quinta-feira, 27 de março de 2008

PROSTITUTOS DE CITAÇÕES

Ueba! Vamos ver quem fala melhor de um filme?

Stephen King tem uma coluna quinzenal (ou mensal?) na Entertainment Weekly, e as duas, coluna e revista, costumam ser bem fraquinhas. Na da semana passada ele começou mostrando seu enorme bom gosto ao dizer que adorou Jumper. Se alguém não entendeu a ironia, permita-me um esclarecimento: o King é aquele que acha O Iluminado do Kubrick um terror vazio que não assusta. Prefere sua versão pra TV, que é uma bomba. E ninguém em sã consciência, fora a mãe do Doug Liman (que dirigiu também Sr. e Sra. Smith, eca, e Identidade Bourne, oba), pensa que Jumper é uma maravilha. King ia redigir uma crítica sobre o filme, mas houve um certo conflito de interesses, já que o produtor do troço é um dos vários agentes do escritor. Então ele decidiu escrever apenas um blurb, uma citação pra ser colocada no pôster e anúncios, dizendo “This movie rocks!” (“Este filme é o máximo!”), assinado Stephen King, o que não é pouca coisa, porque o nome tem peso. Ok. O que me chamou a atenção foi que King revela ter redigido citações pra somente três ou quatro filmes na vida, e só pra produções que ele ama de paixão. Mais uma pra notória lista do mau gosto do escritor: você elogia publicamente quatro filmes na vida, e Jumper é um deles?! (minha crítica sai amanhã).

Mas o assunto polêmico das citações é atraente. Como vários filmes são lançados toda semana nos EUA, os estúdios precisam destacá-los. Iludem-se que críticos ainda têm algum poder de persuasão, e põem suas citações nos anúncios. O que a gente vê vai de elogios genéricos (como o do King – daria pra falar isso de qualquer filme) a besteiras monumentais como, só pra ficar num exemplo recente, escrever “uma das melhores duplas da história do cinema” pra... Na Hora do Rush 3 (nem me pergunte quem é a dupla, que eu não sei, mas deve ser tão importante como Ginger e Fred)!

Os críticos mais sérios e respeitados odeiam aqueles que emprestam seu nome pra todo e qualquer filmeco. Tanto que criaram um termo pra esses críticos de segunda categoria, quote whores (prostitutos de citações). A gente nem tem certeza se esse pessoal realmente comenta um filme ou só entrega algumas palavrinhas-chave pros estúdios. E ninguém sabe o que eles recebem em troca. Será que tem dinheiro na jogada (vulgo jabá), ou apenas benefícios, como entrevistas exclusivas com os astros? Difícil saber, já que trata-se de um assunto tabu. Mas a linha que separa os críticos “sérios” dos críticos “de aluguel” (há boatos que alguns deles nem existem, são só nomes inventados pelos estúdios) é tênue. Por exemplo, o Peter Travers é crítico da famosa revista Rolling Stone há anos. Ele escreve direitinho e faz algumas, não muitas, análises mais inspiradas. É também um dos grandes quote whores americanos. Até uma altura de sua carreira, ele tentava se defender. Dizia que era boa publicidade pra revista ter o nome divulgado em anúncios e pôsters. Agora que sua assinatura virou até prêmio dado aos Prostitutos do Ano, ele não fala mais sobre isso.

Francamente, quem se deixa influenciar por frases soltas que vêm no próprio anúncio do filme? E será que algum dia eu terei uma citação minha publicada? (meus detratores diriam que pra isso eu precisaria falar bem de algum filme). Ah, pena que O Nevoeiro (baseado num conto do King, que mundo pequeno) esteja indo direto pra DVD, sem passar pelo cinema. Eu já tinha até uma citação preparada: “O Nevoeiro (The Mist) é um misterpiece, uma obra-neblina”. Tá bom, tá bom, trocadilho infame. Mas as citações publicadas são ultra-infames!

11 comentários:

Suzana Elvas disse...

Oi, Lola;

Teve um caso, sim, comprovado até, de um crítico-fantasma elogiando filme (um blockbuster da vida). Foi um baphon de respeito. Vou fuçar na internet pra saber qual foi.

Suzana Elvas disse...

E isso não é só em filme, não; em livros a contracapa vem cheia dessas frasezinhas. Acredito que, para o leitor, um elogio do Colm Tóibín numa crítica do NYT tenha peso, mas catam coisas de "The Wherever Tribune" que, rapaz... Me poupe.

lola aronovich disse...

É, Su, eu lembro vagamente do caso. Nem é importante saber quem seja. A gente sabe que isso existe... Sobre as contracapas dos livros, é verdade, os blurbs sao padrao. Uma vez eu escrevi um texto pra contracapa do livro do meu amigo Mucinho, O Sucesso Não Ocorre no Meu Caso. É possível que um livro venda MENOS por causa do texto da contracapa? Mas não foi uma citação, foi um texto inteiro (que foi editado mais ainda). E os elogios eram sinceros. O livro é ótimo! Até virou filme...

Liris Tribuzzi disse...

Eu sempre me perguntei quem realmente escrevia aquelas coisas ou coloca as estrelinhas nos posteres. Você assiste A bomba no cinema e no cartaz tá escrito: espetacular!; o melhor (insira o gênero aqui) desde (insira um sucesso aqui); surpreendente!; a melhor comédia do ano! entre outras pérolas. Nem sabia que tinha um nome pra isso.

lola aronovich disse...

Então, Liris, continuo sem saber se tem um nome pra isso em português...

Luciano disse...

Os Esquecidos: "O Final mais surpreendente desde O Sexto Sentido."

Precisa falar mais alguma coisa? Quem viu a bomba sabe...

Anônimo disse...

Ah heauheaueahu eu acho empolgante nos SPOTS de TV quando vc ta vendo aí vem aquela voz sinistra narrando in off oq os criticos falaram, se bem que comercial já tende a ser algo empolgante...

Ah eu lembro que teve um ridiculo acho que era algo do tipo Jogos Mortais ("O novo SEVEN") algo do genero.
Bela materia.

Suzana Elvas disse...

O problema, Lola, não é quando alguém faz um texto para a contracapa. O que me irrita é aquela coisa de subdesenvolvido. Aqui o povo tasca um "Maravilhoso" do "Where Judas lost his boots Herald" só porque é de um jornal americano (ou inglês, ou de onde for).

E quando escrevem "Você vai morrer de rir com essa comédia" eu não vou assistir. Se precisa avisar isso, é porque o filme não tem a menor graça...

lola aronovich disse...

Pedrinho, eu acho muito divertida a voz que narra todos os trailers (só parece ter duas nos EUA). Adoro quando falam "Rated R".
É verdade, Su. Mas vc não acha que no Brasil o nome de um escritor ou jornalista conhecido falando algum elogio na contracapa de um livro vale mais do que o nome do jornal? Ou tô viajando? Imagino que os novos escritores mandem livros pro Verissimo e Paulo Coelho direto...
E isso dos blurbs pras comédias é um horror mesmo. É como os filmes de terror colocarem "Você vai morrer de medo". Sim, e?...

Alexxs disse...

Não teve um escandalo ai com o filme "Coração de Cavaleiro", que descobriram que um crítico for pago pra elogiar o filme???

lola aronovich disse...

Acho que teve sim, Alex. Não foi o único!