sexta-feira, 24 de abril de 2009

CRÍTICA: GRAN TORINO / O último gran-machão

O heroico americano protetor dos fracos e oprimidos.

E mais um filme que vi sem anotar e por isso a crítica vai ser curtinha, a última:
Gran Torino - ah, este quem odiou com todas as forças foi o Vitor, que escreveu uma crítica contundente. Não sei se ele conta, já que detesta o Clint Eastwood. Eu gosto do Clint. Ou melhor: tem muita coisa dele que adoro (Imperdoáveis, Pontes de Madison), coisas que gosto (A Troca, Menina de Ouro, Sobre Meninos e Lobos), e coisas que não engulo (Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal, e desculpa aí, mas não consigo gostar de Bird). O sujeito é um dos ícones do cinema, não dá pra negar. O que pra mim soa estranho é ver tanta gente lamentando que o Clint esteja se aposentando sem ter recebido um Oscar de melhor ator. Hmm, o Clint é perfeito no que faz, mas o negócio é que ele faz apenas um papel. É super limitado. É como achar o Woody Allen um excelente ator. É como querer dar o Oscar ao Stallone por Rocky: ele esteve ideal no papel, mas desafio que alguém se manifeste e diga “Puxa, o Stalla é um ator maravilhoso”. Porque não é, não são, e o alcance interpretativo de um Clint e de um Stalla não fica tão longe. Então fico bastante feliz que o Clint não tenha sido indicado ao Oscar por Gran.
Gran Torino é um carro que Walt, personagem do Clint, idolatra. É, idolatrar um carro -- daí já se pode ver como o carinha não é flor que se cheire. Walt podia dar as mãos ao instrutor de autoescola de Simplesmente Feliz e sair andando por aí. Eta sujeito macabro! Ele invoca com seus vizinhos Hmong (uma etnia asiática) e não se dá bem com ninguém, até que faz algum tipo de amizade com um rapaz e uma garota, adolescentes Hmong. Olha, o filme é bem feito e fácil de assistir, e não é preciso gostar do Walt pra gostar de Gran. Mas há uns probleminhas ideológicos sérios. Primeiro, todo o oba-oba de como o tradicionalismo (leia-se conservadorismo) americano é algo positivo. Numa cena péssima, a moça diz a Walt que ele é um bom modelo pro seu irmão e compara Walt ao seu pai. Walt seria melhor que seu pai por ser americano, afirma ela. Meus sais! Segundo, o filme apresenta várias questões de gênero, e puxa a sardinha pro lado reacionário. Gran dá razão a Walt por querer ensinar ao rapaz o que é ser homem. Pelos exemplos que vemos, parece ser detestável ser homem, mas o filme não critica isso. E ele está ocupado demais falando dos personagens machos pra se concentrar na menina. A adolescente Hmong é barbaramente estuprada e espancada por uma gangue, mas o filme indica que isso dói muito mais no seu irmão e em Walt do que nela. Mulheres são coadjuvantes até na dor do seu próprio estupro, vê se pode!
P.S.: Por outro lado, eu adoraria ter vizinhos que trouxessem comida deliciosa pra mim.
P.S.2: Note a posição final do Clint na última cena de Gran, e me diga se ele não é pintado como um mártir. É a velha ideologia
fascistóide americana em ação: como os EUA, o império mais poderoso da História, se sacrifica pelo resto do mundo! Eles se envolveram no Vietnã por nós!

18 comentários:

Suzana Elvas disse...

Lolita, querida;

Não vou comentar "Gran Torino", porque minha última ida ao cinema foi pra ver "Monstros x Alienígenas". Mas é só pra dizer que eu raramente estou escrevendo no Breviário, quanto mais nos comments dos outros. Ando numa letargia mental de dar dó a mim mesma. Assim, vou indo de leitora silenciosa até essa fase passar - fase essa que você já saberia estar acontecendo se estivesse indo lá no MEU blog :)
Beijos!

lola aronovich disse...

Su querida, eu visito o seu blog de vez em quando e sei que vc está numa fase letárgica. Mas essa fase tá demorando muito pra passar. Su, o meu humilde bloguinho precisa de vc! Ha, mas eu SABIA que vc iria aparecer aqui hoje. É só falar em Clint Eastwood que vc aparece! O Clint é a melhor isca de Suzanas que eu conheço. Abração!

Alfredo disse...

Odeio esse cara..... Um pessimo ator e nao veja mínima graça dos filmes deles. Passo longe deste.

Giovanni Gouveia disse...

Gosto não, de Clint, nem de dia nem de noite...®

Grupo Colher de Pau disse...

Também não curto muito os filmes do Clint, exceto "As Pontes de Madison". "Gran Torino" foi a única coisa que entrou em cartaz essa semana aqui em Jaraguá, e tô pensando em fazer um repeteco de "Monstros Vs. Alienígenas" (que eu gostei BEM muito!).

Dai disse...

Oi, Lolinha,
Eu vi o filme com o meu namorado e ele adorou. Acho que porque Gran Torino é filme de menino. Fala com eles muito bem sobre questões existenciais centrais em suas vidas: honra, masculinidade e sobre a dureza que é ser homem nesse mundo onde ainda precisam honrar suas calças e o lustre dos seus automóveis. Esse é ponto positivo do filme: é bom para se lançar boas questões num debate sobre masculinidade e mostrar o quanto homens também são vítimas do machismo. Muita gente que eu conheço adorou. Eu dormi na metade e acordei na cena crucial (que vc deve imaginar qual foi, a do revólver invisível), que achei bem forçada. Mas, como o Vitor, eu não sou lá a maior fã do Clint. Acho ele charmosérrimo e admito que gostei de Pontes de Maddison, mas Gran Torino não está em minha lista de prazeres. Beijos!

Masegui disse...

Se eu adorava Dirty Harry, então, não tem jeito de não gostar do Clint.

...

...

...

Estava esperando vocês pararem de rir.

Pontes de Madison é legal e Os Imperdoáveis esta na minha lista dos melhores.

Podem rir novamente...

Mônica disse...

Gosto bem mais do Clint Eastwood como diretor do que como ator. Mas concordo com o Masegui, Dirty Harry é diversão garantida (ah, e teve aquele filme em que ele contracenava com um orangotango, lembra? tolinho mas divertia, e cinema também é pra isso...).

Vi Gran Torino e gostei bastante - tá, minha leitura (argh, odeio essa expressão!) foi bem diferente, e é legal um filme poder render mais de um ponto de vista (porque, né, tem uns por aí que sei não...). Mas agora tou numa correria louca, se der volto depois e 'mixplico'.
abr.
Mônica
Crônicas Urbanas

Dreamer disse...

Não vou ler porque quero assistir...risos

L. M. de Souza disse...

acho uma leitura estreita o que vc fez, e tudo o que vc falou talvez seja o mérito do filme: criticar esses aspectos da cultura americana. é até uma pequena metáfora das guerras que os estados unidos se metem. eles são os fortes e poderosos, os donos da rua, mas as vezes as coisas saem do controle e eles não podem proteger todo mundo.

Vitor Ferreira disse...

Lola, não engulo esse filme mesmo. Ele é fácil de assistir, tem um ritmo bom e tal, mas passa muitos valores e princípios que atacam a gastrite que eu não tenho... E eu acho que o Clint passa esse tipo de mensagens em quase todo filme dele, por isso não gosto. Vejo a obra dele como uma disceminação de preconceitos.

Bearantes disse...

Oi lola! minha segunda passadinha por aqui, gosto muito dos seus textos, especialmente os feministas, mas resolvi entrar no debate do Gran Torino

Eu gostei bastante do filme. É uma história de unico fio, um núcleo duro bem bacana (eu tenho uma queda por historias bem contadas). E o WaltClint, el cabrón americano old school ta bem interessante. Só que ele é tao old school que nao se encontra mais dentro da sociedade que ele ajudou a construir, os rumos tomados (o nada em comum com os filhos e netos)conduziram à exarcebação da futilidade e do utilitarismo. E ele vai encontrar abrigo justamente no "outro", que ele desprezava, e com um pouco de compreensao conseguiu limar um pouco o ódio (nao de um jeito ideal, mas rola uma integraçao).
Nao achei que eles sublimaram a dor da menina, mas simplesmente o foco do filme era outro (walt e o menino). E as personagens femininas, especialmente a adolescente hmong são as mais legais do filme, eu acho.

A Aposta Humana disse...

Clinstwood é massa! Mas já tá gagá...

b disse...

Oi lola.. comment atrasado...
Olha, reconheço essas questões conservadoras que são tratadas nos filmes...

Mas gosto muido to Clint desde menina de ouro. Adorei o personagem rabugento e a atuação do cara.

Acho importante captar essas mensagens subliminares (que talvez não seja um campanha do governo, mas imagino que seja o sentimento dos mais conservadores) pra não ser feito de idiota....

Agora, concordo plenamente com a opnião da Dai.. ainda não assisti, mas imagino que o objetivo do filme não seja debater o machismo e o papel da mulher na sociedade atual...isso ocorre com vários filmes...simplesmente essa não é a proposta...não acho que seja parte de uma conspiração.. é simplesmente contar as coisas como são...

me lembro de uma peça de teatro da qual ia participar, e o diretor tinha sérios problemas, pois era uma peça de época e ele rpecisava de escravos. Conseguiu 4 rapazes, todos negros, para os papéis...
MAs foi inevitável prever que iria causar polêmica, os unicos 4 negros do elenco fossem escravos...

A questão era: Isso era a realidade. Como fazer uma peça de teatro, passada na epoca da escravidão, e colocar albinos no papel de escravos? Não é real... entende onde quero chegar?

Acho que alguns filmes são um trabalho meramente cinematografico, composto de todos os elementos de um filme...faço fotografia.. elas não dizem nada.. são só imagens ... meu foco (no momento) com a fotografia não é fazer denúncia social, fotojornalismo ou qualquer coisa... é fazer boas fotos...só...

Por isso não condeno filmes que acabam mostrando um lado da sociedade, pois é isso que temos... é nisso que vivemos...

Mas, não se preocupe.... vc é fantástica.. seu blog é fantástico e concordo qeu não podemos nos calar .....e vamos que vamos...
abç

Daniel Feltrin disse...

Oi moça, só quero dizer que você esqueceu de analisar a narrativa do filme. O reacionário que vc vê é uma maquiagem propositalmente mal feita que esconde o cara que tem que fazer a coisa certa e tem a sensibilidade pra o fazer. Se ele fosse reacionárião ele iria matar todos os caras no final. A metafora perfeita pro filme é o rosto do Clint. Duro, que parece feito em madeira, mas que tem uns olhinhos pequenininhos brilhando de sensibilidade. No fim, é uma retomada d'Os Imperdoáveis, mas sem a violência do anti-herói, mas a sensibilidade do mártir.

Anônimo disse...

Normal num blog de uma mulher, onde a maioria que lê e comenta é mulher, ler que não gostaram do filme (apesar de terem interpretado incorretamente esse longa). Agora, o duro é ler que gostaram mais de Monstros x Alienígenas. Isso não dá pra aceitar. Com isso eu sou intolerante, igual o Walt!

Anônimo disse...

É minha primeira vez aqui...aliás, não sou muito de posts...de qualquer maneira, acho que você errou...Walt é o protótipo do machão americano, foi à guerra, trabalhou a vida toda numa só empresa, casou, teve filhos e acha que deveria ter a parte dele no sonho americano mas não teve...ele não idolatra o carro, ele idolatra o american way of life...o filme, como eu o vejo, é uma crítica, bem sacada, ao americano médio, que acha que só o fato de ele ser americano basta...o negócio é que Walt percebe isso...e fica puto porque entende que tem que mudar...e ele muda e se afeiçoa ao povo que ele aprendeu a odiar...no final, ele não é um mártir...ele não se sacrifica...ele desiste, só isso, e aproveita para levar uns FDPs com ele..
Abs Ricardo

Anônimo disse...

Em adição ao acima...Clint não precisa de Oscars...e compará-lo ao Stallone é totalmente absurdo..
Outro abraço
Ricardo