sexta-feira, 16 de setembro de 2011

CLÁSSICOS DUVIDOSOS: Os primeiros filmes da saga Planeta dos Macacos

Repressão policial humana contra macacos no quarto Planeta

Depois de ver esse ótimo filme que é Planeta dos Macacos: A Origem — que virou xodó dos defensores de animais, com razão — tive vontade de rever os outros. Ok, nada no mundo me faz ter vontade de rever o remake do Tim Burton, que é lamentável. Tô falando das versões velhinhas mesmo. Primeiro revi o filme de 1968 com o Charlton Heston (veja trailer). Acho, sinceramente, que o troço (baseado num romance do francês Pierre Boulle) tá longe de ser um clássico. É inclusive bem trash em vários momentos. Charlton faz um astronauta a bordo do Ícaro (convenhamos: um nome inadequado pra uma nave espacial) que acorda 2 mil anos depois num planeta estranho. Convenientemente, a única tripulante mulher da nave morre. E os três sobreviventes vão explorar o novo mundo. E eles ficam um tempão explorando, explorando, explorando (o filme demora pra começar)... Até que encontram humanos primitivos, com pouca roupa, que não falam nem parecem se comunicar. De cara, Charlton conhece a única humana jovem e dentro dos padrões de beleza. A coitada passa o resto do filme olhando babona pro herói, num dos papéis mais ingratos da história do cinema.
Para explicar por que Charlton passa metade da trama sendo tratado como qualquer outro humano pelos chimpanzés e gorilas, inventam que ele foi ferido na garganta. Mais tarde ele é ameaçado de castração, despido, examinado, enjaulado, espancado, e caçado com redes. Ele faz amizade com um casal de macacos cientistas que acha fantástico que, em outros tempos, o ser humano tenha sido tão evoluído quanto o Charlton, pelo menos quando ele ainda não tinha virado um reaça de carteirinha. Juntos eles fogem, vão até a zona proibida, descobrem uma boneca que fala (prova inequívoca que os humanos já falaram), e, na cena mais marcante do filme, que é também a última, Charlton percebe que aquele é o mesmo planeta Terra de onde saiu. Talvez não seja spoiler (porque tá na capa) dizer que sua descoberta acontece ao ver parte da estátua da liberdade enterrada na areia. O segundo longa da franquia, De Volta ao Planeta dos Macacos (1970), eu ainda não revi (veja trailer). Portanto, não lembro nadinha. Um outro astronauata vai procurar Charlton e encontra a mulher dele, aquela do papel ingrato. Imagino que agora ela fale. Mas não tem jeito: todas as mulheres das cavernas retratadas em filmes se parecem com a Raquel Welch.
O terceiro, Fuga do Planeta dos Macacos, de 1971, sempre foi meu preferido (veja trailer). Eu chorava cântaros no final, com todos aqueles assassinatos. Mas alguma coisa aconteceu. Ou o filme envelheceu mal, ou fui eu. Ele parece muito datado. Desta vez é o casal de macacos cientistas, com mais um, Dr. Milos, que viajam no tempo e chegam à Terra do ano 1973. O sábio Dr. Milos diz a seus colegas que talvez seja uma boa ideia não revelar aos humanos que ei, viemos do futuro, onde a sua espécie será totalmente dominada, escravizada e usada para testes científicos pela minha. No entanto, Dra. Zira é muito vaidosa intelectualmente para se fingir de inferior. Ela logo conta tudo, até que costumava dissecar humanos vivos. Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, essa podia ser a autobiografia da símia. Mesmo assim a gente gosta dela.
Minhas maiores queixas contra o filme são que Dr. Milos é descartado rápido demais (morto por um gorila no zoológico), e que Cornelius, o marido de Zira, se revolta meio sem motivo contra um enfermeiro humano. Ah, sabe quem faz Cornelius? Roddy McDowall, que a galera dos anos 80 pode se lembrar como o caçador de vampiros de A Hora do Espanto. Quem faz Zira é bem mais famosa. É Kim Hunter, vencedora do Oscar de coadjuvante por Um Bonde Chamado Desejo. É ela a Stellllaaaaa por qual berra um ultrasexy Marlon Brando com camisa rasgada (aqui, pra animar seu dia).
Há várias curiosidades em Fuga. A primeira é que o presidente dos EUA é um sujeito legal, que não aceita matar os macacos por algo que só vai acontecer daqui a dois mil anos, longe do seu mandato. Aliás, ninguém realmente quer matar o casal exceto um cientista, que acha que, eliminando esses chimpanzés falantes, reverterá o destino da espécie humana. A segunda curiosidade é que o dono de um circo — logo de um circo, instituição não exatamente conhecida por tratar bem os animais — seja um dos três únicos humanos que Zira aprova (os outros dois são cientistas bonzinhos). A terceira é que o filme é bem esperto em cortar o que deve ter sido uma cena tensa: como Zira convence a chimpanzé do circo a trocar os bebês macaquinhos? “Olha, Helô, eu, Zira, vou levar seu filho fingindo que ele é meu. Todo o exército americano estará nos perseguindo e talvez seu filho morra, enquanto meu pimpolho fica aqui na sua jaula toda protegida com você. Pode ser?”.
O quarto filme da série, A Conquista do Planeta dos Macacos (1972; veja trailer), deve ser o que começa melhor, com ângulos inusitados de câmera, tudo muito bem filmado. Agora César, o macaquinho filho de Zira e Cornelius, já tem dezoito anos. Ele, que foi criado pelo dono do circo (Ricardo Montalban, que todo mundo conhece por causa da Ilha da Fantasia, certo?), descobre a triste realidade: que macacos são terrivelmente maltratados por humanos. É este filme que mais ou menos foi refilmado pra gerar A Origem. Só que é totalmente diferente. A explicação dada pro início da evolução dos macacos não é uma poção mágica da ciência, apenas que um casal de chimps sofisticados viajou no tempo. Mas por que haveria tantos macacos e gorilas convivendo com humanos? Conquista cria uma história até plausível: houve uma doença misteriora que matou todos os cães e gatos. As pessoas insistem que querem bichos de estimação e começam a adotar macaquinhos para essa função. Mas os símios crescem e, quando os humanos percebem que os macacos são vinte vezes vezes mais inteligentes que cães e gatos (que o Calvin não me leia), decidem escravizá-los. E dá-lhe macaco para fazer todos os serviços que humanos não gostam de fazer, como limpar a casa, cozinhar e servir comida. Soa familiar? Conquista deixa claro que está falando da condição dos negros, escravizados pelos brancos. César, ao explicar a seu “dono” (porque ele o comprou), um funcionário negro do governo, que está treinando macacos pra se rebelarem, insiste: “Você, de todas as pessoas, deveria apoiar a nossa luta”. E o humano negro apoia.
O filme vai muito bem até dar lugar a muitas cenas de luta, uma mais fraca e confusa que a outra. Um terço da duração deve ser isso — péssimas batalhas entre a polícia humana e os chimpanzés e gorilas. Se ficasse na parte filosófica sobre escravidão, poderia ser uma história fascinante.
O quinto e último da série, Batalha do Planeta dos Macacos (1973; veja trailer), é disparado o pior de todos. É tão ruim que até a maquiagem dos macacos, bastante convincente nos filmes anteriores, aqui parece feita por amadores. Eles nem mexem a boca direito. A trama acontece doze anos depois de Conquista. César é o líder absoluto da aldeia onde vive, depois de uma guerra nuclear (que não vemos) que devasta o planeta. Humanos também vivem nessa aldeia, em situação de inferioridade. E gorilas já começam a se achar os donos do pedaço. No final tudo acaba mais ou menos bem, e a gente fica sem entender o que vai acontecer para que Charlton chegue a uma Terra em que macacos rule, e humanos mudos obedecem.
Vamos ver como os novos filmes da série, agora totalmente recauchutada por A Origem, vão contar a história. Tem tudo para gerar roteiros instigantes e nos fazer refletir sobre a nossa posição de donos do universo — e de como tratamos mal todos os outros animais. A começar por nós mesmos.

21 comentários:

Lord Anderson disse...

Coincidencia


Eu tb revi Planeta dos Macacos, mas foi em quadrinhos e no livro original.

claro que não tem o mesmo impacto da epoca, mas ainda é bom.

Alias, Planta tb teve uma serie de TV live action e outra animada.

E o primeiro para mim é o mais marcante. quando o vi na TV, não sabia nada do filme e fiquei realmente chocado com a revelação final.


Tb torço para que os novos filmes sejam otimos.

Anônimo disse...

Ó, acho que não é bem assim. Tudo bem que você reviu agora e eu estou contando com a minha frágil memória, mas creio que "A Guerra" simplesmente MUDA a história: no fim, a paz possível entre humanos e macacos leva a Terra para um caminho diferente, em que uma espécie não escraviza a outra.

(É, é um paradoxo espaço-temporal, uma realidade alternativa, mas a série inteira é feita disso.)

Por isso eu gosto muito do quinto filme. Tem uma mensagem não apenas pacifista, mas otimista de uma maneira geral, de que não existem destinos traçados e o futuro é o que quisermos fazer dele. Mais ou menos como em De Volta Para o Futuro.

---

Nnca tinha pensado em como tinha sido a cena da troca dos macaquinhos em "A Fuga". Provavelmente, a Zira fez o que sempre tinha feito como cientista (ô, classe do mal): considerou que a chimpanzé do circo e o filhote dela eram seres irracionais, e portanto mereciam a mesma consideração que os humanos do futuro que ela dissecava. Foi uma escolha racional para ela.

Ah, e a revolta do Cornelius sempre me pareceu bastante motivada. Era um estresse crescente por estar sendo tratado como inferior, pelo medo de ser morto como inimigo, e ainda por cima o ciúme (não bastasse se chamar Cornélio!) depois de ver o cientista humano se engraçando com a mulher (ops, macaca) dele. O cara era uma pilha pronta pra explodir até quando alguém lhe dissesse "bom dia".

---

No mais, quanto ao primeiro, acho que o Charlton Heston canastríssimo é o que tem de melhor e de pior ao mesmo tempo.

Marcos

Sara disse...

Saudades de Lolinha falando de filmes!

Serge Renine disse...

Aronovich:

Não precisava da Estátua da Liberdade.

A coisa mais fácil era o Taylor, saber logo no primeiro encontro com os macacos falantes, que ele estava na terra e, provávelmente, nos Estados Unidos, afinal, OS MACACOS FALAVAM EM INGLÊS!

Lord Anderson disse...

Mas Serge


Na decada de 60/70 todos os aliens falavam ingles...

Lord Anderson disse...

A unica questão é como o ingles não sofreu nenhuma alteração em 2 mil anos...

isso que é idioma "perfeito"

Serge Renine disse...

Coisa estranha, não Lord?

Serge Renine disse...

Lord:

Só pra lembrar na Jornada nas Estrelas, a série classica da deçada de 60, havia um tradutor universal que o Kirk e cia. usavavam para se comunicar com os povos de outros mundos. A serie era pobre de recursos, mas coerente.

Nina disse...

Lola, fugindo do assunto, queria deixar o link de um texto de um amigo meu, mestrando em filosofia. Ele fala sobre machismo nesse post, como ele engessa e faz sofrer também os homens.

http://debatesdegaveta.blogspot.com/2011/09/la-vie-en-rose.html

Até!

lola aronovich disse...

Amanaque (Marcos), adorei seu comentário! Mas permita-me discordar. Interessante isso de futuro alternativo (que como o quinto filme — que, vamulá, é realmente muito ruim — termina bem, não haverá escravidão dos humanos por parte dos macacos. Não creio que isso é possível. Os gorilas continuam bélicos, veem os humanos como inferiores, e não é porque o líder deles, Aldo, morreu/foi morto que eles vão mudar. Vejo a paz lá como algo muito tênue.
Sobre a Zira trocar os bebês, entendo sua motivação, claro, mas quero saber como ela convenceu a outra chimpanzé a entrar no jogo. Não deve ter sido uma cena tensa não? As duas dentro da jaula, e a dra. Rouba o bebê da outra?
Sobre o Cornelius, ha ha, nem tinha me tocado que Cornélius = corno tem a mesma raiz! Sacanagem, vai, Marcos. O Corn não é um cara ciumento. Achei aquela revolta precipitada. Primeiro que o casal ainda não sabe que querem matar o bebê. Eles só estão lá sendo interrogados, mas ainda não houve nenhum tipo de violência, nem ameaças, contra eles. Não entendo por que eles fogem naquele momento. E também, o enfermeiro não fala nada de mais pra eles. Não achei convincente.
E concordo contigo sobre o canastra do Charlton ser ótimo (e ruim) no primeiro Planeta!

Giovanni Gouveia disse...

Serge e Lord, hoje mesmo eu estava lembrando de um episódio de Perdidos no Espaço, em que eles encontram um planeta habitado por um alien que parecia uma geléia, e achavam que o danado era um assassino.
Quando vão matar o miserento ele, que nem boca tinha, escreve na pedra:
"No murder" (ou era "don't kill", não lembro bem) :)))

Lord Anderson disse...

Pois é Gio

Tb tinha aqueles filmes e series de viagem no tempo, onde não importa a epoca e lugar que o viajante ia parar que todo mundo falava ingles.

Lord Anderson disse...

E Lola, como mestra em lingua inglesa oq acha do idioma ter permanecido o mesmo em dois milenios?

João disse...

Lola, aqui matando a saudade de ler suas críticas de filmes. Aproveito para parabenizá-la.

Anônimo disse...

Hum,pq eles adotaram macacos como bichos de estimação?Pq não hamsters?

Barbara disse...

Sobre línguas: o mais coerente e criativo pra mim é o Guia do Mochileiro das Galáxias. Pra quem não leu, é assim: as pessoas engolem um peixinho que se alimenta de ondas cerebrais, e traduz automaticamente todas as línguas do universo, porque se comunica pelas ondas com os outros peixinhos que as outras pessoas engoliram. Acho genial!

Off topic: estou lendo O Mito da Beleza, por indicação da Lola e outras pessoas que comentaram, e estou amando! Thanks folks!

Off topic 2: Lola, bem que você podia escrever uma crítica ou algo assim sobre Six Feet Under! Vi o comentário no post anterior e é uma série fenomenal. Ela não é tããão famosa assim mas merece ser divulgada, para que outros apreciem!

Violeta disse...

Bom, eu na verdade ainda não vi nenhum Planeta dos Macacos, então nem posso comentar nada. O que eu queria MESMO era o link para sua primeiro postagem, por pura curiosidade. O post mais antigo ('98) nao parece ser o primeiro. Ou será que é? Enfim, só curiosidade besta!

Leo disse...

Lola também tava revendo os filmes nessa semana. Na verdade comecei quando li sua resenha sobre o novo, que eu ainda não assisti, mas achei que seria uma boa ideia ver os antigos (que eu também não tinha visto!). Só tinha visto mesmo o do Tim Burton, e devo ser uma das únicas criaturas a ter achado legal...
Eu ainda não vi o 4o e o 5o, mas o 3o até agora é mesmo o melhor, disparado. O 2o é péssimo! Bem ruim mesmo! E o primeiro deve ter sido legal com o impacto que teve ao mostrar a estátua.. fora isso: fraco! E não curto o Charlton Heston...
Concordo que o 3o é datado, mas não me incomodou... acho normal. Afinal o filme é sobre os costumes da época, e faz isso muito bem.
Agora, o que me incomodou é que, apesar de achar a história bacana, tem algo que não bate. No primeiro filme nenhum dos macacos parecia saber como os humanos tinham dominado o mundo antes.. só sabiam da existência da zona proibida. Mas no 3o eles contam exatamente como tudo aconteceu, com datas (datas?! a contagem deles não era outra?) e detalhes sobre a morte dos cães e gatos e tal...
Achei isso meio furado... Fora que a príncipio dá a entender que o processo pros macacos dominarem o mundo foi fruto de séculos, se não milênios de evolução da espécie. Mas já no 4o filme o processo tá acontecendo uma década depois...
Achei que eles podiam ter mantido a história sem ter dado esses furos...

Anônimo disse...

foi um macaco que hackeou o celular daquela atriz e botou as fotos da bunda dela online.
isso é mto importante.

Anônimo disse...

Lola, não sei se viste isso:

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/09/mae-defende-uso-de-seios-e-bumbum-falsos-em-miss-de-4-anos.html

Uma palavra:

ABSURDO

Anônimo disse...

E só mais uma coisa

'nós, ao contrário dos americanos, elegemos nossa primeira presidenta.'

Vcs não elegeram nada, quem escolheu foi o Mula, vcs são só um bando de carneirinhos domesticados que fazem qualquer coisa que o mestre mandar.
Se ele tivesse dito: VOTEM NO MACACO TIÃO vcs votariam