terça-feira, 28 de abril de 2009

BONS COMERCIAIS DE CERVEJA, ACREDITE SE QUISER


Meu feriado da última terça seria dedicado a acabar de escrever a minha tese e começar dois outros artigos, mas não rendeu, infelizmente. A culpa foi de vocês, queridas leitoras(es). A Talita recomendou o comercial da cerveja Carlton Draught (acima). Vender cerveja sem ser machista já é incrível, a julgar pelos exemplares do gênero, e este anúncio é muito fofo, bem-feito e divertido, batendo na tecla do “É um comercial grande e caro / este comercial precisa vender muita cerveja”. Minha única reclamação é quanto à ausência de mulheres e negros. Só tem homem branco no vídeo. Mulheres e negros não bebem cerveja não? Ok, como a marca é australiana, realmente o há muitos negros por lá. Afinal, os homens brancos que lá se instalaram se encarregaram de matar quase todos os aborígenes (e eu nunca tinha parado pra pensar nisso até ver uma palestra na UFSC de um doutorando brasileiro que estudou na Austrália, mas aborígenes são, sim, considerados negros). Mas e mulheres, também não tem na Austrália? Tudo bem, eu até posso entender essa ausência feminina no comercial se me concentrar na repetição da palavra big e huge (grande, enorme) que faz uma associação (que pra mim parece óbvia) com uma obssessão masculina, o tamanho do pênis. Enfim, gosto do comercial: ele vende o produto (dá vontade de beber alguma coisa - no meu caso, água - depois de ver toda aquela gente se mexendo), faz graça da indústria publicitária, e de bônus ainda faz rir. Isso sem desrespeitar nenhuma minoria. Viu como é possível?

Também não vi nenhum problema com este outro comercial da mesma marca, uma paródia à clássica cena de Flashdance. Ele não inova muito (é fácil colocar um cara gordinho de collant imitando os movimentos da Jennifer Beals, ou da dublê da Jen, como ficou provado), mas arranca sorrisos de quem conhece o filme. E não é ofensivo, é? Pra mim só ficou faltando a assoadinha básica do jurado resfriado. É papo de quem foi adolescente nos anos 80, não se preocupe.

Aí, dando uma olhada, encontrei este bom comercial da Guinness. A marca irlandesa costuma produzir anúncios preconceituosos, mas este eu gostei. Ele cutuca a direita cristã americana (que crê no criacionismo) e é bacana, principalmente por causa do slogan no final, “Boas coisas surgem para aqueles que esperam” (tradução horrível, eu sei. É que “Good things come to those who wait” é comum na língua inglesa, e não sei se tem equivalente em português. A Patricia está certa: sugeriu "Quem espera sempre alcança"). Minha queixa refere-se ao fato de comerciais de cerveja raramente incluirem negros. E aí, quando é pra mostrar um que fala de evolução, colocam um negro? Não é um pouco racista? Bom, pelo menos mostra que todos os humanos, independentes da raça, vêm do mesmo vermezinho. Ou pelo menos os homens (desculpe, não resisti).

De todo modo, esses comerciais mais inteligentes e bem bolados são uma brisa de ar fresc
o perto dos clichezões do gênero. Uma outra leitora (não encontrei o comentário dela!) recomendou o comercial da cerveja Cintra como um suprassumo do machismo. Realmente, dá pra discordar? Uma loira de bíquini entra muda e sai calada de um bar à beira da praia, enquanto seu corpo é minuciosamente observado por todos os homens do local (pra que mais uma mulher iria servir, mesmo? É um bom exemplo do male gaze, o olhar masculino). Quando ela se agacha pra pegar uma cerveja (enquanto homem que é homem não se agacha nem pra pegar sabonete, certo?), o garçom conta pra galera qual é a tatuagem da loira: “Tô dentro”. Que parece ser mais um grito de guerra dos carinhas do que da moça, né? Tá dentro do quê, muié? Aquela comunidade do bar te exclui como pessoa e só te aceita como símbolo sexual. Aí a gente passa os olhos pelos comentários do YouTube (tá, sei que esses comentários deveriam ser evitados a todo custo) e vê esta pérola: “toda mulher brasileira tinha que ser igual a essa loira”. Desconfio que o leitor fascistóide não se referia apenas à forma física e à “claridade” da modelo, mas também a subserviência, ao silêncio, ao gosto que ela tem de cumprir sua única função na vida - ser apreciada sem moderação.
E então, os comerciais de cerveja que você anda vendo ultimamente estão mais pro lado criativo e não-discriminatório ou pro lado estúpido, velho e batido do “bunda de loira vende”? Ou esta pergunta em si já é uma ofensa a sua inteligência?

21 comentários:

Diego Goes disse...

Lola,
Os comerciais que você postou eu já conhecia e sempre achei muito bons.
Este comercial abaixo é simplesmente adorável e engraçadíssimo - e não acho que ele denigra a imagem da mulher. Ok, ok. Acho que denigre a imagem do homem, para ser mais sincero, rsrs.

http://www.youtube.com/watch?v=yIutgtzwhAc

Por falar em sinceridade, este aqui é o oposto e fala justamente sobre o fato dos homens serem sinceros. Eu achei machista e preconceituoso com as mulheres. Pelo que entendi, as mulheres - pelo menos do comercial - PREFEREM que os homens mintam.

http://www.youtube.com/watch?v=biKItoqAxvA


Um grande beijo e, apesar de quase nunca comentar aqui, leio sempre o seu blog.

Giovanni Gouveia disse...

Os australianos podem considerar os "aborígenes" negros, mas é uma etnia completamente diferente da dos africanos...
Quanto às mulheres, trata-se, mesmo, de um país com "déficit" de mulheres, em idade fértil (acima de 65 anos elas são maioria), mas nada se comparado a "ausência" dos grupos nativos, que representam 1% da população...
Mas, deixando o "secundário" de lado, e indo ao "principal", Lolinha, covardia postar sobre cerveja numa terça-feira, nove horas da manhã! Vou ter que comprar um teclado novo, o meu tá todo babado...

Rubens Oliveira disse...

Lola, emendando nesse assunto sobre o (sempre patético) machismo, trago um artigo que vai deixar você (e as demais leitoras) de cabelo em pé.

http://www.diretodaredacao.com/site/noticias/index.php?not=4489

Patricia Scarpin disse...

Lola, que post bacana - sinto pela sua tese, mas ao mesmo tempo adoro essa troca que você tem com as leitores!

"Quem espera sempre alcança" não é exatamente a mesma coisa, mas acho que serve como equivalente em na língua portuguesa.

Beijo!

Cristine Martin disse...

Adorei os três primeiros comerciais, são realmente bem-humorados e não são ofensivos. O gordinho dançando está ótimo!

Quanto ao negro do comercial da evolução, reparei que no final aparecem tres copos de cerveja Guiness, e o do meio tem cerveja preta (o negro era o cara do meio). Será isso?

Mas o terceiro é de lascar, hein? E a loira parece que gosta de toda aquela atenção,enquanto os caras parecem mesmo um bando de descerebrados babões...

Gostei da sugestão da Patrícia, 'quem espera sempre alcança".

Beijos, e vamos voltar pro trabalho! ;-)

Cris

Chaves disse...

Tudo tem seu lado positivo: o comercial pode ser machista, mas a loira não é nada anoréxica.

Por outro lado, não vi nenhum racismo no comercial da Guinness. Ao contrário, mostra que os três seres vieram da mesma poça. Ou seja, é uma mensagem anti-racista.

O "grande" comercial é uma ótima piada. Adorei, e acho que não tem nada de fálico ali.

Chaves disse...

Ah, o "big ad", se tivesse sido feito no Brasil, teria milhares de mulheres gostosas de biquini correndo, e o coro seria feminino.

Anônimo disse...

Lola:
primeiro comercial - é lindo!
segundo comercial - o gordinho dançando - é maravilhoso!
terceiro comercial - o da Guinness - eu já conhecia e acho fantástico.
Os outros - volto depois pra ver.Bj Fatima/Laguna

Serge Renine disse...

Aronovich:

Esse, do link, é muito bom sem ser ofensivo a mulher.

Segue link.

http://www.youtube.com/watch?v=69XjWHh03Yo

Alfredo disse...

Lola.. hoje é terca.. vc nao está esquecendo de nada nao??

Tina Lopes disse...

Adoro outro da Guiness em que uma velhinha leva a irmã ao psiquiatra porque ela pensa que é uma geladeira... E o problema é que ela começou a descongelar.
O comercial brasileiro eu não vi. Estou tratando a gastrite.

Mila disse...

Dá um ódio tão grande desses comerciais nojentos...

E só eu achei muito maldoso essa tatuagem 'tô dentro' bem em cima da bunda da loira?
Porra...

Anônimo disse...

Eu gosto dos comerciais da corona aqui dos EUA. Sempre que vejo fico comvontade de largar tudo e ir uma cervejinha gelada na praia igual à do comercial. Acho que cumpre o papel de um comercial: fazer vc querer consumir aquele produto!

Esse link é pra uma compilação. Não são todos que já vi na TV, muitos deles só vi neste video do you tube.
http://www.youtube.com/watch?v=XToHkp3mVZ8

filipe disse...

o comercial da cheers beer é bem engraçadinho também. um tanto quanto bobo, mas só de fugir do clichê mulher pelada/marmanjos na praia/zeca pagodinho já tá bom.

L. M. de Souza disse...

vc deve conhecer aquele dito: às vezes um cachimbo é só um cachimbo. criticar comercial de cerveja é fácil. já parou pra pensar que tem muita mulher que gosta disso, de ser objeto?

Talita disse...

Lolinha, pra variar você acerta, ampliando a análise sobre as coisas...

Eu não tinha reparado na ausêcia de negros e mulheres no comercial. :P

Olha o que é a "naturalização" dos sentidos...
E isso porque sou negra e mulher. Bom, pra me dar um desconto, uma das razões pelas quais não senti falta de me ver ali é pq não bebo cerveja. Mas, fica o cutucão para refletir mais sobre as coisas.

Um grande beijo!!!

Talita disse...

*ausência

Felipe Hautequestt disse...

Mila, felizmente, espero que pessoas que ainda não deixaram o cérebro atrofiar até virar uma goma de mascar notem o quão estúpido é colocar a tatuagem da mulher bem em cima do seu traseiro, enfatizando o fato de a bunda ser como uma espécie de troféu que os homens devem conquistar, pois só então a mulher se sentiria valorizada.

Lola, esse primeiro comercial da Carlton Draught eu já conhecia e é muito sensacional mesmo! Ah, detalhe, a música que eles cantam é uma versão da famosa abertura de Carmina Burana, uma cantata que eu adoro, composta por um um cara chamado Carl Orff. Aliás, no ano retrasado, eu dei a sorte de vê-la no Teatro Municipal aqui do Rio! É a coisa mais fantástica! Procure no Youtube!

PS: Só eu reparei, ou voces também perceberam o que parece ser um erro na propaganda da evolução invertida? Há dinossauros antes da catástrofe que os extinguiu (o meteoro caindo logo antes de aparecer um t-rex) e também depois! Como isso?! Hehe, acho que isso não está certo, não...

Ferdinando disse...

Eu gosto muito desse comercial da He'brew:
http://www.youtube.com/watch?v=wOUGHdxFXlE

Adrielle Emilli disse...

olááá!!! :D
eh klaro q o machismo está klaaaro neste comercial,porém, tbm eh importante ver q dessa vez naum excluiram negros e mulheres BEBENDO.Na maioria dos comerciais os negros naum aperecem e a mulher soh aparece "na função da loira"...

Oráculo do Dragão disse...

Nossa, eu estava a muito tempo procurando esse comercial Australiano satirizando a Fortuna Imperatriz Mundi!!!! Nossa!!! Obrigada!!!!