sexta-feira, 20 de junho de 2008

CRÍTICA: INCRÍVEL HULK / Troco grande bicho verde por um Edward Norton menor

Edward Norton é um grande ator, além de bonitinho. Mas ele não parece estar se divertindo em Hulk nem a metade do Robert Downey Jr. em Homem de Ferro.

Eu gostaria de comparar o Incrível Hulk com o Hulk do Ang Lee de apenas cinco atrás, mas pra isso teria que me lembrar dele. E suspeito que, daqui a um mês, eu também já terei me esquecido deste. Mas, por enquanto, antes que ele se apague totalmente da memória, eu até gostei. Tem um bom ritmo, e as cenas não-hulkentas, ou seja, sem a presença do abominável bicho verde, são interessantes. O quê? Aposto que não sou a única mulher do mundo a ir ver Hulk pra ver o Edward Norton. Aliás, não entendo por que o Hulk é considerado um super-herói, se até seu alter-ego e criador, Bruce Banner, quer se ver livre dele. Cada vez mais tenho a impressão que Hulk só é herói porque representa o que muitos pré-adolescentes franzinos gostariam de ser – uma montanha de músculos, que podem ser adquiridos com anabolizantes ou raios gama, tanto faz. E se ocorrer esse indesejável efeito colateral de ficar verde e impotente no processo, paciência.

Começa com o Bruce refugiado na Rocinha, tentando controlar sua raiva através de técnicas respiratórias. O filme não fala que a Rocinha fica no Rio. Eu senti que eles fizeram o máximo pra americano pensar que a favela fica na Amazônia, já que há a imagem de uma floresta enorme bem do lado, e nada de Cristo Redentor ou Baía da Guanabara, símbolos postais cariocas. Porém, no fundo, o filme presta um serviço ao Brasil. Pra começar, exibe um dicionário English-Portuguese. Tudo bem que alguns atores não falam muito bem o português. Um dos antagonistas do Bruce tem o maior sotaque, e o dono da fábrica em que Bruce trabalha, idem (imagino que é porque eles devem ter filmado as cenas da fábrica em Toronto). Chega uma hora em que o exército americano descobre a localização do Bruce, manda procurar “um homem branco” (porque brasileiro deve ser hispânico ou latino pra eles, e essas são consideradas raças não-brancas nos EUA), e invade a Rocinha, sem precisar pedir licença pros traficantes. Pensei que eles iam topar com o pessoal de Tropa de Elite. Pelo menos o exército não mata ninguém, tirando alguns cachorros (chuif). E a favela tá bonita, colorida, cheia de gente boa e corajosa. Pode-se ouvir claramente uma mulher gritar prum milico “Cuidado com as minhas roupas!”.

Daí o Bruce, após ter virado Hulk, acorda no que parece a selva amazônica. Não é. Logo logo a gente descobre que é a... Guatemala. Como que ele foi parar do Rio pra Guatemala em um pulinho eu não sei, mas já é um avanço que ele pare um carro, diga alguma coisa em alguma língua estranha que é pra ser o português, e o motorista responda: “No hablo português”. Olha só o quanto os gringos já estão aprendendo com esse filme! Não apenas que no Brasil não se fala espanhol, como que existe um país chamado Guatemala e que lá não se fala português. Mais um instantinho e o Bruce tá no México. E lá ele compra roupas de uma moça que fala... português. Pô, agora embaralhou de vez a cabecinha dos americanos! Mas sério, compare essa imersão no terceiro mundo com a de Sex and the City. Em Hulk não tem nada disso de “não beba a água”. Bruce bebe água e cozinha numa boa na Rocinha – e isso que ele tá numa favela, não num resort cinco estrelas. Ele até poderia acusar a asquerosa água brasileira de fazê-lo ficar verde, mas não.

Agora, se alguém achar que a Rocinha é desrespeitada de alguma forma, ou vira parquinho de diversões do exército americano, precisa ver o que fazem com Nova York. É nessa cidade que não dorme nunca que dois monstros decidem brincar, como se fosse seu playground particular (e bem na rua 120 com Broadway, pertíssimo de onde ficamos por lá). Eu tava esperando que chegasse o Cloverfield e sem querer pisasse nos dois. Há uma longa sequência de luta entre os dois brutamontes, e essas cenas de ação deixam muito a desejar. Não dá pra ver nada direito e é tudo muito rápido. Segurou o meu interesse tanto quanto em Transformers, porque a idéia é a mesma: dois ferros-velhos disputando território. Soninho, né?Leia mais comentários meus sobre o Incrível Hulk aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

13 comentários:

Suzana Elvas disse...

Pra mim o filme inesquecível de Edward Norton é "Primal fear" (As duas faces de um crime"). Foi ali que eu virei fã do rapaz. Forever.

lola aronovich disse...

Concordo totalmente, Su. Nem sei como alguém que diz preferir Monkees aos Beatles pode falar UMA coisa inteligente, mas desta vez vc acertou. Acho que eu nunca tinha ouvido falar no Edward Norton antes de Primal Fear. E ele rouba o filme inteiro. Bom, praticamente foi o primeiro filme dele. Mas chequei no IMDB e vi que em 96 ele esteve também em Larry Flint e no musical do Woody Allen que não gosto, Everybody Says I Love You. Foi um grande ano pra ele. Só que, pra mim, a grande atuação de sua carreira até agora é mesmo em American History X. Não sou fã de Fight Club...

Anônimo disse...

Para votar fiquei pensando no grandes filmes. Claro que pensei naqueles que ganharam o oscar e me perguntei pela 356.000 vez como é que o melhor filme pode não ter sido feito pelo melhor director?

Juliana disse...

Você acabou de despertar a minha vontade de ver esse filme, só pra ver o português que eles falam, haha.
Mas é que nem quando o CSI Miami foi ao Rio. Nunca entendi muito bem o que aconteceu porque terminou uma temporada com eles indo ao Rio. Acho que perdi um episódio porque vi fotos deles gravando no Rio e não vi nada daquilo. Aí no outro episódio (o que eu vi) o Horatio tá no meio dum matagal confrontando os membros do "Mala Noche", mas o cara fala portguês ("Essa é a vingança do Mala Noche, otátio") e todo mundo morre e ele já está de volta em Miami... Fiquei confusa, haha

Só que o Nick diz que a gente tem uma visão errada da visão que os americanos têm do Brasil, mas se a gente tem essa visão, é exatamente culpa dos filmes e das séries que conseguem fazer essas coisas mal pesquisadas pra caramba e retratar como o Brasil.

Suzana Elvas disse...

Ah, deixa disso. Acho os Beatles muito esnobes, só isso. Não sei nenhuma música dos Monkees, mas você tem que concordar que os filme deles eram melhores... :o)

Ah, sim, tinha me esquecido de "American History X" - filmão. Mas o que me encanta em "Primal fear" é justamente porque ele não era o principal ator do elenco - o filme era do Richard Gere e da Laurta Linney - até da Frances McDormand. Então, no fim, ele nos faz de idiota. Literalmente. Todos nós.

Em "American History X" o filme é dele para ele fazer o que bem entender. E como ele faz bem.

Por isso fiquei com medo quando soube que ele ia fazer "O incrível Hulk". Sabe aquela coisa de medo do mico alheio? Pois é.

E puxa, eu sou a quem mais tem frases citadas. Não sou inteligente? Sou, né - eu leio a Lola (ai! :o)
Bjs

Suzana Elvas disse...

Aliás, você reparou que ele está produzindo um documentário sobre Barak Obama?

lola aronovich disse...

Pois é, Cavaca, acho que tem que pensar nos grandes filmes de cada diretor. Por exemplo, eu AMO "Faça a Coisa Certa", do Spike Lee, mas o conjunto da obra deixa a desejar. Já o Taranta, pensando bem, ainda é muito novo e não fez mais que 2 ou 3 grandes filmes, mas tem que ver a intensidade com que cada um gosta de cada filme. Se O Poderoso Chefão é o melhor filme que vc já viu na vida - como é pro maridão - tem que votar no Coppola, pronto. Se o "conjunto da obra" é importante (ou seja, o cara fez montes de filmes, e muitos são ótimos, mas vários são medíocres), vá de Woody Allen ou Spielberg. É uma decisão pessoal.


Ju, a Andie me falou exatamente isso do CSI Miami no Rio! Deve ter sido hilário ver um brasileiro chamado "Mala Noche". Quanto ao Nick, sei que ele vai querer defender a terrinha dele, mas vc viu o que os americanos acham do Brasil quando esteve aqui: que falamos espanhol, somos uma selva e tal. Claro que essa ignorância sobre um país não se restringe apenas ao Brasil. E claro que nós brasileiros (e outras nacionalidades) também somos igualmente ignorantes com respeito a outros países (Colômbia e Bolívia sempre me vêm à mente. E são nossos vizinhos!). A grande diferença é essa que vc diz - de que americano faz muito filme mostrando sua ignorância em relação aos outros países. Nós, brasileiros, não sabemos nada sobre a Colômbia, mas não fazemos filmes mostrando o que não sabemos sobre ela.

lola aronovich disse...

Su, vc ERA inteligente. Agora, depois de falar duas besteiras seguidas, foi rebaixada. Primeiro disse que prefere os Monkees aos Beatles, e agora que os Monkees fizeram filmes melhores?! AHHHHH! Outro dia revi A Hard Day's Night. É tão maravilhoso! Não é à toa que esteja em todas as listas dos melhores musicais de todos os tempos. E adoro Help também. E Yellow Submarine (é com as músicas deles, né?). Não dá pra comparar.
Vc tem razão sobre Primal Fear. O Edward Norton faz todas nós de bobas. Ele foi indicado ao Oscar de coadjuvante naquele ano por esse filme ou por Larry Flint? Nem lembro, mas que estréia triunfal! Lembro também do Kevin Spacey em 95, com Seven e Os Suspeitos. Ok, o Kevin é dez anos mais velho que o Edward, e tinha começado muito antes de 95 no cinema, mas só prestei atenção mesmo nele com Seven.
O Edward tá fazendo um doc sobre o Obama? Não, não sabia. Legal! Obrigada por avisar. Vou continuar incluindo suas muitas pérolas (sempre preciso selecionar, cortar!), nas Frases da Semana, mas acenda uma vela e peça desculpas aos meus santos Beatles!

Suzana Elvas disse...

As duas nomeações dele foram por "Primal fear" (1997, ator coadjuvante) e "American History X" (1999, ator)

Puxa, eu nunca amei os Beatles ou os Rolling Stones. Sou da geração Wham!, sorry...
*snif*

Suzana Elvas disse...

Mas ele ganhou o Globo de Ouro por "Primal fear".
Eu gosto de você, viu? Mesmo me chamando de..., bom... prejudicada no desenvolvimento de pensamentos conexos.

Tayná Tavares disse...

Noffa, o Edward Norton é bom ator pra caramba, faz muito tempo que não vejo nada com ele. Ta, faz muito tempo que não vejo filme nenhum... O último filme que vi com ele era um que ele era racista..American qualquer coisa..

Opa, gostei da enquete. Tarantino go! go! \o/

lola aronovich disse...

Su, que falta de amor no coração é essa? Não amar os Beatles?! Eu não vou perguntar "Quem é Wham?" porque se não corro o risco de vc ficar sem falar comigo.
O Edward Norton tá TÃO bem em American History X. Sabe que é do Danny Kaye, o mesmo diretor do ótimo documentário sobre o aborto, Lake of Fire? Depois li que ele e o Edward brigaram um monte durante as filmagens. O Danny Kaye tem uma péssima reputação no que se refere a relacionamentos, e acho que a do Edward não deve ficar muito atrás. Mas, desde que eles façam bons filmes, não ligo.
Eu também gosto muito de vc, apesar de vc ser um tanto prejudicada no desenvolvimento de pensamentos conexos...


Huntress/Tayná, American History X (Uma Outra História Americana) não é um filme racista. É um filme sobre racismo. É diferente! E é um filmão. Ouvi falar que algumas escolas brasileiras estavam passando o filme pros alunos, o que acho muito válido, porque infelizmente a trama do filme não é apenas uma história americana.
Torcendo pelo Taranta, é? Ah, eu adoro ele também. Mas não sei se votaria nele. Ele ainda vai ter muito tempo pra ser "o maior diretor americano vivo".

Pastor Assis disse...

A coisa mais ridícula e o Incrível Hulk fazer uma viagem da Rocinha para Guatemala: é deturpar a geografia. Nota zero para o filme.