sexta-feira, 1 de abril de 2011

GUEST POST: CARRO, UMA OPRESSÃO SOCIAL

Carros, ônibus e bicicletas necessários para transportar o mesmo número de pessoas

Publiquei faz um s um ótimo guest post do Thiago, vulgo Nefelibata, sobre os carros e o atropelamento de ciclistas por conta de um motorista em Porto Alegre. Concordo com tudo que o Thiago diz e acho que já passou da hora de pensarmos em alternativas. É este mesmo o mundo que queremos? Um mundo poluído que despreza o transporte coletivo e em que carros têm muito mais espaço e direitos que pedestres? Esta é a segunda parte de uma série de quatro escrita pelo Thiago sobre a cultura do automóvel, que publico com orgulho.

Defendi que a realida
de do uso do automóvel se constitui como uma forma de opressão social, à semelhança de muitas outras (respeitadas as devidas diferenças que cada uma comporta, claro), tais como opressão de gênero, de raça, classe social, sexualidade, origem etc. Mas, como tudo pode ficar pior, sabemos que essas formas de opressão por vezes se somam, e ocorrem cumulativamente. O recente caso da mulher negra e pobre que é chamada à morte pelo prefeito de Manaus é demonstração triste e recente disso (alguém acha que ele diria o mesmo para um homem branco e rico? De quebra, o prefeito ainda ofende a população do Pará). Pois bem; a opressão dos motoristas contra os não-motoristas também reúne muitos desses preconceitos. A começar pelo machismo transbordante. Os meninos passam por uma série de rituais de passagem para a vida adulta: além do episódico e temido alistamento militar aos 18 anos, há a iniciação (normalmente mais cedo) no sexo, no álcool e no automóvel (infelizmente, às vezes nesses dois últimos juntos). Referências culturais associando mulheres e bebidas ou carros como objetos de desejo masculino abundam por aí, não preciso dar links. Há nesse sentido o “ditado popular” que versa “mulher no volante, perigo constante”, ainda que a grande maioria das vítimas fatais de acidentes com carro seja de homens (entre 2000 e 2007, eles contabilizaram cerca de 80% das mortes). Ou seja, além de ser uma mentira, é de se supor que é mais fácil um homem cuidar bem de um carro do que respeitar uma mulher. Embora mulheres também possam ser opressoras num volante, a maior vitimação fatal de homens no trânsito evidencia a totemização do automóvel atrelada ao machismo. O carro é tido como objeto de força, poder, velocidade, liberdade e conquista (inclusive de mulheres). E ai de você se der uma batidinha, um arranhão, ou até mesmo tocar no ídolo de quatro rodas de um macho alfa; prepare-se para a encrenca. Se o carro tiver mais de um homem dentro, então reze para não terminar em tragédia. Alguém se lembra dos homens que agrediram até mesmo uma mulher grávida? (Aliás, não é surpreendente que o criminoso de Porto Alegre já tenha histórico de violência contra mulher) Ceder espaço ou oportunidade para seres inferiores como pedestres ou ciclistas (até mesmo outros motoristas), ou mesmo baixar a cabeça para normas de segurança mundanas não são coisas de macho alfa, que está acima de tudo isso quando se senta em seu carro. Entretanto, como mostram 80% das vítimas fatais no trânsito, qualquer falha na direção ou imprevisto na estrada joga de volta na cara do machão que, não importa o quão bonzão ele seja, seu corpo ainda é fragilmente humano.
O preconceito de classe, por sua vez, se dá visivelmente na posse de um carro mais velho. Já vi várias vezes carros novos, do último ano, buzinarem em um “traffic-bullying” para modelos de cinco, dez, quinze anos atrás. Se uma BMW vai devagar na frente de um motorista comum, ele admira o carro de elite, mas se é uma BMV, “Brasília Muito Velha”, não suporta ter que segurar o acelerador para um automóvel inferior. Não passa pela cabeça desse motorista que ninguém tem carro velho e acabado porque quer, que se Ferrari custasse um real, todo mundo teria. Em outras palavras, o condutor do carro velho é atacado porque é pobre. Aliás, pobre com carro é algo que irrita a elite, pois se trata daquela invasão do espaço que, antes do Lula, era mais privativo para uma minoria. Mas mesmo um condutor de carro novo, chique, tem que tomar cuidado se for negro. Quem nunca ouviu a nojenta frase que diz “branco dentro de Mercedes é magnata... preto dentro de Mercedes, se não for motorista particular é ladrão, ou então a Mercedes é o busão”. E esse cuidado tem que ser redobrado se no meio do caminho houver blitze policiais.

Como uma política burra fomenta a exclusão de pessoas em prol de automóveis

E não para por aí. A opressão orientada pelos automóveis não termina em nova mescla de preconceitos, em novas formas de agressão e de violência. Os motoristas não se satisfazem só com o asfalto, não se contentam em dominar as ruas e exercitarem sua covardia. Os donos de automóvel querem consumir todo o espaço utilizável das cidades (peço aqui a permissão para me referir majoritariamente a São Paulo, porque além de ser o lugar onde vivo e do qual posso dar registro pessoal, é também na minha opinião um bom exemplo de análise por ser a maior metrópole brasileira). Embora as ruas sejam consideradas até mesmo pela lei como “públicas”, é senso comum dizer que “lugar de pedestre é na calçada”. Aos carros, o maior espaço da rua, aos pedestres, o resto, o estreito espaço da calçada ocupado também por postes, lixeiras, árvores. Para os carros, o piso plano e contínuo; para os pedestres, calçadas quebradas e tortas, descontínuas, uma sequência de rampas feitas não para caminhadas ou passeio, mas para que eles - os carros - possam entrar suavemente em suas garagens. Antes que digam que eu queira derrubar as árvores das calçadas, eu digo que as calçadas devem ter amplo espaço para pedestres E árvores - mas isso seria diminuir o espaço para motorizados. Mas ainda assim, eu não me importo absolutamente em dividir espaço com árvores em meu trajeto, gosto delas. Mas os motoristas chiam em dividir com qualquer coisa o seu caminho: faixas de pedestres, ciclovias, faixas para motocicletas, corredores de ônibus, os próprios ônibus... até mesmo outros carros (chega a ser hilária a declaração da Associação Paulista Viva, culpando os ônibus pelo trânsito na Avenida Paulista). Mas voltando ao verde, em São Paulo, árvores centenárias foram derrubadas na Marginal Tietê para otimizar o espaço das pistas, como fotografou o Luddita. Teve gente que votou no Maluf porque ele queria ampliar as pistas da Marginal sobre o rio Tietê.
Isso mostra como a cultura da idolatria do carro engole a cidade, apropria-se dela e a transforma excluindo os “cidadãos” e monopolizando-a para os “motoristas”. E de maneira extremamente burra. O caso específico da capital paulista, que tem uma frota de automóveis de quase sete milhões de unidades (0,6 carros por habitante, o dobro da média nacional de 0,3 carros por habitante) é emblemático: a cidade em sua história recente tem o perfil de eleger políticos comprometidos com a causa do automóvel. Basta contar quantas obras estilo “foi Maluf que fez” são desse tipo – incluindo aquela coisa hedionda do Minhocão, que é um viaduto literalmente elevado entre blocos de apartamentos. Não interessa se vai ter fumaça, barulho e buzina ao lado da janela do quarto; interessa que exista uma ligação rápida – para carros – entre as zonas Leste e Oeste da cidade, mesmo que ao preço da qualidade de vida das pessoas (haha) que moram por ali, mesmo que isso signifique degradar um bairro inteiro. Há escavadeiras que precisam ficar o ano inteiro removendo sedimento do rio Tietê (ou deveriam) porque encasquetaram de fazer uma das principais vias da cidade na várzea do rio - o primeiro lugar que alaga quando chove. Se tivessem criado a pista a 150 ou 200 metros do rio, teria sido desnecessário gastar dinheiro público em obras de retificação do curso (para tentar fazer a água fluir mais rápido e a enchente terminar mais cedo), e também seria desnecessário manter os custos de manutenção dessa idiotice. Também temos as centenas de milhões de reais gastas numa extravagância de ponte estaiada (que literalmente expulsou favelados de seus barracos) enquanto a cidade urge por investimentos no metrô. Aliás, gostaria de saber se alguém me confirma a informação de um colega engenheiro: São Paulo é, no mundo inteiro, a cidade que possui mais projetos de metrô no papel. Para meu bairro, há dois projetos distantes de metrô, mas estão para inaugurar (mais) um viaduto na região.
Ora, é uma tremenda burrice combater trânsito com essas medidas. Abrir novas pistas, viadutos, ampliar as ruas é uma mensagem clara para a população: “tem mais espaço pro seu carro, pode vir”. Aliando isso às vendas sempre recordes de automóveis (mais aqui), fica óbvio que qualquer pista aberta ou ampliada será logo congestionada. Além de ser uma medida ineficaz, é uma péssima aplicação do dinheiro público, que poderia ser usado para a melhoria e ampliação das redes de transporte coletivo. Mais linhas e estações de metrô, mais linhas, corredores e unidades de ônibus - essas sim são medidas eficazes no combate ao trânsito, embora insuficientes porque o problema inclui também elementos como a concentração de empregos e serviços em áreas distantes das residenciais (obrigando o deslocamento em massa de pessoas). O que seria hoje do transporte em São Paulo se pelo menos metade do investimento em obras para carros tivessem sido aplicadas em transporte público? Mas nada disso recebe incentivos/grana porque não servem aos interesses desses mesmos incentivos/grana. Para se ter uma ideia, a Linha 4/Amarela do metrô, de necessidade urgente para a cidade, foi idealizada em 1940, e hoje conta só com duas estações que não são 100% funcionais. No entanto, na época da crise de 2008-2009, o governo paulista sozinho presenteou a indústria automobilística com R$ 4 bilhões para teoricamente tirá-la de uma crise na qual nunca entrou, pois desde 2007 as vendas vêm batendo recorde ano após ano. Quatro bilhões! Alguém conhece algum outro investimento recente de tal monta pelo governo paulista, assim, numa canetada só?! Esse é exatamente o mesmo valor que o governo cedeu ao investimento de metrô para o ano inteiro de 2010 (ano de pós-crise e ainda por cima eleitoral). Isso só pode significar que a indústria do automobilismo é especial; seu interesse capitalístico, digamos, é especial; sua consideração cultural é especial. Será que não é de se perguntar por que não se desembolsa de uma tacada só o mesmo valor de investimento para a saúde, para a educação ou para a moradia? A crise nessas áreas vem de muito antes de 2008, e não há horizonte para acabar... Mas essa boa vontade política não existe para o que realmente deveria importar. Em parte isso se dá, no caso específico dos paulistas, pela governança de “políticos-gerentes” com interesses escusos e mancomunados com empresários (São Paulo vem desde 1889 ensinando a usar política como fonte de investimento para negócios pessoais).
E tudo isso tem o aval do eleitorado: historicamente, a população que sofre com o trânsito e a ineficácia do transporte coletivo é a mesma que vota há décadas num modelo político de desenvolvimento privatista, privatizante e que prioriza também o transporte privado, tanto em termos de governo do Estado quanto em termos de prefeitura. O único governo municipal que eu vi realmente fazer algo decente com transporte público foi o da prefeita Marta Suplicy, que encomendou estudos e projetos de redesenho para malhas inteiras de ônibus, além de ter implantado o maravilhoso Bilhete Único. Obviamente, ela perdeu as eleições seguintes, e os dois principais argumentos que ouvi contra ela (além do fato de ser do PT, lógico) foram críticas à taxa do lixo (que, aliás, era uma merreca) e condenações de ordem moral pelo fim do relacionamento dela com Eduardo Suplicy. Ou seja, até mesmo elementos da vida privada da pessoa política (ou melhor, da mulher na política) contaram mais do que as medidas pró-transporte coletivo. O povo tornou a votar em homens pró-carro. E isso não faz racionalmente sentido nenhum. Esta imagem explica. Isso me lembra uma experiência que vira e mexe faço no caminho do metrô: olho pela passarela a larga avenida abaixo e observo, no trânsito lento, se existe alguém no banco de passageiro dos automóveis. É raro. E imbecil. O carro ocupa o espaço público da maneira menos eficiente que existe, para transportar, com sua tonelada, o peso de uma pessoa de setenta, oitenta quilogramas. Cadê a humanidade inteligente que se supunha haver aqui neste planeta?

Mais posts do Thiago contra a cultura do automóvel: Ciclistas atropelados e motoristas covardes, Mitos e pretextos sobre o carro, Isso também é com você.

45 comentários:

aiaiai disse...

Belo Texto Thiago!

Reforçando: fico impressionada como as pessoas não vêem q o alto número de acidentes de transito no brasil está DIRETAMENTE relacionado ao machismo! Como vc muito bem colocou...os machos alpha jamais podem ser ultrapassados, jamais vão obedecer à sinalização, jamais vão dar passagem a um pedestre!

No final, vc fala da Marta Suplicy, quero acrescentar q a outra prefeita - mulher e na época do PT - q são paulo teve também tentou fazer mudanças no transporte público. Luiza Erundina mudou a forma de pagamento das cias de onibus, pagando por viagem e não por passageiro. Foi uma revolução. Eu morava em são paulo, tinha carro, mas só andava de onibus. O que ia para o meu trabalho, passava de 10 em 10 minutos. No dia em que o maluf assumiu (NO DIA!), fui para o ponto e fiquei esperando...20 minutos e nada. Dai, monte de gente no ponto, alguem falou...agora só passa de 40 em 40 minutos, pq a prefeitura voltou a pagar por passageiro...Eu me emputeci. Falei pro povo na fila: bem feito, agora esperem, eu vou pegar meu carro...vocês, pensem melhor na próxima eleição! Sei q fui injusta com alguns, mas na hora deu muita raiva...

Luciana disse...

Paraéns pelo texto incrível. Só faltou comentar que, não raramente, carros também ocupam calçadas, transformando-as em estacionamento.

"é de se supor que é mais fácil um homem cuidar bem de um carro do que respeitar uma mulher" <<< acabou de definir um ex-namorado. ahsdhausdhkaushd

Larissa disse...

aqui em SP a moda é andar de SUV = quanto maior o carro, menor a educação. e as faixas estão cada vez menores, há carros que simplesmente são maiores que a largura da faixa, e obviamente carregam uma pessoa só dentro.. não entendo essa mania de querer fingir que mora nos EUA. moro a 7 km do trabalho e demoro mais de uma hora pra chegar, de ônibus é pior ainda. só acho que São Paulo precisa urgente de uma discussão séria, mas sem vitimizações de qualquer um dos lados. Trabalho na região da Faria Lima e todos os dias vejo pedestres atravessando em lugares super perigosos, olhando os celulares sem prestar atenção. Ciclistas andando entre os carros, muitas vezes sem equipamentos de segurança.. fico surpresa quando vejo todo mundo defendendo o uso de bicicletas aqui, sendo que não há a menor estrutura, não só com relação às vias mas com relação ao respeito de AMBAS AS PARTES - dos ciclistas e dos motoristas. Pra mim o maior problema é que em geral, não só no trânsito, quem não se submete às regras é que tem poder, por isso ninguém que tem um carrão respeita sinalização, o limite de velocidade, o rodízio municipal. Perdeu a carta? Sem problemas, é só subornar alguém no detran. Minha preocupação maior é que a cada dia está pior, pra mim o caos já se instalou, não dá pra andar de carro, nem de ônibus, nem de bicicleta, nem de moto e nem de táxi (das últimas vezes q precisei, não tinha táxi disponível na cidade).
Enfim, gostei do tema do post, só acho que é perigoso cair na generalização de que quem tem carro é o culpado de tudo.
E só mais um comentário.. quando eu viajo pra fora a trabalho, vejo que é muuuuito mais comum em outros países encontrar motoristas de táxi e ônibus mulheres. Aqui no Brasil é raro..

Lucas disse...

Gostei bastante da primeira parte que fala sobre a cultura do motorista. Como as pessoas levam a questão de "levar vantagem" para o trânsito, ainda mais quando estão encouraçadas numa caixa de metal.
As pessoas jogam o carro na frente dos outros, não dão passagem, não dão seta, costuram no trânsito... tudo para superar "a competição".

E sobre a cultura do carro em SP, não podia estar mais de acordo. O transporte já chegou ao caos, com vias lotadas durante todo o dia, além do transporte público lotado também.
SP tem uma quantidade ridícula de estações e linhas de metrô, e constrói mais a passos de tartaruga, enquanto investe loucamente em viadutos, ampliação de faixas e etc.
Não dá tanto pra culpar o motorista, quando você analisa o descaso com transporte público.
Mas a classe média também não liga muito pra transporte público, que é "coisa de pobre". Assim que dá compram logo um carro pra poder ficar no ar condicionado e à vontade, mesmo que parado no trânsito.

Mas é uma situação que vai ter que mudar. SP está no limite já, e se algo não for feito logo, a cidade vai parar.

PSDB, trabalhando por você.

Jose Ramon Santana Vazquez disse...

...traigo
sangre
de
la
tarde
herida
en
la
mano
y
una
vela
de
mi
corazón
para
invitarte
y
darte
este
alma
que
viene
para
compartir
contigo
tu
bello
blog
con
un
ramillete
de
oro
y
claveles
dentro...


desde mis
HORAS ROTAS
Y AULA DE PAZ


COMPARTIENDO ILUSION
LOLA

CON saludos de la luna al
reflejarse en el mar de la
poesía...




ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE CHAPLIN MONOCULO NOMBRE DE LA ROSA, ALBATROS GLADIATOR, ACEBO CUMBRES BORRASCOSAS, ENEMIGO A LAS PUERTAS, CACHORRO, FANTASMA DE LA OPERA, BLADE RUUNER ,CHOCOLATE Y CREPUSCULO 1 Y2.

José
Ramón...

Flavia disse...

Ótimo texto. Moro em são paulo, na minha casa tem 2 carros e eu não sou usuária de nenhum. Me recuso.

Passei a vida vendo meu pai se estressar no trânsito(e infelizmente ele é o tipo de macho-alfa q piora mto qdo senta no voltante) e decidi q essa vida de carro não é pra mim.

As vezes penso q se eu tivesse algum poder de decisão no governo, daria uma de louca: ia proibir a venda de carros por pelo menos 10 anos(a não ser pra kem comprovasse necessidade, tipo tem alguém deficiente físico/idoso/etc na família), e só UM carro por família.

Ia tb inverter o rodízio, ou seja, ao invés de tal dia da semana não poderem circular carros com final 1 e 2, só iam poder circular esses nesse dia.

Eu tb baratearia MUITO os táxis, e triplicaria a quantidade deles.

Como resultado de tudo, aconteceria o caos, eu sei, mas quem sabe aí investiriam no transporte público? =/

É mto triste, a menos de 6 anos atrás, eu pagava R$ 12,50 em 10 passagens de metrô(o extinto Múltiplo de 10), e agora pago quase 30. É RIDÍCULO. E tudo isso pra ke? Pra ter alguns trens novos, q têm menos bancos q os antigos, mas têm ar condicionado. Pra ter 2 estações na linha amarela, q só na semana passada passou a funcionar num horário mais ou menos decente.

PELAMOR, São Paulo tinha q ter uma estação de metrô em cada canto!! Tinha q ter no mínimo o quíntuplo de abrangência e linhas! Isso qquer pessoa q pega o metrô percebe. É foda.

PSDB e São Paulo, tudo a ver. (NOT.)

Janaina disse...

Ótimo texto! Fico triste em constatar que essa realidade não tem data para acabar e que a minha cidade, minha querida Belo Horizonte, está seguindo o mesmo caminho, graças à uma prefeitura incompetente e que se lixa para as reais necessidades da população e do meio ambiente.

Lu-Bau.Blog disse...

Lola, odeio carro, mas hj fiquei chocada como a direita está reagindo com relação à nova novela do SBT.

Olha só este post, mas principalmente os comentários absurdos:

http://coturnonoturno.blogspot.com/2011/03/militares-preparem-se-revanche-comecou.html

Patrick disse...

Em Natal, o Governo do Estado está preparando uma bizarra reforma na Av. Roberto Freire (que liga a BR-101 ao bairro e à praia de Ponta Negra), que irá acrescentar mais 4 faixas a uma avenida que já tem 6 faixas! À custa da área verde (canteiro central) e das calçadas laterais (pobres pedestres!).

Pentacúspide disse...

Como arquitecto conheço bem os problemas de automóvel, falando apenas no quadrante do masterplan e de de projecção das cidades, sem entrar no enquadramento ecológico.

Mas, acho que o autor deste deste anda a misturar alhos com bugalhos, associado o problema do automóvel com racismo, machismo e não sei quantos outros ismo.

E chateia-me ver como a COR NEGRA é usada como uma bandeira ideológica "política" fomentando mais a diferença do que homogeneizá-la. Se o prefeito irritou-se com a mulher foi por ela ser negra? Que merda!

E chateia-me que grupos que lutem contra o preconceito escrevam textos preconceituosos como este e como que apareceu num comentário, associando a posse de carro à estupidez.

Tenho de voltar para o trabalho, e não posso dizer mais nada, tudo o que posso fazer agora é recomendar uma reavaliação.

Unknown disse...

Só pra constar como o governo de São Paulo investe no transporte público, hoje eu estou com o ombro machucado porque não dava pra sair do trem em que eu estava sendo apertada e encoxada. Demorei mais de 2:30 pra fazer um trajeto que eu demoraria uma hora no máximo. Todos os dias os trens da cptm que atendem a zona do extremo leste (uma das mais pobres de SP) quebram, atrasam e pessoas chegam a sair muito machucadas.
É horrivel ver que uma soma importante e gasta com avenidas para carros enquanto grandes massas são tratadas grotescamente no transpote público

Escarlate disse...

"E chateia-me que grupos que lutem contra o preconceito escrevam textos preconceituosos como este e como que apareceu num comentário, associando a posse de carro à estupidez."

Sim, superpreconceituoso, nossa, to processando o blog da Lola nesse momento. Você conhece Sampa? Sabe o que se vive aqui? Quantas pessoas morrem no trânsito? Mais de 3000 mortos só na semana de Carnaval aqui no Brasil.

Sabe o que é estupidez? É acelerar quando vê um pedestre, é se sentir machão quando se entra num carro e mata gente inocente, é votar no mesmo partido que tá fodendo com a sua vida por mais de 16 anos!

Lucas disse...

Me dá desespero sair de casa às vezes pra pegar ônibus e metrô, e isso pq moro na ZN de SP.
A ZL é muito maior e muita, muita gente pega a Linha Vermelha sentido Centro, sem contar as pessoas de outros municípios que chegam de trem e lotam mais ainda a linha (sem querer culpá-los, claro).

E o governo tapado não percebe que apenas estender as linhas só piora o problema. A solução é capilarizar o sistema de metrô, como uma teia de aranha mesmo, para que ele chegue a todos os lugares e saia de todos os lugares.

Além do que, agora as zonas sul e oeste são os grandes polos econômicos da cidade, fazendo com que toda a população tenha que se deslocar para o mesmo ponto, por meio dos mesmos canais já saturados.
Esse governo aí também deveria incentivar uma desconcentração dessas zonas, dando incentivo para que as empresas se fixassem fora desses polos.
Se as pessoas não tivessem que atravessar a cidade inteira pra trabalhar, a questão do trânsito seria bem mais fácil de resolver.

aiaiai disse...

lolinha,

li esse texto http://migre.me/4a8qU
lembrando de vc o tempo todo. Lindo!
É sobre direita e esquerda, tratando os dois conceitos de uma forma muito clara!

Rogério Santos disse...

Uma vez, peguei carona com uma amiga do trabalho para casa. No caminho, ela contou que, certa vez, para tentar sair de um congestionamento, quase esmagou um motociclista no muro que estava à esquerda - e disse isso rindo. Quando eu demonstrei não ter gostado do que ela falou, ela olhou para a minha cara e disse com a maior frieza que "motoqueiro não tem querer".

Tempos depois, eu peguei carona com ela novamente e por pouco ela não atropelou outro motociclista quando estava subindo uma ladeira. Quando eu a adverti, ela olhou para mim e disse a mesma coisa que havia dito antes.

Outra vez, um amigo meu disse que quase foi atropelado por um carro cuja motorista havia invadido o sinal vermelho. Para não ter as pernas quebradas, ele se jogou em cima do carro. Quando a motorista ouviu o barulho, se assustou e parou bruscamente. Quando o meu coligado perguntou se ela não havia visto que o sinal ficara vermelho para os carros, ela disse que não porque estava passando uma mensagem SMS para uma amiga e pediu desculpas.

Essas foram as maiores demonstrações que tive de como os e as motoristas pensam e se comportam nas ruas das cidades.

A rua é deles e delas, e os pedestres só poderão transitar se prometerem não encher a paciência dos motorizados. Do contrário...

Nefelibata disse...

Muito obrigado a todos pelos comentários! Espero poder respondê-los à altura!

@aiaiai: eu era muito criança na época da Erundina; minha lembrança "política" começa com o Maluf na prefeitura, e foi na época do sucessor dele, Pitta, em que comecei a andar de ônibus. Mas você tem toda a razão, eu fui injusto com a Erundina, poderia ter ido pesquisar mais sobre ela, até porque eu já tinha ouvido coisas positivas sobre sua gestão acerca (não somente) do transporte público. Valeu pela lembrança!

@Luciana: verdade; até as calçadas eles ocupam às vezes. É tanta coisa a se listar da folga dos carros que acabei nem me lembrando disso. Obrigado pelo acréscimo!

@Larissa: "São Paulo precisa urgente de uma discussão séria, mas sem vitimizações de qualquer um dos lados", concordo, com exceção do uso da palavra "vitimização". Não acho que se trata da discussão vitimizar alguém, porque as vítimas já estão aí, todos os dias as temos. E o lado mais fraco é quem sofre mais, às vezes pagando com a vida, ou ao menos, correndo o maior risco de perdê-la. Na terceira parte do texto, se me lembro bem, falo mais disso, mas já adianto que se trocarmos a palavra que você usou por "isenção de responsabilidade", aí fica perfeito. Não defendo uma "usurpação" do poder no trânsito, ou seja, que troquemos de lugar os opressores do carro pelos opressores da bicicleta ou das solas de sapato. Todos no trânsito devem ser responsáveis, sim, e nisso concordamos. Mas creio que não podemos colocar o debate nesses termos se com isso sugerirmos, mesmo que de leve, que o problema é nivelado entre motoristas de carro e todos os outros; os automóveis hoje não são os únicos responsáveis pela triste situação do trânsito, mas são sim os maiores, e isso não pode ser abafado pelo discurso da igualdade de respeito, precisa ser gritado, evidenciado. Quanto ao SUV, está corretíssima; vejo gente muito querida dizer direto que o bom de ter carro grande é que "dá pra jogar em cima" dos outros quando quiser. Abraço!

@Flavia: na minha casa são 3 carros, e me recuso também. Você deve imaginar então o quanto ouço de pai, mãe, irmão, tios, tias, parentes em geral, amigos, e até da sogra. De resto, como você, adoraria que São Paulo fosse como Paris e nunca pudéssemos estar a mais de 500m de uma estação de metrô. Mas parece que aqui nunca podemos estar a mais de 500m de um estacionamento.

@Janaina e Patrick: minha solidariedade a vocês que estão vendo suas cidades se transformarem em mais uma fortaleza do automóvel.

Nefelibata disse...

@Pentacúspide: um dos propósitos deste meu texto é justamente de mostrar é que existe sim pertinência entre a questão do automóvel e do trânsito e formas de opressão social. É preciso justamente quebrar esse pensamento que acha que racismo, machismo e "outros ismo" que você diz estão apartados do trânsito, que essas coisas existem em esferas diferentes da realidade, como se ela não fosse uma só. Mostrei com base em dados diversos, e não em preconceito, que a associação entre carro e estupidez é evidente, embora não seja necessária. Outros comentários aqui oferecem experiências pessoais que confirmam isso. Mas não escrevi o texto para conscientizar motoristas responsáveis; eles já estão conscientizados, entende? Quanto ao caso do prefeito amazonense, eu repito a pergunta que fiz no texto: você realmente crê que ele teria mandado morrer um homem branco e rico?

@Lucas: eu me dediquei bastante no texto para falar da questão do trânsito, mas o argumento central mesmo é a opressão social representada pelo automóvel. Assim, não pude explorar o ponto que muito corretamente você traz: trânsito é apenas uma parte do problema maior que é o transporte urbano. E provavelmente, mesmo que São Paulo receba milagrosamente um sistema de malha metroviária em teia de aranha ou, como em Paris, tenha uma estação a cada quarteirão, ainda enfrentaremos trens lotados se os empregos não forem distribuídos de maneira satisfatória e equilibrada pela cidade. Você está certíssimo; e eu digo até mais: o melhor meio de transporte para ir trabalhar é a sola do sapato. Isso sim seria o ideal dos ideais.

Abraços a todos, e obrigado mais uma vez, em especial à Lola, por compartilhar esse texto em seu blog!

Nefelibata disse...

Para quem pega o metrô de São Paulo, talvez interesse saber da reforma dos trens velhos (ou do sucateamento oficial deles). Principalmente no tocante ao custo disso; cerca de metade do custo do projeto de toda a linha 4.

Aline XD disse...

Não concordo com o texto, pois vc diz praticamente q os carros são o grande mal do mundo.
Não acho, é como dizer q livros são perigosos pq fazem pensar.
O carro é ótimo, pois o transporte coletivo não dá conta da demanda.
Claro q eu acho q o dinheiro público é mal-investido, q a saúde, a educação e tb o transporte público são precários.
Mas o carro é sinal de independência, de economia de tempo na grande maioria das vezes, pq se tem trânsito, tem trânsito pro carro, proônibus, pra moto, o trem e o metrô estarão lotados.
Um trajeto q vc faz em meia hora no carro, vc demora 1 hora de ônibus sem contar o tempo aguardando no ponto de ônibus.
Gosto de andar de trem, metrô, trólebus e uso mto, mas fora do horário de rush.
Qto a pressionar o carro da frente, qm faz isso são maus motoristas estressados e apressados q buzinarão pra qualquer um.
E existem carros de todas as faixas de preço, portanto o carro é um objeto democrático, qto a ostentação, quem quer se sentir superior por uma situação financeira melhor se não o fizer com carro, fará com qualquer artigo de luxo.
Qtas pessoas trabalham e estudam e dependem do carro?Q se dependessem do transporte público não conseguiriam cumprir seus horários?
O estado tem obrigação de cuidar da saúde, da educação e TAMBÉM das vias usadas tanto pelo transporte público como pelo transporte particular.
A indústria automobilística gera emprego e renda, contribui com impostos, da empresa, dos carros, do combustível, portanto é uma atividade q o governo apóia pois gera retorno.

Gosto mto do blog pq sempre vejo um ponto de vista no qual as pessoas tem o direito de escolher q profissão seguir, q orientação sexual, política posição onde todos são iguais e tem direito de fazer suas escolhas.

Nefelibata disse...

@Ally: eu não disse que os carros são o grande mal do mundo; disse que são um terrível mal para as cidades. É diferente.

Mas note que você acaba caindo em algumas coisas que critico no texto; por exemplo, que carro é sinal de independência. Primeiramente, essa é uma meia-verdade... que independência você tem com seu carro preso no trânsito? E essa situação é cotidiana. Em segundo lugar, nem sempre é verdade que carro é a opção mais rápida. Você, inclusive, já dá a letra ao falar do metrô, que o problema desse não é o tempo, é a lotação. Mas além disso, dependendo do caso,
até mesmo uma bicicleta é mais rápida
que o "ótimo" automóvel. Além disso, conforme eu disse no texto, a independência que o carro lhe dá é custosa para a cidade; o carro e as necessidades para seu tráfego provocam intervenções opressoras e nocivas no espaço urbano.

É claro que o mau motorista pode buzinar para qualquer um. Nosso propósito aqui é justamente chamar a atenção deles.

Não gosto muito de misturar conceitos de democracia e mercado, mas você tem razão quando diz que há várias faixas de preço para automóveis. No entanto, qualquer um deles ainda é absolutamente muito caro num país em que o salário mínimo é cerca de dezenas de vezes menor do que o valor de um carro popular novo. Os carros estão mais acessíveis, mas ainda são brinquedos caros, não somente pelo preço da compra, mas também pelo preço da manutenção em sentido amplo. Quanto à vontade de ostentação, eu sinceramente prefiro que as pessoas nadem no luxo de celulares ou joias, porque pelo menos isso não ataca nossa saúde, não domina nossa cidade nem arrisca nossas vidas.

Você fala da geração de empregos, renda, etc da indústria automobilística. Mas a economia é uma coisa elástica; toda essa riqueza pode girar em torno de outras prioridades. Basta lembrar que quando os carros foram implantados, não pensamos duas vezes em demitir os cocheiros de carruagens, os tratadores de cavalos, os higienizadores das ruas. Quando implantamos a luz elétrica, não tivemos pena de aposentar todos os acendedores de lampiões. A automação avança e mesmo os empregados da indústria automobilística não passam de sombra do que foram no passado, em termos de números. Agora pense do outro lado: quanta gente não poderia ser empregada trabalhando em estações abundantes de metrô, em dezenas de milhares de linhas de ônibus, em toda a inteligência que gerenciaria essa extensa malha de transportes? Acredito que seria muito mais proveitoso.

Outro ponto que critico e em que você acaba caindo é o bode expiatório do Estado. Você diz que é obrigação do Estado cuidar da saúde, educação e também das vias usadas pelo transporte público e particular. De tudo isso, apenas de uma coisa o Estado trata bem, percebe? E sabe por quê? Porque isso dará votos importantes para os mandatários desse governo. Como as pessoas desprezam o transporte público e acham o automóvel ótimo e também sinal de independência (ou seja, a totemização do carro), os políticos fazem obras para agradar esse gosto. E eles mesmos, como saíram todos da parcela da população que pensa assim, concordam com isso do fundo de seu coração. Em outras palavras: dizer que "o transporte público é uma porcaria e por isso vou usar carro" é uma atitude que simplesmente perpetua esse quadro às custas da qualidade de vida nas cidades e até das próprias vidas dos cidadãos.

Espero ter me esclarecido. Abraços.

Tiago Azevedo de Aguiar disse...

O texto é irretocável. Eu até escrevi a respeito aqui( http://t.co/NrZOyAt) na perspectiva de minha cidade.
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Off topic

Lola. Há 47 anos um dos homens que mais lutou pelos direitos das mulheres trabalhadoras do campo por remuneração e direitos iguais aos homens, era torturado em praça pública.

No dia do golpe militar, ele foi torturado, arrancaram seus cabelos com alicates, jogaram fluido de bateria em seus pés, amarram cordas em seu pescoço e o arrastaram em praça pública. Ele tinha mais de 70 anos quando fizeram isso com ele.

O seu nome era Gregório Bezerra, e aqui tem um vídeo no youtube aonde ele fala sobre a sua luta pelos trabalhadores do campo, aonde ele ressalta a sua luta pelas campesinas brasileiras: http://www.youtube.com/watch?v=WhcSX3TfKA4 (trecho a partir de 1min 51segs)

Eu escrevi sobre a memória deste herói do povo brasileiro na campanha pela Memória e pela Verdade. ( http://t.co/QPefnnS )

Saudações fraternas

Pentacúspide disse...

Nefelibata, no plano geral concordo contigo. Eu sou a favor de optimização da eficiência e aumento dos transportes colectivos e a redução de transportes individuais. Os ganhos seriam: menos poluição (em todos os planos, sonora, tóxica, hum! estranho!, não me lembro de outra), menos stress no tráfego, resultando em menos stress nas pessoas, melhorando assim consideravelmente o dia a dia.
As pessoas que usam o transporte público para deslocar-se para o serviço acabam por comprar carro próprio porque os transportes nunca chegam na hora programada, principalmente porque há muito tráfego, e assim eles em vez de resolver o problema como pensam que seria, continuam a alimentá-lo. Ok.

Agora pontos de discórdia:

"Defendi que a realidade do uso do automóvel se constitui como uma forma de opressão social"

Ok! Isto aqui é (para mim), bastante sensível, não diria que o automóvel seja uma forma de opressão social. Analisando a questão do automóvel, não podemos isolá-lo do contexto socio-economico-cultural. O desenvolvimento económico aconteceu no mundo por causa da "velocidade", o aumento da velocidade inferiu exponencialmente no aumento da economia. A sustentabilidade de uma país ou de um governo, infelizmente, ainda hoje avalia-se pelo PIB, ou seja, pela sua produção. E embora o automóvel seja, na maior parte das vezes, um artigo de luxo, ele ainda continua a ser um dos sustentáculos do desenvolvimento económico. Não imaginas porque empresas dão caros aos seus funcionários, ou então só contratam pessoas com viatura própria e com carta de condução.
Ok! Os ricos são sempre mais beneficiados, mas o automóvel promove segurança na deslocação, porque, mesmo que não tenhas uma garagem, de qualquer forma reduzes o tempo entre o carro e a tua casa e tens menos chance de ser assaltado do que a pessoa que tem sair da estação do comboio ou da paragem do autocarro para a casa. (Sem contar que sempre poderás parar num sítio isolado e dar uma com a namorada).

Pentacúspide disse...

@nefelibata

"alguém acha que ele diria o mesmo para um homem branco e rico?"

Afastando um bocado do assunto principal. Tens outros pontos onde voltaste a carregar nos "ismos", mas este aqui tem o resumo. Usaste aqui: "homem", "branco", "rico". Ficando nos dois primeiros termos, homem branco, acho que sim, ele faria o mesmo, considerando o seu estado de irritação. Nunca viste um homem a mandar "tomar no cu" a outro homem? Nunca viste um preto a mandar "pa puta que pariu" a um branco? Ou, mesmo, nunca viste um pobre a mandar "po caralho" a um rico? Pois eu já vi. E não só, já o fiz (é certo que essa pessoa a quem mandei não era rica, mas era poderosa; mas a cena que assisti foi entre uma pessoa milionária e um funcionário, que acabou despedido).




"Ceder espaço ou oportunidade para seres inferiores como pedestres ou ciclistas (até mesmo outros motoristas), ou mesmo baixar a cabeça para normas de segurança mundanas não são coisas de macho alfa, que está acima de tudo isso quando se senta em seu carro."

Este não é um mal de automóvel, mas mal das pessoas que o usam mal e não respeitam os códigos. Imagina que cada produto vem com um lista de especificações, por exemplo, uma faca de mesa, mas outros decidem usar a faca para fins impróprios. A culpa seria da faca, vamos condenar a faca. Ok! Eu sei que esse argumento é do género que as pessoas a favor do porte de arma de fogo usam (sou contra), entretanto, a diferença estabelece-se em que o automóvel foi projectado para uma boa finalidade e não para aquela por que alguns idiotas o usam. É como a internet. E por macho-alfa suponho que não estás a sexualizar a questão, e concodamos.

"Em outras palavras, o condutor do carro velho é atacado porque é pobre. Aliás, pobre com carro é algo que irrita a elite, pois se trata daquela invasão do espaço que, antes do Lula, era mais privativo para uma minoria. (...) Como uma política burra fomenta a exclusão de pessoas em prol de automóveis. E não para por aí."

Aqui fiquei embaralhado, não percebi se estás a fazer um louvor a Lula ou a criticá-lo. Se estás a defender o uso de automóvel para a toda a gente, como é devido acontecer numa sociedade supostamente livre e democrática, ou se estás a clamar por uma política reducionista que limite o uso de automóvel a determinadas pessoas (ok! aqui eu votaria a que impedissem esse idiotas que violam ordinariamente o código a não voltar a tocar numa volante em vez de lhe passarem uma simples multa).


"Embora as ruas sejam consideradas até mesmo pela lei como “públicas”, é senso comum dizer que “lugar de pedestre é na calçada”.

Meu amigo, as ruas foram projectadas para o carros circularem, e são mesmo assim públicas. Tal como uma instalação sanitária pública não foi projectada para fins de restauração. O mau é carros invadirem as calçadas porque os projectistas não contaram e nem podem contar com o ridículos aumento do tráfego, ou porque as ruas são já antigas e antes do tempo da lei do automóvel e do seu domínio no sistema de circulação.


"Mas voltando ao verde, em São Paulo, árvores centenárias foram derrubadas na Marginal Tietê para otimizar o espaço das pistas, como fotografou o Luddita."

Eis aqui um ponto em que somos totalmente de acordo.


"Aliando isso às vendas sempre recordes de automóveis (mais aqui), fica óbvio que qualquer pista aberta ou ampliada será logo congestionada."

Sim! E não sei se o pior é não abrir novas, apesar de o aumento de números de carro, ou incentivar esse aumento através de novas pistas.

Pentacúspide disse...

@larissa
"aqui em SP a moda é andar de SUV = quanto maior o carro, menor a educação"

isso é extremamente preconceituoso, posto da forma como o fizeste.


@lucas

Mas a classe média também não liga muito pra transporte público, que é "coisa de pobre". Assim que dá compram logo um carro pra poder ficar no ar condicionado e à vontade, mesmo que parado no trânsito.

Lucas, já pensaste que uma das primeiras coisas que um pobre faz quando sobe na vida é comprar um carro, antes mesmo de uma casa? Praticamente todo o mundo quer um carro e isso não é exclusivo de classe nenhuma. Achas que pobre que anda de fusca não sonha com Mercedez? Aliás o autor de texto diz que um BMW lento provoca admiração (embora isso não pareça certo) de quem está atrás... e como geralmente só admiramos o que não possuímos, supõe-se que aqueles sem dinheiro para BMW é que ficam por trás a admirá-lo.

De resto concordamos.

Pentacúspide disse...

uma das soluções para o problema de automóvel talvez seja CAR SHARING, que existe em duas modalidades:
- um grupo que vive na mesma zona, combina e partilha o carro quando vai para o trabalho e quando volta.
- diverso pontos de "estacionamento" onde a pessoa pode apanhar um carro e deixar, conforme o trajecto que quer fazer (como já é usual fazeros com bicicletas).
Ambas as modalidades já existem em alguns países, mas só que em pequena escala.

E outra solução seria desmotivar o uso de transporte pessoal através de pedágios mais caros e reduzir o custo do transporte público e aumentar a eficiência do mesmo.

Eduardo Marques disse...
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Koppe disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
BLOG DINIZ K-9 disse...

Parabéns pelo blog, Lola. Acesso diariamente. Visite o Blog Diniz K-9.
http://dinizk9.blogspot.com/

Unknown disse...

Lola, estes posts são muito necessários. Vou tomar um espaço aqui para contar mais um pouco o que um governo sem comprometimento com o transporte público pode fazer: moro no ABC paulista (onde não tem metrô) e trabalho na Zona Sul de SP. Sempre fui trabalhar de ônibus (um inter municipal e outro municipal), mas com a inauguração do terminal Sacomã uma viagem de 40 minutos virou uma via sacra de 1h40, em pé, em um ônibus que só era autorizado a sair do terminal quanto até as sanfonas de ligação dos articulados estavam lotadas de gente, ou seja, totalmente inviável. Tenho condições de pagar mais para ir trabalhar e corri atrás de um ônibus fretado, consegui minha vaga e tudo estava indo bem, descia a coisa de 4 quarteirões do trabalho na ida e tinha que andar 2 quarteirões na volta. Essa opção era ótima, mas eu tinha o privilégio financeiro (já que naquela época o preço era coisa de 1/3 maior do que se fosse de ônibus normal) e também um trabalho tranquilo, que me permitia sair 15 minutos mais cedo para conseguir pegar o ônibus na volta (mesmo que eu chegasse coisa de 1 hora adiantada na parte da manhã).
Acontece que a administração brilhante do Sr. Kassab cismou que os fretados atrapalhavam o trânsito (para os carros, lógico)e os proibiu de circular pelas vias livremente, forçando um itinerário e "criando" bolsões para embarque e desembarque de passageiros, que nada mais eram do que 4 ou 5 faixas pintadas no asfalto. Nas primeiras semanas houve filas de fretados, passageiros que ficaram mais de meia hora esperando a autorização de fiscais grosseiros para poderem descer dos ônibus. Depois descobri que o ponto de parada mais próximo do meu trabalho ficava em outro bairro e detalhe: não tinha um única linha de ônibus que fosse para o bairro em que trabalho direto, o que implicava em mais 2 ônibus e sabe-se lá quantos minutos ou horas a mais par chegar em casa. E na volta, sem chance de pegar o fretado a tempo. A política da prefeitura de SP, neste caso, forçou eu e mais uns 20 passageiros (só do do meu ônibus) a largarmos o serviço e tcharam! passarmos a usar carro. Eu uso carro para trabalhar e infelizmente não dou carona para ninguém. As pessoas do meu trabalho moram todas em SP e mesmo meus companheiros de fretado têm horários e origens diferentes. Me sinto uma imbecil sozinha dentro do carro, mas não tem como trocar uma hora e meia por dia no trânsito por quase 4 horas por dia de ônibus.
O que mais me deixa triste é ouvir e ler várias matérias por aí dizendo que o governo estuda implantar mais um dia de rodízio e também o pedágio urbano para controlar o trânsito, ou seja, nem mesmo agora eles entendem que nenhuma cidade desenvolvida do mundo teve sucesso sem resolver a questão do transporte público. Eles querem mais é arrecadar arbitrariamente, seja implantando um absurdo desses em uma cidade sem metrô, seja cobrando R$ 3 por uma passagem de ônibus. Como bem lembrou o Tiago, o Bilhete Único da Marta já era a salvação para muitos. Com a tarifa nesse patamar se tornou o bem mais precioso de quem depende do sistema público para trabalhar, se divertir, etc.
Muita vergonha dessa cultura, mas sinto uma vergonha maior ainda dessa porcaria de prefeitura paulista, que não faz absolutamente nada pela população - e o povo aí, dando votos para estes imbecis. Torço para que este aumento de tarifa se reflita na próxima eleição, para dar um fim à esta administração PSDB/DEM.
Desculpa o texto enorme, mas queria mostrar que a prefeitura não se contenta em não fazer nada pelo transporte público, ela também se regojiza de atrapalhar as poucas iniciativas que tentam dar um jeito na bagunça.

Jáder disse...

Excelente texto. Mas parei na parte do "A começar pelo machismo transbordante".

Achei que leria um texto sobre comportamento no trânsito mas era só mais mimimi.

lola aronovich disse...

Exatamente, Jáder: blog feminista e pelo direitos das minorias é só mimimi. Vc já sabe o que vai encontrar aqui. É só não gastar mais seu tempo aparecendo. Juro que ninguém sentirá sua falta.


Tirando este, tem comentários muito bons neste post. É ótimo pra gente aprender como precisamos eleger políticos que se comprometem com o bem público (transporte público, por exemplo), não o privado (carros). Não é só SP. Todas as grandes cidades brasileiras estão se tornando, ou já se tornaram, intrasitáveis. Por causa dos carros, não das bicicletas, dos pedestres, dos ônibus, dos taxis, ou das kombis coletivas.

Isabel SFF disse...

moro no rio, que não tem uma situação muito melhor que SP. Mas lembro que quando visitei a cidade, peguei ônibus algumas vezes e notei que havia um espação sem assentos dentro dele. Não sei explicar direito, mas era mais baixo em relação ao espaço que tinha os bancos. Daí me explicaram que era pra caber mais gente. A primeira coisa que pensei: "porra, ao invés de colocarem mais ônibus nas ruas, inventam um jeito de espremer mais gente dentro dos veículos?". Sei lá, me pareceu deboche. Como se dissessem: "é, a gente sabe que vocês pegam ônibus lotado e vai dar um jeito de deixar ainda mais lotado"

Isso é uma coisa que eu não entendo em Sampa. Todo mundo reclama do governo, do metrô cada vez mais lotado, das passagens mais caras, do trânsito cada vez pior... Mas acabaram mantendo o mesmo partido que tá no governo há mais de 10 anos.

Sibele disse...

Excelente post!

parabéns, Lola, pelo quilate do convidado!

E sobre Erundina, se vc pesquisasse mais sobre a gestão dela, Nefelibata, não encontraria muitos investimentos em transporte particular. Um exemplo é o túnel que liga a Juscelino Kubitschek ao Morumbi: na gestão Erundina, essa obra, iniciada na administração anterior, foi tocada a rimo bem lento, pois os investimentos prioritários eram justamente... na educação e na saúde. Claro que ela não se reelegeu depois... desagradou muitos paulistanos donos de carro.E sim, Lola: tem mesmo comentários muito bons nesse post.

Apenas discordei de alguns, como os do Pentacúspide (ele diz que é arquiteto... curioso que seu avatar seja o símbolo do yin e yang... arquitetos gostam tanto do símbolo maçon, néam?) e da Ally. Bem, o Nefelibata já argumentou magnificamente com eles. Apenas acrescento, à Ally, que a indústria automobilística dá tanto emprego como a de cerveja... e que os produtos dos dois, quando aliados, só produzem desgraça. Mas o lobby, ah, o lobby...

Enfim, esse é nossso capitalismo (sim, Pentacúspide, é um ismo!) moreno.

Nefelibata disse...

@Pentacúspide, percebo que pela forma como escreve, provavelmente você não vive no Brasil, então, é possível que simplesmente nossas realidades sejam bem diferentes, o que, se for o caso, creio que seja positivo para você, pois não sente na pele os problemas que somos obrigados a conviver nas metrópoles deste lado do oceano (como, por exemplo, as formas de preconceito e opressão social expressas no caso do prefeito amazonense que você não consegue enxergar). Mas mesmo assim, vou fazer a crítica de algumas passagens de seus comentários.

"Analisando a questão do automóvel, não podemos isolá-lo do contexto socio-economico-cultural". Eu acredito que meu propósito no texto foi justamente o contrário, ou seja, o de incluir a questão do automóvel tanto quanto possível em seu contexto real. Inclusive, a crítica que mais recebi aqui foi a de que eu estava misturando coisas que não devia (ou alhos com bugalhos, lembra?). Não entendi muito bem a relação entre velocidade de transformação do mundo e os automóveis, mas se por acaso você quis dizer que eles são importantes motores da economia, a Sibele já cantou a pedra; nem tudo que é economicamente positivo deve ser aceito. E você mesmo chega a concordar com isso quando diz que a sustentabilidade de uma país ou de um governo, "infelizmente", ainda hoje é avaliada pelo PIB. Aliás, diga-se, o PIB não mede sustentabilidade; ele mede riqueza, em termos de capitalismo. E qualquer crítica ambientalista com o mínimo de seriedade é contra o discurso econômico que iguala desenvolvimento com aumento do PIB, pois isso significa, necessariamente, mais devastação ecológica.

Sobre a questão da vantagem do carro contra assaltos, afirmo de antemão que é mito, mas trato desse e de outros mitos na parte final do texto que a Lola publicará oportunamente.

Agora, em outro trecho seu, note a ironia: "meu amigo, as ruas foram projectadas para o carros circularem (...) O mau é carros invadirem as calçadas porque os projectistas não contaram e nem podem contar com o ridículos aumento do tráfego, ou porque as ruas são já antigas e antes do tempo da lei do automóvel e do seu domínio no sistema de circulação". Você entende que as ruas já eram uma realidade histórica antes dos carros, mas diz que mesmo assim elas foram feitas para que eles circulassem. Não é estranho? Não, não é; o que aconteceu é que com o passar dos anos os automóveis tomaram à força o espaço das ruas, que era público em seu sentido original: espaço de livre trânsito e convívio pessoal. Além do mais, há uma falha aí; como assim os projetistas não podem contar com os aumentos de tráfego? Eu não subestimo a engenharia, não.

Nefelibata disse...

Ainda para o Pentacúspide:

Quanto ao comentário da Larissa, pode parecer preconceituoso, mas na verdade, trata-se de uma evidência fática. Talvez não onde você more, o que é ótimo, mas aqui nas metrópoles, e digo por São Paulo em especial, posso testemunhar contra meus próprios parentes e dizer que isso é verdade; quanto maior o carro, maior é a tendência da falta de educação, sim. Aliás, junta-se aí uma opressão dupla: a venda de carros grandes cresceu para que o motorista possa se impor melhor na luta que promove diariamente no trânsito. Mas carros grandes são mais caros, ou seja, os fortes são selecionados entre os ricos. Você diz depois que "praticamente todo o mundo quer um carro e isso não é exclusivo de classe nenhuma", e está certo, mas querer não é poder dentro do capitalismo, não é? A classe mais abastada é quem pode mais.

Acredito que na parte em que defende não ser o automóvel o culpado, e sim quem usa, você mesmo se anula ao fazer a correta comparação com a arma de fogo. Ora, um carro é sempre uma arma em potencial; basta tocar em alguém na rua enquanto estiver andando e teremos ferimentos ou morte. Você tenta diferenciar a arma de fogo do carro dizendo que este último possui boa finalidade, mas o defensor da arma vai dizer a mesmíssima coisa: que a finalidade da arma é legítima defesa pessoal.

Finalmente, acerca do "car sharing". De fato, é uma medida muito boa para quem já vai sair com o carro de qualquer jeito. Entretanto, isso é algo que sempre será limitado, pois, como vimos aqui, quem tem carro o tem pela independência, e será ruim para quem pensa assim depender de outro motorista, assim como nem todo o motorista gostará de ficar pendurado numa carona. Além disso, os destinos são tão variados que é muito baixa a possibilidade de ter um vizinho seu trabalhando nas mesmas bandas que você.

@Koppe: concordo plenamente, e acrescento que não é apenas o interesse econômico, mas mesmo uma solidariedade de cúmplice. É fácil: quem faz as leis, quem as aplica e quem as julga são geralmente todos parte da mesma cultura. Não vão criar uma lei e uma prática que possa ser aplicada contra eles mesmos, né?

@Camila: lamento muito, de verdade, por você e toda a população do ABC. Tenho alguns parentes em Mauá e sei como o bem estar seu e de seus concidadãos é negligenciado. E ainda há o preconceito político contra vocês, pois embora São Paulo dependa vitalmente de sua força de trabalho, seus políticos entendem que pessoas que estão além da periferia (ou seja, ABCD, principalmente) são um empecilho, sujas, que só travam a cidade que é dos paulistanos somente, etc. Aquela coisa meio xenófoba, sabe. É muito triste, de verdade.

Nefelibata disse...

@Isabel: é isso mesmo. Os ônibus que você viu são os chamados "ônibus de piso baixo central", alardeados como algo de tecnologia de ponta, mas que na verdade são apenas a prova de que quem os projetou não tinha a menor perspectiva de andar neles. Os ônibus têm escada no meio do corredor, e não é raro ver gente tropeçando, caindo e se machucando com as freadas ou aceleradas bruscas. Imagine idosos, gestantes, ou pessoas com restrição nos movimentos.

Os novos trens do metrô aqui seguem lógica semelhante: têm menos bancos para entrar mais gente de pé. Como o povo trabalha como gado, os políticos o tratam como tal, sabe?

E tem outra coisa que esqueci de comentar sobre o que disse a Camila: assim como tem empresário na Av. Paulista culpando os ônibus pelo trânsito, a prefeitura já fez isso com caminhões e fretados. Não se quis saber o quanto isso invibializaria o trabalho de entregadores de mercadorias na parte mais comercialmente viva da cidade. Os caminhoneiros literalmente foram expulsos do espaço privativo dos motoristas de carro.

Quanto aos fretados, olha que estupidez: quanta gente cada um levava para o serviço e que agora têm que botar o carro na rua, como a Camila? A política que prioriza automóveis na cidade é burra, burra.

Isabel SFF disse...

É verdade, Nefelibata. Eu mesma, como não estava acostumada a esses ônibus, tropecei várias vezes. Dá pra notar que quem projeta (e compra) essas coisas nunca andou de ônibus na vida. E se andou, esqueceu como era.

Quanto ao metrô, eu dei a sorte de nunca pegá-lo nos horários de pico, mas também fugi deles como o diabo da cruz. Toda vez que eu vejo imagens das estações apinhadas de gente (principalmente as da linha vermelha, né? Coincidência...) eu me sinto mal por quem está ali. Aliás, outra coisa que me pareceu deboche com a população foram as grades de ferro que colocaram na plataforma de embarque da estação da Sé. Não precisam de mais nada para tratar essas pessoas oficialmente como gado.

Pentacúspide disse...

"Você entende que as ruas já eram uma realidade histórica antes dos carros, mas diz que mesmo assim elas foram feitas para que eles circulassem."

Parece contraditório, mas não é. Vejamos, a primeira cidade conhecida, Shatalhuyuk (a grafia difere conforme autores), não tinha rua, as pessoas andavam pelos telhados (se calhar simplesmente adpataram a dinâmica (ou estática) das cavernas) . A rua depois foi implementada para facilitar a circulação, a questão da velocidade, facilitando a deslocação e o transporte das culturas, criando o mercado. Não tinham automóvel, mas tinham bois, burros e carros. Houve evolução, e hoje temos automóveis, apesar de existirem ruas não projectadas para eles, mas para carroças e cavalos, ou seja, é como se usasses um Mac OX numa Lisa.

Analisando a questão do automóvel, não podemos isolá-lo do contexto socio-economico-cultural.

Sim, o automóvel não é um gerador de "ismos" como os que apontaste, quando muito um diferenciador de classes. Mas nesse contexto, alargando as fronteiras, tínhamos que abarcar as casas e todos os restantes bens físicos.

E, não, meu amigo, não me anulei pela analogia da arma de fogo, simplesmente antecipei um ataque, na medida em que acrescentei que a finalidade para a qual foi projectado um automóvel e de uma arma de fogo diferem grandemente, e estabelecer esse paralelo seria o mesmo que fazê-lo entre a aspirina e o cianeto (ambos podem matar, mas o segundo foi criado mesmo para matar).

A questão do car sharing é essa mesma: não podes com eles, não te junte a eles, modere-os. O primeiro modelo talvez não seja muito prático, mas o segundo é altamente funcional. Porém, continuo a acreditar que melhor mesmo é a optimização dos transportes públicos.

Entretanto enquanto os ricos podem ter carro e não abrirem a mão dessa vantagem (ou desvantagem ecológica), acho justo nós também podermos e termos.

E quando digo a sustentabilidade se mede pelo PIB, quis mesmo dizer isso. Sabe-se que o PIB mede apenas a produção, mas infelizmente o capitalismo associa a sustentabilidade ao dinheiro, mesmo que fazer esse dinheiro signifique bombear quantidades absurdas de gases tóxicos para a atmosfera. Por que razão no acordo da Copenhaga os países ricos obrigaram os do terceiro mundo a reduzirem a emissão dos gases, quando se o ozono está fodido é culpa dos ricos? Por que eles são "sustentáveis", têm dinheiro para arcar com as consequências. Vi um documentário recentemente que mostra o gráfico do crescimento económico na área de saúde nos EUA, o que implica um aumento de PIB e supõe um desenvolvimento sustentável, mas que transveste a verdade de que isso quer dizer que há mais pessoas doentes, pois o dinheiro nessa área gera-se pela falta de saúde e não o contrário.

Enfim, quanto ao "mito de segurança", não posso dizer nada porque não conheço os teus argumentos. Mas no entanto, continuo a achar que sim, o automóvel proporciona segurança relativa (sim, eu relativizei o termo segurança com a palavra chance).

Pentacúspide disse...

Sibele, desde quando yin-yang é maçónico? e depois, o que tem o cu a ver com as calças?

Larissa disse...

Camila, eu sou solidária a vc.. passei seis anos indo de São Bernardo pra zona sul de SP todo dia, primeiro pq estudava na USP e depois por causa do trabalho. O pior é constatar que agora moro ao lado do trabalho.. e pouco mudou. Ok, passo 2 horas "só" no trânsito, não mais 5 horas.. mas continuo achando absurdo, e pago beeem mais caro pra morar em SP. O volume de carros assusta, mas o pior mesmo é a falta de educação. E eu gostaria que meu comentário sobre SUVs fosse preconceituoso, mas não é.. é a realidade e a comprovação de que cada um só se preocupa com o seu umbigo = vou ter mais espaço pra mim, mais poder pra avançar em cima dos outros e não quero saber se isso vai atrapalhar o estacionamento do meu prédio, vai impedir o motociclista de passar ao meu lado ou se vai deixar a cidade mais poluída por ser um carro com motor 2.6.. Se eu puder registrar a placa numa cidade que pague menos IPVA, melhor ainda. Lamentável..

Segundo, concordo totalmente que os carros são os maiores culpados sim, inclusive pq são a grande maioria, mas não gosto da idéia de isentar totalmente os motociclistas, ciclistas, e até pedestres. Se a gente reclama de um ciclista que está andando no meio da marginal pinheiros (onde inclusive tem ciclovia) já é logo vaiado...mas como vcs viram nos comentários o q não falta são motoristas cuja ultima preocupação é preservar a saúde de quem está fora do carro..

Nos últimos cinco anos eu andei de carro, de bicicleta, a pé, de önibus, de táxi, de tróleibus, de tudo que é transporte, e nem sempre é só escolha pessoal como todo mundo diz: depende da distância, do preço, da disponibilidade de metrô ou linhas de Ônibus e até da segurança do trajeto. Por isso acho que uma discussão séria tem que considerar todos os lados, e não só aquele do meio de transporte que eu uso (ou só aqueles que eu não uso).

Gabriela disse...

Excelente post, Thiago. Vou linkar e espalhar por aí, acho que vale a pena, apesar de ter certeza q muitos vão fazer pouco caso.

Da minha parte, posso dar testemunho da situação e Belo Horizonte, que é onde eu moro. Nos meus primeiros anos aqui (me mudei em 2001), se eu tinha um compromisso no centro da cidade, podia pegar um ônibus meia hora antes que eu ainda chegava com uma certa folga. De uns três anos pra cá, a situação do trânsito começou a ficar ruim mesmo: tenho que pegar ônibus com 1 hora de antecedência - e ainda assim torcer pra não acontecer um acidente ou qualquer coisa q interrompa a pista.

Sei que a prefeitura estuda soluções a longo prazo como cobrar pedágio dos carros que entram no centro, a exemplos de cidades como Londres... enquanto isso, soluções como a ampliação do metrô, que é urgente aqui em Belo Horizonte (que é praticamente duas linhas entrelaçadas, só isso) e que inclusive estava sendo discutido para a Copa do Mundo, são empurradas com a barriga pelos governantes. A prefeitura diz q é responsabilidade do estado, o estado diz q não tem nada a ver... E enquanto isso o tempo vai passando.

Só pra finalizar, eu sou mais uma que é completamente avessa à cultura do automóvel, que é extremamente machista. Tive uma amostra disso no fim de semana, quando uma tia me perguntou quantas multas de velocidade eu já tomei (1 recente) e contou que o marido e os filhos (homens) tomam multa todo mês.

Outro exemplo: tenho um carro 2000/2001 na garagem, e há pouco recebi um dinheiro de seguro por causa do falecimento do meu pai. A primeira coisa q eu ouvi de parentes foi q finalmente eu poderia trocar de carro - como se dissessem q meu carro não presta mesmo. Aí vinham as explicações de "carro velho só dá despesa, quebra toda hora e te deixa na mão e blá blá blá", e numa boa, conto nos dedos quantas vezes tive problemas.

MM disse...

Oi Thiago. Moro em SP há mais de 40anos e concordo em gênero, número e grau com tudo o que você escreveu sobre a automobilização da cidade. Foi, e continua sendo, uma opção de planejamento urbano predatória. Moro distante 50 metros do minhocão, essa verdadeira obra de desurbanização da cidade e sinto na pele seus efeitos. Sugestão: transforme a parte do texto entre parênteses “São Paulo vem desde 1889 ensinando a usar política como fonte de investimento para negócios pessoais” num outro artigo. Explico: nesse tempo em que moro aqui eu já vi prefeito para todos os gostos. De direita, de esquerda, homens, mulheres, carioca, nordestino, honesto e ladrão. Nenhum mudou essa diretriz. Todos, sem exceção, investiram – e muito – em ampliação viária, algumas delas de necessidade duvidosa. Só uma coisinha: dizer que a Marta não se reelegeu por causa desses dois motivos que você apontou é um reducionismo e tanto, né? Parabéns pelo seu post.
José Fernando

Cirilo Vargas disse...

Texto muito interessante. Moro em Dili, uma cidade plana e razoavelmente pequena. Assim, vendi meu carro e agora ando de bicicleta com a esposa. Unimos o útil ao agradável. Mas se morássemos em Belo Horizonte, recorrer à 'magrela' seria complicado. Um abraço.

Sibele disse...

"desde quando yin-yang é maçónico?"

Bem, explicar uma ironia é um pouco demais. Melhor deixar pra lá.

sara castillo disse...

e aqui em brasília que não tem calçada para pedestres e muito menos ciclovia? a cidade foi feita para quem tem motor e não pernas. os transportes públicos não tem sequer capacidade de transportar a maior parte da população que mora fora do plano piloto. e há ainda quem sustenta aquele pensamento ridículo de que a construção de brasília foi baseada em valores democráticos. uma piada.