segunda-feira, 31 de agosto de 2009

ADMIRAR AS MULHERES É ADMIRAR A NÓS MESMAS

Li um post muito interessante esses dias (tá, já faz um tempinho) num blog americano que visito cada vez menos, mas ainda dou uma olhadinha de vez em quando. Este post, de uma moça que se identifica como Sweet Machine, me pareceu provocador e me fez pensar. Ela diz que, apesar de morar junto com um homem (e americano é um bicho esquisito: enquanto não tem uma aliança no dedo, o casal é de namorados. Pode estar vivendo junto faz décadas, que sem aliança não se considera casado), se vê como queer. Pra quem não conhece, queer foi palavrão até pouco tempo. Era como se fosse fag, bichona, viado, coisa assim - um insulto pra ofender os gays. Mas aí a comunidade homossexual, inteligente que só ela, apropriou o termo, e adotou-o com orgulho. De insulto o transformou em identificador. Hoje toda faculdade que se preza tem matérias dedicadas a Queer Studies. Não tenho certeza como isso se chama no Brasil: Estudos de Gênero (que inclui feminismo)? Enfim, hoje o termo queer engloba basicamente todo mundo que não está dentro do padrão dominante da heterossexualidade: gays, lésbicas, bissexuais etc. Então essa moça se identifica como queer. Embora viva com um homem, ela já teve relacionamentos com mulheres e sente-se atraída por elas. Ela é bi, mas também é monogâmica.
Bom, a primeira coisa que me chamou a atenção é o número imenso de leitoras que, nos 170 comentários que o post gerou, se identifica como queer. E isso que quase todas estão num relacionamento monogâmico com um homem! Uma das comentaristas, lésbica assumida, até se revoltou: “se vocês namoram homens, vocês não são queer”, disse ela. “Vocês são mulheres heterossexuais pegando uma identidade que não é a sua, mas que é a minha, que é a minha bandeira de luta. Quando vocês saem de mãos dadas com os seus homens, a sociedade não condena vocês como condena a mim e a minha namorada. Quando vou a paradas gays, mal consigo andar no meio de tantos carrinhos de bebê de casais hétero que vão apoiar uma causa que não é a deles”. A moça que reclama tem razão num ponto. É uma estratégia do padrão dominante se apropriar de bandeiras de luta de minorias para, assim, esvaziar seu conteúdo político. Por outro lado, a comunidade GLBT precisa de simpatizantes heteros. Toda causa precisa de simpatizantes, ué. E há um tantinho de preconceito contra bissexuais no seu comentário, lógico. Muitos gays insistem que bissexuais “se assumam”, como se fosse mesmo preciso optar.
Mas o mais legal do post da Sweet Machine, a meu ver, não é sobre tudo isso. É sobre aceitação do corpo. Ela conta que sempre sentiu uma ansiedade maior para se render ao sistema e ser magra quando namora um homem. Já falei um tiquinho do male gaze, do olhar masculino, que é um olhar de superioridade, de quem no mundo em que vivemos têm autoridade pra avaliar e desejar as mulheres. A teórica Laura Mulvey afirma que toda a arte cinematográfica se sustenta em cima deste olhar masculino. Nós, mulheres, fomos ensinadas desde o berço a acatar este olhar masculino. Temos que ser recatadas e geralmente olhar pra baixo ao receber o olhar do predador. É assim que as coisas são, você sabe. Jamais a gente vai lançar esse olhar predador, a não ser que queiramos receber todos os epítetos que vêm junto (galinha, piranha etc). Homem é pegador, mulher é vadia (em inglês é mais sonoro: he's a stud, she's a slut). Outra coisa que aprendemos é que mulheres não são amigas, mas concorrentes. Mulher não é de confiança, a gente ouve sempre. E, nesse clima competitivo em que vivemos, somos condicionadas a olhar pra outras mulheres para julgá-las. Pra julgar a nós mesmas, lógico, mas também pra saber quem são nossas inimigas e concorrentes.
E o que a Sweet Machine diz deturpa toda essa lógica perversa. Porque, quando ela namora mulheres, ela não olha pra elas pra avaliá-las. Ela olha para desejá-las. Ela pensa “Que linda!”, não “Que baranguda!”. E, ao pensar assim, ela começa a refletir se o desprezo que sente pelo seu próprio corpo não está errado. Afinal, se ela acha bonitos corpos tão parecidos com o seu, como pode continuar achando o seu horrível? Ela teve que aprender a amar e aceitar seu próprio corpo, mas, como bi, não teve que aprender a amar o corpo feminino.
Eu nunca tive isso de “sexualidade fluida”. Nunca me senti atraída por alguma mulher. E talvez até por isso seja mais difícil pra que eu aceite meu próprio corpo. Mas aqui vai uma proposta para um novo tipo de mentalidade: quando a gente olhar pra uma mulher, nada de pensar “Putz, essa bunda é grande demais. Olha aqueles seios caídos! Ugh! Ela até seria bonitinha se pesasse vinte quilos a menos” etc etc. Não dá pra olhar com admiração, não? Algo como “Apesar d'ela não se parecer com a Gisele ou com a Carolina Dieckmann, uau, ela é linda”? Quem sabe um pensamento desses contaminasse a gente na frente de um espelho também.

domingo, 30 de agosto de 2009

PRA CIMA DE SÃO PAULO É TUDO IGUAL

Quinta no almoço, o maridão e eu fomos almoçar num restaurante por quilo que fica do lado do posto de gasolina onde abastecemos, não muito longe de casa (em Joinville). Custa 8 reais por pessoa, e é meio a única ocasião em que como carne. O maridão conhece bem o dono do lugar, porque, quando o Hamlet estava vivo, era comum ir lá pra recolher restos de comida que seriam jogados fora (como eu disse, meu cachorrinho era um freegan). Depois de um minutinho de conversa sem nenhum propósito, cutuquei o maridão e perguntei:
- Você não vai falar pra ele?
- Ah é. A gente vai se mudar pra Fortaleza!
E o dono do restaurante: - Fortaleza?... Isso é perto de Belo Horizonte?
Silêncio constrangedor. Explicamos que fica, tipo assim, beeem mais ao norte. E o sujeito, sem entusiasmo algum:
- Legal.
O melhor comentário foi o do maridão pra mim, ao sairmos do restaurante:
- Eu me senti falando com um americano.
Depois a gente faz troça com aquelas estatísticas que dizem que 25% dos americanos não conseguem localizar seu próprio país no mapa-múndi. Até parece que a gente tá num estágio muito mais avançado...
Quem diria, pessoal de Minas: vamos ser vizinhos!
UPDATE: A Barbara me mandou um mapa do "Brasil visto pelos paulistas" (clique para ampliá-lo). Acho que boa parte do que está lá confere... Principalmente SC vista como terra de "gostosas" (não tenho muita certeza sobre PR). É sinal do nosso racismo que SC, onde os brasileiros acham que todas as mulheres são loiras tipo a Vera Fischer, seja visto como um paraíso de mulher bonita.

sábado, 29 de agosto de 2009

O QUE CAI NAS PROVAS DE SELEÇÃO

Ou melhor: o que caiu nas provas de seleção quando eu tentei o mestrado, em dezembro de 2002. Obviamente não é a mesma coisa todos os anos. Mas estude um pouco de teoria literária, e mais um pouco de Aquisição de Língua Estrangeira (que é interessante), talvez de Fonética (que não é interessante), e de Teorias de Leitura (coluna do meio), que dá pra passar.

MIL PALAVRAS


Extra! Extra! Lolinha conta tudo! Fiz as provas pra seleção do mestrado em Literatura de Língua Inglesa da UFSC no início de dezembro, e vou revelar o processo pra você, incauto leitor. Foi horrível. O primeiro exame era de literatura, e a gente pensava que eles dariam opções entre verso e prosa, e eu escolheria prosa correndo, claro, porque analisar poesia é meio complicado. Mas não. Era um tema só. Mostraram um soneto do Shakespeare e pediram pra gente interpretá-lo em mil palavras. Houve um momento traumático na sala quando os 36 candidatos viraram a folha na vã esperança de encontrar outra pergunta, mas nada. Se entender Shakespeare já é difícil, tente redigir mil palavras sobre um poeminha de 14 linhas. Pra você ter uma idéia, esta crônica maravilhosa, da qual o velho Shake certamente sentiria inveja, contém 335 palavras. Dá três crônicas, e ainda por cima tem de ter assunto?! Eu não tenho experiência nisso de escrever com um tema na cabeça.
O soneto era lindo (número 55, se alguém quiser arriscar), apesar da meia dúzia de expressões que eu nunca tinha visto mais gordas. O problema era o tamanho do texto exigido. Sem enrolação, minha interpretação caberia em algumas linhas. Logo... No primeiro parágrafo, taquei uma análise de como o soneto era sobre a memória que aqueles que nos amam têm de nós depois que morremos. No segundo, argumentei que os termos bélicos do poema poderiam levar à outra interpretação, que seria, ahn, sobre julgamento final. Certo, assumo que eu tava atirando pra todos os lados. No terceiro, repeti a hipótese do primeiro. Ainda muuuito distante das mil palavras, apelei pro meu 386 interno. Pensei em todos os filmes e livros que falavam de "memória" e mandei ver. Tenho até vergonha de dizer, mas escrevi sobre Hannibal Lecter, sobre "Amnésia", sobre Brás Cubas, sobre Borges – ih, até a Barbra Streisand cantando "Memories" entrou na jogada. Só me recuperei no último parágrafo, onde chutei que o tema era imortalidade. Não é que era?

PASSEI PRA IMORTALIDADE

Já contei pra você tudo sobre a horripilante prova de literatura na seleção pro mestrado. A outra prova, no mesmo dia, era sobre Lingüística Aplicada. Como enfrentei a situação? Fácil. No meu pânico pré-teste, no estilo "tudo que sei sobre Lingüística é que tem acento em um dos is e treminha no u", tratei de fazer um resumo sobre alguns tópicos e decorei o que escrevi. Não recomendo. Na hora de passar pro papel, fica mecânico. Tenho certeza que os examinadores, ao corrigir as provas, devem ter dito: "Ih, pronto! Essa daqui decorou um resumo!".
Quem passou nesses dois exames, e eu, por um desses milagres, passei, tinha mais um terceiro desafio – uma prova oral. Levava quinze minutos com a banca examinadora, que fazia perguntas sobre o pré-projeto e sobre as provas. Bom, os candidatos que saíam narravam histórias de horror. Imagina você lá, nervosérrimo, e o examinador diz, "Sua estrutura de parágrafos é péssima, a pior que já vi!". O que você responde? Tentarei melhorar da próxima vez? Ou que peçam pra você explicar a metodologia, e você trava? Comigo não aconteceu nada disso. Primeiro, quiseram que eu falasse sobre meu pré-projeto, e eu falei, bem superficialmente. Em seguida, um professor disse que meu ensaio sobre o soneto do Shakespeare tava bastante bom. Eu pensei em rebater com um "Você pirou?", mas me calei. Ele afirmou que eu havia escrito que o tema central era imortalidade. Não quis brigar com ele ou lembrá-lo que fiquei o texto inteiro tecendo coisas sobre memória, Hannibal Lecter, Barbra Streisand... Quem sou eu pra discutir com um doutor? Ele quis saber o que mais seria imortal no poema. Sempre calma, balbuciei alguma bobagem como "well, obviamente o amor é imortal". E ele: "Yes, mas o que mais?". Eu já estava caindo da cadeira quando chutei: "O poema! O próprio poema é imortal!". Ele ficou feliz, não fez mais perguntas, e minha entrevista logo se encerrou. Cá entre nós, acho que bastou eles verem meus olhos verdes pra me passar.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

VENDE-SE MINHA CASINHA

Ontem pus minha casa em Joinville à venda. Dá até um frio na barriga ver minha casinha, comprada há 16 anos, com uma placa de “vende-se” na frente. Mas não dá pra se apegar tanto assim às coisas. Casa é só um lugar onde a gente mora e se sente bem. Dá pra fazer de quase qualquer casa um lar. É só que, até hoje, esta é a única casa que eu escolhi e comprei com o meu suado dinheirinho.
A boa notícia é que minha impressão de quanto custava o meu imóvel estava completamente defasada. Eu e o maridão chamamos um amigo nosso que trabalha com imobiliária pra avaliar a casa, e ele deu o preço: 128 mil. Iuhuu! Eu havia calculado uns 80 mil. Ele disse que esse é o preço de um terreno na região, sinal de que o bairro (e a cidade) se valorizou muito, porque acho que dez anos atrás o terreno custava uns 15. Lembrem-se que, em 93, comprei minha casinha por 7,5 mil dólares (uns quinze mil reais)? A casa em si não foi tão reformada ao longo do tempo. Fizemos melhorias, trocamos as telhas, alguns azulejos, o forro de madeira tomado por cupins por um de PVC, colocamos grades nas janelas, e o jardim ficou muito mais bonito. Mas a principal reforma foi na edícula. O terreno veio com o que chamam por aqui de meia-água, uma casinha bem pequena, tipo kitinete, que eu aluguei durante uns anos (e tive inúmeros problemas com inquilinos que não pagavam, um que devia pra todas as lojas da cidade e inventou que o maridão era irmão dele! - o pessoal vinha aqui cobrar; um casal que fazia altos escândalos quando brigava etc). Aí decidimos reformar a edícula pra que minha mãe pudesse morar aqui, quando não tivesse mais onde viver em SP. E ficou uma gracinha, um sobrado com 60m2, varandinha e tudo mais, super fofo. Então, na realidade, são duas casas. Um ótimo negócio pra quem tem um parente que precisa morar perto.
Claro, esperamos que a casa não se venda tão rápido. Meus planos são ir pra Fortaleza no final de outubro, início de novembro (quando, aparentemente, serei empossada, com solenidade com o reitor e tudo, e já passarei a receber salário, o que me deixa saltitante de felicidade, porque não vejo tutu praticamente desde julho). Aí eu alugo uma kitinete perto da faculdade, e já começo a ver na região as casas à venda. Bom seria um esquema como o que temos em Joinville―uma casa maior com uma casa nos fundos, pra minha mãe. Mas, pelo que vi, os terrenos parecem ser menores em Fortaleza. Logo, é mais comum ter casas duplex, duas casas independentes, uma em cima da outra. E, pelo que comecei a pesquisar, o valor é mais alto que em Joinville, entre 170 e 200 mil na região que quero (perto da universidade). Eu e o maridão vimos fotos de várias casas à venda num site. A que mais gostamos ficava no bairro de Damas, a 3 quilômetros da UFC. Era grande, arborizada (o que pra mim é importantíssimo, amo árvores, odeio esses buracos de cimento sem verde), um charme. 180 m2 num terreno de 500 m2. Nesse caso, pegaríamos, sei lá, 50 m2, e adaptaríamos esse espaço pra que tivesse uma cozinha, salinha, quarto, banheiro, com entrada independente, pra que minha mãe morasse lá, e nós viveríamos no resto. Acho que daria (porque morar na mesma casa, dividindo cozinha e tal, nem pensar). Se não encontrarmos um imóvel que venha com outra casinha, ou que dê pra separar, o jeito será comprar uma casa pra gente, e um apartamento tipo kitinete em outro local pra minha mãe. Vamos ver. Eu me mudando pra lá em novembro, terei uma eternidade pra ver casas na região. E a Manu, que mora no Benfica (bairro do meu departamento na universidade), ainda prometeu ajudar!
A ideia é que o maridão, minha mãe e os gatos só fossem pra Fortaleza um pouco depois, em janeiro ou fevereiro, quando a casa lá já estivesse comprada. Também tem o lance d'o maridão não poder largar o emprego dele de um dia pro outro. Enfim, toda mudança é complicada. Também vamos precisar vender o carro em Joinville e comprar um outro em Fortaleza. Espero ter coragem de dirigir numa cidade com 2,6 milhões de habitantes e uns 600 mil veículos, pelo que me disse um taxista. E um trânsito de lascar. E motoristas maluquetes, como em todo o Brasil (infelizmente! Vamos mudar nossa forma barbárica de dirigir?).
Já já falo pra vocês a bateria de exames médicos que preciso fazer. Pelas minhas contas, são 14. É, eu disse quatorze.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

EU FICO COM O APARTAMENTO

Aquele cenário de começar a poupar cedo não vale só pra aposentadoria. Vale pra quem tem filhos e quer tornar a vida deles mais fácil. Faz uns dois anos, li um artigo interessante num jornal. Haviam acabado de lançar um celular para crianças de 4 anos (alguém me explica por que uma criança de 4 anos, que raramente estará sozinha, precisa de um celular). Enfim, o jornal dizia que era mais negócio dar um apartamento para seu filho, ao invés do celular. E fez os cálculos. O celular custava 800 reais em média. Se vocês, pais conscientes, aplicassem esses 800 reais num fundo que rendesse 8% ao ano, e colocassem mais 50 reais por mês no fundo (preço médio da conta de um celular, pelo que me falaram - eu sou a marciana que não tenho celular. Prazer), quando seu filho completasse 18 anos, o fundo teria 26,6 mil. Tá, não dá pra comprar uma casa, a menos que fosse uma casa em Joinville em 93, mas digamos que vocês não mexam nesse dinheiro. Deixem no fundo, quietinho. Não precisa aplicar mais nada, nem aqueles 50 por mês. Só esqueça o dinheiro. Quando seu filho tiver 40 anos, aqueles 26,6 mil serão 155 mil. Aí já dá pra comprar um apê, não? (ou duas casas no meu bairro em Joinville).
Na minha infância não existia celular, graças aos céus. Mas tinha muito desperdício de grana. Meus pais passaram uma fase deslumbrada de sair pra jantar fora em lugares caros. Imagina o rombo na conta por levar a família de cinco pessoas pra jantar semanalmente num restaurante caro! A gente ia bastante ao Rodeio da Haddock Lobo. Pelo jeito, minha família era praticamente sócia honorária do restaurante! Quanto sai a picanha fatiada pra 5 pessoas no Rodeio hoje? A Veja SP dá como faixa de preço por pessoa R$ 125. Ou seja, absurdos R$ 625 por jantar. Se meus pais tivessem deixado de nos levar pra jantar fora um dia a menos (ao invés de 4 saídas mensais, “só” três), e aplicassem esse dinheiro, este seria um bom montante, hoje, pra dividir com os meus irmãos.
Tipo assim: se tivessem perguntado pra mim, com 10 anos, se eu preferia comer no Rodeio apenas três vezes por mês ou ganhar um apê quando eu fizesse 40 anos, o que eu responderia? Francamente? Eu acho que a resposta seria tão óbvia que eu teria que rir na cara. Desconfio que já naquela época eu era a única pessoa financeiramente responsável da família.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

VOLTA DIFÍCIL PRA CASA

Olá, pessoas! Agora é meia noite e estou em... ahn, Porto Alegre. Eu explico.
Na terça, perto do horário do almoço, minha querida leitora Vanessa de Fortaleza me deu uma carona até o aeroporto. Meu voo pela Azul de Fortaleza pra Campinas saía às 13:30. Depois, de Campinas pra Navegantes, às 18:15. Eu tinha marcado pro maridão me pegar lá em Navegantes (perto de Itajaí) às 19:30.
O voo de Fortaleza saiu um pouco atrasado, mas saiu. Eu conversei durante as três horas com o Telis, um cearense simpático que estava indo tentar a vida em Manaus. E ele estava todo feliz que iria ver São Paulo pela primeira vez na vida. Tive que ser desmancha-prazeres e avisá-lo que 1) Campinas não é São Paulo-capital; e 2) conhecer o aeroporto de uma cidade não é a mesma coisa que conhecer a cidade. Se não eu digo que conheço Paris, porque estive no Charles de Gaulle (aliás, grand chose – grande coisa, no meu francês fluentíssimo).
E lá fui eu correndo pegar o voo das 18:15. Quando a gente estava lá em cima nos ares, bem pertinho de Navegantes, o comandante avisou que o aeroporto estava fechado por causa de neblina. Ai meu deus, já ouvi essa história antes. Lembram que na segunda retrasada, quando estava indo pra Fortaleza, aconteceu a mesma coisa e eu só cheguei lá às 2 da manhã de terça? E tinha a prova escrita às 8? Pois é. Desta vez, não dava pra pousar. O avião ficou sobrevoando Navegantes durante 47 minutos, esperando que a neblina baixasse e o aeroporto reabrisse, mas nada. O jeito foi continuar até Porto Alegre. E isso tendo que ouvir que, se o aeroporto de PoA estivesse fechado, a gente voltaria pra Campinas! Mas o Salgado Filho estava aberto e pousamos. Minha maior preocupação era com o maridão. Nessas horas não é legal sermos os últimos dinossauros na face da Terra a não ter celular. Eu não tinha como entrar em contato com ele! Pedi prum pessoal da Azul chamar o nome dele no aeroporto de Navegantes e dizer pra ele ir pra casa. Liguei pra casa e falei com a minha mãe, torcendo pra que o maridão ligasse pra ela também. E, no Salgado Filho, as notícias não eram boas. Sabe pra quando era o próximo voo pra Navegantes? Às 13:15 de hoje! Depois de muitas reclamações, nos trocaram de companhia e vamos pela Gol às 6:40 pra Florianópolis. Quer dizer, isso se o aeroporto de Floripa não estiver fechado. Porque se estiver e o avião tiver que continuar, sabem onde eu vou parar? Em Recife. É sério!
É por essas e outras que eu prefiro ônibus. Tá, sei que em distâncias grandes é impossível ir de busum, mas pelo menos eu nunca vi rodoviária fechada por causa de neblina.
Portanto, cá estou eu passando a noite num super duper mega baita hotel em Porto Alegre. Eu fico chateada que o maridão não esteja aqui comigo, porque é o tipo de hotel que a gente, pobrinha e pão dura, só chega perto nessas horas difíceis em que uma empresa paga a estadia pra gente. Na cama casal cabem quatro, sem exagero. O quarto é umas três vezes o meu quarto no hotel em Fortaleza (que também era muito bom). A TV é enorme. E, verdadeiro diferencial, tem uma mesa com tomadas pra colocar fio do computador e cabo bem pertinho! O que mais? Eu não sou muito boa em diferenciar um hotel bom de um hotel luxuoso, mas digamos que o sabonete de banho deles é especial. Esses itens pra mim são importantes. E tem água quente na torneira. Mas o impressionante mesmo é a cama. Só não sei se vou conseguir desligar as luzes sozinha (elas se acenderam automaticamente. Não gosto desses confortos Poltergeist).
A gente tem até R$ 25 pra pedir um lanche ou jantar no quarto (porque a esta hora, só mesmo o serviço 24 horas). E é desnecessário dizer que no cardápio não existe muito prato nessa faixa de preço. Fiquei entre um hamburger (R$ 16) e a “sugestão econômica” (R$ 22). Escolhi a segunda opção após ouvir a descrição pelo telefone: carne com molho de vinho e um risoto de arroz. Estava uma delícia, mas era daqueles pratos franceses, sabe? Aqueles que vem um prato gigantesco com um pedacinho minúsculo de comida bem decorada no meio?
Vou exigir mais torcida da parte de vocês, que vocês obviamente são muito bons nisso: torçam pra que eu não vá parar em Recife hoje! (Nada contra Recife, até planejo visitar a cidade quando eu for morar em Fortaleza, mas no momento só quero ir pra casa! Até a cama pra quatro eu dispenso!).

terça-feira, 25 de agosto de 2009

DOUTORA LOLINHA RESPONDE DÚVIDAS DE SUMA IMPORTÂNCIA

Sessão nostalgia: prepare-se pra voar um pouquinho no tempo.

Faz muito tempo, mais ou menos na época em que os primeiros peixinhos se aventuraram a sair da água e desenvolveram patinhas, eu tive a brilhante ideia de bolar uma seção de perguntas e respostas. O negócio não foi pra frente. Eu até anotei várias indagações de vocês, mas fiquei com preguiça de escrever. Mas agora que sou Doutora Lolinha, suponho que qualquer resposta que eu dê será encarada como verdade absoluta, então decidi me aventurar. Ok, ok, na realidade são mais comentários interessantes de leitoras(es) que eu decidi colocar aqui e desenvolver. Começando por uma pergunta da Priscilla (oi, tudo bem, Pri? Lembra de mim? Ainda lê este blog?):
“Lola, você assiste novela?”
No momento não assisto nem televisão, quanto mais novela. Mas já vi muitas. Quando eu era menina, a Globo tinha quatro novelas, e não três, por noite. A das dez era a melhor, a mais “adulta”, a mais ousada. Era a década de 70, e eu via - e adorava - Saramandaia e O Bem Amado. Também nunca vou esquecer o primeiro capítulo de Sinal de Alerta, que mostrava um linchamento (tá, eu era fã no. 1 do Dias Gomes). Foi traumático pra mim, porque eu era criança e nem imaginava que coisas assim podiam acontecer. Mas não arrisco contar muitos detalhes porque minha memória é falha. Eu jurava que Nina tinha como protagonista a Nívea Maria. Aí a Suzana me mandou o vídeo da abertura da novela, com o nome da Regina Duarte em primeiro plano. Estou ciente que foi montagem da parte da Suzana e que eu jamais estaria errada em relação a algo tão importante, mas mexeu um pouquinho com as minhas estruturas (agora não encontrei o vídeo). Ahn, é que eu tinha fixação pela Nívea Maria desde Maria, Maria (por favor, não digam que não era com ela!). Acho que aquela era uma novela das seis, mas foi um trauma pra mim também. Não começava com um pai pobre vendendo a filha dele no sertão nordestino?
Eu lembro do sucesso de Roque Santeiro. Um sucesso tão grande que, em 1986, o cursinho que eu estava fazendo (fiz três meses de cursinho; acabei prestando vestibular no meio do ano) cancelou as aulas porque ia ser o último capítulo da novela e ninguém iria aparecer mesmo.
Depois, sinceramente, não lembro de muita coisa. Nunca entrei nessas neuroses de quem matou Salomão Ayala ou Odette Roitman ou sei lá quem mais.
Praticamente a única novela completa que vi em vários anos foi Mulheres Apaixonadas. Foi durante o mestrado, em 2003: eu estava morando sozinha em Floripa (aluguei uma quitinete nos fundos de uma casa perto da UFSC), só voltava pro maridão em Joinville no final de semana, e não fazia nada além de estudar. Depois de um dia inteiro me matando de ler teoria, eu só queria desligar a cabeça. Aí eu ligava a TV, e era impressionante o efeito terapêutico que isso tinha. Eu sentia mesmo um botão de off clicar na minha mente. Não posso dizer que lembro da novela em si. Lembro que apareceu um ator que eu nunca tinha visto antes, e sua intensidade me impressionou. Era o Dan Stulbach, que fazia um personagem que perseguia sua ex e batia nela. Assustador. Infelizmente, essa novela pôs a perder qualquer mensagem anti-violência quando, num dos últimos capítulos, mostrou o pai surrar sua filha adulta (aquela que era desrespeitosa com os avós). Todo mundo aprovou. Ninguém viu absolutamente nada de errado em um pai bater na filha (ainda mais adulta!). “Ela mereceu”, o pessoal dizia. Não entendo como, com o poder que a TV tem, não fazem novelas que possam afetar a sociedade. Afetar pra melhor, não pra pior. Geralmente novela só mantem o status quo.
Ah lembrei! Depois de Mulheres eu vi a Escrava Isaura, que passou na Rede Record entre 2004 e 2005. Achei a novela ótima, sinceramente. Não me recordava direito da original com a Lucélia Santos, que eu logicamente vi na minha infância. Mas no remake o Leopoldo Pacheco como Leôncio esteve tão marcante, tão vilão sem redenção (os olhos dele faiscavam de maldade), que eu o considerei melhor ainda que o Rubem de Falco, o Leôncio de quase três décadas atrás. Pra mim, Leôncio é o principal atrativo da história. E a atuação do Leopoldo foi memorável. Foi triste vê-lo depois, na Globo, como o carinha bonzinho e sem sal de Belíssima. Eu só vi alguns capítulos, e nem o reconheci. Talvez porque eu e todas as outras mulheres do Brasil só tivéssemos olhos pro mecânico do Reynaldo Giannechini (seu melhor papel na TV, disparado). De lá pra cá, não tenho visto nadica de nada.

Vamos pra próxima. Um leitor anônimo perguntou: “Lola, tu pretendes escrever sobre os melhores filmes da década no fim do ano?”
Ahn, não sei. Sempre me confundo com essas datas. Afinal, a década iria até o final de 2010, não? Ou acaba em 2009 mesmo? Nem comecei a pensar numa lista dos melhores, mas claro, pretendo sim. Aceito sugestões. E pros piores filmes da década também!
E podem mandar perguntas. Já tenho várias na fila pra responder. De repente é sobre alguma opinião que eu ainda não manifestei, que você não tem a menor ideia de como penso a respeito, e gostaria de conhecer minha visão iluminada, digna de uma doutora, sobre aquele determinado assunto.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

VOCÊS NÃO VÃO ACREDITAR

Queridas pessoas fofinhas do meu coração, vocês não vão acreditar, mas eu passei no concurso de Fortaleza! E mais “acredite se quiser” ainda: eu passei em primeiro!
Eu ainda estou mais perplexa que contente, pra falar a verdade. Porque esse fim de semana foi de muita ansiedade, e não era frescura não: eu realmente achava que tinha grandes chances de não passar. O número variava bastante, mas fui dormir ontem à noite (e só dormi três horinhas no total) achando que eu tinha 60% de chance de passar, e 40% de reprovar.
Deixa eu contar tudinho: cheguei lá na faculdade com mais de uma hora de antecedência. Fiquei lendo um pouco, então uma amiga me chamou e ficamos conversando. E aí chegou a banca. Eu pensava que iria ser apenas uma folha na parede, como foi o resultado da prova escrita, mas não. A gente foi à uma sala (aberta a quem quisesse assistir), e cada uma das três examinadoras abria seu envelope lacrado e lia as notas, que a secretária anotava no quadro. E aí, baseado nas notas, cada uma das examinadoras indicava quem deveria pegar a primeira vaga, a segunda e a terceira. Vocês lembram que pra prova escrita minha média foi de 9,1? Agora, pra prova didática, foi de 9,3. Como, eu juro que não sei. Não era charminho meu. Eu sei que muitas vezes eu acho que fui mal e acabo indo bem, mas nesse caso da aula, eu me embaralhei legal com o tempo. Eu sabia que o que eu havia falado durante os primeiros 25 minutos foi bonzinho, coerente e claro, mas é como eu falei: eu tive que diminuir muuuito o ritmo nos últimos vinte minutos e esticá-los ao máximo. E isso depois de perguntar quanto tempo faltava e fazer uma cara de espanto quando a secretária respondeu “vinte minutos”. Felizmente, elas não acharam que eu enrolei tanto assim. Um dos outros candidatos ficou com média 9 nessa fase, e o outro, com 7,3. Tinha que tirar acima de 7 pra passar. A enorme surpresa foi que o professor de Roraima, cuja aprovação eu dava como favas contadas, não tirou a nota mínima de 7. Ficou com média de 5,7. Parece que ele leu tudo durante a aula, e a banca não gostou. Tadinho, ele parece ser muito boa gente.
Aí veio a prova de títulos. Elas analisaram o currículo Lattes documentado de cada candidato que passou nas provas anteriores, somaram cada pontinho, e atribuíram a maior nota, 10, pra quem tivesse o melhor currículo. E, ahn, fui eu (provavelmente porque o outro candidato doutor fez doutorado direto, sem mestrado no meio). Então, na média final das três provas, eu fiquei com inacreditáveis 9,5. O segundo candidato, com 8,3, e o terceiro (que é mestre, e havia sido professor substituto no departamento, então tinha muita torcida dos alunos por ele), com 6,7 (ele ficou com nota abaixo de 7 por causa do currículo, que ainda é fraco, mas essa última nota é apenas classificatória, não eliminatória, como as outras).
A presidenta da banca, que eu já devo ter dito umas trezentas vezes que é um amor (mas ela é!), ficou muito feliz com o resultado, falou pra todo mundo que esse tinha sido meu primeiro concurso, já me apresentou a outros professores de outros departamentos (Latim, Grego, Italiano), e me mandou, junto com o segundo colocado, a um departamento pra começar a ver a vasta parte burocrática. São dezenas de exames médicos e xerox autenticadas. Tem chance da posse ser já em outubro ou novembro, mesmo que a gente só passe a dar aula de fato no ano que vem.
Já já vou ter que começar a ver toda a parte logística da mudança pra Fortaleza. Mas não esta semana! Amanhã volto pra Joinville, e sexta, acho, vou pra Floripa (tenho que agilizar a minha tese de doutorado, entregar as cópias encadernadas, etc). Ufa, eu mesma não acredito que passei, muito menos em primeiro. Faz bem pro meu eguinho, que foi machucado na defesa do doutorado, vocês lembram. E eu estudei bastantão pra este concurso. Agora parece que tudo aconteceu tanto tempo atrás... Incrível!
Super obrigada por toda a torcida de vocês. Vocês me incentivaram muito muito, o tempo todo!

domingo, 23 de agosto de 2009

EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA

Faz um mês, por aí, eu tava organizando uma papelada sem fim e encontrei uma prova de Educação Moral e Cívica. Foi do primeiro semestre de 82, então eu tinha 14 anos. Eu acho que não gostava da matéria, já que respondia algumas questões do teste com “O livro diz que...”. Vamos a uns exemplos de pergunta. Isso vale como registro histórico, já que essa disciplina fez parte do pacote da ditadura que toda uma geração recebeu.
“Faça um comentário sobre essa frase: 'vivendo e aprendendo'”.
"Coloque a letra A para valores efêmeros e B para os permanentes: ( ) Amor ( ) Beleza física ( ) Justiça ( ) Carro ( ) Honestidade
"O que é senso crítico?”
"Em relação aos objetivos da vida, o que fazem a inteligência e a vontade?”
"Por que a liberdade e a responsabilidade são inseparáveis?”
E dá-lhe várias perguntas sobre Rui Barbosa, a “Águia de Haia”. E sobre doença de Chagas. Ha ha, e “O que significa vulto nacional?”.
“Por que o homem é o único ser que pode fazer de sua vida uma obra de arte ou uma caricatura?” Aqui eu escrevi um manifesto de uma página, começando com “Eu não gosto muito dessa frase que diz que 'os seres humanos são os mais inteligentes na Terra'. Eu acho que os animais, as plantas, são tão ou mais inteligentes que nós. Eles matam apenas para comer, e não por qualquer besteira”. Ahn, eu não tinha gato naquela época. Depois de mais uma página de lamentações, escrevo: “Direi apenas que a pergunta está mal-estruturada, pois deveria ser 'É o homem o único ser que pode fazer da sua vida uma obra de arte ou uma caricatura?', em vez de 'por que é o homem o único...'. Esta pode ser a opinião do livro, talvez até a opinião da maioria das pessoas, mas decerto não é a minha opinião”. A professora, muito sábia, respondeu: “Concordo com você. É que nas Escolas existem matérias que 'tentam' condicionar os jovens às verdades convencionais. É 'útil' para a sociedade... Você tem todo direito de contestar”. E eu nem lembro que professora era essa, mas era das minhas. Eu lembro de todas as professoras de português que tive, e eu realmente gostava de todas. Eram muito queridas, e ensinavam bem também. Não sei se havia uma certa cumplicidade entre eu e elas. Muita gente considerava perda de tempo as aulas de português, história do Brasil, geografia brasileira, já que era uma escola americana, bem internacional. E havia gente, tanto entre os alunos quanto entre os professores, que estava no Brasil “de passagem”. Mas a escola também tinha que seguir o currículo brasileiro, e tinha tempo pra isso, pois aulas em escolas americanas são mais longas (começam às 8 da manhã, terminam às 15 horas). Eu era a revolucionária da classe, e nas aulas de português me sentia muito mais à vontade pra assumir meu papel. Sem falar que as professoras de português eram discriminadas na escola. Ganhavam menos que os professores americanos (mas suponho que ganhavam bem também). Muitas não falavam inglês, e como boa parte dos professores americanos só arranhava o português, não havia comunicação entre eles.
Nas aulas com a Dona Susan, que era a mais politizada de todas, a gente sempre tinha que levar um artigo de revista ou jornal, apresentá-lo à classe, e comentar sobre ele. Claro que as minhas apresentações eram sempre divertidas e as que mais rendiam altos debates. Geralmente eu falava de sexo. E sei que era muito crítica à Veja e aos jornais já naquela tenra idade.
Ahá! Achei uma prova sobre Casa de Pensão, do Aluísio Azevedo. Não tá escrito o ano, mas a professora era a Dona Maris, um amor, que me deu A+ e escreveu “É muito agradável a leitura dos seus textos!!”. Só que numa das questões (“Comente alguns costumes que você tenha achado interessantes”), eu comecei com “Como naquela época (e ainda hoje, é claro), o machismo existia em grande dose, e quase todas as famílias eram patriarcais, Vasconcelos queria fazer de Amânico um 'homem', um 'verdadeiro homem'.” Dona Maris circulou a palavra machismo e escreveu: “Que fixação nesse ponto, menina!!!”. Com três pontos de exclamação. Sinal de que a agradabilidade permitida pela leitura dos meus textos (dois pontos de exclamação) perdia pra fixação no tema (três pontos).
Fast-forward pros meus 21 anos. Eu cursava Publicidade e Propaganda na FAAP, em SP. Era 1988. Pro curso de Filosofia II, escrevi um texto chamado “O Homem, A Maior das Grandes Coisas”, onde questionava se esse conceito de ser racional ou irracional fazia muito sentido, elogiava os animais ditos irracionais, e afirmava que o ser humano criou Deus, não o contrário. O professor não gostou. Deu nota 5 e ainda escreveu: “Texto confuso, superficial e pretencioso [sic]. Que tal abdicar da condição humana e ir viver entre os animais?”. A gente já não vivia mais numa ditadura, não tinha mais Educação Moral e Cívica, mas ainda era proibido de pensar por conta própria. Espero que os tempos tenham mudado.