quinta-feira, 15 de maio de 2008

A MULHER GORDA NO QUADRO MILIONÁRIO E EU

Este quadro de Lucian Freud bateu recorde ao ser vendido por mais de 33 milhões de dólares num leilão – a maior quantia já paga para um artista vivo, se bem que o pintor já deve estar cambaleante aos 85 anos. O quadro é muito bonito. Note a textura, as cores, a pele da mulher retratada, os detalhes do sofá. A modelo pode não ser muito atraente, e não digo isso por ela ser gorda, mas por causa da expressão em seu rosto. Examinei fascinada o quadro e perguntei pro maridão: “É assim que eu sou nua?”. Ele não pareceu muito à vontade para responder “É claro que não”. Não sei se ele estava medindo o que deveria responder, e nem posso culpá-lo – ninguém disse que é fácil ser casado com uma mulher que tem problemas de auto-aceitação (ou seja, sei que é difícil pra todos vocês, homens, dar a resposta certa quando a esposa ou namorada pergunta, “Este vestido me deixa gorda?”. Porque toda mulher tem problemas de auto-aceitação).

Como o maridão não soube responder, continuei olhando pro quadro e perguntando pra mim mesma se meu corpo é assim. Por dois motivos: um, que eu realmente não sei como é meu corpo. Pode parecer loucura, mas lembra que no Matrix falam de “residual self image”, “auto-imagem residual”? Pro Neo, o corpo dele continua sendo o mesmo de antes, apesar de todas as transformações que sofreu. Eu, quase tanto “a escolhida” como o Neo, guardo a imagem do meu corpo dos únicos sete anos da minha vida em que não estive gorda (eu emagreci 25 quilos tomando anfetaminas que controlavam o apetite. Assim que parei de tomá-las, o peso voltou). Claro, eu sei que sou gorda. Não me iludo. Mas não me vejo sempre gorda. E agora, quando me vejo, tento mudar minhas emoções quanto a isso, já que não posso mudar meu corpo. O segundo motivo é que é raríssimo uma mulher gorda ser mostrada nua na arte e na mídia. Ok, existem todas as pinturas famosas do Rubens, de um tempo em que o padrão de beleza era bem outro. Mas é diferente. Tô falando de mulheres no mundo de hoje, em que as modelos do Rubens seriam consideradas obesas mórbidas. Fiquei pensando: quantas mulheres magras nuas ou semi-nuas eu já vi na vida, em fotos e quadros? Um monte, já que é comum mulher ser objetificada (e sempre photoshopeada). Mas mulheres gordas, não tô acostumada. E o corpo da Keira Knightley realmente não tem nada a ver com o meu. Parece até outra espécie. Portanto, ainda que eu talvez seja menos gorda que a mulher do quadro, eu me senti representada. Pensei na Renata, que é lésbica, dizendo que os homossexuais são tão pouco (e mal) representados na grande mídia, que até uma migalha como o subtexto lésbico de Baby Mama é bem-vinda. Pois bem, este quadro de 33 milhões de dólares é a minha migalha.


Outros artigos relacionados: aqui, aqui, aqui e aqui. Ou escreva "aceitação do corpo" e/ou "mito da beleza" na busca do blog, no canto superior esquerdo.

27 comentários:

Juliana disse...

é interessante essa coisa de “residual self image”, parece que é o que acontece com as anorexicas, né? Se olham no espelho e se vêem gordas, mesmo estando cada vez mais magras. seria bom ter uns choques de realidade mais freqüentemente nessa vida. Não só quanto a aparência física, mas também com todos os nossos achismos e visões de mundo, pra gente se dar mais conta de que nossa verdade não é absoluta (se é que existe verdade absoluta).

Anônimo disse...

Por incrível que pareça, não são somente as mulheres que sofrem com problemas de aceitação. No caso dos homens isso acontece e muito, apesar de não haver muita divulgação por nossa parte! Confesso que sempre sofri por não conseguir chegar ao meu peso ideal...
Sempre começamos uma dieta com a desculpa do esforço ser a favor de nossa saúde, mas acredito que o grande impulsionador continua sendo o tal padrão de beleza imposto pela sociedade.
Eu mesmo, a pouco tempo atrás, estava muito acima do meu IMC [índice de massa corporal] e resolvi iniciar uma ferrenha dieta. Seria por conta da preocupação com minha saúde e bem estar? Claro que não... o ponta pé inicial foi não suportar mais as pessoas próximas comentarem sobre meu excesso peso.
É triste, mas é a realidade!

Anônimo disse...

Lola, isso é muitointeressante, porque eu tb as vezes me suirpreendo ao me olhar no espelho, não me vejoo tão gorda. e eu fui magra a vida toda, engordei muito em pouco tempo, e as vezes sinto que até a noção de espaço é meio prejudicada, como eu engordei muito e muito rápido, eu levei um tempo até me acostumar com o espaço que eu ocupava que é maior agora. E essa questão da representatividade é mesmo uma coisa estranha, e sempre os personagens gordos também são estereotipados. Incrível. Ontem eu tava pensando até que ponto isso tudo também não tem a ver com aquele conceito de colonização do inconsciente, sabe? Estou tentando elaborar alguma coisa sobre isso.Beijos

Suzana Elvas disse...

Eu tenho um livro de que gosto muito, chamado "Carência afetiva e alimentação" (esqueci o nome da autora). Num capítulo, ela fala de uma terapeuta que foi procurada por uma mãe cuja filha vivia de dieta e só engordava. O conselho da terapeuta: abarrotar uma fronha de doces e o que mais a menina gostasse e dar a ela. Deixar que a garota comesse o que quisesse da fronha, a qualquer hora, em qualquer lugar.

A menina andou com a tal fronha por quase 10 dias. Dormia com ela, brincava com a fronha ao lado dela. Um dia, a fronha ficou no quarto. Em um mês, ela já tinha perdido quatro quilos.

Conhece aquela coisa de "se é proibido eu quero"? É a pura verdade. Depois de anos de dietas, faz tempo que eu como o que quero, na hora que tenho vontade, e descobri que não, não sou chocólatra, não gosto de frituras (incluindo batata frita) e uma salada me satisfaz. Sempre fui rechonchuda, jamais serei magra ou sequinha. Tenho quadril, cintura, coxão. Sempre me achei uma deformidade até que, quando fui trabalhar em jornal, descobri que era o zagueiro na seleção de gostosas que os contínuos montaram - eu era uma das 11 gostosas do pedaço, entre 350 jornalistas!

Minha filha mais nova tem o meu biotipo: coxão, cintura, bundão. Toda durinha, toda saradinha (ela tem 6 anos!), ginasta rítmica nota 10. Mas começaram a ensaiar um "baleia" em sala de aula. Ela já deu uma escorregada na auto-estima (quando se recusou a usar shorts e calças mais justas) mas levantou a tempo e hoje tem orgulho do corpo. Muitas mães vêm brigar comigo e me olham feio quando ouvem eu chamá-la por um dos apelidos: "Gorduchinha". Ela adora ser chamada assim - um dos outros apelidos é "Menina-croquete", de tão fofa que é.

Auto-estima é tudo. E lá em casa temos como "espelho" minha primogênita: aquela que usará calça jeans 36/38 o resto da vida...

Pra finalizar, parafraseando uma amiga querida: "Me amo com celulite!"

:o)
Bjs

Suzana Elvas disse...

E só pra constar: olha como nós mesmos temps um preconceito arraigado, mesmo sem senti-lo. Eu escrevi que minha filha tem o corpo "todo durinho, todo saradinho". Se fosse mole era certo chamá-la de baleia?

Quando escrevi isso foi pra mostrar que, mesmo fazendo muito exercício ela sempre será assim, rechonchuda, mas percebi que nós mesmos meio que "nos desculpamos" por sermos assim - quando não há desculpas a pedir por ser o que semos. Somos e fim.

Isso me lembra Einstein respondendo ao questionário no Departamento de Imigração, quando fugiu da Alemanha nazista: "Raça: HUMANA", ele escreveu.

Assim como há apenas uma raça - a humana - e várias etnias, há apenas uma espécie - o Homo sapiens - de várias formas, magras ou não.

Isso dá tanto pano pra manga! Já me lembrei de outro artigo que fala que, em 25 anos, não existirão ruivas naturais no mundo e, em 40, nenhuma nascida loura. E o adesivo favorito dos EUA entre as adolescentes é "Sorry, I'm a natural blonde".

lola aronovich disse...

Pois é, Ju, acho que é um pouco o que ocorre com as anoréxicas, sim. Deve ser horrível estar um esqueleto e se olhar no espelho e se ver gorda. Mas anorexia é uma doença patológica e muitas vezes fatal, que eu felizmente não tenho nem nunca tive. Se bem que o assunto me interessa muito. Não sei se choques de realidade adiantam. O que acho preciso é mudar nossa percepção. Ver beleza nas coisas e pessoas que são automaticamente consideradas horrendas e perguntar: por quê? Baseado em quê? Comparado com quê? Porque nossas percepções também são uma construção. Não tem nada de natural em achar uma coisa bonita e outra feia. Ninguém nasce com um critério intuitivo.

Greg, tô sabendo! Os homens realmente estão começando a sofrer mais com a ditadura da beleza. No sábado vou publicar um outro post falando um pouquinho mais disso. As mulheres ainda sofrem muito mais, disparado, mas a gente vê que tem aumentado casos de anorexia e bulimia entre homens. E é isso sim: apesar da sociedade toda martelar em nossas mentes que a aparência é o mais importante, a gente ainda se sente um pouco culpada por se preocupar tanto com a beleza exterior. Parece algo tão fútil. Então a gente inventa que não, não quer emagrecer pra tentar desesperadamente se encaixar num padrão de beleza - é pra se encaixar num padrão de saúde! Olha como a gente é séria e se preocupa com nossa saúde! Sendo que a enorme maioria dos "estudos científicos" mostrando que gordos vivem menos são financiados pela indústria farmacêutica, que lucra 55 bilhões por ano com dietas só nos EUA. Ué, e se dieta funcionasse, por que o pessoal continua gordo? (Pessoalmente não conheço nenhum gordo que já não fez de tudo pra emagrecer...).

lola aronovich disse...

Nalu, vc leu "Overcoming Overeating" e "When Women Stop Hating their Bodies"? Ambos da Jane Hirchmann e Carol Munter. Li e gostei mais ou menos: começa bem, depois fica repetitivo. Mas o que elas dizem é que, nos grupos de discussão que promoveram, toda vez que uma mulher sentia ódio por alguma parte de seu corpo, isso estava relacionado com sentimentos de inadequação que nada tinham a ver com o físico. E muito disso de "se achar grande demais" era por estar ocupando espaços que não deveria estar ocupando, por ser mulher. Bom, eu não acho que isso acontece toda vez. Tem vezes que a gente odeia só uma parte do nosso corpo sem ter nada por trás. Mas em boa parte das vezes, eu acredito. Afinal, é emblemático que mulher sempre queira ficar menor, encolher, reduzir medidas. Raramente é o contrário. E muitos homens querem aumentar músculos. Às vezes parece sim que nós mulheres queremos desaparecer. The incredible shrinking women! Escreva um post sobre a colonização do inconsciente, por favor.

Anônimo disse...

Ok...isso de facto é verdade consumada. O que também é estranho uma vez que metade da população dos USA é obesa...para não falar na obesidade infantil. No Brasil também tem muita gente gorda. Mas muitos gordos querem ser magros, até mesmo contra todas as hipóteses hereditárias. Essa avassaladora industria da beleza - muitas vezes disfarçada de industria da saúde - dos magros, é um reflexo. Sinceramente nao vai mudar. A maioria dos homens prefere a coisa dura, impinada, siliconada...(se for loira ajuda)por isso quando uma namorada magra, ou esposa, engorda, abandonam-a. Amor é um pacote completo, por isso vemos muitos obesos procurando aceitação em um parceiro obeso.

lola aronovich disse...

Su, bastante gente recomenda isso hoje em dia. Chama-se "intuitive eating", não sei como é em português, "alimentação intuitiva"? Consiste em comer quando sentir fome, sem se privar, e sem usar comida pra satisfazer sentimentos. Que o corpo vai saber quando parar. E que todo mundo que passa fome numa dieta acaba "binging", ou seja, comendo de tudo num momento de aflição, porque é a reação natural do corpo ao passar fome. Não sei se funciona comigo. Quer dizer, pra emagrecer, parece que nada funciona comigo. É o meu tipo físico. Não posso mudar minha altura, por que poderia mudar meu peso? Eu não como muito, quero dizer, não tenho exageros. Como muito menos chocolate hoje que em outras fases da minha vida. Não porque não goste (sou chocólatra, sinto falta, adoro), mas porque é caro e meu fígado reclama muito mais rapidamente do que antes. Antes o fígado só se manifestava quando havia um exagero. Hoje praticamente qualquer quantia média o fígado já manda parar. Uma pena... Mas, claro que, apesar de comer muuuuito menos chocolate, eu não emagreço. Normal.
Então vc tava na seleção das gostosas, Su? Tinha calendário de borracharia? Que bom que vc se ama e que vc tenta transmitir esse amor pelo corpo pra sua filha. Isso é fundamental. É difícil pruma menina crescer aceitando seu corpo se vê a mãe (que pra menina é a mulher mais linda do mundo) se chamando de feia, e dizendo pra filha: "Se vc comer isso daí vai engordar, e se engordar ninguém vai gostar de vc". E no entanto é o que tantas mães passam pras filhas!
"Menina-croquete" é muito fofinho, se bem que vc não gosta de frituras... (eu gosto, mas quase nunca como. Aqui em casa uma lata de óleo dura meses. Não faço fritura em casa porque mancha tudo, e nunca sei o que fazer com aquele desperdício todo de óleo).
Pois é, Su, certamente internalizamos tudo isso. E vivemos nos desculpando por sermos como somos. Note como a gente lida com um elogio. "Puxa, essa roupa te cai tão bem!", e a gente: "Imagina, é horrenda, me deixa mais gorda ainda".
Mas fala desse artigo: por que as ruivas naturais vão sumir em 25 anos? Sei que em vários países as crianças ruivas são ultra-bullied na escola. Que coisa ridícula, pegar no pé de alguém pelo tipo de cabelo, cor da pele, formato do corpo... Sabe, um yorkshire não tem nada a ver com um são bernardo. Um é minúsculo, o outro é grandão. As cores são diferentes. Parece que tudo que eles têm em comum é um focinho e o fato de latir (o yorkie bem mais que o são bernardo). E no entanto a gente considera os dois lindos, não? E todos os tipos de cães no meio tb. Por que pra humano a gente cismou que só um tipo físico e uma cor é bonita?

Nita disse...

O pior é que o fato de todas as mulheres terem problemas com auto-aceitação. Não conheço uma só mulher que não tenha problema nenhum com a própria aparência, seja uma pinta que for fora do lugar. Se pararmos para pensar nisso é um tanto quanto assustador.

E a coisa de "residual self image" é realmente verdade, acho que depende muito do humor. Quando eu to de bom humor meu corpo parece mais bonito pelo menos.

Suzana Elvas disse...

É o caminho da miscigenação. Apesar de todos os esforços racistas/nazistas, o destino do mundo é ser homogêneo. E como ser ruiva é ser recessivo, é cada vez mais raro o cabelo ruivo - e, em segundo, o louro. Seremos, no futuro, morenos cheios de melanina!

Laíza disse...

http://oladodelah.blogspot.com/2008/05/10-2-coisas-para-realizar-antes-de.html

minha lista, Lola! dá uma olhada! :)

Anônimo disse...

Lola, será que é um que em português se chama Adeus Dietas? Se for eu tenho ele, acho que no blog de livros coloquei ele. Eu gostei muito da idéia do livro e acho que comigo funcionou mesmo, no sentido até de que vc tava falando da tal alimentação intuitiva. No dia que eu comecei a encanar com isso eu comecei uma escalada pra engordar. E eu era sem noção, lembro de ter sido recusada nos Vigilantes pq era muito magra. Desespero de auto estima lá no chão. Mas daí só engordei, pq essa preocupação entrou no meu dia a dia. E eu perdi esse lance de comer o necessário, de comer porque tinha fome. Na hora que associei culpa ao comer comecei a engordar. Claro que eu sei que não é tão redondinho assim, que é multicausal tb. Mas acho que é algo que não devia ser patologizado do jeito que é.

E tem um livro legal tb chamado Porque as mulheres precisam de chocolate que vai nessa linha de alimentação intuitiva também. E eu ainda acredito nisso, que o corpo é capaz de se auto regular. E lógico que nessa auto regulação o peso de cada um vai ser diferente mesmo, como é altura, cor, cabelo e tal. O complicado é forçar todo mundo nesse padrão 34/36 de hoje em dia. E é nisso que eu quero chegar, fazer da alimentação algo prazeroso, comer pq tenho fome e não por ansiedade e tal. Não sei se é possível, mas vou tentar atá onde der.
Beijos

lola aronovich disse...

Laíza, adorei o seu post com a lista. Pessoal, vá lá olhar, que é ótimo. E não estou falando isso só porque a Laíza caprichou nos elogios a minha pessoa...

Nalu, não sei como se chama em português. Mas acho que a idéia de intuitive eating não é invenção de um livro só. E sério que vc foi recusada pelo Vigilantes? Acho horrível isso de recusar alguém. Algum dia eu conto num post minha experiência (bastante recente) com um grupo de reeducação alimentar. Acho que a tática era parecida à dos Vigilantes, mas o pessoal era bem mais simpático. Eu tenho essa impressão que pensar demais em comida, o tempo todo, engorda!
Pois é, o que eu queria era comer o que gosto, quando quero, sem pensar muito em comida, sem me culpar depois. Me alimentar porque é necessário pra nossa sobrevivência e porque é gostoso, mas não pra me acalmar nas horas de ansiedade. Eu ainda não consigo ter um monte de coisa gostosa em casa e não comer tudo. Quero dizer, eu ainda abro uma barra de chocolate e a como inteira (se bem que uma vez por semana, se tanto). Mas eu queria ser como aquele pessoal pra quem uma caixa de Bis dura uma semana. Pra mim dura exatamente dois minutos. Cronometrados!

lola aronovich disse...

Cavaca, ignorei sua mensagem, mil perdões. Ela deve ter sido postada enquanto eu tava escrevendo alguma resposta. Não confunda "sobrepeso" com "obesidade". Quem tem sobrepeso não é obeso. O Índice de Massa Corpórea (IMC), que é um índice arbitrário e totalmente furado, mas adotado por organizações de saúde, divide assim: IMC 18 a 25, peso normal. 25 a 30, sobrepeso. 30 a 39, obeso. Acima de 40: obeso mórbido. Então não é que metade dos americanos seja obeso. 2/3 estão acima do peso, o que inclui aqueles com sobrepeso, obesos e obesos mórbidos. É rídiculo querer enquadrar todas essas categorias numa só, como faz a mídia. Imagina, alguém com 5 quilos acima do peso "ideal" (isso mesmo já um termo dúbio - ideal pra quem?) vai desenvolver diabetes por ser gordinho? E eu não conheço obesos que tenham problemas de mobilidade. Só óbesos mórbidos (o que tb não quer dizer que seja regra - todo obeso mórbido não consegue se mexer!). Mas quando a gente fala em obeso, automaticamente pensa no cidadão com mais de 200 quilos. Eu sou obesa, sou gorda, e o que mais ouço é: "Mas você não é gorda!". Muitos gordos ouvem isso. Por que? Porque, estatisticamente, a gente é gorda. Visualmente a gente é gorda. Pra uma pessoa na rua a gente é gorda. Mas "gorda" é uma palavra tão estigmatizada, com um significado tão negativo, que nossos amigos, que nos conhecem e gostam da gente, não nos vêem como gordos. Pra eles, somos pessoas.
Mas é sim, Ca, todo gordo ou quer ser magro ou já tentou ser magro. E geralmente não dá, porque as pessoas têm um tipo físico programado geneticamente. Passando fome, fazendo dieta, as pessoas podem até emagrecer, mas em 98% dos casos, recuperam todo o peso perdido em até 2 anos. E geralmente com uns acréscimos... E tem mais: ninguém sabe o que é pior pra saúde: a obesidade em si, ou o engorda/emagrece/engorda/emagrece pelo qual toda pessoa gorda passa. É, tem homens que abandonam as esposas (nunca vi uma mulher abandonar um homem porque ele engordou), mas a gente vê direto casais compostos por pessoa magra/pessoa gorda. Eu vejo mais isso do que um casal inteiro gordinho. Porque é um mito achar que o/a obeso/a vai ficar sozinho. Não é assim que as coisas acontecem. Pra mulher gorda é muito mais difícil, sem dúvida, mas eventualmente o pessoal encontra um amor. Concordo contigo que amar é um pacote completo. E não dá pra esperar que o/a parceiro/a permaneça o mesmo dos 25 anos... A gente envelhece, ué. Só o jovem que é bonito?

lola aronovich disse...

Nita, bem lembrado: quando a gente tá de bom humor, nosso corpo realmente parece mais bonito. E sim, existem mulheres que se aceitam bem (são minhas ídolas!), mas não são a regra mesmo.

Ai, Su, será que seremos mesmo morenos cheio de melamina? Pode até ser - tingidos de loiros! Porque não é fácil derrubar esse padrão de beleza racista, é? Outro dia eu tava observando como, nos supermercados aqui dos EUA, eu não encontrava mais shampoo pra cabelo oleoso. Era tudo pra cabelo seco! Foi a Andie que me explicou o motivo: todo mundo pinta o cabelo! E certamente tem mais gente pintando de loiro...

Ale Picoli disse...

Tenho até uma piada interna com meu marido sobre "esse vestido me deixa gorda". Da última vez que eu brinquei com isso, ele falou, imitando alguém sem graça: "namorada... eu não queria te dizer, mas vc É gorda" :)

Ó Lola, posso dizer que minha autoimagem é mais lisa e com menos dobras que a Alessandra real, mas é tão gorda quanto eu "de verdade". Por causa de um episódio uns anos atrás eu fui obrigada a me olhar muito e desenvolvi um conhecimento tardio da minha imagem real. Foi um pouco traumático, no começo, mas depois foi ÓTIMO. Hoje em dia eu mal me olho no espelho antes de sair pra trabalhar, mas é pq eu sei como sou e geralmente estou morrendo de sono. Isso já me fez sair com mancha de protetor solar no nariz e batom borrado algumas vezes, mas é o de menos :)

Eu acho importantíssimo conhecer sua própria imagem. Recomendaria MUITO brincar de modelo pro maridão fotografar um pouco, foi acho que o que mais me ajudou. Ver as fotos depois, gostando ou não do resultado, é ótimo pra isso.

Sobre o quadro: apesar de eu ser mais bonita, infelizmente não valho tantos milhões no mercado :D

lola aronovich disse...

Que bom, Ale, que vc teve que se observar tanto que aprendeu a entender e gostar do seu corpo. Eu ainda não estou nesse estágio, nem de longe. Não gosto de posar pra fotos nem de rosto, o que direi de corpo inteiro, nua. Às vezes eu prefiro não me olhar no espelho. Quero dizer, ver o rosto tudo bem, inclusive difícil escapar. Mas o corpo inteiro? Aqui em Detroit não temos espelho de corpo inteiro, e acho que isso acaba me fazendo bem. Em Joinville há espelhos demais lá em casa.
E não sei se a modelo valeria 33.6 milhões no mercado, mas o quadro... Li num fórum uma modelo gorda, dessas que posam nuas pros pintores, e ela disse que não conhece pintor que não adore pintar mulher gorda. Porque nosso corpo tá cheio de detalhes e tal. Admite, vai: vc daria uma ótima modelo não-gorda segurando esse gatinho siamês aí.

lu disse...

são lindos os quadros do lucian freud. e ele tem tantos outros parecidos e que também são intrigantes; seria interessante pensar pq foi esse afinal que quebrou o recorde e foi arrematado por essa grana toda...

Gisela Lacerda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gisela Lacerda disse...

Bem, esse mundo de dietas não é lá meu mundo. Já fiz "dieta ao contrário". ;-)) Mas sobre arte acho que dá pra falar: adoro Botero!

lola aronovich disse...

Lu, nao conheco os outros quadros dele (so vi algumas poucas fotos nos jornais online). Mas, com a paranoia com a obesidade que anda por ai, e com o padrao unico de beleza, duvido que o quadro tenha alcancado esse valor astronomico pela modelo. Os conhecedores da arte (certamente nao meu incluo nesse time) devem ter visto qualidades que puseram este quadro acima dos outros.

Gi, eh verdade, a obra do Botero eh otima! Mas eh um estilo totalmente diferente, ne? Nao-realista, por exemplo. Acho que o Lucian tenta ser realista, nao? (nao entendo nada disso!).

lu disse...

ah, um dia desses eu faço um post com algumas telas dele. ele tem um monte de mulheres e homens deitados nus. acho que o fato de ser uma gorda, a retratada, é um dos fatores sim que fazem desse quadro tão especial - sem querer diminuir a aversão disseminada que se tem hoje à mulheres gordas, muito pelo contrário: o quadro é especial por existir assim realista e belamente feito retratando uma gordona justamente num contexto onde isso não se faz. penso eu.

Gisela Lacerda disse...

Mas como vocês falavam em "peso em excesso", lembrei-me dele. Mas com certeza são dois estilos diferentes. Também não sou especialista. ;-)))

lola aronovich disse...

Vc tem razão, Lu.
Gi, eu gostaria de entender muito mais de arte. Até fiz um semestre de História da Arte na faculdade, e foi muito bom, mas como foi no século passado não lembro de mais nada...

SANDRO TAVARES disse...

Olá , Lola , gostei do que e de como escreve , e concordo , apesar de achar que são as magras quem devriam ter problemas de auto-aceitação.
Também escrevo defendendo as formas magníficas de corpos curvilíneos e refletores da beleza natural humana , corpos graúdos, de gordinhas maravilhosas.

Meu blog : http://bbwehtudodebom.blogspot.com/.

Abraços .


Assinado : Sandro Eduardo Oliveira Tavares.

Marisa disse...

Ha' algum tempo, eu vi a "mulher do quadro" num programa matinal de TV daqui do UK. Ela e' sorridente, parece feliz com a vida e nao tem nada dessa expressao do quadro...acho que ela estava dormindo...hahaha
Quanto a esse assunto de gordo/magro, estou "comecando" a achar que agora ha' uma perseguicao: se voce for "magrinho(a)", nao e' natural, existe algum problema, nao e' possivel, deve ter alguma "eating disorder" e por ai' vai...Poxa vida! tem gente que simplesmente nao e' gorda!!...contrario de gordo e' magro, so' isso!! "live with it!!"...e falam tanto nisso!! ta' ficando igual a perseguicao que fazem aos fumantes hoje em dia. Eu nao fumo, mas quem quer faze-lo, que o faca!!...gordos(as) vivem falando disso...quem esta' feliz consigo nao precisa ficar anunciando, falando eternamente do mesmo assunto e nem criticando/perseguindo quem e' ou prefere ser magro(a)!!!