sábado, 11 de abril de 2009

5) VIAGEM AO SUL DO SUL: MEU PASSADO TRÁGICO E O URUGUAI

Vista aérea de Montevidéu. Mas nós fomos de carro.

Esta é a quinta parte da minha viagem ao sul do Sul, que realizei junto com o maridão, de carro, no início de 2003. Desta vez chegamos ao Uruguai. Leia as crônicas anteriores (1, 2, 3, e 4) que, apesar de não estarem dando nenhum ibope nos comentários, até que são bem fofinhas.

O PASSADO CONDENA

Numa de nossas exuberantes viagens ao sul do Sul, chegamos ao Uruguai via Uruguaiana e voltamos pelo litoral, via Chuí. Desta vez decidimos ir através de Jaguarão. Acho que de lá até Montevidéu são uns 400 km. Dá pra cruzar o país inteiro em um dia. O problema é que, no meio do caminho, não há quase nada. É só pensar: no Uruguai tem menos gente que em Santa Catarina, e metade da população vive na capital, então algumas estradas e paisagens parecem desertas. Paramos pra almoçar numa cidade chamada Treinta y Tres, que apelidamos carinhosamente de "Diga Treinta y Tres". O nome tem algo a ver com o número de orientais valentes que defenderam a pátria. Não entendi direito. Sabe como é, me explicaram em espanhol. E os uruguaios falam um espanhol rápido e nasalado.
Antes de prosseguir com a minha saga, devo lembrá-lo de um fato terrível do meu passado. Já revelei isso uns três anos atrás, mas como o número de leitores da minha coluna cresceu vertiginosamente nesse ínterim (de quatro pra sete), vou ter de repetir. É que eu sou argentina. Nasci em Buenos Aires e vim pra este país abençoado por Deus e bonito por natureza com quatro aninhos. Ninguém me perguntou onde eu queria nascer. Eu era muito jovem e não sabia o que estava fazendo, chuif. Quem nunca pecou que atire a primeira pedra. Sei que esta é uma mácula impossível de ser removida da minha história, mas eu fiz tudo pra me desargentinizar. Esqueci o espanhol. Conto piada de argentino. Torço pro Brasil na Copa. Me naturalizei. Casei com um brasileiro, se bem que o maridão pode ser considerado outra mácula na minha história. Espero não perder muitos leitores com esta minha revelação lamentável. Brasileiro é solidário. Quando contei isso pela primeira vez, recebi uma carta de um leitor dizendo que perdoava tudo o que eu escrevia porque, afinal, ele entendia – eu sou arrr-gen-tina.
A interrupção foi só pra explicar que eu deveria falar espanhol, pero no hablo. Em compensação, meu portunhol é excepcional.

VIVA O URUGUAI

O Uruguai é um ótimo lugar pra se aprender espanhol. Não só Montevidéu é maravilhosa, como os uruguaios são uns amores. Acho que eles são os nordestinos da América do Sul no quesito receptividade. Se houvesse um concurso de Miss Simpatia, a faixa certamente iria pros nordestinos ou pros uruguaios. O único porém é que eles são tão, mas tão fofos, que a gente começa a arranhar o espanhol e eles logo interrompem: "Pode hablar português que entendemos". Ficamos cinco dias no Uruguai, e no segundo eu já estava me sentindo como se o espanhol fosse minha língua materna. Ahn, quer dizer, na verdade é, mas ninguém precisa saber. Então eu despejava as palavras com uma fluência impressionante, crente que estava arrasando com meu espanhol. E um uruguaio dizia: "Un momento... Allá hay alguien que entiende portuñol". Minha cara ia lá pro chão. Era humilhante.
Chegamos no Uruguai no dia primeiro de janeiro, um feriado. Tudo fechado. Na estrada super deserta, os poucos uruguaios que havia buzinavam pra gente, apontavam pro nosso adesivo de "Lula lá" no carro e faziam sinal de positivo. Alguns gritavam "Lula! Lula!" e aplaudiam. A TV transmitia a posse ao vivo. No dia seguinte, a manchete de um dos jornais uruguaios era "Ontem assumiu o torneiro mecânico da esperança latino-americana", só que em espanhol, claro. Que moral, hein? E antes das eleições tinha brasileiro temendo que o Lula não seria respeitado no exterior...
Ih, nem era sobre isso que eu queria falar. Vou deixar assuntos mais nobres pra próxima crônica. É que, antes de descermos em Montevidéu, passamos por um lugar chamado Pando. Graças à minha inteligência privilegiada, imediatamente formulei uma teoria pro nome: "Bom, provavelmente Pando é uma cidadezinha uruguaia cheia de chineses e, em homenagem a eles, chamaram a cidade de Pando, uma corruptela de 'panda', animal típico chinês, hoje ameaçado de extinção". O maridão ouviu tudo atentamente e replicou: "Realmente, não consigo pensar em outra explicação".

18 comentários:

L. Archilla disse...

ahahahahahhahah "apesar de não estarem dando nenhum ibope nos comentários" - adoro sua autenticidade.

Lola, eu já ia perguntar antes, mas nunca lembro. vc fala ironicamente dos argentinos, não? cara, em Floripa vi argentinos de todo jeito, em todo lugar, e nem unzinho me destratou. (falei com poucos, admito). mas TODA vez q cruzávamos com um, meus amigos arrumavam um motivo pra implicar. "eles pedem informação em espanhol, sendo q a gente ta no Brasil!" - "eles invadem as nossas praias!" - "eles cometem infrações no trânsito e depois saem do País sem pagar a multa!" (como se brasileiro não fizesse isso no exterior). enfim, fico muito irritada com esse bairrismo...

lola aronovich disse...

Mas é, né, Lauren? Quase ninguém comenta nesses posts sobre minha viagem ao sul do Sul...
Essas crônicas foram escritas 6 anos atrás, então é bem possível que a imagem que eu tinha dos argentinos na época (influenciada pelo que o pessoal de Floripa falava dos argentinos) era diferente da imagem que tenho hoje. As últimas duas vezes que estive na Argentina foram no ano passado e, antes disso, em fevereiro de 2004, no caminho pra Moscou. E eu achei os argentinos (portenhos) humildes, educados, bem distantes da reputação que têm. Acho que a crise econômica que quase derrubou o país fez com que eles mudassem muito. E também, sempre que cruzo com argentinos no Brasil, não tenho nenhum problema. Agora, claro, há argentinos jovens que ficam em grupos que são meio arruaceiros. Mas que grupo de 10 jovens carinhas que bebem demais não é arruaceiro?

Dai disse...

Lola, eu estou entre as pessoas que nunca comentam. Mas, adoro, adoro as crônicas de viagem. Aprendo um bocado e até ensaio em pensamento percorrer, um dia, roteiro semelhante. Acho que relatos pessoais, com tom mais intimista, pedem menos ação dos comentadores. Um chute, mas, pode ser.
Ah, sobre rivalidade Argentina-Brasil. Bem, vivi seis anos com um meio argentino e fui algumas vezes nesse período a Buenos Aires (pela cidade continuo apaixonada). Acho que a rivalidade está atrelada a um fascínio que mescla admiração e antagonismo. Eles admiram em nós aquilo que não encontram neles mesmos, e vice-versa.

Eu conheci argentinos amáveis e gentis, que me fizeram sentir em casa. E outros esnobes e bairristas. Enfim, o que costuma acontecer quando me desloco a algum lugar desconhecido: encontro pessoas de todos os tipos. Também me impressionavam algumas manchetes dos jornais, repletas de etnocentrismo e racismo escancarado. Se bem que o tom da imprensa brasileira não prima necessariamente pelo politicamente correto. Como em tudo na vida, a gente aprende a não generalizar. Mas, sim, o que falam sobre alguns dos nossos vizinhos - a respeito de se sentirem os "europeus" dos trópicos - não são meras obras de ficção.

Alfredo disse...

Há chineses no Uruguai? Creio q sim pois eles tem os olhinhos puxados (apesar da descendencia indigena)

jac rizzo disse...

Bem por isso, Asnalfa.
É por essa razão que os
olhinhos são puxados.
Os indígenas descendem
dos amarelos.

Maravilha esse espaço!
Conversamos uns com os outros,
como se fora uma grande
e fraternal sala!

E você é ótima, Lola!
E além de ser uma 'máquina de
cuspir palavras' é muito corajosa!
Escreve livremente sobre o que
pensa. Não esconde suas idéias!

Como dizem por aí...
'Doa a quem doer'

E seja comentando filmes ou
narrando viagens...Escreva Lola,
escreva...Agradecemos!

Masegui disse...

Os argentinos que eu gosto são: Lolinha, Che Guevara e Miguel Najdorf. O resto não desce...
Tenho enorme simpatia pelos uruguaios e gostava dos chilenos... gostava!

Santiago disse...

Lola em três tópicos de incompetência:

1 - Nasceu na Argentina e não sabe falar espanhol.

2 - Doutoranda em letras e não sabe dar aulas de português.

3 - Professora de inglês e não sabe... traduzir!

Bônus: é uma Argentina que quer ser brasileira. Alguém já viu isso?

Surrealista!

Anônimo disse...

Lola sei que é bonito ser original mas vou colar aqui algumas palavras da Jac às quais subscrevo meu edosso:
"E você é ótima, Lola!
Escreve livremente sobre o que
pensa. Não esconde suas idéias!
Como dizem por aí...
'Doa a quem doer'
E seja comentando filmes ou
narrando viagens...Escreva Lola,
escreva...Agradecemos!"
Acrescentarei mais o seguinte:
-Voce não tem idade por isto é leve, fala igual para crianças e adultos, ricos ou pobres, com a mesma idônea, sincera, fraternidade.
-Voce possui grau ínfimo de agressividade e sem nenhum esforço (confesso que tenho um pouco de inveja desta capacidade).
-Voce não é deslumbrada mas sabe valorizar cada momento vivido e o pão de cada dia, sem subserviência.
Merece muito chocolate ehehehe
Bj da Fatima/Laguna

Elaine Gaspareto disse...

Olá!
Também tenho a impressão que tem textos bons, que a gente gosta quando escreve mas que parece que as pessoas não apreciam, né? Se é que dá para medir apreço pelos comentários. Mas se não pelos comentários, como medir???
De qualquer modo, eu gosto das Crônicas da Viagem.É a mesma Lola, mas diferente, sabe? Mais intimista, eu acho.
Até mais.

lola aronovich disse...

Dai, gostei da foto! É nova?
Ah, incentivo a todas a imitarem as minhas viagens. São uma delícia mesmo, e baratinhas! Eu e o maridão, juntos, gastávamos uns 1,500 reais em dez, onze dias de viagem. Indo a um país estrangeiro (o Uruguai) e conhecendo montes de cidades pelo caminho. Tudo bem, isso faz 6 anos, hoje deve estar mais caro, mas acho que vale muito a pena. Quero repetir a dose em dezembro ou janeiro. E, quando se chega ao Uruguai, dá pra pagar 100 dólares numa agência de turismo pra passar 2 dias em Buenos Aires. Com ônibus, hospedagem e comida inclusa!
Eu amo muito Buenos Aires, acho uma cidade lindíssima. Amo também Montevidéu. Mas, se tiver que comparar a simpatia de argentinos e uruguaios, eu nem hesito: os uruguaios realmente são uns amores. Acho que somos todos hermanos. Não deveria haver competição entre nós latino-americanos.


Tá vendo, Asnalfa? Vc realmente não deveria fazer comentários assim se quiser ser levado a sério. Diga que estava brincando quando disse que os chineses deram origem aos uruguaios...

lola aronovich disse...

Mario, ah, que honra, me colocar na mesma categoria que o Che e o Najdorf! O Che todo mundo conhece, mas o Najdorf, pra quem não sabe, foi um grande enxadrista polonês que se naturalizou argentino. Ele detém o recorde de maior número de simultâneas a cegas! Simultânea é quando um só jogador joga contra vários outros jogadores ao mesmo tempo. Tipo: eu tenho um tabuleiro, o Mario tem outro, o maridão tem outro, e o Najdorf passa em cada tabuleiro e faz uma jogada. São vários jogos simultâneos. Simultânea a cegas é quando a pessoa faz tudo isso SEM VER os tabuleiros! Ou seja, ele tem que imaginar todas essas partidas acontecendo ao mesmo tempo na cabeça dele. Eu acho o máximo. Acho que vou escrever um postinho sobre isso. Sabe, Mario, que eu conheci o Najdorf num torneio em Buenos Aires?
Sobre as nacionalidades, os uruguaios e brasileiros são hors concours, eu acho. Mas os argentinos tb são boa gente. E sobre os chilenos, conheci muito menos chilenos na minha vida que uruguaios e argentinos, mas é tudo legal. O Santiago não tem nada de chileno. Tirando o nome! Se o Santiago não fosse um inseto rastejante, se tivesse alguma importância, os chilenos deveriam processá-lo por manchar a reputação deles!

lola aronovich disse...

Jac, que bom que vc gosta daqui. Eu adoro essas caixas de comentários que acabam virando fóruns, com várias discussões e pontos de vista. A maior parte do pessoal que frequenta o meu bloguinho é super inteligente. Claro que há algumas exceções... Mas eu acho que má fé mesmo, só o meu trololó de estimação é que tem. Obrigada pelo carinho, Jac.


Santiago, minha maior incompetência é não saber como identificar o número de cada computador e poder banir vc de vez. Vai aproveitando, vai...

lola aronovich disse...

Fátima, querida, que amor! Esse carinho todo é pra compensar o fato de vc não ter me mandado nada de chocolate nesta páscoa? Fá, faz muito tempo que a palavra “leve” não é associada a minha pessoinha, se é que vc me entende... E eu gostaria de possuir tão pouca agressividade quanto vc diz, mas acho que não é o caso. Deslumbrada eu não sou mesmo. Não se esqueça de mandar os ovos de chocolate que ninguém comer aí pra cá!


Elaine, é incrível isso, né? Como a gente não pode adivinhar quais textos serão mais queridos ou não. É, tb não sei se os posts mais comentados são os mais queridos, mas é um bom parâmetro. Bom, legal que vc gosta!

Santiago disse...

Eu sei que você quer isso Lola. Todo infeliz de esquerda adora: prender (veja Cuba e a antiga URRS); proibir, banir, assaltar (bancos); seqüestrar (na semana passada um bom jornalista morreu: a Dilma, esse amor de pessoa, tinha um plano para seqüestrá-lo em nome de "ideais" de esquerda). Quando você me proibir de comentar suas sandices, apenas estará sendo coerente com sua linha de conduta.

Anônimo disse...

Pôxa vc descobriu meu embuste né Lola? E tentando despistar a ausência dos chocolates procurei
adoçar na retórica, e no endosso, eu suprimi o "n" eheheheh

Adriana Calábria disse...

Lola:

Esse Santiago é um pobre de espírito!Resolveu pegar no seu pé por pura falta do que fazer.
Inveja é um troço muito feio mesmo!

Bjsssss

Alessandra disse...

Curiosidade de quem mora aqui: vai ter cronicas da passagem por Montevidéu?

Anônimo disse...

Nem li o post ainda, mas só preciso dizer: as idiotices que o Santiago escreve como comentário sempre me fazem rir. No mínimo isso...

- Lívia F.