terça-feira, 15 de julho de 2008

CRÍTICA: PECADOS INOCENTES / Que comam brioches e joguem golfe

Tabu por tabu, prefiro filmes com zumbis canibais

Não sei se é por andar vendo muito blockbuster americano, o que pode ter afetado meus neurônios, mas confesso: não tenho mais paciência pro tipo de filme independente, pretensioso, “artístico”, que é Savage Grace. Estranho que o drama só chegou a Detroit agora em julho, porque ele foi apresentado em Cannes no ano passado, e estreou no Brasil no final de abril, com o título Pecados Inocentes (agora deve estar estourando em dvd aí). Pode ser por causa do moralismo americano que tenha demorado tanto pra ser lançado aqui. Ele não foi bem recebido pela crítica dos EUA. Pra mim, o Metacritic deu uma média alta demais: 52. E não é que Grace (vou chamar pelo título original, já que a tradução é genérica demais, e lembra o muito bom Little Children, traduzido pra Pecados Íntimos) seja chato. Ele só é uma bagunça.

A trama é baseada numa história real sobre gente rica que nunca ouvi falar (e prefira não conhecer a tal história, pra não saber como o filme acaba). Julianne Moore faz uma mulher de classe média que se casa com um milionário, herdeiro de uma indústria de plástico. O casal vive em diversas cidades da Europa entre 1946 e 72. Não faz nada na vida além de receber alguns poucos convidados, também ricos. Tem um filhinho, que mais ou menos narra algumas partes. Bebê fofinho, adolescente bonito, ele cresce pra virar um Eddie Redmayne. Tá, você não sabe quem é, eu também não sabia, mas ele fez o filho do Matt Damon naquela outra bomba, O Bom Pastor. Você continua sem saber quem é, e eu te entendo. Deixa eu só dizer que eu o acho feinho pacas. Magro que dói, com grande gogó, sardas, branquelão... a espécie de modelo que faz anúncio da Calvin Klein, e todo mundo menos eu acha o máximo. Mas claro, não é a beleza (ou falta de) que está em questão, é a sua interpretação. Como não deu pra notar, tive que me ater a sua aparência. Porque Grace é o tipo de filme em que nem a atuação de uma grande atriz como a Julianne Moore diz a que veio. Os personagens não se desenvolvem, não têm profundidade psicológica, começam como estranhos e continuam sendo estranhos pro espectador até o final. E a gente nunca se importa com eles, por serem tão banais. O único personagem minimamente fascinante é o de um carinha gay contratado pra reintroduzir Julianne aos altos círculos. Ele aparece uns quinze minutos, se tanto. E o melhor momento da Julianne é gritar “En el culo!” num aeroporto, mas ela – e eu – poderia viver sem isso.

Ver um filme assim ou ler um livro sobre o vazio existencial dos ricos me faz ter devaneios e até pensar num absurdo – será que o trabalho realmente enobrece o homem? Será que esse pessoal, se tivesse que mexer uma palha pra ter o pão de cada dia, teria tanto tempo pra se dedicar a suas crises? Tá, não precisa ser rico pra ser extremamente infeliz, e deve haver rico extremamente feliz, imagino. Mas pensa só: se você nascesse milionário e não precisasse trabalhar nem um segundo da sua vida, você gastaria todo o seu tempo ocioso em ser tão ativamente infeliz? Ah, sei lá, vai jogar golfe, que seja! Mesmo num universo pré-internet como o deles, imagino que eles deviam ter mais o que fazer além de jantarzinhos enfadonhos com pessoas igualmente enfadonhas.

Acho que Grace não tenta fazer com que empatizemos, simpatizemos, ou antipatizemos com os personagens. Ele só mostra quase tudo pela metade, sabe? Os diálogos parecem ser pela metade, tipo “Por que você fez isso?”, sem explicitar o que é “isso”. O estilo é distante mesmo. Mas é tudo tão bagunçado que o diretor Tom Kalin não se decide se quer usar narração em off ou legendinhas como “Londres 1972”, ou frases escritas no final preguiçosamente explicando o que aconteceu, então usa tudo. E não diz nada. Talvez, com muita sorte, Grace fique conhecido como “o filme com a cena de incesto da Julianne Moore”, mas essa cena é até fraca se comparada à La Luna, do Bertolucci. La Luna é um drama interessante de 1979, e nele a mãe tem uma relação incestuosa com o filho pra tentar curá-lo do seu vício em heroína. Pelo que li de Grace, a intenção da mãe feita pela Julianne é “curar” o filho da sua homossexualidade. Mas só lendo pra deduzir isso. Pelo filme, eles só transam porque realmente não têm mais nada pra fazer. Pô, nunca ouviram falar em Banco Imobiliário não? Bridge? Canastra? Gamão?

20 comentários:

Liris Tribuzzi disse...

Quando vi 'O Bom Pasto' achei que só eu não tivesse gostado. Li críticas maravilhosas e, no entanto, eu quase dormi no meio e pensei em devolver o dvd sem terminar de assistir.

Helena disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Helena disse...

Lola!
eu amo seu blog e os seus posts, eles me alegram no trabalho!

muito obrigada!

:-P disse...

Carai! É pornochanchada?

PS: linkada est!

Unknown disse...

É por isso que dizem que terapeuta é coisa de rico...Gostei do seu texto e vou assistir o filme em DVD mesmo sabendo que eu não vou gostar do filme.

lola aronovich disse...

Li, nao vi o Bom Pasto no cinema, so no computador. Mas me pareceu muito chato. E nao so chato, mas meio incompreensivel porque a personagem da Angelina Jolie se casa com um cara tao sem sal como o personagem do Matt Damon. E eh longo, ne? Nao acho que o filme tenha recebido muitas criticas maravilhosas. Nem foi indicado ao Oscar... (e odeio que tenham lancado dois The Good Alguma Coisa no mesmo periodo. O Good Shepherd e o Good German. Acabei nao vendo o segundo).


Helena, que bom! Gracas ao seu recadinho rolou um dialogo fofinho com o maridao. Depois eu coloco. Abracao!

lola aronovich disse...

Malena, se fosse pornochanchada, seria divertido pelo menos... Obrigada pelo link!


Clau, ah, eu fiz um pouquinho de terapia em grupo ano passado, pela primeira vez na vida, e adorei. Foi pelo SUS, nao paguei nada, fiz novos amigos... Gostei muito mesmo. Claro que eu era conhecida como "aquela sem problema nenhum que so vem aqui pra fazer os outros rirem". Foi legal! E ninguem era rico.
No filme, seria otimo se algum deles fizesse terapia. Poderia ajudar. Mas nao, eles nao fazem nada, e nem aproveitam a fortuna que tem. Nao tem empregada, nunca sao vistos comendo algo (nem nos jantares!)... Tem maconha e sexo, mas nada parece ser prazeroso pra esse pessoal. A Julianne pinta uns dois quadros que destroi logo em seguida, o marido nada e tem um amigo, e o filho fica na praia. Esse eh o lazer deles. O problema eh que tem horas de lazer demais! Me lembrou o personagem do Hugh Grant no otimo Um Grande Garoto. Como ele eh outro que nao precisa trabalhar, ele pensa muito em como gastar o tempo. Ele separa seu tempo em "periodos a serem gastos". E isso eh antes da internet, em 93. Deixa eu separar um trechinho do otimo livro. (tenho a mao porque ja fiz um exercicio com meus aluninhos).

lola aronovich disse...

Will wondered sometimes – not very often, because historical speculation wasn’t something he indulged in very often – how people like him would have survived sixty years ago. (“People like him” was, he knew, something of a specialized grouping; in fact, there couldn’t have been anyone like him sixty years ago, because sixty years ago no adult could have had a father who had made his money in quite the same way. So when he thought about people like him, he didn’t mean people exactly like him, he just meant people who didn’t really do anything all day, and didn’t want to do anything much, either). Sixty years ago, all the things Will relied on to get him through the day simply didn’t exist: there was no daytime TV, there were no videos, there were no glossy magazines and therefore no questionnaires and, though there were probably record shops, the kind of music he listened to hadn’t even been invented yet. (Right now he was listening to Nirvana and Snoop Doggy Dogg, and you couldn't have found too much that sounded like them in 1933.) Which would have left books. Books! He would have had to get a job, almost definitely, because he would have gone round the twist otherwise.
Now, though, it was easy. There was almost too much to do. You didn’t have to have a life of your own any more; you could just peek over the fence at other people’s lives, as lived in newspapers and EastEnders and films and exquisitely sad jazz or tough rap songs. The twenty-year-old Will would have been surprised and perhaps disappointed to learn that he would reach the age of thirty-six without finding a life for himself, but the thirty-six-year-old Will wasn’t particularly unhappy about it; there was less clutter this way.

Nick Hornby, About a Boy. (Great Britain, 1998)

Mas eh bem isso. Hoje em dia parece mais facil ser rico sem nada pra fazer. (note que ler ta fora de cogitacao...).

L. Archilla disse...

Oi, Lola!

Realmente, é difícil filmes que tratem de "vazio" sem serem... vazios! hahaha

Pela sua descrição, lembrei vagamente de Lost in Translation, que é outro filme que, ao tratar de temas como "tédio existencial", consegue ser tão realista que poucos vêem até o fim. Eu não sou um deles. hahahaha

Quanto à ligação entre terapia e riqueza: o ócio É, sem sombra de dúvidas, enlouquecedor. Imagina acordar e não ter nenhum propósito na vida, por mais banal que seja, ter tudo na sua mão. É claro que tem ricos que lidam bem com isso, mas em geral é difícil ver gente que sempre teve tudo (financeiramente falando), em perfeita saúde mental sem terapia. O que é extremamente irritante é quando as pessoas associam terapia à futilidade, como se quem trabalhasse não tivesse questões a serem tratadas. As questões são outras, talvez não se manifestem de maneiras tão gritantes, mas existem!!! É muito mais humilde e honesto dizer que NÃO SABE pra que serve a terapia, que NÃO SABE como seria beneficiado, mas dizer "é coisa de rico" não passa de uma atitude ignorante e preconceituosa.

Sei que não foi isso que você disse, mas já deixei os argumentos caso alguém se manifeste com esse pensamento.

Lolla disse...

Gente, mas como a Julianne (que é linda) tá HORRENDA nesse poster. Jesus. Custei a crer. E esse menino me dá nervosinho. Anorexia male version.

Sei de muita gente rica e infeliz. Christina Onassis, por exemplo. Fora do padrão de beleza, estranha, gordinha, viciada em drogas e álcool, relacionamentos falidos. A biografia dela foi uma das coisas mais tristes que já li, e meio que me fez cair do cavalo. A gente sempre acha que dinheiro soluciona todos os problemas sem solução. E pensa, "se eu dia eu for rico, resolvo isso". Aí se dá conta um dia de que mesmo dinheiro não salva certas pessoas de si mesmas. Aí é que está a coisa.

Se EU tivesse dinheiro, ia viajar horrores, o tempo todo. Sentar em cafés de vários países e absorver a cultura, as pessoas, fotografar tudo, ter motorista pra me levar de um lado a outro. E escrever um livro/fazer um site bem bonito pra narrar as experiências. Acho que estaria de bom tamanho, pra mim.

lola aronovich disse...

Concordo com tudo que vc diz, Lauren. So nao gosto de Lost in Translation...
Eh importante ter propositos e planos na vida. Nao que pra ter isso seja preciso trabalhar. Mas ter ocupacoes parece fundamental. Eh como quando alguem se aposenta e sente-se meio perdido (e o About Schmidt eh um excelente filme sobre esse vazio).
Acho que da, e pode ate ser saudavel, nao fazer absolutamente nada por um periodo da sua vida. Mas pela vida toda, eh complicado.
Sobre terapia, eu tenho muitas amigas que fazem, e bem poucas sao ricas. Sempre me pareceu uma atividade bem de classe media... ate que eu quis fazer. Moro num bairro de classe media baixa e baixa em Joinville. Temos um posto de saude. Estava num grupo de reeducacao alimentar, e marquei consulta com a medica do posto pra fazer exames de rotina (colesterol, tipo sanguineo, diabetes, sei la). A medica tem que te dar uma cartinha recomendando vc pra terapia. Eu pedi e ela me deu, citando "disturbios alimentares" (que eu nao tenho, mas eh aquele negocio: "every woman has an eating disorder"). Isso foi em 2006. Tinha fila de espera pra entrar pra terapia! Alias, tinha fila de espera pra entrar na fila de espera! Levou 6 meses de espera mas finalmente fui chamada. No comeco a psicologa e a terapeuta ocupacional (sempre as duas) fazem duas sessoes em grupo pra depois poderem dirigir cada paciente a um grupo mais adequado. Eu me senti muito mal nessas duas sessoes, porque vi que todo mundo la tinha problemas "de verdade", e eu la, de alegre, so querendo experimentar pra ver como era. Era gente que ja tinha tentado suicidio ou tava em depressao profunda, com serios problemas de alcoolismo, desemprego, problemas sociais tambem. Chorei naquelas sessoes so de ouvir os problemas dos outros. Falei pra psicologa que nao me sentia bem ocupando a vaga de alguem que provavelmente estaria muito mais necessitado do que eu, mas ela explicou que era meu direito e que eu nao estava necessariamente tirando o lugar de alguem. E me recomendou um grupo de 4 ou 5 pessoas que ja se reunia faz tempo e que tinha mais a ver comigo, tanto na idade quanto no nivel educacional. Eu disse que aquilo nao era importante pra mim, mas hoje vejo que facilita bastante estar num grupo mais homogeneo. Foi uma experiencia excelente, que so durou pouco mais de um semestre (porque vim pros EUA), mas, sinceramente, eu recomendo pra todo mundo. O pessoal era otimo, as sessoes eram muito agradaveis (pra mim era simplesmente conversar sobre temas interessantes), e eu comecei a convidar alguns dos meus colegas pra jogar poquer la em casa. E como a gente morava mais ou menos perto e tal... Fiz novos amigos! Fico muito chateada que a terapeuta me disse agora, por email, que o grupo se dissolveu e que, quando eu voltar pro Brasil, precisaria fazer o velho esquema de antes (medica, fila de espera etc). Ai nao sei se vai dar (ou se os horarios vao bater), mas acho que todos deveriam ver se ha algo assim no bairro de vcs, pelo SUS, e se houver, facam. Eu adorei!
(Talvez os homens sejam mais preconceituosos em relacao a terapia que as mulheres?... Pode ser? O maridao no fundo achava minha terapia ridicula, mas gostou de ficar amigo dos meus novos amigos).

Anônimo disse...

O rapaz pode até nem ser grande ator, mas Lola, eu confesso que eu adoro rapazes com perfil de modelo da Calvin Klein que todo mundo acha o máximo, menos você. Pálido, com sardas, magrelo, etc.
Lola, será que só eu gostei de O Bom Pastor? Acho possível que sim, afinal, eu adoro filmes longos que ninguém mais tem paciência de assistir. Não sei se é impressão minha, mas acho que o personagem principal, Edward Wilson, lembra muito Robert McNamara. O jeito de burocrata sem sal, o penteado, os óculos, a convicção em seus "ideais", etc. Sou apaixonada por épicos, que geralmente, tem mais de 2 horas de duração, tipo Lawrence da Arábia, Doutor Jivago, Passagem para A Índia, A Ponte do Rio Kwai (todos do David Lean), Reds (eu amo esse filme. Deve ter alguma coisa a ver com o Warren Beatty, um dos meus guilty pleasures, que eu adoro tanto que até ignoro que a Madonna já passou por ali.), Os Dez Mandamentos, Spartacus (aqui é pelo Olivier, meu ator favorito), etc. Até do Cleópatra do Mankiewicz eu gostei, apesar de ter muitas cenas desnecessárias e sem nexo na história. Não estava muito a fim de ver esse filme, agora, é que não quero mesmo. Mas tinha a suspeita de que a Julianne Moore estaria muito bem nele. E, aí, o que você achou do desempenho dela?

lola aronovich disse...

Lolla, nao eh de hoje que eu olho pra Julianne Moore e nao a acho bonita. De frente ela eh, dependendo do angulo, da luz e tal (acho as sardas charmosas, apesar d'ela ser branca pra chuchu), mas ja percebeu como ela eh de perfil? Ela nao tem nariz! Mas tudo bem, ela eh uma senhora atriz, e aceita papeis ousados. Nao tenho como nao gostar dela.
Mas o carinha que pegaram pro papel, pra mim eh muito, muito feinho. Parecia um pintinho, so que mais desajeitado. Essa eh so a minha opiniao, porque tem muita gente chamando-o de "new hottie" e tal, entao... sucesso pra ele! So tenho um pouco de dificuldade em entender como ele pode ser considerado bonito, porque, sei la... Sabe o Fabio Jr. em inicio de carreira? Parecido!
Lolla querida, eu vejo muito acontecer isso que parece estar acontecendo contigo. Acontece com amigas, com a minha mae... A pessoa raramente esta feliz. Fica achando que a vida deveria ser melhor. Reclama bastante, e se faz cada vez mais infeliz. Ai muda de cidade (ou de paihs), de emprego, a vida muda bastante... e imediatamente a pessoa passa a ficar insatisfeita com essa vida tambem. E se esquece que nao estava feliz ANTES! Pelo contrario, passa a comparar a vida atual como a de antes e conclui que "antes era melhor". Antes fica sempre sendo melhor. Mas nao era! Quem eh de fora ve que nao era. E a pessoa poe muito foco no "se eu fizesse isso, se morasse em tal lugar, etc etc", AI sim eu seria feliz. E acho que nao seria. Primeiro porque quase sempre eh uma fantasia inatingivel. Segundo porque a pessoa se esquece de viver o presente.
O seu caso eh um pouco diferente, Lolla, porque vc ja tem tanta coisa que a maior parte da populacao gostaria de ter (quer dizer, hoje li que qualquer um no mundo que tenha mais de um par de sapatos e um carro ja eh minoria, porque 90% da populacao mundial ta muito longe de ter isso). Se vc quisesse MESMO, poderia levar adiante esse projeto que bolou pra si. Vc JA viaja horrores. Se quisesse, poderia viajar ainda mais. So que nao sei se vc gosta tanto assim de viajar, ou de "absorver cultura e pessoas". E vc JA tem um blog "bem bonito" onde vc narra bastante as experiencias. Falta escrever um livro. Se isso te faria feliz, va em frente e escreva um. Mas eu acho, sinceramente, que ha uma certa falta de vontade em admirar e aproveitar o presente. De notar como vc ja eh afortunada. Parece papo de auto-ajuda, mas eu me admiro como essa insatisfacao permanente eh uma situacao comum pra tanta gente. Minha mae nao era nada feliz em SP. Bastou ela por os pes em Joinville pra sentir a maior saudade de SP, e odiar Joinville. Tenho certeza absoluta que, se ela for pra outra cidade, vai passar a odiar a nova morada e falar bem de Joinville. Porque o problema nao ta na cidade, no emprego, no relacionamento... ta em vc. E vc que tem que saber como sair dessa.
Tentar coisas novas eh sempre uma alternativa. Minha mae adora um monte de coisas que faz em Joinville (ceramica, pintura, jardinagem, ginastica), se bem que no discurso oficial ela continue com o mantra "odeio Joinville". Uma amiga minha tinha o mesmo padrao, e agora que voltou a estudar esta muito mais feliz. Ja eu... Bom, minha estrategia, eu acho, eh me considerar sempre feliz e privilegiada - mesmo que eu esteja preocupada com o futuro.

Unknown disse...

Gostei do texto, agora preciso assistir ao filme. Sessenta anos atrás a taxa de natalidade era bem maior, já dá pra ter uma idéia do que as pessoas faziam enquanto não chegava a televisão. E já existiam livros na época!!
Não conhecia esse tipo de terapia em grupo do SUS. Quando falei em terapia estava me referindo aquela terapia individual que os ricos fazem por qualquer bobagem. Claro, nem todos os casos são bobagens, muitas vezes os ricaços não tem amigos ou vivem num mundo de falsidades e inveja e encontram no terapeuta um amigo, mesmo tendo que pagar pelo serviço.

L. Archilla disse...

tô com a consciência pesada de mudar completamente do assunto do tópico. passou. então, como eu ia dizendo... rá rá rá

infelizmente a terapia individual ainda está elitizada... talvez isso contribua para a crença de que é algo dispensável. em consultório particular, geralmente, sai caro, e em postinho é quase impossível conseguir vaga. como alternativa, em cidades com faculdade de psicologia existem as clínicas-escola, q geralmente oferecem tratamento gratuito, mas tb tem fila de espera.

outra alternativa, como vc citou, são os grupos terapêuticos, q são muuuuito legais!

deve mesmo ser difícil estar com pessoas totalmente diferentes de vc, tanto de "perfil" qt de estado psicológico... afinidade, nessas horas, é essencial. eu e minha psicóloga, por exemplo, temos a mesma profissão, e isso pra mim é ótimo! (rá rá rá de novo, hoje estou superdivertida)

mas vamos a algo relevante. os homens em geral são bem mais resistentes à terapia, com certeza. provavelmente por essa exigência cultural de serem "fortes", e tal, tenham maior dificuldade em assumir e falar das fraquezas... mas isso tá mudando. quem sabe não melhora ainda mais com o tempo? vamos torcer!

Lolla disse...

Bem, você só me conhece pelo pouco que escrevo no blog, que é uma versão editada e reduzida da minha vida e dos meus problemas (pode acreditar, eu não posto TUDO ali). Então, fica difícil pra você, ou qualquer pessoa, fazer uma análise mais profunda do que o batido "ah, mas você tá sempre insatisfeita, mesmo".

Fico feliz que você se sinta SEMPRE tão feliz e afortunada; parabéns por ser tão bem-resolvida; isso é pra poucos. A maioria absoluta das pessoas têm problemas que independe de dinheiro ou "sorte" (citei o exemplo da Christina). Mas sempre haverá quem pense que, por ter bens materiais, a pessoa é obrigada a "ver o quanto tem sorte" e "tratar de ser feliz". Acredite, já ouvi muito isso na vida. E não ajuda em nada, muito pelo contrário.

E acho que você, ao contrário do que disse nos meus comments, acha sim que me enquadro na categoria de pessoas citada no filme. Well, c'est la vie. :)

lola aronovich disse...

Sadie, pode ser que o protagonista do Bom Pastor lembra o McNamara. Na realidade, pra mim lembrou qualquer burocrata sem brilho que tem por aí. Talvez por eu só ter visto esse filme no computador, nem reparei no seu caráter épico. Mas também é certo que vc gosta muito mais de épico do que eu. Não é o meu gênero favorito. Vc perdoa o Warren Beatty pela Madonna ter "passado por ali"? A Madonna e o resto da população feminina de Hollywood, né?
Mas veja Savage Grace, sim. Tem bastante gente que gostou, e ele fez sucesso em Cannes 2007. Teve até crítico americano que gostou. Menos, até porque são mais moralistas. O meu problema é que não precisa fazer um filme vazio só porque todos seus personagens habitam um vazio existencial. Não dá pra fazer um filme com alma sobre o vazio? Acho que dá. A Julianne tá bem, como quase sempre, mas o filme não dá muito espaço pra ela desenvolver seu papel. Mas também é possível que, se o filme fosse melhor, ela seria melhor avaliada em geral.

lola aronovich disse...

Clau, acho que em algum momento da minha vida eu já tive esse preconceito contra terapia que vc aparenta ter. Mas não é só coisa de rico, não. É aquele negócio: se a gente tá com algum problema físico, procura um médico (a menos que a pessoa seja homem, aí não procura ninguém). Mas se tá com algum problema mental, devia procurar um psicólogo. Aliás, vamos logo dizer UMA psicóloga, porque hoje em dia a maior parte é mulher (as faculdades de Psicologia de hoje estão piores que as de Letras e de Pedagogia no quesito "falta de homem"). E obviamente não é só rico que pode ter problemas mentais. Bom, "problemas mentais" é outra coisa, mas tem muita gente que tem depressão, ansiedade, fobias, transtornos diversos, distúrbios que podem e devem ser tratados (inclusive porque a tendência é somatizar uma doença, manifestar no corpo aquilo que não tá bem na mente). Sinceramente, acho que todo mundo só teria a ganhar se fizesse um tiquinho de terapia em algum momento da vida.


Lauren, pois é, não é fácil, mas dá pra conseguir tratamento psicológico grátis. Alguns serviços que as universidades (às vezes até as particulares) oferecem costumam ser muito bons. Em Joinville há excelente apoio para alcoólatras e pessoas com outros vícios, por exemplo. E é público.
Sem dúvida, Lauren, homem ter uma certa aversão à terapia tem a ver com a educação de que homem resolve tudo sozinho, e nunca nem tem problemas. Homem vai muito menos ao médico que mulheres, então, com a terapia, não é diferente. Mas no meu grupinho eles eram a maioria! (e, como já faziam terapia faz tempo, não ficavam encanados com isso. Se bem que eles não falavam pra ninguém que estavam em terapia. Tabu absoluto!).

lola aronovich disse...

Lolla, pela sua resposta, vi que vc ficou muito chateada com o que escrevi. Minhas desculpas. Essa realmente não foi minha intenção. Sim, sei que é difícil fazer uma análise mais profunda de qualquer coisa, e não foi isso que tentei fazer. Só quis dizer que é comum (e que conheço muita gente nessa situação) estar regularmente insatisfeita, e que isso raramente está relacionado com o lugar em que a pessoa está. E que, às vezes, uma mudança nos hábitos, alguma atividade nova, pode ajudar. Mas isso não tem nada a ver com o filme, Savage Grace. E de jeito nenhum eu te comparei, ou te acho, parecida com qualquer um dos personagens do filme. Os personagens do filme são ociosos e auto-destrutivos, Lolla. Eu não te vejo assim de forma alguma.
Agora, não há nada de errado em se declarar uma privilegiada. Eu também sou. E foi isso que eu quis dizer quando citei que, num mundo em que 90% da população tem necessidades sérias, nós, que temos casa, computador, comida, e um monte de outras coisas, podemos ser consideradas privilegiadas. Mas as pessoas têm problemas com essa palavra, “privilégio”. Ninguém, nem rico, gosta de se considerar privilegiado. Acho isso hipócrita. É só olhar em volta pra ver como a gente realmente é afortunada.
E não vamos negar que sim, deveria ser mais fácil “ser feliz na vida” quando a gente não tem que se preocupar com dinheiro, lugar pra morar, ou com o que vai comer hoje. Mas ser feliz, ou não, é, como tudo, uma opção. Tem quem se sinta feliz sendo infeliz. É o jeito da pessoa.
Eu não me sinto sempre tão feliz. Mas é como eu falei, é uma estratégia minha tentar olhar o lado bom das coisas, ao invés de me fixar só na parte ruim. Comigo costuma funcionar.
E o que eu falei no seu blog é o que acredito, ué. Eu não tenho um discurso pra cada lugar. Vc deve ter percebido que os comentários aqui nesse post se dispersaram em todas as direções: terapia, gastar o tempo, felicidade, épicos... A gente já não tava falando do filme faz tempo.

Anônimo disse...

Lendo essa crítica agora... confesso que também não gostei do filme, mas ele reúne três atores que adoro: Julianne, Eddie e o Stephen Dillane, acostumado a fazer papéis de homens estranhos (como em Game of Thrones ou As Horas, fazendo o marido da Virginia Woolf).