro este Blog! Magnífico!!

Unknown disse...

Pois é, todos foram unânimes: A Solução é sair de casa.

Olha, sei que pode parecer assustador e tudo, mas, não é. É possível que na primeira semana tu sinta uma mistura de deslocamento e alegria, mas às vezes uma saudade dos pais cuidando das coisas de casa, e talvez por umas duas tu penses algo do tipo "o que estou fazendo?", porém logo tu te acostumas e em uns dois meses será como se sempre tivesses vivido fora da casa dos pais.

Sara disse...

Falam q as feministas querem destruir a familia tradicional, mas é só dar uma olhadinha aqui pra ver varios exemplos dos frutos que essa familia nos proporciona, a quem isso serve??? quem esta feliz dentro dela????
Ontem eu estava vendo um video que ja esta bem popular, de um rapaz que resolveu pregar uma "peça" na sua mãe, ele ligou a camara do seu notebook, sem q sua mãe visse, e fingiu q atendia um telefonema de um "namorado", quando a mãe percebeu q ele falava com um namorado e não uma namorada, a reação dela foi de furia, começou a espancar o próprio filho.
No caso era só uma brincadeira, mas fico pensando como deve ser dificil pra tantos que realmente NÃO tem a sexualidade padrão, encarar a sociedade, a começar pela própria familia.

Ângela disse...

B., tenha calma e esperança. Vc é muito novo pra resolver tanta coisa ao mesmo tempo. Viva um dia de cada vez e lute por sua independência econômica, que é a que garante as outras. E não deixe de se amar, faça sol ou faça chuva. Boa sorte!!!

Anônimo disse...

Sara, qual é o vídeo?

Sara disse...

http://br.noticias.yahoo.com/blogs/vi-na-internet/rapaz-resolve-trollar-m%C3%A3e-fingindo-ser-gay-193052652.html?bcmt_s=m#ugccmt-container

Esse é o video ANON 23.53hs

Pedroca West disse...

Se assumir, jogar toda a verdade na cara, fazer as malas e sair de casa.
Esse é o plano inicial.
Já vá pesquisando algum lugar pra ficar, sse não conseguir falar tudo que você pensa, escreva, conte sua dor.
Faça questão de se separar deles fisicamente e seguir sua vida, o tempo e a ausência irão transformá-los, pq o que importa num primeiro momento é a sua vida e felicidade.

F. disse...

1. Arrume um emprego que pague um aluguel

2. Mude-se

3. Se eles não te aceitam, devolva a gentileza.

Ninguém é obrigado a aceitar a gente, por mais que adoraríamos que isso fosse verdade. Isso só se resolve saindo do poder familiar e dando poder à própria vida. Poder que se compra com dinheiro, diga-se, não espere que alguém vai te dar alguma coisa. Não é fácil nem barato, mas melhor que viver uma vida de horror por acomodação. Sucesso e boa sorte.

Leio Lola Leio disse...

Eu tendo a dizer a mesma coisa a todos que escrevem por aqui se queixando da família: emancipe-se e saia de casa! Não tente ser aceito, aceite-se e se torne independente, cuide-se e busque pessoas que sejam seus pares, que sejam seus interlocutores e não pessoas que te neguem e te derrubem.

Luciana Leitão disse...

Só quando vivemos o nosso próprio "eu", encontramos paz e tudo começa a fazer sentido! Agarre-se a algo que acredita e siga em frente!!!! Com dedicação e talento, vc vencerá! Não desista!

Paula disse...

A grande maioria dos problemas de convívio familiar, aceitação etc. podem ser resolvidos simplesmente saindo da casa da mamãe e virando um adulto de verdade, pagando suas contas e mandando em si mesmo. Quem se infantiliza vai ser tratado assim, a vida trata a gente como nós nos tratamos.

É fácil? Não é. Eu vim de uma família horrorosamente machista, bem clássica, do tipo "seu irmão pode tudo e você não pode nada", mesmo ele sendo um porra-louca que batia carro bêbado, fazia filho por aí, roubava dinheiro dos meus pais (acho que não roubava nada, eles deviam dar) enquanto eu ralava pra caramba pra conseguir minhas coisas com zero reconhecimento, tudo o que eu fazia era horrível e tudo o que ele fazia era "ah, ele é homem, sabe como é". Aguentei isso até os 20 anos. Com essa idade, consegui um emprego não tão bom assim mas era um dinheiro legal, e adivinhem? Meus pais queriam que eu deixasse todo o salário em casa. Isso porque minha família nunca foi pobre nem nada e meu irmão era um vagabundo que não parava em emprego nenhum. O caralho que eu ia deixar meu dinheiro lá! E claro que isso acabou em violência física pro meu lado, não só apanhei como meu pai quebrou meu quarto todinho, aí deu pra mim né? Peguei minhas coisas, fui pra casa de uns amigos de faculdade que moravam juntos, depois arrumei um canto pra mim e to bem até hoje, tem uns 5 anos isso, já sou formada, ganho minha vida e to cagando e andando pra eles. De vez em quando me ligam. De vez em nunca eu atendo o telefone. E o encosto do meu irmão tá lá ainda com eles, quase quarenta anos de idade morando com o papai e com a mamãe. Quero que se danem, falo mesmo, acho que no fim das contas eu nunca pertenci àquela família realmente. E em breve estarei me mudando para os Estados Unidos e no que depender de mim, ninguém daquela cambada vai ter meu endereço lá. E acabou, bora tocar a vida.

Os incomodados que se mudem e eu estava incomodadíssima com toda situação e só reclamar não adianta, tem que agir mesmo e se dar valor, se dar respeito, se dar consideração, se dar reconhecimento, ficar ao seu próprio lado o tempo todinho, da hora em que você acorda até a hora em que você dorme. O comodismo de ter roupinha lavada e comidinha feita não vale tudo isso não... sai caro porque acaba com você, com se espírito, com seu corpo, eu mesma vivia doente de tudo o que vocês imaginarem, era tudo psicológico mesmo hoje eu sei. Cheia de alergias, dores, enjoos e tal, hoje em dia não tenho nadaaaaaaa, por que será heim? rsrsrsrsrs

Sorte aí pro guest poster e bora tomar as rédeas da sua vida que, acredite, é mais fácil do que conseguir aceitação de gente que nem gosta de você em primeiro lugar (se gostassem, te aceitavam como você é).

Imbróglio Que Quiproquó disse...

Que blog incrível, Lola! Parabéns!

PArabéns também a você, rapaz.
Além de escrever muito bem, sinto muita verdade no que vc diz.
Não sou homossexual, mas sou amiga de muitos e luto junto a eles contra o preconceito.
E o preconceito quando brota em nosso lar-doce-lar é petrificante.
Não é fácil pra nenhum de vocês. Não é fácil pra seus pais que foram criados de uma forma eacreditam erroneamente nisso. E muito difícil pra vc, que conhece sua verdade e não consegue mostrá-la para aqueles com quem vc convive desde o ventre e que deveriam, mais do que ninguém, apoiá-lo.

Viver não é fácil, mas desejo-lhe muita força e coragem pra lutar as batalhas, pois um dia haverá paz! Acredite!

Abraço bem forte em vc!

Bruna S. disse...

Gente, de novo todo mundo falando 'sai de casa"...vão me crucificar mas me irrita um pouco o quanto falam isso como se provavelmente o rapaz ( o B.) não tentasse/quisesse isso. Ele pode estar louco pra sair de casa, mas quem falou que éfácil?
Tem que ter dinheiro pra aluguel, contas diversas, comida, etc...
( um aviso : bolsa de faculdade não paga nem metade disso, não sei como é a situação do B.)

Anônimo disse...

"Ele pode estar louco pra sair de casa, mas quem falou que éfácil? "

É muito mais fácil sair de casa que viver na merda com uma família que te odeia.

Anônimo disse...

Dinheiro, capital cultural, capital social e outros fatores fazem TODA a diferença.
Sem dúvida a solução é se afastar da "família" de origem. A questão é como, o que implica em refletir sobre que tipo de oportunidade(s) de "inclusão alternativa" estão disponíveis no atual contexto (até a área de estudo faz significativa diferença, a personalidade e as necessidades individuais importam bastante).
Não é nada fácil ser "incluído", nem de forma "alternativa" - o que NÃO significa desistir, mas sim estar consciente dos obstáculos a enfrentar.
Thata

Metheoro disse...

Querido, deixo uma frase pra vc, em inglês, mas que representa bem o que vc está passando (e que eu, e muito outros) já passaram:

It's gets better! :)

Acredite piamente nisso!