quinta-feira, 1 de julho de 2010

QUANTO POUPAR PRA SE APOSENTAR, O MISTÉRIO

Passei um tempão achando que, pra se aposentar com qualquer idade, seria necessário ter duzentas vezes o que se gasta por mês. Digamos que suas despesas mensais fiquem em R$ 1,500. Você precisaria ter 300 mil reais aplicados. Parece (e é) um dinheirão, mas não é totalmente inatingível pra quem começa a poupar desde cedo. Só que aí me falaram que essa regra não se aplica mais. Que agora precisa ter trezentas vezes os gastos mensais. E aí começa a ficar meio utópico mesmo. Felizmente, a revista americana Money de 2007 deu uma boa base geral.

Se você quiser se aposentar aos 60 anos sem nenhum tipo de pensão (e recebendo 80% do seu salário), precisaria ter...
1,2 vezes o seu salário anual aplicado aos 30 anos
1,6 vezes o seu salário anual aplicado aos 35 anos
3,5 vezes o seu salário anual aplicado aos 40 anos
5,8 vezes o seu salário anual aplicado aos 45 anos
8,5 vezes o seu salário anual aplicado aos 50 anos
11,9 vezes o seu salário anual aplicado aos 55 anos
16 vezes o seu salário anual aplicado aos 60 anos

Ok, permita-me explicar umas coisinhas. Primeiro que americano nunca pensa em termos de gastos ou salários mensais, como a gente faz. Pra eles o cálculo é anual, mas não tem problema: basta você multiplicar seu salário por doze (ou treze, se você é do tipo que gasta o 13o). E também, não precisa pensar no salário. Você pode calcular os seus gastos mensais. De repente, você recebe 2 mil reais por mês, mas só gasta 1,500. Pense nos 1,500, portanto (1,500 x 12 = 18 mil). Ou você recebe 2 mil por mês, mas gostaria de se aposentar com uma renda maior, pra poder viajar de vez em quando.
Só tem um jeito de saber quanto você gasta, e esse jeito é anotar, durante pelo menos alguns meses, os seus gastos do dia a dia. Esse é o princípio básico das finanças pessoais: não importa quanto você ganha, importa quanto você gasta. E um monte de gente gasta como se não houvesse amanhã, não tem a menor ideia de quanto gasta, vive endividado, e depois reclama que a vida financeira é um caos, ou que nunca vai poder se aposentar. Tenho empatia por pessoas pobres que não recebem o suficiente pra cobrir suas despesas mensais, mas da classe média? Tsc tsc tsc. É só se organizar.
Tá bom, fim do sermão. Então, saiba o quanto você precisa por ano pra viver. Ah, você vive bem com 2 mil por mês, e quer ainda ter uns 6 mil de lambuja pra fazer uma viagenzinha todo ano? São 24 mil mais 6, 30 mil. Se você tiver esses 30 mil vezes 1,2 (ou seja, 36 mil) aplicados quando você tiver trinta anos, e não mexer neles até os seus 60, pronto: você já tem sua aposentadoria garantida (você precisa buscar uma aplicação que renda bem, e é recomendável, nessa idade, colocar 50% do dinheiro ― ou mais ― em fundos de ações. Como trinta anos é muito tempo, isso dilui o risco e, historicamente, ações rendem mais que CDI, renda fixa, e caderneta de poupança. Não se guie pelo cenário atual, em que as bolsas estão no fundo do poço). Quando você fizer 60, pode começar a retirar 30 mil por ano (reajustados pela inflação, obviamente). Isso sem ter que economizar mais nada. Bom demais pra ser verdade?
Já faz mais de um ano que vi uma estatística num dos maiores blogs de finanças pessoais dos EUA, e decidi fazer uma pergunta pro autor pra comprovar. Traduzo aqui:
Você sugere que, se uma pessoa guardar 2,500 por mês, dentro de 15 anos poderá se aposentar. Isso é realmente possível?”.
O dono do blog, Trent, respondeu: “Se você não fizer mais nada além de guardar esse dinheiro, sem aplicá-lo, você terá 450 mil. Mas, se você aplicá-lo com um retorno anual de 5%, você terá uns 700 mil guardados. Vamos dizer que você opte por viver com 4% das suas economias (se estiver rendendo 5%, ainda está crescendo). Isso equivale a 28 mil por ano pra gastar―2,300 por mês. E continuará a crescer lentamente por um tempo. Você poderia viver com isso, principalmente se você já estivesse acostumado a viver frugalmente (e você teria que estar, pra poder guardar 2,500 todo mês).
Acho que a resposta dele contradiz um pouco a regra geral do Money. Afinal, alguém poderia guardar 30 mil em um ano, economizando 2,500 por mês. E, se deixar esse dinheiro guardado até os 60, já tem o que precisa. Mas Trent está falando em se aposentar antes, com qualquer idade. Acontece que eles nunca chegam num consenso. Nos comentários, alguém lembra que é preciso calcular os gastos anuais e multiplicar por 25. Se você tiver esse dinheiro guardado, pode ficar sem trabalhar durante várias décadas (quantas, eles não dizem). Mas pô, não era 20 vezes? Agora é 25? E um outro diz que, pra viver a vida toda sem precisar mais trabalhar, tem que ser por 35. É uma fortuna. Eles todos mais ou menos concordam que 4% do que está investido pode ser retirado por ano. Isso equivale a ter no banco 300 vezes o que se gasta por mês, ou 25 vezes o que se gasta por ano. Ai ai, será que a gente pode escolher o índice em que quer acreditar? Porque o do Money parece ser o mais bacana. Na realidade, você pode tentar usar esta calculadora (bem simplezinha) do Money.
Eu e o maridão temos dinheiro aplicado, e uns 20% tá em fundos de ações, o que sempre me traz calafrios, porque numa semana sobe, na outra despenca. Mas, a longo prazo, compensa, juram os especialistas. Gosto bastante do livro do Mauro Halfeld, Investimentos: Como Administrar Melhor seu Dinheiro (Editora Fundamento, 2006). Ele diz: “Tenha sempre em mente que o investimento em Bolsa é para o longo prazo. Um período de dez, vinte, trinta ou quarenta anos, dependendo de sua idade atual, deve ser seu horizonte de tempo. Não se importe com os escândalos na política, as guerras no Oriente Médio, as demissões dos ministros ou as novas pesquisas eleitorais. Isso tudo é irrelevante se você acredita estar em um mundo que vai prosperar muito nos próximos anos” (p. 77).
Irrelevante ou não, o ideal é entrar num fundo quando as ações estão em baixa, e sair quando estão em alta. Infelizmente, escolhemos logo 2008 para alocar 20% de nossas economias em ações. E teve um rendimento negativo, não sei se você lembra. Foi o pior ano pra ações em não sei quantas décadas. Eu não mexi, porque o investimento era pra vários anos, e o valor se recuperou em 2009 (agora despencou de novo). Mas eu sofri, porque via (e continuo vendo, pela internet) toda semana quanto perdemos ou ganhamos. Eu tentava me concentrar nos fundos conservadores (CDB e DI), que quase sempre sobem, embora bem baixinho, pra não me estressar tanto. Contei isso pro maridão (era a época em que eu tava hiper atrasada com a minha tese de doutorado):
- Espero que pelo menos esses fundos conservadores rendam. Amor, eu sou conservadora.
- Dá pra ver pela sua tese. Ela rende, mas é uma mixaria por mês...

9 comentários:

Umrae disse...

Que mancada, o comentário sobre a tese...

Mas, eu fico pensando se a gente não deveria-se prever um gasto consideravelmente maior, e não igual ou menor, para o período de aposentadoria, dados os possíveis/prováveis gastos com saúde.
Pode ser neura minha também, mas me parece prudente...

Gisela Lacerda disse...

Bom, eu tenho esse pensamento de "hora e ano" desde a morte de meu genitor e até antes, em 2003, quando retornei da França. Os francozidos são iguais aos "american people",

Aliás, falando em "american people", assisti ao filme "Olhos azuis" ontem. Legal.

A propósito: desejo morrer antes dos 60. ;-0

Gisela Lacerda disse...

Aliás, você está certíssima e não é sermão bobo, não: o importante é quanto se gasta.

Engraçado que isso não se aprende em escola, nada. Sei essas coisas porque sei e não sei explicar porque sei, a não ser pelo fato de que vivi e vivo e tenho intuição. Legal seria se eu pudesse me matricular num curso desses. ;-0

lola aronovich disse...

Gente, abri um pouquinho os comentários do blog pra voltar a incluir os anônimos. Isso depois de várias queixas nos comentários e através de emails. O blog não exigia conta do Google, mas open ID. Nos settings tem 4 categorias de liberação de comentários: a mais rigorosa é “apenas membros deste blog” - o que nem sei o que significa, se são os seguidores ou o que. A segunda categoria mais rigorosa é “usuários com conta google”. O terceiro é “usuários registrados somente – inclui identidade aberta”. Foi essa que eu tinha clicado. E a última é “todo mundo – inclui usuários anônimos”.
Durante dois anos e meio do blog, optei pela primeira alternativa, a do “todo mundo”. Mas confesso que me cansei dos anônimos, que geralmente são agressivos e covardes. Lógico, há exceções. Havia vários que escolhiam a opção “anônimo” mas colocavam seu nome no final do comentário. Mas tem muita gente que se aproveita do anonimato para ser estúpida, e não acho isso legal.
Vou tentar mais uma vez deixar os comentários abertos a todos, incluindo anônimos. Mas se ficar muito selvagem o negócio, eu tiro. Pô, diga o que quiser, mas tenha a coragem de assinar! Em jornais e revistas, por exemplo, não se aceitam comentários anônimos. Precisa mandar até o RG. Na internet é mais complicado, tá cheio de gente com pseudônimo. E, por mim, tudo bem. Mas, na experiência que tenho de 2,5 anos de blog, os anônimos são nervosinhos e covardes.

Lucas Vasconcelos disse...

Eu simplesmente me perdi nas contas... hauehuaehaueahueaehuae

Gisela Lacerda disse...

Olha, eu normalmente sou uma defensora total da liberdade de expressão e mais ainda: "expressão da liberdade", por isso mesmo, ao invés de concordar com os anônimos, discordo dessa posição, esse medinho, essa covardia. Respeito o direito de todos escreverem aqui e ali. E ninguém tem de ser obrigado a ter blog. O problema é que dá para assinar qualquer coisa e "fugir".

Resolvi pôr foto esse ano quando fiquei 4 meses no Facebook e agora. Estou na internet há mais de 10 anos, sempre mostrando primeiro nome e pseudônimo, sem inventar histórias, apenas brincando de nome, personagem. Mas foto eu nunca gostei: primeiro porque nunca gostei de posar para fotos, apesar até de já ter feito como trabalho. Sou tímida, apesar de não parecer. ;-)) E desconfiadíssima disso aqui.

Entendo vc, Lola. E realmente na grande imprensa tem de pôr tudinho, até se a calcinha é "p", "m", "g", enfim. ;-)))

Relaxe, siga sua intuição!

olhodopombo disse...

isso tudo é muito cansativo.....
com cerebro de pombo , me viro ate numa boa, nas finanças...

João disse...

Lola, não posso deixar de parabenizá-la por esse post. Um dos melhores dos últimos tempos. Realmente, a palavra-chave é "poupar". E a expressão-chave é "gastar com inteligência". Tudo de bom.

João disse...

Esqueci-me de mencionar no comentário anterior, Lola, que o livro Rich dad, poor dad também traz muitas informações interessantes sobre economia, investimento, ousadia, inteligência financeira. Achei-o muito interessante. Mas você deve tê-lo lido já, pelo seu grande interesse em finanças...